Os pássaros fizeram um ninho sobre um vaso que fica preso na parede de nosso pátio, aqui em nosso magnífico Solar da Gaurama. Afastamos as cachorras do local — a Juno pula muito e poderia encher o saco — e vejam só o resultado. Hoje, voltando da feira, quando chegamos perto da porta, havia três bocas abertas para nós e uma mãe no muro, observando tudo de perto, assim como um pai no muro do outro lado. Ou seria o contrário?
Fotografamos a ninhada com cuidado. Abaixo, o vaso invadido pelos inquilinos.
Mais perto…
Um bico se ergue ao ouvir o som feito por ela.
Minha máquina é mesmo uma bosta.
Opa, mas agora a coisa fica mais clara.
Aí está o trio. Estão bem gordinhos.
Todos uns por cima dos outros, como fazem as ninhadas de cães.
Perna de um, pescoço do outro, bicos. Impossível saber quem é o dono do quê.
Perto dali, a apenas dois ou três metros, papai e mamãe conversam.
Tudo parece MESMO uma conversa. Com diferentes tons de pios e falando sem se …
… interromperem. Acho que não são pássaros italianos.
Nesta data, em 1927, o marido de Virginia Woolf publicava To the Lighthouse (Ao Farol ou Passeio ao Farol ou ainda Rumo ao Farol) por sua Hogarth Press. Dizem que as primeiras resenhas foram mornas, pricipalmente se as compararmos com a visão moderna de que o romance é um dos melhores do século. Lembro de tê-lo lido em Tramandaí no início dos anos 80. Está no mesmo nível e gaurad semalhanças com Mrs. Dalloway e Orlando.
Olha, nada aconteceu naquela estranha casa cheia de gente legal, mas ainda assim tudo parece ocorrer: a futilidade trágica, o absurdo, a beleza patética da vida que vivemos — tudo isso nas sete horas da existência desperdiçada ou não pela Sra. Ramsay. Vemos a vida e o mundo através das letras do romance.
Enquanto o escrevia, Virginia experimentava grande agitação e euforia, tanto que o produziu com grande rapidez. “Nunca, nunca tinha escrito nada com tamanha facilidade, nunca imaginei tão profusamente”. Apesar de ser uma revisora ultra minuciosa — tanto que Leonard Woolf costumava “roubar-lhe” os originais quando achava que a revisão já fora excessiva… — , ela sempre achou que estava produzindo “simplesmente o melhor dos meus livros” e anos depois ainda dizia: “Meu Deus, quão boas algumas partes do farol são!”. Mas Virginia tinha receio de ser julgada como suave, rasa, insípida ou sentimental”. Nunca vi medos mais bobos.
Grande parte do livro é autobiográfico. Sua irmã Vanessa foi profundamente tocada por “um retrato da mãe, que é mais parecida com ela do que qualquer coisa que eu jamais poderia ter imaginado possível. É quase doloroso tê-la assim ressuscitada dentre os mortos”. (Só falta alguém vir corrigir Nessa, dizendo que todos os ressuscitados estavam mortos). Mais tarde, Virginia Woolf escreveu que a escrita foi um ato terapêutico de efeito oposto: “Deixei de estar obcecada com a minha mãe. Já não ouço a voz dela, não mais a vejo”.
E o excelente Ao Farol completa 84 anos hoje.
~o~
É mais do que a idade que atribuí ao Guto (ou Luís Augusto Farinatti) e a Nikelen (Witter), que estiveram lá em casa na última segunda-feira, para profundo desespero desta aqui e menos desta aqui, muito mais racional… Foram 3 encontros em nossa casa, muitas mensagens trocadas, e pronto, parece que nos conhecemos há anos.
Há a pose de encomenda para a Caminhante, dona dos dois últimos links:
E há mais. Poucas, porque queríamos comer e conversar, conversar e comer. E beber vinho.