Bom dia, Renato (com os principais lances de Grêmio 1 x 0 Lanús)

Texto de Samuel Sganzerla

E bom dia também, drone que nos observa!

Sabe, Renato, o futebol tem dessas coisas fantásticas. Ontem, dava para sentir que Porto Alegre PULSAVA. Havia uma aura mística pairando nos ares da cidade. Uma massa ensandecida de gremistas não apenas lotava a Arena, mas se fazia presente em cada canto. Uma loucura que só uma final de Copa Libertadores pode nos proporcionar.

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

O primeiro passo foi dado, Renato, ainda que timidamente. Ontem à noite, a imprensa gaúcha descobriu o que eu e tu já sabíamos: o Lanús não chegou até aqui de graça. Passei o dia ouvindo a programação esportiva, e o que não faltou foram “especialistas” colocando a taça na mão do Grêmio antes da bola rolar. Como tenho pavor disso, usei minhas redes sociais para pedir educadamente que todos eles introduzissem suas opiniões onde bem entendessem.

Porque no futebol não existe jogo jogado, Renato. É o esporte mais popular do mundo justamente porque é o único que proporciona que um time de bairro possa encarar um gigante tradicional de igual para igual. Surpreende-me que esqueçam disso. Nós, pelo menos, não esquecemos. Pois ficou claro, em campo, que o Grêmio respeita o Lanús. Procuramos nos impor, mas sabendo que do perigo que os argentinos podem proporcionar.

Quando a bola rolou, logo quisemos buscar nosso jogo embasado no toque de bola. Só que, do outro lado, tem uma das equipes mais bem treinadas que eu vi na história recente da América do Sul. O posicionamento e a saída de bola do Lanús são taticamente impecáveis, até bastante inovadores. Quem achava que o Granate era apenas superação, por conta da grande virada para cima do River Plate, na semifinal, surpreendeu-se.

Entretanto, parece que essa gente toda que ou quis comemorar antecipadamente, ou quis fazer uma espécie de ZICA REVERSA esqueceu o que aconteceu nas últimas edições da Libertadores. Fazia quatro anos que um clube brasileiro não chegava à final da competição. Sem contar nas tantas eliminações inesperadas que os grandes do futebol tupiniquim sofreram. Não sei se pensam que só a grife e a gigantesca sala de troféus de um Boca Juniors ou de um Peñarol da vida entram em campo. Mas a soberba do futebol nacional custou muito caro a seus clubes. E muitos não aprenderam.

Eu e tu, por outro lado, sabíamos que não tinha jogo fácil. Nunca é. Ali joga um campeão argentino. E isso é muita coisa! A gente buscou se impor em campo, valendo-se da força da nossa casa. No início, quase sem nenhum efeito, é verdade. Até o Lanús começou a gostar do jogo, levando à nossa meta o perigo que não oferecemos. Mais uma vez, Marcelo Grohe (que um dia me perdoará por toda a corneta) surge no momento em que o time mais precisou dele, salvando-nos novamente.

Arthur muito se movimentava no meio campo, sendo nosso melhor jogador na articulação. Luan, muito marcado, não produziu muito, tendo uma atuação um pouco apagada ontem. Mesmo assim, no final do primeiro tempo conseguimos voltar a prevalecer em campo, retomando a posse de bola e levando o jogo para o campo do adversário. A melhora não foi o suficiente, mas já era sinal de que o filme de terror que tivemos naqueles últimos 15 minutos não duraria a partida inteira.

No segundo tempo, todavia, só deu nós. O Lanús mal entrou no campo do Grêmio e pouco ficou com a bola. Marcelo Grohe foi mais um espectador da etapa complementar. Para dar mais movimentação pelo lado esquerdo, Everton entrou no lugar de Fernandinho, que novamente não esteve bem (a despeito de eu saber que tu segues escolhendo ele porque ele busca cumprir a função tática do Pedro Rocha).

Eis que, para vencer, esse Grêmio do TIKI-TAKA DOS PAMPAS precisou esquecer um pouco de sua atual filosofia de futebol mais refinado, preciso e bem jogado para relembrar o velho Imortal Tricolor. Foi o momento de lembrar que uma Libertadores se ganha com sangue, suor e lágrimas. E a tua estrela entrou em campo, Renato! Foi como tu vestindo a lendária camisa 7, azucrinando os gringos e tirando um cruzamento da cartola para o César.

Quando Cícero e Jael entraram em campo, pouco se poderia acreditar que fariam a diferença. A bem da verdade, àquela altura, estávamos todos tão nervosos que nem pensávamos direito. Vai que a aura mística copeira quisesse que dois jogadores criticados fizessem a diferença. E foi assim mesmo, num grande lançamento de Edilson, que Jael deu a assistência para Cícero fazer a Arena, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul EXPLODIREM em alegria.

Poucas coisas são tão espetaculares nessa vida quanto um gol numa decisão nervosa e truncada. Certa vez, Ilie Dumitrescu, centroavante da lendária Romênia de 94, disse que fazer um gol numa Copa do Mundo era algo tão inesquecível quanto a primeira transa. Não são poucas as pessoas que fazem metáforas com futebol e sexo. Aquele gol do Cícero foi um orgasmo coletivo, daqueles que libertam nossas almas. Foi escrita a primeira página para libertarmos a América pela terceira vez.

Fim de jogo. O destaque negativo da partida vai para a arbitragem do senhor Júlio Bascuñan. Kannemann levou amarelo POR TER SIDO EMPURRADO (uma das coisas mais ridículas que eu já vi), o que o tirou do jogo de volta. Além disso, foram-nos sonegados dois pênaltis (um deles claríssimo!). O tal do árbitro de vídeo só existe para enfeite na Libertadores, pelo visto. Simplesmente péssimo.

Sinceramente, Renato, depois da semifinal e de ontem, toda vez que um chileno desembarcar no Salgado Filho para apitar uma partida na Arena, ficarei desconfiado que a CONMEBOL está mal intencionado. Na verdade, vou convidar quem quiser ir até lá comigo para dar uma SURRA no infeliz. Porque até podemos não saber o porquê de estarmos batendo, mas ele com certeza saberá o porquê de estar apanhando.

Enfim, o que importa ontem, mesmo, foi a vitória. Lá em La Fortaleza, semana que vem, será páreo duro. Os argentinos é que terão que sair para o jogo e tentar colocar pressão. Já mostraram que são capazes disso. E nós já mostramos que nosso melhor futebol aparece nessas circunstâncias de jogo. Que essa semana passe devagar o suficiente para todos os jogadores estarem devidamente preparados para a grande decisão, mas rápido o bastante para não deixar que essa ansiedade nos mate.

Que venha o Tri! Como sempre cantamos, Renato: queremos a Copa!

Saudações Tricolores!

Segue o baile…

https://youtu.be/KrYpCWFOH6g

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