Um pequeno comentário sobre a agressão do ex-presidente Fernando Miranda

Um pequeno comentário sobre a agressão do ex-presidente Fernando Miranda
Mirabnda chega ao fim da linha.
Mirabnda chega ao fim da linha.

Nada tinha contra o ex-presidente do Inter Fernando Miranda. Até admirava sua corajosa passagem pelo Inter, nos anos 2000 e 2001, brigando e vencendo o célebre grupo conhecido como Império Otomano, que afundara o Inter nos anos 80 e 90 do século passado. Ele pagou contas, montou um time mais ou menos cumpridor e foi embora irritado com todo mundo, achando-se injustiçado, creio. Sempre me pareceu uma pessoa a ponto de explodir, mas enfim, jamais vira ele louco, totalmente descontrolado como ontem à noite.

Anos atrás, Miranda criou um blog onde explicava muitas de suas atitudes como dirigente. Eu lia tudo e aprendia muita coisa. Suas explicações eram longas, detalhadas, claras, de uma sinceridade rara no futebol. Depois, saiu de circulação. Como tenho vários amigos próximo do clube, ouvia volta e meia comentários a respeito dele. Eles diziam mais ou menos isso: o Miranda está cada vez mais louco.

Ontem, ele reapareceu na TV Ulbra, canal 21, dentro do programa Cadeira Cativa, de Luiz Carlos Reche. Deveria ter ido a outro lugar. Em determinado momento, ele e o jornalista Julio Ribeiro iniciaram um bate-boca. Acontece que Miranda fizera uma longa exposição e Julio desejava rebater alguns pontos. As vozes ficaram mais altas, Miranda chamou o jornalista de “asqueroso” e “bacaca”, este não gostou, gritou mas permaneceu sentado, e logo depois foi agredido por um soco desferido pelo ex-presidente. A cena de Miranda erguendo-se e dando uma corridinha até a cadeira onde estava Julio é especialmente ridícula. O homem estava fora de si. Dizem que é comum.

O incrível é que o pai do presidente recém-eleito Marcelo Medeiros, o qual se chamava Gilberto Medeiros, também na TV, tinha tomado uma surra do ex-presidente do otomano José Asmuz, um dos piores presidentes da história do clube, mas que nunca nos levou à segunda divisão. O caso foi muito mais grave. Asmuz deu-lhe uma série de socos na cabeça pelas costas, sem grande reação de Gilberto, que permaneceu sentado, apenas protegendo-se com os braços. Júlio Ribeiro também não reagiu, apenas tratou livrar-se do agressor, certamente sem acreditar que estivesse participando de uma baixaria daquele nível.

Quando vi, também não acreditei. Sou amigo de Júlio. Nem sempre concordamos — aliás, discordamos frequentemente — e por isso mesmo sei que se trata de um ser humano altamente civilizado. Não vi o que houve antes do momento da agressão, mas Miranda devia estar muito descontrolado para deixar Júlio respondendo em voz bem alta “Babaca é tu”.

Olha, ninguém gostou de ir para a segunda divisão e todos sabem os motivos pelos quais lá chegamos. Brigue (verbalmente, no máximo) com o Vitorio causador de tudo, brigue com Carvalho, Argel e Roth. Agora, Fernando Miranda, uma agressão física a alguém que não dirigia o clube é algo patético, coisa de torcedor marginal.

Isso diz mais sobre o Sr. do que qualquer opinião sua.


Mais completo, aqui:

O dia seguinte de um colorado

O dia seguinte de um colorado

Desde junho, alguns poucos colorados avisaram e reavisaram, mas de nada adiantou. O Inter parece ter planejado cuidadosamente sua queda. Mandou incompreensivelmente D`Alessandro para a Argentina. Manteve Argel paralisado em uma irrepetível sequência de jogos sem vencer. Trouxe um sujeito totalmente diferente, ídolo da instituição, para 5 jogos e botou a cereja no bolo ao contratar o decadente Celso Roth sob um envelhecido e pouco criativo Fernando Carvalho. Tudo isso debaixo dos olhos do aparvalhado presidente Vitorio Piffero.

Sábado houve as eleições para presidente. Marcelo Medeiros foi eleito com 12.134 votos (94,8%) contra 666 votos (5,3%) de Pedro Affatato, que representou a gestão Vitorio Pífio no pleito. Os votos brancos foram 224 e os nulos, 960. Achei alto e significativo o número de 666. Mas ao menos foi menor que o de brancos e nulos. Livres finalmente de Pífio e Carvalho? Não sei, no Beira-Rio, eles ainda são muito amados por alguns conselheiros que não sabem nada de futebol e que só estão lá por serem figuras de destaque em nossa sociedade…

Antônio Carlos Zago deverá ser anunciado como novo técnico do Inter ainda esta semana. Não gosto dele em razão de alguns episódios de racismo, mas o fato é que não há bons nomes no mundo se não houver uma estrutura mínima para recebê-los. Provavelmente, teremos o retorno de D`Alessandro, mas não se pode jogar todas as expectativas num jogador veterano que completará 36 anos em 15 de abril de 2017. Há que montar um novo time — temos várias e bem conhecidas perebas — e uma comissão técnica que não mate nossos jogadores.

Quando falo em matar, refiro-me aos jogadores-zumbis do Inter que renascem em outros clubes. Por exemplo, Marinho, do Vitória, esteve quatro anos no Internacional — emprestado a maior parte do tempo. Não lembro de ter jogado por nós. Também houve Cleiton Xavier, do Palmeiras, que esteve seis anos no Internacional — emprestado a maior parte do tempo. Além disso, o melhor jogador do Santos é Lucas Lima, que esteve dois anos no Inter e foi emprestado. Não marcou nenhum gol aqui… Nem vou citar outros casos de jogadores, como Ricardo Goulart, que não tiveram bom ambiente ou preparo no clube e que estouraram assim que foram transferidos. É que tivemos em 2016 um caso de paroxismo de ruindade na comissão técnica.

Enquanto escrevo este texto, vejo que o Inter acaba de confirmar Zago. O mínimo que espero é uma declaração bem clara de um homem que assumirá o comando técnico de um time que tem por símbolo um saci. Não resolve, mas seria o mínimo.

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Não vou falar sobre o jogo de ontem porque não vi. Estava bem feliz num festão de aniversário de um querido amigo. Sabia que era dia dos gremistas irem para a Goethe.

O brilhantismo da Odebrecht na escolha dos codinomes para seus pagamentos de propina

O brilhantismo da Odebrecht na escolha dos codinomes para seus pagamentos de propina

15350719_937496386381287_2811336134892356734_nNasci dotado de uma característica muito maldosa e infeliz que hoje reprimo minuciosamente. Desde criança eu invento apelidos. Inventei alguns tão bons em meus tempos de colégio que teve gente que não queria mais ir às aulas só para não ouvir. Era a eficiente defesa de uma criança que só apanhava dos colegas. Eu era um palito, só pele e osso. Só os invento para aquelas pessoas que eu detesto. Eles já me criaram tantos problemas que aprendi a me conter. A criação de bons apelidos não é das artes mais apreciadas. O pessoal da Odebrecht também é excelente nisso. Eu me congratulo com os caras e estou aguardando que a internet crie logo um gerador automático de codinomes da Odebrecht.

Quando criança, meu apelido era Qüem. Sim, o som do pato. Tinha os pés desproporcionalmente grandes em relação ao corpo. Me divertia com aquilo. Minha turma de futebol me chamava de Raquítico.

Mas vejam só a arte dos caras. Vejam quanta maldade havia naquelas alegres trocas de dinheiro. De acordo com o ex-vice-presidente de relações institucionais da empresa, Cláudio Melo Filho, os seguintes codinomes eram usados para receber propinas da empresa:

Caju é Romero Jucá (PMDB-RR).

Justiça é Renan Calheiros (PMDB-AL). Não é genial?

Coisas do Brasil: a ministra Carnem Lúcia reza com a Justiça à esquerda.
Coisas do Brasil: a ministra Carnem Lúcia reza com a Justiça à esquerda.

Índio é Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Babel é Geddel Viera Lima (PMDB-BA). Ele não caiu por uma torre?

Bitelo é Lúcio Viera Lima (PMDB-BA).

Primo é Eliseu Padilha (PMDB-RS).

Angorá é Moreira Franco (PMDB-RJ).

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Caranguejo é Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Olha, bem que tem a ver, sim.
Olha bem que tem a ver, sim.

Polo é Jacques Wagner (PT-BA).

Ferrari é Delcídio do Amaral (ex-PT-MS).

Botafogo é Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Las Vegas é Anderson Dornelles, ex-assessor de Dilma.

Campari é Gim Argello (PTB-SP).

Cerrado, Pequi e Helicóptero é Ciro Nogueira (PP-PI).

Pino ou Gripado é José Agripino Maia (DEM-RN).

Todo Feio é Inaldo Leitão (PL-PB).

Já postamos homens mais bonitos em nosso blog.
Já postamos homens mais bonitos em nosso blog.

Corredor é Duarte Nogueira (PSDB-SP).

Gremista é Marco Maia (PT-RS).

Misericórdia é Antonio Brito (PSD-BA).

Decrépito é Paes Landim (PTB-PI).

Boca Mole é Heráclito Fortes (PSB-PI).

Nem notei.
Nem notei.

Kimono é Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Missa é José Carlos Aleluia (DEM-BA).

Feia é Lídice da Mata (PSB-BA).

Velhinho é Francisco Dornelles (PP-RJ).

Santo é Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Santo e fófis.
O Santo e fófis.

Porque hoje é sábado, pernas e Benedetti

Porque hoje é sábado, pernas e Benedetti

Piernas / Pernas, de Mario Benedetti

escadas

Las piernas de la amada son fraternas / As pernas da amada são fraternas

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cuando se abren buscando el infinito / quando se abrem buscando o infinito

sexy-legs

y apelan al futuro como un rito / e apelam ao futuro como um rito

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que las hace más dulces y más tiernas / que as fazem mais doces e mais ternas

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pero también las piernas son cavernas / mas também as pernas são cavernas

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donde el eco se funde con el grito / onde o eco se funde com o grito

pernas

y cumplen con el viejo requisito / e cumprem com o velho requisito

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de buscar el amparo de otras piernas / de buscar o amparo de outras pernas

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Os discursos de Fidel Castro e Thomas Bernhard

Os discursos de Fidel Castro e Thomas Bernhard

Castro

Em certa época da ditadura militar brasileira, eu era da Engenharia da Ufrgs, mas frequentava mais o pessoal, as festas e as reuniões das humanas. Zanzava pelos Diretórios Acadêmicos onde volta e meia era marcada uma sessão de cinema em que era apresentado um discurso de Fidel Castro. Quase sempre acabava assistindo. Gostava deles. Era coisa para ser apresentada no início de uma noite ou num fim de semana, pois via de regra duravam mais de quatro horas. A data e a hora das apresentações dos filmes eram secretas, mas todo mundo sabia. Assisti a vários deles, alguns divididos em dois turnos. Lembro de pouca coisa e não sei se ainda concordaria com eles, o que sei é que ele era um extraordinário orador. Era complicado até de ir ao banheiro. Tudo parecia muito importante. Um dia comecei a pensar na estrutura daqueles textos falados. A primeira conclusão a que cheguei foi a de que eles eram indissociáveis do ator. Castro era notavelmente carismático e sabia como seduzir com pausas e alterações de tom e dinâmica. E havia seu rosto, muitas vezes com expressões irônicas. Tudo o que ele dizia adquiria caráter mítico. Quando conheci Thomas Bernhard, fiquei surpreso não somente com seu discurso de ódio contra a sociedade, mas com a estrutura encadeada de sua prosa, algo parecida com a de Fidel, mas funcionando esplendidamente por escrito. Não dá para falar de avanço em espiral porque ambos voltam a pontos anteriores do discurso e uma espiral sempre avança tontamente por lugares onde não passou. Era mais uma sequência minimalista de variações que avançam de tal forma que muitas vezes a frase atual era uma variação da anterior, mas se ouvíssemos a décima oração anterior, ela já seria totalmente diferente da atual. Ou não era assim. Eram como as de um professor que avança duas casas no jogo de seu discurso e volta uma para depois avançar mais duas novamente. Não sei porque lembrei disto agora. Talvez seja saudades da juventude; de ler, estudar, estagiar e ainda ganhar uns trocos dando aula; de, apesar desta super atividade, ter a eterna impressão de não estar fazendo nada. Ou saudades daqueles ambientes esfumaçados, ultra hiper ripongas, e daquelas meninas que iam lá assistir e que ficavam mudando de posição até encostar em nós. O que eu sabia é que estávamos fazendo tudo para atrapalhar a ditadura civil-militar e que eles tinham observadores — ratos — infiltrados entre nós. Tinham receio de nós e dos discursos de Fidel, que talvez os entediassem. O que Fidel falava era liso, sem fendas. Como o texto de Bernhard, suas falas tinham caráter repetitivo e exagerado, o que lhes garantia grande impacto (e eficiência nas queixas). Bernhard desconsidera a estrutura de parágrafos e creio que alguém que transcrevesse os discursos de Fidel não deveria repetir tal estratégia, pois ele fazia longas pausas. Em ambos os casos, há um desesperado adiamento do ponto final, pois o que vale é o encadeamento de orações subordinadas, como se o narrador tivesse a necessidade compulsiva de jamais abrir mão da palavra. Com Fidel, a bunda ficava quadrada, mas eu não me incomodava com o tamanho dos discursos nem lembro de gente dormindo. Sim, nem os ratos dormiam, então acho que não se entediavam. A fala de um e a escrita do outro eram impecáveis. Perdiam-se por ladeiras e ruelas mal frequentadas que só eram compreendidas quando apareciam lá na frente na avenida. Ou talvez não seja nada disso e o que tinham em comum fosse a tentativa de aniquilação de adversários ou de si mesmo — caso de Bernhard — através de palavras. Ah, e a soberba de ambos, arma que parecia mortal na mão destes dois Quixotes em ambientes hostis. E o fato de frases ditas aqui serem complementadas apenas bem adiante. Sei lá, só sei que toda vez que lia Bernhard lembrava de Fidel e que hoje, ao rever no YouTube um discurso de Fidel, ele não me fez lembrar em nada Bernhard. Nada, nem um pouco.

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Meu pitaco sobre a tal cena da manteiga entre Maria Schneider e Marlon Brando em ‘O Último Tango em Paris’

Meu pitaco sobre a tal cena da manteiga entre Maria Schneider e Marlon Brando em ‘O Último Tango em Paris’

Em uma entrevista concedida ao Daily Mail em 2007, Maria Schneider falou do estupro que sofreu por parte de Marlon Brando em frente às câmeras de Bernardo Bertolucci para o filme O Último Tango em Paris. A cena faz parte da produção e o uso da manteiga foi decidido entre Bertolucci e Brando na manhã anterior à filmagem. Não houve consentimento por parte de Maria, uma menina de 19 anos que contracenava com um monstro do cinema e com um cineasta extremamente talentoso que já era autor de O Conformista e A Estratégia da Aranha. Quando sentiu o que Brando fazia, é óbvio que ela pensou num estupro real.

“Deveria ter chamado meu agente ou meu advogado para vir ao set porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas, naquela época, eu não sabia disso. Marlon me disse: ‘Maria, não se preocupe, é só um filme’, mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade. Senti-me humilhada e violentada por Marlon e Bertolucci. Pelo menos foi só uma tomada”.

tango-manteiga

Engana-se quem pensa que, se não houve penetração, não houve estupro. Vale lembrar a definição do termo: “O crime de estupro é qualquer conduta, com emprego de violência ou grave ameaça, que atente contra a dignidade e a liberdade sexual de alguém”. O elemento mais importante para caracterizar esse crime é a ausência de consentimento. A lei brasileira, por exemplo, diz que não é preciso penetração para que o crime se caracterize como estupro.

A cena é polêmica desde o surgimento do filme. É a tal “cena da manteiga” e Bertolucci quis filmar de forma realista a reação de Schneider. Lembro que comentávamos a cena durante meu segundo grau no Colégio Júlio de Castilhos. Só que é indiscutível que houve violência e sadismo. Foi uma atitude deplorável. Uma atitude de dois estupradores famosos contra uma jovem de carreira ainda obscura.

Há anos conheço essa história e sempre quis que ela fosse mentira. Não é. Bertolucci e Brando levaram a um nível repulsivo a afirmativa de Hitchcock de que atores são gado. (Lembro de Bergman pedindo desculpas e mais desculpas a Gunnar Björnstrand antes de grudar uma vela acesa sobre a careca do ator, que ria). É incrível pensar que um dos maiores momentos do cinema — o monólogo de Brando ao lado do caixão da esposa suicida — esteja acompanhado da cena da manteiga e pelo que foi feito para que ela fosse filmada de forma “realista”. O pior é que Maria Schneider sempre será lembrada por este Último Tango, apesar de sua melhor atuação ter sido no esplêndido Profissão: Repórter, de Antonioni. Depois desse absurdo, ela não fez mais cenas de nudez.

tango-estupro

Me irrita especialmente, repito, o fato de que Bertolucci e Brando, “o maior ator do mundo”, serem dois artistas famosos e consagrados a pegarem uma menina que até ali devia estar feliz trabalhando com eles. Nojo total. Dizem que Maria jamais se recuperou do fato.

“Fui horrível com Maria, porque não lhe disse o que iria acontecer”, declarou o diretor na entrevista de 2013, e ainda completou que a intenção era que Schneider reagisse “como uma menina, não como uma atriz”. Bem… Contudo, Bertolucci nunca pediu desculpas para a Maria Schneider e até hoje afirma que sacrifícios precisam ser feitos em nome da arte.

Mas há limites, não?

Viagem ao redor do umbigo

Viagem ao redor do umbigo

Li no livro Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas, a curiosa definição de Marguerite Duras sobre o ato de escrever: escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos. Dou-lhe inteira razão, mas há algumas pessoas, dentre as quais me incluo, que negam o que escrevem e raramente releem o que deixam escrito por aí. Nem este blog é relido por mim.

Hoje, dediquei algum tempo a reler uns posts antigos e surpreendi-me com o grande número de frases e expressões que revisaria ou cortaria. Há idiotices incríveis. Encontrava aqui uma ideia que deveria estar clara e não está; ali, uma frase horrenda; mais adiante, surpreendia-me comigo mesmo — eu escrevi isto, isto sou eu ou um personagem? Ou sou eu meu personagem? Acho que é o caso. Afinal, quando divagamos sobre nossas vidas, não estamos reescrevendo um livro com caracteres mais brilhantes ou não para depois recolocá-lo — capa dura ou brochura — em nossa memória, a fim de retirá-lo no momento seguinte com o objetivo de mais uma revisão, a mesma revisão que não faço aos duros caracteres do monitor? Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos.

Sonhar, de Almada Negreiros
Sonhar, de Almada Negreiros

Porque hoje é sábado, o Milagre

Porque hoje é sábado, o Milagre

Por delicadeza, por obediência,

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quase perdi minha vida.

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Vivia apenas metade dela,

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tudo era meia verdade.

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Meia verdade é como habitar meio quarto,

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ganhar meio salário.

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É como só ter direito

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à metade da vida.

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Num milagre, a uma metade juntou-se outra

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perfazendo um inteiro.

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Aquela parte que existia ganhou um corpo,

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e agora ela o observa.

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Um passeio poético pela Voluntários da Pátria

Um passeio poético pela Voluntários da Pátria

Fotos de Bernardo Jardim Ribeiro

Pautado para simplesmente caminhar pela cidade, o fotógrafo Bernardo Ribeiro escolheu percorrer a Voluntários da Pátria da estação rodoviária até a Ramiro Barcellos. A região pouco turística estranhou a presença do fotógrafo. Em certo momento, ele foi alvejado por uma maçã. Mesmo assim, o resultado foi excelente. São gatos em antiquários, carroceiros, mendigos, crianças e Papais Noéis…. Enfim, belas cristalizações do fugidio em Porto Alegre.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21