Em Berlim (VIII)

Em Berlim (VIII)

Como tirei poucas fotos naquele dia 10 de janeiro de 2017, só sei que ele começou com uma ida ao Foyer da Filarmônica para assistir a um recital gratuito e esqueci do resto. Sim, para quem está em Berlim com pouca grana ou muito tesão de ouvir música, é bom conferir no site porque, semanalmente, há excelentes recitais gratuitos no local. E, como mostram as fotos abaixo, é adequado chegar cedo. Nós tivemos que sentar no chão porque entramos dez minutos antes do início da função. Vejam só, tem gente em cadeiras, pelas escadas, nas galerias de cima, pelo chão, etc. Não há espetáculo vazio em Berlim.

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Nosso amigo Guilherme Conte explica que “tem uma coisa bem simpática sobre essas cadeiras nos concertos gratuitos: elas são para a terceira idade, independente da ordem de chegada. Pode notar, na foto, a imensa maioria é de cabeças branquinhas, só tem um ou outro gaiato no meio. Senta ali quem precisa, e não quem chega antes. Bem alemão.”

A foto acima e a de baixo são de antes do concerto…

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que teria as seguintes peças (clique na imagem para ler melhor):

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Bem, era um recital com a Sonata para Violino e Piano de Franck (transcrita para violoncelo) e a Sonata Nº 3 para Violino e Piano de Brahms.

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Como disse, era um programa gratuito das 13h com as cadeiras todas ocupadas, escadas e chão lotados de gente acomodada sobre seus casacos ou encostadas nas colunas. Pela primeira vez em mais de três anos, eu e Elena discordamos.

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Ela gostou do Franck e detestou a interpretação do violinista em Brahms, eu detestei o Franck e curti Brahms. Muitas caras concentradas nas fotos.

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A Elena ora encostava-se numa coluna,

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ora encostava-se numa coluna.

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Como todo mundo, estava concentrada.

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Assim como a senhora acima.

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E a menina que só queria saber de ler seu livro com trilha sonora.

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E, bem, esta é uma das esquinas da quadra da Filarmônica.

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Em Berlim (VII)

Em Berlim (VII)

Não lembro bem — ou nós estávamos fazendo compras ou ficamos no quarto por algum motivo. O fato é que o 9 de janeiro só tem uma foto do amanhecer e algumas bem noturnas e divertidas. Da janela de nosso quarto, no bom Hotel Prens, era esta a vista na manhã de 9 de janeiro. A temperatura média durante nossa estada ficou entre os 4 graus negativos e positivos, e a neve iria apertar nos dias subsequentes. O estranho é que, em Berlim, tais valores não sobem muito durante o dia e nem descem durante a noite. São estáveis e não é anormal a noite ser mais quente do que o dia.

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Foi nosso primeiro e único dia de jazz em Berlim, mas como valeu a pena! A vantagem de ter um filho morando na cidade é que ele conhece muitos lugares aos quais o turismo convencional não chega. Então, naquela segunda-feira à noite, eu, Elena, Bernardo e o amigo Lucas Birmann fomos ao um lugar que, creio, chama-se Every Monday —  bem, se não é este o nome, ao menos é o nome do evento, conforme foi carimbado em nossos pulsos. É um local ao qual jamais saberia voltar, tantas voltas demos até chegar.

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A gente entra e se impressiona com o aspecto da coisa. Há um palco onde uma big band de 15 pessoas se apertam. Na frente, a plateia fica sentada ou deitada em muitos sofás velhos, provavelmente refugos. Alguns ficavam em pé ou no bar. Importante saber é que, nos bares alemães, você paga a primeira cerveja com o preço da garrafa incluído. Quando vai comprar a segunda, devolve a primeira garrafa, pagando apenas o preço do líquido. Quando você devolve a última garrafa vazia, então recebe de volta o valor da garrafa.

Bem, a banda era excepcional. A Omniversal Earkestra era algo anormalmente bom. Afinadíssimos, bons improvisadores, excelente humor e muito prazer para fazer grande música há mais de sete anos todas as segundas, sem interrupções há mais de 300 segundas-feiras, OK? Se compararmos aquele tesão com o de algumas orquestras que conhecemos… Bem, não vamos comparar. Ellington, Mingus e Sun Ra foram os destaques no repertório. Conversamos sobre microfones com a violinista do grupo — sim, o grupo tinha uma. Ela achou que a Elena fosse irmã do Bernardo!

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Em Berlim (VI)

Em Berlim (VI)

A Elena escreveu no dia 8 de janeiro em seu perfil do Facebook. “Prometi que vou dizer e vou dizer: Milton Ribeiro é o cara!”.

É um grande exagero. Ela estava apenas agradecida. Acontece que este foi um dia muito diferente em Berlim. Uma amiga bielorrussa da Elena — também violinista — veio do interior da Alemanha para reencontrá-la após anos e trouxe seu marido alemão, um ser altamente político e que eu deveria divertir enquanto as duas conversavam. Claro, as duas conversavam em russo, eu e Renê em inglês. E nós dois realmente as liberamos para conversar. Elena ficou feliz por eu ter feito minha parte para a liberdade das amigas.

Renê é um alemão de Lübeck. Logo vi que tratava-se de um desses consumidores de notícias geopolíticas e que eu teria que falar sobre isso se não quisesse ficar num silêncio que seria constrangedor, pois por algum motivo é horrível ficar em silêncio ao lado de desconhecidos.

Primeiramente, ele quis falar sobre os refugiados e foi maravilhoso saber que ele apoiava todo o gênero de auxílio para que estas pessoas se integrassem à vida alemã.

Depois fomos, é claro, para o Brasil. E acho que assustei a curiosidade do gajo. Ele quis saber de uma usina chamada de Belo-Alguma-Coisa e da retirada dos índios… Fui obrigado a entregar Dilma Rousseff para ser comida viva pelo alemão, falei do financiamento das campanhas políticas no Brasil e dos grandes partidos sem os quais talvez seja impossível governar. Falei sobre o quase inevitável PMDB e de como sua presença em todos os lugares era perniciosa. Minha narrativa sobra a corrupção endêmica dos partidos políticos, dos empresários sonegadores e do povo o deixou perplexo. Ele também questionou sobre a ligação dos políticos e empresários. Menino esperto, não?

E contei sobre a estratégia zumbi criada pelo Moysés Pinto Neto para explicar certa parte da atuação do PT-PMDB. Tal estratégia consistia no governo do PT (de esquerda) e de seus pequenos blogs (blogs?, ele repetiu) atacarem incessantemente o adversário pela esquerda no discurso, enquanto que o governo adotava práticas da direita, produzindo aliados à direita que nunca estão satisfeitos com as concessões e uma base de esquerda disposta a justificar qualquer coisa para defender o governo que elegeram. Desta forma, Dilma diz que Temer implementa um “programa derrotado nas urnas”, mas ela, com certo pudor verbal, já fazia isso. Porém, no governo dela, programas sociais eram mantidos e a concentração de renda até diminuía discretamente. É claro que Temer é muito pior, pois adota um programa de ultra-direita sem pudor algum. Ele tenta cortar todo programa social mantido pelo governo anterior. Afirmei que a concentração de renda já se acentuou em seus primeiros meses de governo. E tentei explicar que a dupla atuação de Dilma era quase inevitável, já que o PMDB existe e que o PT jamais tentou controlar a opinião pública alimentada pela voraz grande imprensa de direita. Muito pelo contrário, o partido adubava tal voracidade, pagando-a. Renê arregalava os olhos.

Então decidi que ele ia pirar de vez. Expliquei sobre como são incultas e atrasadas nossas elites. São assim de uma forma tão completa que qualquer argumento que considerem — mesmo intuitivamente — como mais seguro é comprado por eles. Quem vende? Ora, a imprensa. E cheguei a meu tema mais caro: a educação. Expliquei sobre duas reformas educacionais — a militar e a próxima que Temer pretende implantar. Ele ficou apavorado com a primeira… Mas com a segunda foi pior. Acabou dizendo que isso levaria o país ao caos. Imagina deixar História como matéria opcional? Bem, ele é alemão.

E discorri sobre nossos alunos. Falei sobre meu trabalho voluntário na periferia de Porto Alegre e de como alunos de 14 e 15 anos da escola pública não sabem fazer contas de multiplicação e divisão. Sim, sei disso muito bem e provo.

Mas eu o deixaria ainda mais espantado ao dizer que a cidade dele, Lübeck, de 200 mil habitantes, tinha 3 Prêmios Nobel — Thomas Mann, Gunter Grass and Willy Brandt — e o Brasil inteiro nenhum. Sim, temos 1000 vezes mais gente, somos 200 milhões. Ele ficou feliz por eu saber tanto de Lübeck. E garanti que nosso Nobel não viria tão cedo, a não ser que fosse um Nobel da Paz ou para algum gênio isolado. Só que nós somos a prova de que gênios isolados não surgem facilmente como o Guga surgiu no tênis. Há que ter um ambiente cultural mínimo, algo que nossas elites detestam, desejando que permaneçamos um país vendedor de matéria-prima.

Ainda insatisfeito com minha severidade, mandei tudo às favas contando como uma pessoa com formação musical como a Elena era tratada no país. Falei de como a encalacraram numa posição subalterna, abaixo de pessoas que deveriam, na verdade, aprender com ela e de como isso era desmotivador.

Como viver no Brasil? Protegendo-se em ilhas de bons amigos.

E completei: pouca coisa de bom surgirá de nós. Levaremos 50 anos ou mais para melhorar, e desde que comecemos a mudar agora, pois nossa marcha ré ainda está engatada a toda velocidade, pilotada por bispos neopentecostais e políticos corruptos. Paralelamente, fiz questão de informar que um juiz de direito brasileiro podia receber uns 40 salários mínimos, mais benefícios — informação que chutei, mas que não deve se afastar muito da verdade.

Bem, após todo este DESTAMPATÓRIO, estava tão irritado que não tirei fotos de ninguém. E, depois do primeiro grande silêncio, ele começou a falar sobre os erros políticos de Willy Brandt.

Conversamos por mais de seis horas, bem entendido. Isto foi apenas um resumo do papo.

Fim.

Lübeck, 200 mil habitantes e 3 Prêmios Nobel
Lübeck, 200 mil habitantes e 3 Prêmios Nobel

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Em Berlim (V)

Em Berlim (V)

O Bernardo sugeriu e a gente obedeceu: fomos conhecer a Gemäldegalerie. Não é um museu daqueles cansativos, é viável de ser conhecido em uma tarde sem maiores desejos de suicídio. Este museu de arte está localizado no flamante Kulturforum Potsdamer Platz, sendo um dos mais importantes do mundo por sua excelente coleção de arte europeia dos séculos XIII ao XVIII. Fica ao lado da sede da Orquestra Filarmônica de Berlim.

Como quase tudo em Berlim, é um prédio novo. Sua história é mais ou menos assim: com a reunificação da cidade em 1992, iniciou-se um debate sobre o destino de coleções de arte dispersas em locais diferentes e ainda em boa parte oculta há anos em depósitos, sem poder ser vista pelo público. Por suas dimensões, a coleção não poderia ser levada integralmente para o Museu Bode, na Ilha dos Museus, e organizou-se a elaboração de um projeto para uma nova sede.

Em 1995, foi feito um levantamento das perdas sofridas pelo acervo de arte em Berlim nas últimas décadas. Foram identificadas obras perdidas em incêndios ou em containers durante a Guerra, obras levadas para a União Soviética e nunca devolvidas, perdas avulsas anteriores a 1945 e peças simplesmente roubadas e com destino ignorado. Em 1998, mais de 3.600 obras dispersas voltaram a ser reunidas na Gemäldegalerie, prédio com cerca de 7 mil m² de área expositiva em uma seqüência de 18 salas e 41 gabinetes que perfazem uma extensão de quase 2 quilômetros. A coleção do museu original (de 1830) acabou aumentada em muito, incluindo obras de Bosch, Van Eyck, Brueghel, Dürer, Rafael, Ticiano, Caravaggio, Rubens, Vermeer e Rembrandt, além de muitos outros mestres.

Encantado com a qualidade do acervo, fui tirando fotos. Algumas delas estão abaixo.

Detalhe de 'O Juízo Final', de Hieronymus Bosch
Detalhe de ‘O Juízo Final’, de Hieronymus Bosch
Detalhe de 'O Juízo Final', de Hieronymus Bosch
Detalhe de ‘O Juízo Final’, de Hieronymus Bosch
Detalhe de 'O Juízo Final', de Hieronymus Bosch
Detalhe de ‘O Juízo Final’, de Hieronymus Bosch
Detalhe de 'O Juízo Final', de Hieronymus Bosch
Detalhe de ‘O Juízo Final’, de Hieronymus Bosch
Detalhe de 'O Juízo Final', de Hieronymus Bosch
Detalhe de ‘O Juízo Final’, de Hieronymus Bosch
Detalhe dos 'Provérbios Holandeses' de Pieter Brueghel, o Velho
Detalhe dos ‘Provérbios Holandeses’ de Pieter Brueghel, o Velho
Detalhe dos 'Provérbios Holandeses' de Pieter Brueghel, o Velho
Detalhe dos ‘Provérbios Holandeses’ de Pieter Brueghel, o Velho

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Em Berlim (IV)

Em Berlim (IV)

Ao longo de nossa viagem, procuramos manter contatos interessantes em Berlim. Em nosso quarto dia na cidade, tentamos falar com Marx e Heg… Engels. Além de Lênin, claro. Eles estão na entrada da Ilha dos Museus para quem vem do lado da Alexanderplatz. Marx negou-me o cumprimento — aliás, sequer ergueu-se quando de minha chegada, enquanto Engels até levantou de sua cadeira. Lênin, porém, veio sorridente em nossa direção me imitando, isto é, caminhando com a mão direita no bolso, como quase sempre faço. Grande camarada! Lênin está na frente do guichê de informações da Ilha dos Museus. A seguir, fotos desta primeira parte e, depois, do restante do dia.

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Em nossa primeira ida à Ilha dos Museus, escolhemos a ótima Alte Nationalgalerie. A Ilha dos Museus é um complexo de 5 Museus temáticos, um melhor do que o outro.

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Em Berlim (III)

Em Berlim (III)

Nosso terceiro dia em Berlim teve o grande auxílio do Bernardo como guia. Meu filho, que mora há um ano e meio na cidade, está mais do que ambientado na capital alemã. Foi um dia de voltas e mais voltas na neve. Ainda com algum sol, fomos até a Potsdammer Platz, importante bairro e interseção de tráfego no centro de Berlim. Fica a um quilômetro do Portão de Brandenburgo e do Reichtag, ao lado do Tiergarten. Para o lado do Tiergarten, temos os prédios da Filarmônica de Berlim.

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A sala à esquerda é a chamada Kammermusiksaal, onde se apresentam os conjuntos menores de Música de Câmara. A da direita é Großer Saal, onde normalmente se apresenta a Filarmônica de Berlim. Nos dias seguintes, assistiremos concertos em ambas as salas. Tirei fotos do interior. Achei o prédio bem feio por fora, mas lindo por dentro. É um ousado e polêmico projeto de Hans Scharoun que já está na história da arquitetura moderna. O exterior lhe valeu apelidos como “Circo Karajan”, mas sua acústica e ambiente interno o tornam disputado por artistas e fãs da música. Sua construção foi finalizada em 1963, auge do igualmente polêmico titular da orquestra.

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Depois, caminhando ao lado do Tiergarten, no maior frio, saímos em direção ao Memorial do Holocausto e do Portão de Brandenburgo.

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No caminho, o nome de uma ídola nossa.

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O Memorial do Holocausto (Holocaust-Mahnmal) é um memorial em Berlim dedicado às vítimas Holocausto, projetado por Peter Eisenman. Consiste numa enorme área coberta por 2.711 blocos de concreto. De fora, vê-se um campo ondulado de pedras retangulares com nada escrito. Os blocos são de 2,38 m por 0,95 m — parecendo caixões — e a altura varia desde 20 cm até 4,8 m.

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De acordo com o texto do projeto de Eisenman, os blocos são desenhados com a finalidade de produzir intranquilidade, confusão e para que as pessoas se percam entre os blocos. É comum você ouvir uma pessoa chamando outra de seu grupo. Se você for com o filho pequeno pegue sua mão. Ele vai querer correr e… A escultura toda representa um sistema supostamente ordenado que perdeu o contato com a razão humana. O notável é que Eisenman não usou nenhum simbolismo explícito sobre o Holocausto.

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Em Berlim (II)

Em Berlim (II)

Acordamos com problemas no dia 4 de janeiro, dia do aniversário do Bernardo. Uma baita dor de cabeça resolveu incomodar a Elena após a viagem e ela pensou que a recuperação seria mais rápida se ficasse no quarto descansando. Inclusive comeria ali. Foi uma boa decisão, porque ela já ficou bem para a festa da noite. Então saí para a rua atrás de comida. O bom e barato Hotel Prens fica nas imediações da estação de Schönleinstraße, na Kottbusser Damm (avenida). Meu filho mora perto a três quadras, na Bürknerstraße. É uma região de imigração turca onde tudo o que não há é culinária alemã. Só que os restaurantes e bares turcos vendem uma comida de primeiríssima linha e muito barata. Fiquei encantado com os mercados turcos da região. Em um deles, que ostentava um nome mais ou menos sincero — Best of the Rest — fiz algumas compras.

Aqui, a primeira parte:
Berlim (I)

Depois de resolvida a questão alimentar, dei várias voltas a pé pela região, com a finalidade de me perder na cidade desconhecida. O invólucro de segurança e respeito que recebemos na Europa que conheço é algo muito tranquilizador. Logo que chegamos, vemo-nos envolvidos por ele e relaxamos. Dá para ir a qualquer canto sem problemas e fico surpreso com minha súbita desatenção, totalmente diversa do que faço no Brasil, onde estou sempre preparado evitar ou aceitar um roubo.

E dei voltas cada vez mais longínquas de nosso hotel.

À noite, fomos na festa de aniversário do Bernardo. Fiquei agradavelmente surpreso com seus amigos. Um bando de gente de alto nível proporcionou boas conversas e, sempre que eu pensava que ficaríamos sozinhos por sermos os “velhos da festa”, vinha alguém conversar. Tudo extremamente educado. Disse para um certo Filipe — alemão filho de portugueses — que chegara a Berlim no dia anterior e que ainda não conhecera nada. Recebi uma resposta surpreendente:

— Não, estar aqui neste bar enfumaçado é conhecer Berlim. Não é uma cidade bonita, não é Paris, Londres ou Praga, é uma cidade onde as pessoas se reúnem para festas e coisas culturais ou não. Tu estás conhecendo Berlim aqui no Mamma. Isto é que é Berlim”.

— Então o turista que só circula não conhece a cidade?

— Não conhece.

Entendi.

Voltamos para casa tranquilamente, a pé, de madrugada.

Um arroio a 100 m do hotel.
Um arroio a 100 m do hotel.
Os arquitetos alemães não podem cer um ângulo agudo que já fazem um edifício. têm desses por todo lado.
Os arquitetos alemães não podem ver um ângulo agudo que já fazem um edifício. Têm desses por todo lado.
Como suportar isso, Bolsonaro?
Como suportar isso, Bolsonaro?

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O chinês que enfiou o dedo num van Dyck na National Gallery

O chinês que enfiou o dedo num van Dyck na National Gallery

Ontem pela manhã, eu estava sozinho na National Gallery. Era uma visita lenta e anotada para quando a Elena se liberasse a fim de realizar o mesmo périplo. Sentei para descansar numa das confortáveis poltronas lá disponíveis — esses museus enormes cansam meus delicados pés — e vi uma cena incrível. O pai de uma família chinesa estava encostando o dedo numa pintura de van Dyck, Caridade (Charity), para mostrar um detalhe do quadro.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Eu vi o fato e um dos guardas também. Ele correu aos gritos de “Você não pode fazer isso!”. Mais dois guardas correram para auxiliar o primeiro e eu só assistindo a coisa, disposto a também ir lá dar uns cascudos no nobre cidadão da República Popular da China. (Que Deus, Nosso Senhor, o respeite, ame, e esconda sua estupidez).

Foi quando o primeiro guarda reiniciou seu discurso. Ele disse:

— Este quadro está aqui para o senhor, para seus filhos, seus amigos, para o mundo inteiro e para as gerações futuras. O senhor simplesmente não pode repetir sua atitude aqui e nem em nenhum outro museu que o senhor visitar em sua vida. Jamais faça isso novamente, por favor.

Todo mundo logo ficou calmo e sério. E a visita seguiu normalmente. Só o cidadão tinha um sorriso amarelo, enquanto levava uma mijada da mulher em chinês.

Ele estava tocando bem aqui, ó:

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

 Naquela parte escura do tecido, ao lado da mão.

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Talvez tenha sido o melhor concerto que assisti em minha vida

Talvez tenha sido o melhor concerto que assisti em minha vida

Poderia começar contando como Yuri Temirkanov parou quando estava entrando no palco com Martha Argerich. A argentina foi sozinha receber o aplauso do público antes de iniciar o 3º Concerto de Prokofiev. Fingiu irritação com a homenagem e chamou o lendário maestro com caretas e gestos peremptórios. Mas Temirkanov tem razão, é o concerto DELA. Ou poderia começar contando que a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo colocou no programa a 5ª Sinfonia de Shostakovich por esta estar completando 80 anos e ter sido estreada por ela mesma em seus tempos de Orquestra de Leningrado sob a direção de Mravinsky. Ou poderia logo dizer que foi um dos melhores concertos que assisti na vida, que tive de segurar as lágrimas quando Martha atacou Prokofiev. Ou poderia começar falando que compramos ingressos para um local onde as pessoas ficam em pé porque a Elena tinha clareza de sua “imperdibilidade” e não tinha outros disponíveis.

Poderia terminar contando que saí atarantado do concerto, tanto que fiquei esperando a Elena na porta do toalete feminino e deixei-a sair sem a ver. Ou que compositores russos interpretados por russos é texto puro, sem Google Tradutor — expressão da Elena. Ou devo tentar descrever a incrível sonoridade e unidade da orquestra? (Sem esquecer os magníficos solistas de sopros). Ou talvez o fato dos londrinos urrarem cada vez que Martha voltava ao palco?.Ou devo apenas terminar opinando que marcar um concerto desses para às 15h de domingo comprova que londrino não faz churrasco?

(Em tempo: Temirkanov rege sem batuta, com discretos movimentos horizontais e verticais. Jamais faz um gesto brusco nas notas longas. Parece que está cuidadosamente carregando a música. O que mais se movem são seus dedos e mãos, que devem passar significados que só os músicos entendem. Impossível fazer aquilo com uma batuta. Sua clareza nas entradas torna impossível alguém não entrar quando deve. Um sábio.)

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A que me refiro?
Ao concerto de hoje à tarde no Royal Festival Hall do Southbank Center em Londres.

Programa:
Aram Khachaturian: Adagio of Spartacus and Phrygia from Spartacus, Suite No.2
Aram Khachaturian: Dance of the Gaditanian Maidens and Victory of Spartacus from Spartacus, Suite No.1
Sergei Prokofiev: Piano Concerto No.3
Dmitri Shostakovich: Symphony No.5 in D minor

St Petersburg Philharmonic Orchestra
Yuri Temirkanov, conductor
Martha Argerich, piano

Martita recebendo os aplausos pós-Prokofiev
Martita recebendo os aplausos pós-Prokofiev
Temirkanov fazendo o mesmo pós-Shosta
Temirkanov fazendo o mesmo pós-Shosta
E minha musa antes do concerto
E minha musa antes do concerto

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Em Berlim (I)

Em Berlim (I)

A Latam fez tudo para atrapalhar, mas no final tudo deu certo. Um atraso de 1h10 na saída de São Paulo quase impediu que pegássemos a conexão para Berlim. Chegamos a Frankfurt 40 minutos após o previsto e fizemos a maior correria num dos maiores aeroportos do mundo antes de vermos a bendita fila de embarque para Berlim. Apreciamos algumas cenas de desespero protagonizadas por norte-americanos que vieram no mesmo voo conosco. “Fuck this airport”, diziam em voz alta dois rapazes de ar nova-iorquino que perderam sua conexão por uma razão muito simples: os alemães não os deixaram passar na frente da fila de imigração. Para os alemães fila é fila e se eles chegaram atrasados, paciência. Aqui ninguém passa na frente. Tá bom. Entendi.

A viagem foi difícil. Eu estava sentado na janela, Elena no meio e um enorme alemão mal-humorado no corredor. O homem grunhia quando queríamos ir ao banheiro. A coisa era ainda mais tensa porque li em sua tela que ele ouvia a integral das sinfonias de Dvořák sem parar. Foram mais de quatro horas. Ele não podia ser boa pessoa. Passada a tensão, a Elena até sentiu-se mal no dia seguinte.

Em Berlim, no aeroporto de Tegel, Bernardo nos esperava. Se não fosse ele, gastaríamos horrores na locomoção até o centro. Como ele, gastamos 4,50 euros. Chegamos rapidamente ao Hotel Prens Berlin — simples e ótimo — e jantamos maravilhosamente em sua companhia ao custo de 25 euros. Preço para os três.

No voo da Lufthansa entre Frankfurt e Berlim, fui ao banheiro — já tinha outras vezes é claro, mas esta ida foi especial. A porta sinalizava o recinto como livre. Abri a porta com a maior sem-cerimônia quando vi que, dentro, estava uma aeromoça de olhando-se no espelho. Detalhe: ela retocava a maquiagem ou ajeitava o cabelo com as saias no chão, só de calcinhas e o resto da roupa. Pode ser que aqui ninguém passe na frente da fila, mas as moças entram em banheiro público sem maiores cuidados. Fechei imediatamente a porta. A moça nem me olhava depois.

Pela janela do avião, fiquei impressionado com os número de captadores de energia solar e os cataventos de energia eólica. Eles estão por todo lado.

A conversa com o Bernardo foi calma e amorosa, apesar de nosso imenso cansaço. Amanhã é o aniversário de meu filho.

Elena e Bernardo conversando sobre a poética dos livros de fotografias.
Elena e Bernardo conversando sobre a poética dos livros de fotografias.

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Férias

Férias

Não creio que, nestes meus quase 60 anos, tenha algum dia tirado 30 dias consecutivos de férias. Desta vez ficarei um mês fora. Então, se por um lado perco meus dez dias de folga em julho, por outro faço melhor uso de uma passagem absurdamente cara. Vou visitar meu filho em Berlim e dar as voltas que a grana permitir. Será ótimo ver a Ilha dos Museus, o Portão de Brandemburgo, o Memorial do Holocausto, a Alexanderplatz, o Muro, o Reichstag, etc. Temos também programada uma extraordinária lista de concertos. Mas creio que a atração principal da cidade será mesmo o Bernardo. É engraçado, quanto mais a hora da viagem se aproxima, mais sinto falta de vê-lo e abraçá-lo. É também praticamente certo que vou conhecer minha sogra em Praga. Ela só fala russo e certamente ficará decepcionada com o cara feio que sua linda filha foi arranjar. Pelo Skype, ela achou que eu fosse judeu. O que sei eu do que aconteceu com meus antepassados ibéricos? Quase nada e é possível que a Klara tenha até acertado. Então vou diminuir minha presença na rede para ver o que há por aí.

O castelo de Praga em fevereiro de 2013 | Foto: Milton Ribeiro
O Castelo de Praga em fevereiro de 2013 | Foto: Milton Ribeiro

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O Peido

O Peido

Conheci Tchékhov na coletânea de contos O Beijo, em gloriosa tradução de Boris Schnaiderman. Apenas duas consoantes diferenciam o título desta ocorrência real do conto do russo, mas vocês verão como uma pequena alteração pode ser dramática. Minha história não aspira ser doce ou amorosa. O que posso dizer em meu favor? Nada. Fatos são fatos e não podemos discutir com eles.

Era o mês de janeiro e eu e Elena estávamos na Pousada Oceânica, em Zimbros, no litoral catarinense. Nossa vida era aquela coisa de acordar, dar uma caminhada na praia, tomar café, ler um pouco, almoçar, ler ou dormir, mais um café, praia, banho e jantar. Muitas vezes não conseguíamos cumprir tão dura rotina e acabávamos por dormir e comer mais.

O local onde ficamos hospedados era um conjugado de quarto e banheiro bastante adequado, mas sem grande espaço para a privacidade individual. Tivemos vários vizinhos durante nossa temporada. No início, os da porta ao lado nos deixaram preocupados. Eram uns argentinos que bebiam e riam até tarde. Mas logo foram embora para serem substituídos por algo pior: paulistas. Eles trouxeram uma caixa de som que cuspia sertanejo universitário. Reclamamos para o dono da pousada e ele os calou. Passaram a nos olhar de longe, coisa que não nos preocupou. Queríamos apenas preservar nossas férias. Depois veio um casal com filhos já crescidos. Educadíssimos e quase silenciosos, às vezes faziam churrasco e nos ofereciam. Nós ficávamos loucos para aceitar, mas, a fim de manter nossa vida preservada, agradecíamos e declinávamos.

Um dia, eu estava lendo uma coletânea de contos de Luís Augusto Farinatti no chamado espaço gourmet. Ele tinha me mandado o material num arquivo word para que eu os avaliasse. Eu lia e pensava em como eram bons. Melhores ainda se comparados com algumas merdas que via publicadas e nas quais nem é bom falar. Foi quando meu vizinho se aproximou e se apresentou. Magro, em forma, com aproximadamente 50 anos, revelou que seu nome era Joaquim Pedro e que sabia que meu nome era Milton, pois era leitor deste blog. Ele também sabia de Elena. Disse que era um admirador meu. Conversamos o tempo exato. Um pouco sobre futebol, um pouquinho sobre o que eu publicava aqui, outro pouco sobre quem ele era, o que fazia e onde morava. Residia em Concórdia (SC). O homem era mesmo um gentleman e não queria incomodar nem ser incomodado. No final, disse que conhecera a pousada também por causa do blog. Eu tinha escrito algo aqui a respeito.

No dia seguinte, sua esposa me perguntou se Joaquim tinha falado comigo. Respondi que sim e ela me afirmou que ele estava na dúvida se deveria dizer que me lia há anos, etc. Tudo muito simpático. Eu estava envaidecido.

Pois pode não parecer, mas sou gentil. De manhã, por exemplo, quando estou num hotel, vou ao banheiro geral da pousada, deixando o do quarto para a Elena. Então, certo dia, saí cedo para meu passeio ao segundo banheiro. Mapeei bem a coisa. A Elena estava fechada no banheiro, a pousada com todos os hóspedes em seus quartos com os ares-condicionados a pleno vapor. Senti que estava em plena segurança acústica e resolvi que poderia expelir meus gases ali mesmo, sem ser notado, no varandão aberto em frente aos quartos. Sim, tinha profundos desejos de flatulência, aspirava por uma boa ventosidade, também conhecida por peido.

E comecei. Olha, foi longo e em quatro movimentos, como uma sinfonia de Haydn: Grave-Allegro, Adagio, Minueto e Presto-Finale. Um alívio. Um alívio e um show. Quando virei para o lado esquerdo, notei um movimento bem próximo de mim: sim, o educado, recatado e principalmente silencioso Sr. Joaquim Pedro estava de joelhos, passando parafina numa prancha de surf. Ele era tão discreto que estava de costas para mim, mas certamente ouvira tudo.

Eu estava exatamente ali, na frente daquela rede
Eu estava exatamente na frente daquela rede que mal se vê na esquina do térreo da pousada. O banheiro 2 é aqui à esquerda das bicicletas. Longe, né? | Foto: site da Pousada

Fiz a volta pelo outro lado para não ter contato visual com o vizinho e voltei para o quarto morto de vergonha. Mas minha tragédia não parou aí. Quando entrei no quarto, Elena me denunciou: “Pensa que eu não ouvi? Mas que coisa horrível!”. E caiu na risada.

Gente, às vezes é melhor não acordar. E saímos para nossa caminhada. Para minha sorte, não cruzei mais com o Sr. Joaquim Pedro, ao qual peço desculpas nove meses depois, nesta manhã chuvosa em Porto Alegre. Ele foi embora logo depois. Espero que ele não tenha se decepcionado muito comigo e que ainda leia este blog.

Vista da janela do Espaço Gourmet da Pousada Oceânica | Foto: Milton Ribeiro
Vista da janela do Espaço Gourmet da Pousada Oceânica | Foto: Milton Ribeiro

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Uma indiscrição do Milton. Mais uma

Uma indiscrição do Milton. Mais uma

Hoje seria uma noite para eu e Elena sairmos, mas ela sofre de enxaqueca e este é um mal que ataca sem maior aviso. Vem e se instala, às vezes sem dar tempo de um Naramig(o). Quando está assim, ela vê filmes bobos ou dorme. Então, já que estou sem fazer grande coisa, entre lamentar o país, ir ao protesto, ler um livro ou ser indiscreto, escolhi a última opção. Aliás, a Elena sempre diz que eu só tenho um defeito, o de ser indiscreto. Tenho outros, mas não nego aquilo de que sou acusado.

Deveria escrever sobre a reunião do PQP Bach, mas esta deixarei para outro dia. Pois então… No dia 21 de janeiro deste ano fizemos uma cerimônia secreta. Estávamos na praia de Zimbros e o dia entardecia como mostra a foto abaixo.

Entardecer em Zimbros no dia 21 de janeiro de 2016
Entardecer em Zimbros no dia 21 de janeiro de 2016

Bonito, né? Estava perfeito. Nós tínhamos comprado juntos as alianças no mês de dezembro, mas só a usaríamos no dia certo. Quando ele chegasse, abriríamos a Veuve Clicquot que leváramos na mala — a clássica, laranja, caríssima, nosso único luxo –, buscaríamos uma comida bem boa no restaurante Berro d`Água e inventaríamos qualquer coisa.

Nós tínhamos uma mesa na varanda externa de nossa cabana que era um tronco de árvore cortado, não era nada simétrico, então o desafio era equilibrar pratos, copos, talheres e, principalmente, nossa valiosa bebida.

a-IMG_1168a-IMG_1169É claro que tratamos de fazer tudo tarde da noite para não sermos incomodados, mas os donos do hotel vieram ver o que estava acontecendo. Viram que eu estava arrumadinho — bermudas novas e camisa polo inteiramente fora do padrão mendigo que uso quase sempre — e que a Elena estava ainda mais bonita do que o de costume. Respondi que era uma data especial e eles sumiram tão subitamente quando chegaram. Gente inteligente.

Uma bebida dessas deixa a gente alegre e criativo. Então, depois de comer e beber, saímos pela praia com nossas flamantes alianças tirando fotos que, vejo hoje, apenas denunciam que a criatividade do álcool só se dá bem com William Faulkner e roqueiros. São fotos ruins de doer. Mas lembro que a gente riu muito com as selfies mais mal tiradas de 2016 até aquele momento. Tentávamos com a minha máquina, com o celular dela, queríamos mostrar as alianças e nossas caras e nada dava certo. Nas piores fotos, erguíamos os anulares mandando todos àquele lugar, uma maravilha.

DSC02991Mas há muitas outras. Umas melhores, outras de bêbado e aquelas bem ruins mesmo. Mostrarei com moderação. Comecemos por Pulp Fiction.

a-IMG_1182a-IMG_1183a-IMG_1191a-IMG_1201Caminhamos pela beira da praia, sentamos na areia com os mosquitos, nos molhamos e, na volta, em um momento de lucidez, experimentamos isto e funcionou.

a-IMG_1227Talvez a dor de cabeça da Elena piore quando ela acordar e ler este post. Nestes momentos, tenho que lembrá-la de que nem sou tão indiscreto assim. Afinal, poderia seguir contando a noite.

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Penetras na Sala São Paulo

Penetras na Sala São Paulo
Os penetras Mateus Rosada, Milton Ribeiro e Elena Romanov | Foto: Mateus Rosada
Os penetras Mateus Rosada, Milton Ribeiro e Elena Romanov | Foto: Mateus Rosada

Ontem, ao dar de cara com mais uma segunda-feira, parecia que voltava de férias. Mas não, tinha saído do trabalho na sexta-feira anterior, no horário de sempre. É que o fim de semana tinha sido tão cheio e aventuresco que parecia terem se passado mais de dois dias. Eu e Elena fomos a São Paulo. Ela para rever amigos seus que hoje tocam na Filarmônica de Israel, eu para me reunir com o pessoal do PQP Bach.

A primeira missão era complexa. Não tínhamos adquirido ingressos para a Sala São Paulo, pois o concerto estava esgotado há muitas semanas. Então, fizemos todo um plano com membros da orquestra para entrar junto com eles na Sala, mais de duas horas antes do concerto. Fomos cheirados, examinados e nosso potencial explosivo foi avaliado. O sotaque da Elena funcionou positivamente. Mas sempre vinha alguém perguntar quem éramos. Os amigos da orquestra trataram de nos defender, dizendo que Elena era uma amiga de infância. Não mentiam.

(Depois, queriam saber onde se servia caipirinha em São Paulo. Lembrem que a cachaça já é vendida no mundo inteiro, mas que o açúcar é de beterraba e o limão é outro em Israel).

Resolvido o problema, vimos o indiano Zubin Mehta entrar no palco para um último e curto ensaio. Ele mais falou do que ensaiou. Mas quando os primeiros acordes do Hino Nacional Brasileiro foram tocados, justificou-se todo o nosso esforço. Estávamos realmente frente a uma orquestra extraordinária. As cordas tocavam como se fossem uma só pessoa, os sopros eram claros, tudo era audível e bonito desde nossa posição privilegiada na Sala São Paulo. Depois, Mehta pediu para repassarem partes escolhidas de Daphnis e Chloe e Vida de Herói.

Suas instruções cuidavam apenas da beleza do som, nada quanto aos andamentos. A delicadeza não vinha do “vamos tocar mais baixo”, mas dos timbres. Ouvíamos seus gritos de “Beautiful sound, beautiful sound”… No meio de uma parte especialmente complexa do Ravel, com um fantástico solo de flauta, Mehta, de 80 anos, parou tudo para perguntar. “Ei, vocês sabem que este será o último concerto de nosso colega contrabaixista X? Ele está se aposentando!”. Todos aplaudiram e cumprimentaram um senhor sorridente e surpreso.

Dentre os trompetistas da orquestra, estava Elieser Ribeiro, primeiro trompete da Ospa. Ele foi membro da Filarmônica de Israel há alguns anos, mas voltou para o Brasil por razões familiares. Normalmente, quando a orquestra viaja para a América do Sul, Elieser é convidado por Mehta.

Foto: Mateus Rosada
Zubin Mehta: mais papo do que ensaio | Foto: Mateus Rosada

Aliás, a atmosfera era realmente divertida. Quase todas as observações do maestro eram recebidas com risadas. Ele também deu todos os avisos sobre o final da excursão, sobre o bis e as próximas viagens. Chamou minha atenção que Mehta disse que orquestra priorizaria turnês pela Europa e América Latina, sendo aplaudido pelos músicos. Nos intervalos, solicitava trechos escolhidos das obras que seriam tocadas no concerto.

Eu e Elena sempre brincamos que nossas viagens são de turismo sinfônico. A do último fim de semana foi rápida. Ficamos na casa de nosso querido amigo Mateus Rosada que estava conosco na Sala São Paulo. Acho que essas viagens funcionam como a leitura de um bom livro, daqueles que limpam nossa cabeça, mostrando que o mundo é não feito só de senadores como Ana Amélia e Lasier Martins, que pode ser mais inteligente, lógico, generoso, afinado e bonito. É renovador ver algo como vimos. E as horas do fim de semana pareceram esticar-se, demonstrando que fazer coisas desinteressantes é apenas jogar fora nossa curta vida.

Eu, Elena e o violinista bielorusso Vitaly Remeniuk | Foto: Mateus Rosada
Eu, Elena e o violinista bielorusso Vitaly Remeniuk | Foto: Mateus Rosada

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E um dos posts de férias saiu no jornal impresso

E um dos posts de férias saiu no jornal impresso

Saiu daqui e foi parar no jornal Qtal, de Salvador do Sul. Clique sobre a imagem para ampliar. As fotos são minhas, à exceção da aérea. Não sobrevoei o hotel nem brinco com drones.

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Pequenas férias na pequena e aprazível Salvador do Sul

Pequenas férias na pequena e aprazível Salvador do Sul

No final de junho, fiz uma consulta aos meus “amigos” do Facebook. Queria saber onde poderia ir um casal em dez dias de férias no inverno. Desejávamos um local bonito, tranquilo, onde pudéssemos dar longas caminhadas, ler bastante e estudar um pouco. Porque, falando apenas de mim, a primeira metade deste 2016 foi uma loucura para quem trabalha nesse negócio de jornalismo. Outro de meus pedidos era que não fosse muito caro, pois pretendo visitar meu filho na Alemanha em janeiro e duas férias dispendiosas seria uma demasia.

Recebi mais de 90 sugestões nos comentários e inbox. Algumas delas sensacionais, principalmente uma do interior paulista, mas a opinião do Marcos Abreu logo me deixou encasquetado. Ele disse que o local perfeito seria Salvador do Sul, e deu o nome do hotel que eu deveria procurar, um certo Candeeiro da Serra. Conheço mais ou menos o Marcos. Engenheiro de som — uma referência na área –, ele é uma pessoa de fino trato e bom gosto musical, e… sei que também ama o silêncio em circunstâncias não musicais. A indicação tinha tudo para ser quente. Sem perguntar muito, procurei fotos do hotel na rede.

Lá em cima, bem no alto, o Candeeiro da Serra | Foto: Milton Ribeiro
Lá em cima, bem no alto, o Candeeiro da Serra | Foto: Milton Ribeiro

O Candeeiro fica no ponto mais alto da cidade, os escritores do passado diriam que ele “domina a cidade”. Liguei para o hotel e a diária ficou dentro do orçamento. O local ofereceria café da manhã, o qual mostrou-se excelente, além de garantir respeito à alergia ao leite da Elena. As outras refeições faríamos lá embaixo, na cidade. Às vezes, o Candeeiro oferece jantar. Salvador tem apenas 7 mil habitantes, então não há uma vasta oferta de restaurantes. Mas nos apaixonamos pela “comida da vovó” oferecida pelo tradicional Apolo XII. Só pelo nome já dá para ver que é  um local aberto há de mais de 45 anos. Mas estou escrevendo muito desorganizadamente.

Quando liguei de Porto Alegre para o Alex Steffen, responsável pelo Candeeiro, ele me ofereceu quarto com ou sem vista. Os últimos são um pouco mais baratos. Se um de meus sete leitores vier para cá, deixo um recado bem claro: peça com vista! Desta forma, você terá a melhor paisagem de Salvador do Sul, com a cidade abaixo e o belo Colégio Santo Inácio encravado no morro à esquerda.

O Colégio Santo Inácio visto da janela de nosso hotel | Foto: Milton Ribeiro
O Colégio Santo Inácio visto da janela de nosso hotel | Foto: Milton Ribeiro

Ao chegarmos, logo lembrei dos corredores do hotel de O Iluminado. Não são em curva, mas são longos e adequados a triciclos infantis. Assim como o hotel onde Jack Nicholson enlouqueceu, o Candeeiro estava quase vazio. Coisas da crise.

Todos os quartos têm dois ambientes. Uma salinha de entrada e um quarto de dormir bastante amplo, mais o banheiro e, no nosso caso, uma sacadinha. Eu e a Elena somos assim: no primeiro dia achamos tudo mais ou menos, no segundo paramos de reclamar e no terceiro nos apaixonamos. Estamos aqui desde quinta-feira (28/7). Ganhamos alguns quilos e estamos perfeitamente felizes, cumprindo todo o planejado. Não é que não esteja preocupado com a paralisação da segurança pública no estado, mas aqui em Salvador não há crimes. É um outro mundo a 100 Km de Porto Alegre.

Salvador é toda bonitinha, as pessoas tratam os forasteiros com cortesia logo no primeiro diálogo, cumprimentando-nos efusivamente como se fôssemos um milagre brotado da terra. Assim, nosso estresse vai desaparecendo até virar uma vaga lembrança.

Nosso quarto é é o do segundo andar, no final do prédio. | Foto: Milton Ribeiro
Nosso quarto é o do segundo andar, no final do prédio. | Foto: Milton Ribeiro

Como não usamos carro, nosso meio de transporte são os tênis que nos levam para cima e para baixo nas íngremes ladeiras da cidade. É um exercício físico considerável. Numa noite, vi o único carro de polícia de Salvador subir o morro que leva ao hotel. Com receio de algum rolo qualquer, não quis subir a pé e chamei um táxi. Quando cheguei na recepção, todos riram de minha porto-alegrice, pois a cidade é praticamente livre de crimes e o homem devia estar pegando reforço em razão de uma briga de bar, o fato mais grave que costuma acontecer por aqui. Os policiais moram na subida do morro…

Curiosamente, Alex Steffen, responsável pelo hotel, também é jornalista, proprietário do jornal Qtal e marido da prefeita Carla Specht. O cara é muito atencioso e super bom papo. Creio que, pela primeira vez em minha vida, comi um jantar preparado por uma prefeita em exercício.

Hoje, o programa foi tentar ir até o Colégio Santo Inácio por uma trilha, mas não deu muito certo. Depois de cruzar várias cercas de arame farpado, decidimos pelo asfalto. É mais normal.

Elena entusiasmada com a trilha. Doce ilusão | Foto: Milton Ribeiro
Elena entusiasmada com a trilha. Doce ilusão | Foto: Milton Ribeiro

Para finalizar, uma curiosidade. A cidade não tem uma rodoviária, apenas uma parada. Aliás, tinha uma, mas fechou em razão de não satisfazer as exigências mínimas do DAER. Este quer que as rodoviárias tenham seis banheiros — dois femininos, dois masculinos e dois especiais –, praça de alimentação, funcionamento 24h, etc. Digam-me para que uma cidade de 7 mil habitantes teria toda esta estrutura? Então a gente chega na cidade e é despejado no meio da rua. Ah, DAER…

Um bairro da cidade, visto do nosso quarto | Foto: Milton Ribeiro
Um bairro da cidade, visto do nosso quarto | Foto: Milton Ribeiro

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Nossa ida ao Cine Gourmet do Hotel Casa da Montanha de Gramado

Nossa ida ao Cine Gourmet do Hotel Casa da Montanha de Gramado

Chegamos ao Hotel Casa da Montanha no final da tarde de sexta-feira para participar de uma sessão do Cine Gourmet. A semana de trabalho fora complicada e era nossa primeira vez — minha e da Elena — neste evento que dura todo o fim de semana. O Casa da Montanha é sensacional e fomos recebidos com extrema gentileza pelos atendentes que fizeram o check-in. E olha, só de pisar no hotel, já deu vontade de ficar por lá. É tudo muito aconchegante e agradável. Quando chegamos ao nosso quarto, havia referências de muito bom gosto ao evento do qual iríamos participar.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Sobre a mesa estava um vinho de boas-vindas, além de toda a programação relativa ao Cine Gourmet, onde seria apresentado Volver, de Pedro Almodóvar. Todo o material recebido dizia da obra e tinha o colorido do cineasta espanhol. A agenda previa que na noite de sexta-feira seriam servidos queijos e vinhos para receber os participantes do evento. O filme seria passado na noite de sábado e os dias de sábado e domingo eram para aproveitar o hotel e a cidade.

Após chegarmos, passaram-se alguns minutos e bateram em nossa porta para nos oferecer uma comidinha rápida, desejar-nos uma boa estadia e perguntar se estávamos satisfeitos com a acolhida e o quarto. É claro que estávamos, muito. O prato que nos entregaram era  bem interessante para quem recém chegara de viagem.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Então descemos para uma voltinha rápida pela cidade. Na verdade, precisávamos de muito mais comida, pois não tínhamos almoçado em Porto Alegre. A temperatura estava na casa dos 5ºC, caindo. Apesar da excelente impressão inicial, nossa ignorância sobre o hotel ainda era quase total. E, imaginem, poderíamos ter jantado no La Cacería, localizado no próprio Casa e especializado em receitas de caças — “Cacería” significa “Caçada” em espanhol –,  além de risotos, massas e saladas. Só que a gente não lê manual nem folder e acabamos numa jantinha mais ou menos.

DSC03096No retorno, mais uma surpresa. Sobre a cama havia dois chocolates — excelentes, garanto-lhes — e informações sobre a previsão do tempo do dia seguinte. Seria um dia nublado, como indicava a marcação, e a temperatura estaria entre os 6 e 16°C.  Começamos a nos acostumar com a coisa: vocês conhecem a facilidade com que o ser humano se acostuma ao bom tratamento.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Depois fomos ao tal queijos e vinhos do hotel, onde conhecemos boa parte do pessoal que estaria na sessão do dia seguinte. Novamente, tudo perfeito. Havia vinhos perigosamente leves e outros encorpados que enfrentavam com galhardia os maravilhosos queijos.

Como disse, o dia de sábado, antes da sessão de cinema, era livre para flanar pela cidade e fizemos uma boa divisão entre o hotel e as ruas.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

É óbvio que o conforto do Casa da Montanha se impôs e acabamos permanecendo mais nele do que fazendo turismo. Poderíamos ter ficado na piscina, mas esses animais viciados em leituras têm outros hábitos como os mostrados acima e abaixo. Então, dei o pontapé inicial na leitura de O Adolescente de Dostoiévski.

Há vários espaços no hotel destinados a quem quer ver TV, tomar chá, conversar, ler, exercitar-se, nadar, o diabo. Mas a cadeira acima e abaixo parece ser um point preferencial. Todos convergiam para lá, mas eu fui mais rápido.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

E fomos para a sessão de cinema. O coquetel temático começou uma hora antes do início do filme. Homenageando um detalhe cômico do filme, foi servido um canapé de beterraba chamado “russo” que deixou a Elena encantada. Ela agradeceu especialmente à chef Gabriela Carvalho ao final do jantar, pois teve que ir à Gramado para reconhecer um sabor de sua infância.

Foto: Cibele Peccin
Foto: Cibele Peccin

O Cine Gourmet acontece mensalmente e os filmes são selecionados pelo crítico de cinema Robledo Milani. Ele é o curador do evento desde a primeira edição, há 10 anos. Ele revelou que Volver era uma visita ao passado do diretor Almodóvar. O filme se passa em grande parte na cidade onde ele nasceu e baseia-se nas mulheres-personagens que povoaram sua infância. “Volver é a comida que comia na infância. Também é a fome e a família”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Milani explicou que as mulheres da infância de Almodóvar eram curvilíneas e voluptuosas. Deste modo, se a personagem principal, vivida por Penélope Cruz, não precisou aumentar seus seios, teve que usar um aplique para arredondar o traseiro. Não, não apresentarei fotos comprobatórias.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A chef Gabriela Carvalho também falou. Fez uma breve referência ao fato de haver muito em comum entre as cozinhas brasileira e espanhola, e garantiu que haveria ousadias no cardápio — sempre secreto — que seria servido. Que ousadias? Ora, já veríamos. Ela disse que não admitiria uma mera reprodução do que aparecia na tela e que tudo fora recriado instintivamente.

Foto: Cibele Peccin
Foto: Cibele Peccin

Após o filme, no caminho para o Restaurante La Cacería, havia atores fazendo releituras de cenas do filme. Na saída da sala, por exemplo, mulheres de preto choravam desesperadas e davam-nos “pêsames” como se tivéssemos saindo de um velório e, bem na entrada do restaurante, estava uma nova Penélope Cruz sobre um freezer com uma faca na mão. Bem, quem viu o filme sabe o motivo. E ela cantava Volver, canção que Penélope recém cantara no filme (na verdade, ela é dublada).

E chegamos ao restaurante.

Foto: Cibele Peccin
Foto: Cibele Peccin

Por sorte, fomos convidados para ficar numa mesa com Robledo e Guilherme Cerveira. Em companhia tão agradável, nem precisaríamos de vinho para ficarmos loquazes. Mas, com eles e o festival de sabores servido sob a batuta de Gabriela Carvalho, a conversa ficou mais do que animada. Na verdade, chegou às raias das inconfidências.

Bem, a partir de agora, sofram.

Foto: Cibele Peccin
Foto: Cibele Peccin

Assim como a palavra cão não morde, a foto acima não vem com gosto. Se viesse, vocês imediatamente morderiam o monitor do computador ou a telinha do celular. Isto foi um bacalhau realmente enlouquecedor para o neto de portugueses que vos escreve. Sou antigo admirador das variações sobre o tema bacalhau. E garanto-lhes, mesmo sendo incondicionalmente ateu, que a coisa estava no mais alto grau de divindade.

Agora babem:

— A entrada foi um mojito de presunto cru, melão, pepino, hortelã e limão siciliano, harmonizado com um PradoRey Classic Verdejo Sauvignon 2014 (Rueda, Espanha).

— O primeiro prato ficou chamado de Raimunda, nome do personagem de Penélope Cruz. Era uma Tortilla de batatas e bacalhau, compota de tomates frescos e alho, harmonizadas com um Artero Rosado La Mancha 2014 (La Mancha, Espanha). Na minha opinião, este prato roubou a cena, mas o resto da mesa ficou abobado foi com…

— O segundo prato. Era um Cozido Madrileño de cerne de cerdo, chorizo, garbanzo e ervas com a harmonização a cargo do i-nes-que-cí-vel Tribu 2010 — El Angosto (Valência, Espanha). Olha, realmente, este Cozido não se intimidou com o citado bacalhau.

— A sobremesa foi Arroz doce espanhol com cardamomo e canela. O vinho que o acompanhava era um Alambre Moscatel de Setúbal 2010 (Setúbal, Portugal).

Foto: Cibele Peccin

Foto: Cibele Peccin

Após o jantar, conversamos longamente com a chef Gabriela, pessoa de extrema modéstia que nem parecia ter-nos acabado de conduzir com tanto brilhantismo por algumas coisas boas da vida.

Eu e Elena agradecemos ao Robledo Milani pelo convite, deixando claro que estamos disponíveis. Imagina se não?

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A Mina de Sal Wieliczka, na Polônia

A Mina de Sal Wieliczka, na Polônia

Mina de Sal de Wieliczka Polônia 1

A Mina de Sal Wieliczka, localizada na cidade de Wieliczka no sul da Polônia, encontra-se dentro da área metropolitana de Cracóvia. Inaugurada no século 13, a mina produziu sal de mesa continuamente até 2007 e era uma das mais antigas minas de sal do mundo em operação. A mineração comercial foi suspensa devido aos baixos preços de sal e às inundações.

Mina de Sal de Wieliczka Polônia 2

Hoje é um local turístico. As atrações da mina incluem dezenas de estátuas e quatro capelas esculpidas na rocha pelos mineiros. Às esculturas mais antigas foram acrescentadas novas esculturas feitas por artistas contemporâneos. Cerca de 1,2 milhões de pessoas visitam a Mina de Sal Wieliczka anualmente.

Mina de Sal de Wieliczka Polônia 3

Em 1978, as minas de sal de Wieliczka passaram a figurar como patrimônio da humanidade na Unesco. Para esta eleição, contribuiu a capela de Santa Cunegunda, onde é possível encontrar diversas esculturas feitas em sal. Nas visitas guiadas, é possível contemplar diversas capelas menores, assim como estátuas nos corredores, sendo a que retrata Nicolau Copérnico uma das mais populares. As minas são visitadas anualmente por mais de um milhão de turistas.

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Nas suas galerias subterrâneas, realizam-se também diversos eventos sociais, tais como banquetes, concertos e provas desportivas. Existe ainda um sanatório, onde pessoas com problemas alérgicos ou respiratórios podem desfrutar dos benefícios de uma temporada subterrânea.

Mina de Sal de Wieliczka Polônia 5

Mina de Sal de Wieliczka Polônia 7

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Pequena viagem virtual à cidade onde Elena nasceu

Pequena viagem virtual à cidade onde Elena nasceu

De vez em quando, eu viajo pela cidade onde Elena nasceu. Hoje, ela quase só tem amigos na cidade. Sua família emigrou depois do fim da URSS, quando a vida ficou ainda mais difícil. Esta é a praça central de Moguilióv, na Bielorrússia, cidade de 360 mil habitantes. Ao fundo, o rio Dnieper.

Mogilev_2007_7Este é o mosteiro de São Nicolau.

mosteiro de São NicolauE este, à esquerda, é um Clube de Cultura. Estes Clubes eram a casa da Elena e de muitos jovens. Cada instituição ou fábrica tinha um Clube de Cultura onde os funcionários e jovens — seus filhos ou não — se reuniam, dançavam, cantavam, liam, faziam teatro, etc., tudo gratuito. Ela tocou lá. À direita, a Ratusha, local mais alto da cidade velha. É do século XVI. Antes era de madeira e incendiou. No século XVII, fizeram-na de pedra e segue-se uma longa história.

mogilev RatushaOs fundos do Teatro Dramático de Moguilióv. Aqui, só peças de teatro, nada de música.

Mogilev Drama TheatreO mesmo teatro, agora de frente.

Mogilev Drama Theatre frenteA estação de trem.

estação de trem MogilevOutra da estação de trem.

Outra da estação de tremSua escola de primeiro grau.

escola MogilevSua escola de segundo grau já traz um violino.

escola segundo grauOutra parte do colégio do segundo grau.

escola segundo grau outra parteMuseu de nome impronunciável. Ela também deu concertos lá e disse que, mais de um século antes, Pushkin tomou a maior bebedeira no local.

Museu MogilevO estádio do Spartak.

estádio do SpartakO Monumento aos Mortos da 2ª Guerra.

Monumento aos mortos da 2ª GuerraIgreja de Boris e Gleb. Ela não entrava lá porque era soviética! Depois entrou. Intacta, a igreja sobreviveu à guerra.

Igreja de Boris e GlebEsta é a Elena (aos 13 anos, à direita) no dia da inauguração da praça que encabeça este post.

elena 13 anosA catedral. Na época soviética era um clube.

catedral Mogilev

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O edifício “The Circus”, em Bath, na Inglaterra

O edifício “The Circus”, em Bath, na Inglaterra

A pequena cidade de Bath, hoje com 80 mil habitantes, é conhecida pelos seus banhos termais que provém de três nascentes. A história diz que os romanos descobriram ali águas com propriedades curativas e construíram termas. OK, só os locais dizem que tudo isto já era conhecido antes. Mas o que me interessa é o The Circus.

The Circus of Bath é um edifício da cidade de Bath que consiste em três segmentos curvos, arranjados em uma forma circular. Originalmente conhecido como The King Circus, este marco do século XVIII foi projetado pelo arquiteto John Wood, o Velho. Ele não sobreviveu para ver seus planos se transformarem em realidade. A primeira pedra foi lançada em 1754 e o Velho morreu três meses depois, naquele mesmo ano. Seu filho, John Wood, o Jovem, completou o edifício em 1768.

Sua inspiração foi o Coliseu romano, mas o Coliseu foi projetado para ser visto do lado de fora e o Circus para ser visto internamente. Observando atentamente os detalhes sobre a construção de pedra, veremos verá muitos detalhes como serpentes, símbolos náuticos, instrumentos utilizados nas artes e nas ciências, além de símbolos maçônicos. Wood era fascinado por círculos de pedra pré-históricos.

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A área central do Circus continha originalmente um grande reservatório que fornecia água para as casas. O reservatório transformou-se em um jardim gramado em 1800. Um grupo de plátanos agora cresce no centro. Quando visto a partir de cima, o Circus, juntamente com o Queens Square e Gay Street formam um símbolo maçônico semelhantes aos que adornam os edifícios.

Durante a Segunda Guerra, em 1942, parte do Circus foi seriamente danificada. Mas hoje temos o edifício no seu formato do começo do século XIX.

Abaixo, uma pequena série de fotos. Se você quiser vê-las expandidas, basta clicar sobre as mesmas:

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