Eu jamais pensei que este livro fosse de assustar, mas o fato é que ele me envolveu de tal forma — e o caso é tão preocupante — que não consegui largá-lo da metade até o final. Precisava saber o final da história e, bem, ela me ASSUSTOU de verdade. Mas não vou estragar a leitura de vocês contando a trama. Também peço a meu leitor que não reduza Assombrações (Todavia, 184 páginas, R$ 49,90) aos sustos que citei, pois o livro carrega enorme simbolismo e real dramaticidade. Deste modo, sigamos sem spoilers.
Daniele Mallarico é um respeitado ilustrador que já passou dos 70 anos. Vive solitário em Milão, é abastado e está convalescendo de uma cirurgia quando é chamado a cuidar por uns dias de seu neto Mario. Os pais de Mario, Saverio e Betta, filha do ilustrador, passam por um péssimo momento. Saverio é um daqueles ciumentos trágicos que imagina, pensa ou tem absoluta certeza de que a mulher está apaixonada por um poderoso professor do Departamento de Matemática onde trabalham.
Mas o livro gira muito mais sobre a relação entre neto e avô, entre o pequeno ser de quatro anos cheio de energia e o velho debilitado. À carência e à fraqueza de Daniele, Mario responde de forma mimada e descontrolada, típicas da infância super-protegida de hoje. Pior: aos quatro anos, demonstra enorme talento para o desenho, o que perturba o velho ilustrador. Enquanto cuida de Mario, Daniele deve produzir ilustrações para uma edição de luxo de The Jolly Corner, de Henry James. O editor que fez encomenda recebeu os primeiros esboços e está muito descontente, o que faz Daniele pensar que a fonte secou.
Daniele mal suporta o neto que parece saber tudo sobre a casa napolitana onde mora e que é a mesma onde passou sua infância. “Eu copiei do vovô”, é a última frase do livro. O inferno de Assombrações está nos detalhes de uma narrativa onde o velho busca um impossível acordo com suas opções e ambições.
Infância, decrepitude, inadequação, raiva, desconforto, inveja. Starnone é um mestre que faz com que grandes temas fluam através da descrição de pequenas ações cotidianas.
Amigos, estou em férias, não vi o jogo… Só o gol de Sarrafiore. Parece que o Avenida gosta de tomar gols em que a bola bate em meio mundo e acaba lá dentro.
Sem jamais perder sua gloriosa e característica verve humorística, Gógol faz de O Capote uma obra-prima de compaixão humana para com a pobreza e a falta de perspectivas de outrem. “Todos nós descendemos de O Capote“, afirmava Dostoiévski. Otto Maria Carpeaux escreveu, concordando com Dostô: “Gógol é o fundador da grande literatura russa do século XIX. Do Capote descende toda aquela literatura de compaixão algo sádica de Dostoiévski e a sensibilidade cinzenta de Tchékov que, assim como o próprio Gógol, chorava por trás do riso do humorista”.
Sem spoilers. O Capote narra a história de Akaki Akakiévitch, funcionário público em São Petersburgo. O protagonista é um solitário e copista de processos que vive para seu trabalho mas que é alvo das brincadeiras de seus colegas em razão de seu casacão — o tal capote — gastíssimo e puído. Ele passa frio com ele durante o inverno. É claro que não contarei o restante da ótima história.
A novela O Retrato é menos conhecida, mas não é muito inferior, não. Tchartkov é um pintor em início de carreira que se vê pressionado por dívidas e está sob a perseguição do proprietário do apartamento onde mora. Um dia, num mercado, ele adquire por baixo preço uma pintura, um retrato que o deixa muito intrigado. Há ali um olhar perturbador, impossível de não considerar. E ele vai cumprir uma rotina de Fausto. O segundo e esclarecedor capítulo é extraordinário.
Dia desses escrevi no Face algo de tom ameno — o único tom possível para não receber muitas agressões no Facebook — sobre o fato de que as pessoas não sabem a diferença entre pornografia e erotismo. De qualquer maneira, aquilo causou certa confusão e recebi de volta até a citação de Alain Robbe-Grillet, “A pornografia é o erotismo dos outros”, a qual, para alguns, significa de uma coisa é igual a outra, bastando alterar a perspectiva.
Definições melhores partiram de filósofos e linguistas que conhecem as raízes gregas das palavras — encontrei inclusive uma catilinária pró-erotismo do grande Donaldo Schüller — e de psicólogos.
A etimologia da palavra grega pornografia nos diz claramente: “escrever sobre prostituição”. A de erotismo vem de eros (amor, desejo sexual), mais o sufixo ismo, que significa atividade, sistema.
Comecemos pela pornografia. A pornografia é fácil de identificar. É quando é vendida uma ilusão (ou menu) simples e fácil. Não há nenhum fato de ordem psicológica que impeça a realização do desejo, nenhuma culpa ou neurose, nada. Ali, há a platitude, o 2D. Tudo é resolvido em linha reta no âmbito de um desejo a ser satisfeito. É mudar várias vezes de posições e chegar ao espetacular orgasmo. Não há inibições ou problemas. Apenas envolvimento no sentido de chegar lá.
Já o erotismo não dá facilidade. O sexo pode até não ocorrer. A realidade é incontrolável e pode ser fugidia. A erótica é uma ficção realista, carregada de possibilidades estimulantes ou não, longe do gozo louco e contínuo.
Ou seja, na pornográfica tudo está absolutamente controlado, seguro. É uma via em um só sentido, um atalho onde normalmente um responde ao desejo do outro. Ambos têm em grande quantidade o que outro quer e os acontecimentos são repetitivos, previsíveis, aguardados, sem divergências. Problemas para fazer o outro gozar? Nem pensar. Longe de qualquer problema, perto de um final feliz, a pornografia vai ao Olimpo com os gritos de Yesss da mulher dando aval ao pênis, à mão, à língua ou outro objeto ou equipamento. Você imagina um pornô dando errado? Jamais. O pornô deve estimular.
Já o erotismo pode ser tão excitante quanto a pornografia, mas nele a coisa pode tornar-se traiçoeira como a realidade. Ele vem carregado de possibilidades e impossibilidades, de ascensões e declínios, o gozo é limitado aos limites humanos e há possibilidades de embaraços.
Como o cinema é a arte mais pública e em comum que temos, diria que os filmes O Último Tango em Paris, Jovem e Bela, Shame e Ninfomaníaca são filmes limítrofes, mas pendem mais decididamente para o erotismo, assim como tudo aquilo que nos excite fora do caminho fácil e inexorável da pornografia. Ou seja, é claro que muita coisa pode ser erótica em dramas ou comédias assistidos comportadamente por famílias. Já viram Grace Kelly crescendo na tela em Janela Indiscreta, Ingrid Bergman olhando para Humphrey Bogart em Casablanca ou Juliette Binoche massageando os pés em Cópia Fiel? Pois é.
Já a pornografia pode ser vista às carradas em sites como pornhub, xvideos, redtube, xtube, o diabo.
Assistindo uns e outros, deve ser fácil notar a diferença…
Surpresa das surpresas, tu escalaste Nonato no lugar de Nico López. Parabéns, Odair! Ficamos encantados de finalmente poder ver este jovem precedido de tantos elogios. E ele mostrou naturalidade, rapidez, bons desarmes, passes certos e um estilo que poderia ser comparado ao do ex-gremista Arthur. Gente, falo do estilo como referência, não estou dizendo que Nonato acabará no Barcelona.
Pedro Lucas também estreou iniciando uma partida. Me pareceu muito mais nervoso do que Nonato. Escondeu-se atrás dos zagueiros, esperando que a bola lhe fosse oferecida pela sorte. Evitou toda a disputa aérea jogando num time que ama cruzamentos. A vida não é o pudim da mamãe, Pedrinho, há que lutar e cravar as unhas para não escorregar. Dentro da grande área, tem que lutar contra dez esfomeados que querem o mesmo pedaço da sobremesa materna.
Jogamos miseravelmente ontem no Beira-Rio. Fomos muito mal. O Caxias tocava a bola e ficávamos impotentes. Nunca tivemos a bola, exceto no final da partida, na pressão, com um a menos.
A rigor, no primeiro tempo, as chances do Inter resumiram-se ao gol de Pottker. Nada mais houve em nosso ataque. Se estávamos mancos com Nico em campo, imagina sem. Nosso atacante mais efetivo foi Pottker. Neílton ficou na posição de armação, se fazendo de craque. Se é para tentar lançamentos, melhor ir para o meio.
Nossa saída de bola é lenta, incrivelmente lenta e temos um grave problema de concepção. Zeca, Bruno, Iago e Uendel não são bons laterais. Erram passes, atrasam tudo, marcam de longe. Ao menos Zeca demonstra vontade. Não me surpreenderá se Emerson Santos e Patrick acabarem nas posições deles.
O primeiro tempo foi assim: o Inter não conseguia atacar, o Caxias tocava a bola e nosso furo defensivo era a dupla pelo lado esquerdo, Cuesta e Uendel.
Fomos para o intervalo e pensei que, jogando como estávamos jogando, seria complicado ampliar.
No início do segundo tempo, tivemos ainda menos a bola. O Caxias era soberano e logo empatou, em jogada começada lá no setor de Uendel. Para piorar, ali pelo 15 min Edenílson foi expulso com justiça. Aos 23, Dale entrou no lugar de Neilton. As outras substituições foram a troca de Nonato por Patrick e a de Pedro Lucas por Sóbis.
Tudo se encaminhava para um fiasco. Ali pelos 40, houve uma falta perigosíssima a nosso favor. Dale deveria batê-la, claro, mas a ascendência de Sóbis sobre seus companheiros parece avassaladora. Ele bateu bem. A bola passou por baixo da barreira e talvez acabasse em gol, só que, atrás da barreira, Patrick evitou que a bola seguisse seu destino.
Tudo se resolveu na sorte, daquele jeito. Pottker cavou uma falta pelo lado esquerdo. Sóbis bateu e Patrick — que finalmente entrou bem — marcou de cabeça.
Gente, o adversário era o Caxias. Apenas o Caxias. Tivemos uma semana para treinar e só corremos atrás. Estamos muitíssimo mal. É, sim, preocupante. Deveríamos estar em outro nível para entrar na Libertadores.
A próxima partida é domingo, às 17h, em Santa Cruz, contra o Avenida.
Este livro foi um presente de um leitor deste blog e amigo meu do Facebook. Jonas Fernando Pohlmann é um gaúcho e colorado de Ijuí que mora em Maputo, Moçambique. Como a maioria dos que leem este blog, Jonas é uma pessoa altamente qualificada, tendo estudado na Ufrgs e na London School of Economics and Social Science.
Já Paulina Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, em 1990. Suas histórias têm gerado discussões em um país que pratica a poligamia. É o caso de Balada de Amor ao Vento.
A história do amor de Sarnau e Mwando é longa e cheia de reviravoltas dentro do contexto do sul de Moçambique. Não vou contar tudo, claro, só que Mwando queria ser padre, mas também desejava Sarnau e, por isso, acabou expulso do seminário. Ela engravidou e ele a rejeitou, pois seus pais tinham-lhe arranjado outro casamento. O casamento é infeliz e ele tenta voltar para Sarnau, que já era uma das esposas do chefe local. E mais não conto.
Para a compreensão completa do livro é importante saber o que é o lobolo. Lobolo é um costume cultivado até hoje no sul de Moçambique. Segundo esta tradição, a família da noiva recebe dinheiro pela perda que representa o seu casamento e a ida para outra casa. A cerimônia consiste numa oferta de bens — gado, dinheiro, roupas e alimentos, entre outros — à família da noiva. Após a aceitação e recepção destes bens por parte da sua família, a noiva passa a pertencer à família do homem. Por esse motivo, aos olhos ocidentais e dos colonizadores portugueses, a mulher estaria a ser vendida. O dote oferecido serve de fundo para a família da moça. E também como um seguro, pois para anular a união seria necessária a devolução do dote… Imaginem o problema de uma mulher querer se separar: isto obriga sua família a devolver o dote ao seu esposo. Assim funciona o lobolo.
A história de Sarnau e Mwando faz-nos pensar. Ela gira e espreme algumas tradições, dando-nos uma visão clara do que representa a poligamia — e até dando algumas vantagens a ela quando diz que é uma forma do pai jamais deixar os muitos filhos abandonados –, mas sempre deixando claro que é uma vida insatisfatória para a mulher — brigas, ciúmes entre as esposas, tudo pela atenção do homem — e que garante a inteira supremacia do homem.
A prosa de Paulina Chiziane é leve, fluida e colorida. Não pense que ela discute o lobolo, a pobreza e o colonialismo através de teses ou discursos. SE fosse assim, o livro perderia muito de sua força. Ela apenas demonstra as situações e é brilhante nisto.
A boa notícia é que o Inter melhorou. Não foi muita coisa, mas houve melhora. Pela direita, Zeca não repetiu Carlos Alberto Torres, porém é muito melhor do que os outros que por ali estiveram. Pela esquerda, Iago foi lastimável. Pottker — aleluia! — jogou bem. Nico López mostrou que joga mais atuando pelo meio. Neilton atuou como no Vitória, chamando o jogo para si e resolvendo bem as coisas. Já Tréllez poderia trabalhar organizando gôndolas em supermercados, é alto e alcançaria as prateleiras mais próximas do teto. Parece não servir para outra coisa, infelizmente.
A defesa também está longe de seu desempenho de 2018. Cuesta está em má fase e, para piorar, tem Iago jogando mal a seu lado.
O que não podemos entender é a contratação de Tréllez, atacante que jamais se destacou em lugar nenhum — nem na sua Colômbia natal.
Porém, como disse, o time melhorou e não vamos negar o mérito de Odair Hellmann nisso. Nico López, Edenílson e Dourado são os grandes destaques da equipe. Só que Pedro Lucas deveria entrar logo no lugar de Tréllez.
A expulsão de Nico foi justa. O técnico Winck, do Juventude, criou toda a confusão, só que o uruguaio não precisava ter ido até o banco do Ju para uma troca de socos. Aliás, que atitude varzeana a de Winck. Se acertou nas expulsões, a arbitragem não deu um pênalti de Cuesta e também impediu que Nico marcasse nosso segundo gol antes dos 30 do primeiro tempo.
Jogar o Gaúcho é complicado.
Esperamos que a evolução do time siga na próxima partida contra o Caxias, domingo, às 19h, no Beira-Rio. Não está nada bom, mas estamos melhorando e, daqui alguns dias, talvez sejamos melhores do que o Vasco.
Ontem à noite, eu e alguns poucos e bons amigos fomos convidados como cobaias da chef Astrid Müller. Cobaias é uma forma educada de reduzir o convite aos níveis habituais das improvisações amadoras, pois um jantar da Astrid não é nada disso. Ali, nós estamos naquela situação de dar uma garfada e olhar para o prato a fim de descobrir o que haveria nele para nos causar tanta surpresa e prazer.
Eu sou um glutão tosco que não sabe nada de gastronomia e que sempre lavou a louça em casa por não saber cozinhar. Mas garanto-lhes — garanto mesmo! — que sei diferenciar o arrebatador do apenas ótimo. E a sequência de pratos foi arrebatadora.
Um psicanalista que cozinha muito bem disse-me que a cozinha era a extensão natural de seu trabalho no consultório. Em ambos os trabalhos, ele trabalhava com afetos. Penso eu que um jantar como o de ontem é um meio muito sofisticado e absolutamente matador de criar oportunidades de alegria.
Foi isso que a Astrid obteve para nós e demonstrou para nós, afeto.
P.S. 1: Como disse, sou um tosco gastronômico. Se a Astrid quiser vir aqui descrever os pratos cujas fotos coloco abaixo, eu acrescento o texto dela. Para que vou passar vergonha depois daquela sinfonia?
P.S. 2: Com Augusto Maurer, Elena Romanov, Jussara Musse e Ricardo Branco.
No Brasil — ou ao menos em Porto Alegre — existe o Imposto Sotaque. Se eu peço um serviço, ele custa mais ou menos R$ 25 por hora. Se a Elena pede, custa R$ 60. Não estou brincando. Aconteceu ontem e hoje, com a mesma pessoa.
Também se a Elena, que é bielorrussa, usa um táxi, tem que explicar o itinerário. Se não faz isso, o cara vai de um bairro a outro da cidade pelo Canal do Panamá.
Isso faz com que eu seja o porta-voz do casal para efeito de contato com prestadores de serviços. Marceneiros, hidráulicos, pintores, eletricistas, pessoas que arrumam ar condicionado, tudo tem que ser comigo. O que é muito chato, pois a maioria dessas pessoas presta maus serviços e tudo acaba em reclamação. Semana passada contratei um marceneiro para arrumar nossas venezianas.
— O Sr. também pode pintá-las?
— Sim, claro.
Pintura feita, vemos que o serviço ficou uma porcaria.
— É que o Sr. sabe, eu sou marceneiro. Pintei só porque o Sr. pediu. Na verdade, não sou pintor.
E eu não pedi absolutamente nada, apenas perguntei. Assim, enganado desta forma, vou lentamente enlouquecendo e morrendo. Para não matar.
Ainda bem que a temperatura caiu nos últimos dias em Porto Alegre. Na semana passada, quase todas as pessoas com as quais eu mantive contato estavam irritadas, muito irritadas e cansadas. Vivíamos sob 37 graus e sensação térmica de 46. Os antigos narradores de futebol falavam em “temperatura senegalesca”, o que revela que os narradores de antes eram tão desinformados quanto os de hoje, pois, se a temperatura do Senegal chegasse aqui, seria uma dádiva a ser saudada por qualquer porto-alegrense.
Saibam que o Senegal é um país de clima muito agradável. Tem, basicamente, duas estações. Uma estação seca de novembro a maio, quando nunca chove e as máximas ficam entre os 23 e 25 graus. A outra estação é úmida e mais quente: de junho a outubro há alguma chuva, principalmente no sul do país. A média das máximas fica em 29, 30 graus.
Então, meus filhos, quando a coisa estiver insuportável por aqui, não fale em temperatura senegalesca e pense em Dakar como um bom destino. Ah, prepare algumas frases em francês. Ou em uolofe.
Inter iniciou o jogo com Bruno e Tréllez. Isto além de D`Alessandro, que deveria entrar no segundo tempo. Essa escalação é quase como entrar com 9 homens. Ou com algumas substituições certas para corrigir o time no segundo tempo. (Isso eu escrevi no twitter antes da partida. Adivinha se os dois primeiros não foram substituídos?).
O jogo iniciou com o Inter sem soluções ofensivas. Porém, em lance isolado, aos 14 min, D`Alessandro chutou no travessão. Na sobra, Moledo marcou, mas estava impedido.
Aos 15, novo gol perdido. Tréllez não entendeu a jogada de calcanhar de Nico López e não fez o gol por desatenção.
A defesa do Brasil-Pel mostrava não ser lá essas coisas. Os pelotenses erravam muitos passes, mas o Inter, para organizar contra-ataques, antes tinha que carimbar um memorando pedindo licença. Entendam, é um time burocrático.
Ademais, as jogadas de ataque acabavam sempre em Tréllez, que perdia todas.
Aos 32, Neílton deixou Edenílson na cara do gol, mas ele perdeu a bola para o goleiro.
Um minuto depois, Iago cruzou sem goleiro para Tréllez. Adivinha o que aconteceu? Nada, pois a forma com que Tréllez disputa as bolas na área é digna de um bêbado.
Graças a deus, acabou o primeiro tempo.
A mediocridade acentuou-se no segundo tempo. Havia tantas opções melhores no banco — Falo sério, ou seja, o Inter está muito mal escalado — que nem sabia o que sugerir.
Aos 13 min do segundo tempo, Odair tirou Tréllez — finalmente! — para colocar Pedro Lucas. Aos 20, já desesperado, nossa sumidade colocou Sarrafiore no lugar de Neílton.
Tudo porque nosso time parecia uma lixeira. Com Pedro Lucas e Sarrafiore, tudo melhorou. Então, Pedro tomou uma falta na entrada da área. Na cobrança, Dale bateu mal, mas no rebote Dourado tentou o gol e Moledo marcou.
O namorado da filha da minha mulher é colombiano e acompanha MUITO futebol. Ele me disse que não entende a contratação do Tréllez. Disse que ele JAMAIS se destacou por lá. Um dia — quem sabe o que houve? — , talvez o MP se interesse pelo caso. Custou R$ 1,5 milhão.
Nosso time segue mal, mas ganhará uma semana para treinar. Espero que Odair possa dar alguma dinâmica a ele e que vá retirando os inúteis. Ah, Zeca entrou bem na de Bruno.
O próximo jogo é domingo, às 17h, no Alfredo Jaconi, contra o Juventude.
Abaixo, reportagem da Marie Claire sobre Sabrina Bittencourt.
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Ativista social e uma das mulheres que ajudou a desmascarar abusos sexuais de João de Deus e Prem Baba, Sabrina Bittencourt, 38, cometeu suicídio no sábado (02/02). Em nota de falecimento comunicada à imprensa assinada por Maria do Carmo Santos, presidente da ONG Vitimas Unidas, com a qual Sabrina trabalhava, a morte de Bittencourt foi confirmada.
“O grupo Vítimas Unidas comunica com pesar o falecimento de Sabrina de Campos Bittencourt ocorrido por volta das 21h deste sábado, 02 de fevereiro, na cidade de Barcelona, na Espanha, onde vivia. A ativista cometeu suicídio e deixou uma carta de despedida relatando os porquês de tirar sua própria vida. Pedimos a todos que não tentem entrar em contato com nenhum integrante da família, preservando-os de perguntas que sejam dolorosas neste momento tão difícil. Dois dos três filhos de Sabrina ainda não sabem do ocorrido e o pai, Rafael Velasco, está tentando protege-los. A luta de Sabrina jamais será esquecida e continuaremos, com a mesma garra, defendendo as minorias, principalmente as mulheres que são vítimas diárias do machismo”.
Antes de cometer suicídio, a ativista e Doutora Honoris Causa por seu trabalho humanitário pela UCEM – Universidad del Centro, no México, escreveu post em sua conta no Facebook em que fala sobre sua vida e a luta pelas mulheres e minorias. “Marielle me uno a ti. Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos.”. Sabrina, que morava em Barcelona, se matou no sábado (02/02) e deixa três filhos.
De família mórmon, Sabrina foi abusada desde os 4 anos por integrantes da igreja frequentada pela família. Aos 16, ficou grávida de um dos estupradores e abortou. Bittencourt dedicou a vida a militar por vítimas de abuso e a desmascarar líderes religiosos, dentre eles Prem Baba e João de Deus. Bittencourt é uma das criadoras do “movimento” Coame, sigla para Combate ao Abuso no Meio Espiritual, plataforma que concentra denúncias de violações sexuais cometidas por padres, pastores, gurus e congêneres. Sabrina ajudou, principalmente, as vítimas de abuso sexual de João de Deus, investigando as acusações junto à imprensa. Sabrina também auxiliou a filha do próprio médium, Dalva Teixeira, na denúncia contra o pai por abuso.
Em relato em primeira pessoa feito em dezembro de 2018 à Marie Claire, Sabrina conta sobre a vida de abusos e como se tornou uma das principais vozes e forças de apoio a vítimas de abuso sexual, principalmente dentro de grupos religiosos. Alvo de ameaças de morte, Sabrina vivia fora do Brasil e se mudava frenquentemente.
A seguir, leia na íntegra o post de Sabrina postado no Facebook na noite de sábado (02/02):
“Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. VOCÊS TERÃO MILHARES DE MÃES NO MUNDO INTEIRO. Minhas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim… ❤️ Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. USEM A SUA PRÓPRIA VOZ. A SUA PRÓPRIA VONTADE. TOMEM AS RÉDEAS DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS E ABRAM A BOCA, NÃO TENHAM VERGONHA! ELES É QUEM PRECISAM TER VERGONHA. Não aguento mais. Todas as provas, evidências, sistemas de apoio, redes organizadas e sobretudo, meu legado e passagem por aqui está entregue ou chegará às mãos corretas. As REDES DE APOIO AOS BRASILEIR@S FORAM CRIAD@S E SE EXPANDIRÃO NA VELOCIDADE DA LUZ! Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e o aprendido. Paulo Pavesi, eu sinceramente sinto muito pela morte do seu filho. Tenha certeza, que se eu soubesse da sua história na época, implicaria minha vida e segurança como fiz com centenas de pessoas. Damares, eu sei que você não teve tratamento psicológico quando deveria e teve sequelas, servindo de marionete neste sistema de merda que te cooptou, acolheu e com o qual você se sente em dívida o resto da sua vida. Não tenho dúvidas que você amou e cuidou da sua “Lulu” como gostaria de ter sido cuidada e protegida na sua infância, mas ela nao é uma bonequinha bonita que você poderia roubar e sair correndo… Giulio Sa Ferrari, eu te considerei um irmão e você sabia de todas as minhas rotas de fuga… eu vi em você a pureza de um menino que nunca foi notado por uma sociedade neurotípica que não entendia os neuroatípicos, mas reputação é algo que se constrói e não é de um dia ao outro. Gabriela Manssur, muito obrigada por me fazer ter esperança de que elas serão ouvidas e atendidas em suas necessidades. João de Deus, Prem Baba, Gê Marques, Ananda Joy, Edir Macedo, Marcos Feliciano, DeRose Pai, DeRose filho, todos os padres, pastores, bispos, budistas, espíritas, hindús, umbandistas, mórmons, batistas, metodistas, judeus, mulçumanos, sufis, taoístas, meus familiares, Marcelo Gayger, Jorge Berenguer, eu desconheço a sua infância e a sua criação pelo mundo, mas sei no meu íntimo que TODO MENINO NASCEU PURO e foi abusado, corrompido, machucado, moldado, castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter talvez, cada um à sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor grau) que ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas… Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi SEMPRE ficar do lado mais frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes, pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fudidos, rebeldes e incompreendidos… Essa vida é uma ilusão e um jogo de arquétipos do bem e do mal, de dualidades… desde que o mundo é mundo. Vivo num outro tempo desde que nasci e sempre senti que vivia num mundo praticamente medieval. Volto pro vazio e deixo minha essência em PAZ. Aos meus amigos, amadas e amantes, nos encontraremos um dia! Sintam meu amor incondicional através do tempo e do espaço. SIM e FIM.”
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Obs. do editor: Não tenho boas alternativas, mas não gosto da expressão “cometeu suicídio”. A pessoa comete crimes ou ilícitos. Acho que tirar a própria vida, matar-se, suicidar-se ou abandonar a vida é um direito.
Era um problema. Um pequeno grande problema. Não, era um grande problema. Simplesmente, ele não tinha dinheiro para comprar o presente de aniversário para o filho. Ele possuía uma pequena empresa à qual não conseguia dar atenção e havia um acordo do casal: a mulher estava fazendo doutorado — estudava, pesquisava e recebia uma bolsa, enquanto ele cuidava da empresa e das crianças. Júlio levava-as e buscava-as no colégio, ia e vinha, trabalhava apenas até às 16h30, depois saía correndo para pegá-las. Em vários dias de semana, levava-as para almoçar ao meio-dia. Pela manhã, chegava cedo na empresa a fim de organizar as coisas, mas os clientes só chegavam ou telefonavam mais tarde. Os finais de semana também eram passados com os guris. Ele vivia na certeza de que ia falir. Sentia-se como se acelerasse um carro de encontro a um muro, sem conseguir uma forma de desviar ou parar.
Seu sócio já estava atrás de um emprego. Era uma boa pessoa, disse que eles não tinham perfil de empreendedores e que ia embora logo que pudesse.
Ele não podia — ou pensava que não podia — descumprir o acordo com a mulher. Tinha garantido que tirava de letra. Dissera para ela gastar o dinheiro da bolsa com ela mesma e ele arranjaria o resto. Seria briga certa e grave se ele quisesse alterar o acordo. Com a palavra empenhada, escondia as dívidas da mulher — o colégio dos filhos estava com pagamentos em aberto — e tinha vergonha de pedir dinheiro a ela que, além disso, faria perguntas. A situação já perdurava há meses e ela já falara que o salário dele na firma devia ser uma pensãozinha. Ah, se ela soubesse…
Júlio adorava os filhos. Gostava de brincar e de conviver com eles. Esquecia dos problemas na companhia dos filhos. Divertia-os com sua presença. Então, havia uma ilha de pobreza em casa, ilha que ele tratava de esconder sob as névoas da alegria infantil e do bom humor.
Mas como não dar um presente?
No domingo seguinte, ele levou Leo a um jogo de futebol para o qual o menino tinha sido convidado. O pai de um amigo do filho tinha alugado uma quadra de futsal pras crianças. Júlio tinha só o pouco dinheiro do bolso. Os valores no banco, estes só apareciam em algarismos vermelhos. Quando chegaram, Leo pediu para que ele colocasse uma moeda numa máquina que dava em troca uma bolinha transparente. Era uma surpresa. Dentro vinha um chiclete e um bichinho de plástico que quebrava em dois dias. A moeda não mudaria grande coisa da situação, mas mesmo assim Júlio hesitou em gastá-la e o menino deve ter notado.
Então Leo disse:
— Tu não me deu nada de aniversário. Quero isso. Vale como presente.
Recebeu a moeda.
— Taqui meu presente, pai! Achei legal! Guarda pra mim?
Ele foi jogar bola e Júlio ficou na beira da quadra, lutando contra as lágrimas, ainda mais isolado. Sem poder e sem saber como gritar.
(Então, como havia quatro pais assistindo o jogo, Júlio foi convidado a jogar. Dois para cada lado. Os pais não procuravam tirar a bola das crianças, mas enfrentavam-se um ao outro em jogadas gentis, sem nenhum impacto físico. Não queriam machucar um ao outro, tratavam-se com respeito enquanto riam e gritavam como crianças. Júlio era um bom jogador, mas estava desconcentrado, ainda comovido com o gesto de Leo. Foi quando recebeu uma batida de ombro do pai que era o dono da festa. Não foi com força, mas Júlio pensou vou cair e caiu. O outro pediu desculpas e estendeu-lhe o braço, perguntando se tinha se machucado. Não, não foi nada, estou bem.
Júlio foi invadido por um ressentimento avassalador. O cara que lhe derrubara tinha um tremendo carro, esbanjava seu dinheiro para divertir o filho. Os outros dois pais também tinham aquele jeitão de bem-sucedidos. E Júlio deixou de correr, com um azedume tipicamente infantil. Quando cruzou com o pai rico, tentou dar-lhe uma rasteira.
Pois o Inter entra em campo apenas segunda-feira para mostrar seu futebol de segunda categoria. Assim estamos. Uma bagunça geral. Em nosso time, quem tiver vontade bate pênalti. Pedro Lucas foi o melhor jogador que atuou na centroavância em 2019, então nem fica na reserva. Joga Tréllez, dispensadíssimo no São Paulo. Ou Pottker, de quem ainda falaremos. Odair já diz “não estar sofrendo pressão”. Tá bom. Nico López — melhor jogador do time –se consagrou e diz pra todo mundo que gosta de jogar no meio, então Odair o coloca pela direita, usando um lendário senhor de quase 38 anos no meio. Melhor seria preservá-lo, imitando que a Roma fazia com seu ídolo Totti. Parece que o técnico está refém de alguns jogadores “mais salientes” e sabemos onde isso vai parar. A mesma defesa que era um paredão agora só vaza. Sarrafiore entra aos 40 do segundo tempo para resolver o jogo — e o incrível é que o time melhora –, mas não inicia os jogos. Pottker há um ano é uma piada, só atrapalha. Faria mais se caminhasse em campo, falo sério. Fizemos 3 gols em 4 jogos… Não há nem triangulações, parece que o time não treina. O elogiado Nonato não foi visto em campo. Deve ter um mau empresário. O recém contratado lateral Bruno não parece ser do ofício. Do ofício de jogador de futebol. E Zeca? Este deve ter músculos de gelatina, sempre sentido desconforto muscular, Fica olhando o Bruno e pensando “não quero jogar”, “não quero jogar”…
Odair, iniciamos o ano muito mal. Eu e a toda a torcida colorada estamos apavorados. Libertadores? Bah, nem me fala nisso.