A eleição de Lasier Martins para o Senado Federal ficará marcada como uma das maiores máculas de nosso estado, de nosso estado tão politizado, politizadíssimo… Sem entrar em detalhes, afirmo que Lasier é simplesmente um ser humano de menor qualidade. Acho que o tratamento que ele deu àquele funcionário da PF basta para demonstrar o fato. Seu principal adversário, Olívio Dutra, era a melhor resposta do PT ao ex-comunicador da RBS, mas não era a melhor resposta ao anti-petismo. Diria que o Olívio era a melhor resposta do PT ao PT. Olívio sentia-se incomodado com os rumos do partido e apenas viu-se ressuscitado quando este notou claramente o perigo de perder a vaga de senador para Lasier, um bisonho e veterano comentarista político sem prévia experiência parlamentar A militância entusiasmou-se com o bigode, mas o anti-petismo permaneceu impermeável. Deste modo, quatro anos depois, Lasier repete Ana Amélia Lemos. Ambos comentaristas da repetidora da Globo no RS, ambos eleitos senadores.
A vitória de Lasier Martins passa por vários fatos que vão desde o antipetitsmo — que vota em qualquer um que possa derrotar o partido — até a falta de informação e cultura de nosso estado e do país. O problemático ex-centroavante Jardel dá entrevistas em que parece não saber bem sobre o que fala. Talvez já fosse assim quando jogador. Ele é um dos novos membros da Assembleia Legislativa de nosso estado, assim como Regina Becker, a fofa defensora dos animais. Seus 41 mil votos comprovam — contra os 36 mil de Pedro Ruas e os 23 mil de Fernanda Melchionna, apenas para dar exemplos –, que a informação e a educação política passam longe do RS. Acho estranho quando combatem minha tese de que o voto obrigatório é um erro, consistindo somente em mais uma obrigação banal para o cidadão brasileiro médio, que vai lá e faz bobagens. Se fosse facultativo, talvez tivéssemos o resultado das pessoas que se preocupam minimamente com política no estado e não a excrescência que vemos hoje, dia seguinte às eleições.
Por outro lado, o pasmo petista com sua baixa votação pode levar o partido a olhar seu próprio umbigo. O partido comunica-se mal com a sociedade. Por exemplo, faz sua publicidade sempre nos velhos jornais — cada vez menos lidos — que o combatem. A atitude reverente à RBS se parece com uma confissão de culpa. Trato mal o papai, mas lhe dou dinheiro. O PT nunca lançou mão de uma modesta arma que tinha: o de reduzir as verbas de publicidade para os grandes grupos de comunicação, destinando parte destas para os pequenos veículos. Nunca fez isso, seja em âmbito federal, seja em estadual. Outra coisa são seus quadros. Na Feira Ecológica da Redenção, ouvi uma conhecida candidata do partido garantir em voz altíssima a uma senhora idosa que “Era sim, cristã”. Ela tinha chegado à conclusão que ser cristã fazia alguma diferença, então largou o que parecia ser um bordão. Ora, se tivesse mais noção de seu papel, a candidata deveria contestar a importância do questionamento. Essas concessões e a indulgência do partido para com o senso comum desgastaram o PT. Conheço outra candidata do partido que nunca leu uma obra política, que é irremediavelmente desinformada e que foi colocada lá porque trabalha numa conhecida empresa de serviços. Obteve poucos votos, mas é trabalhadora, sorridente e um dia, para nossa infelicidade, acabará eleita.
Sim, essa lógica de pegar o comunicador, o vendedor de sorvetes ou de pneus mais conhecido pode funcionar, mas é uma mudança de rumos crucial para um partido baseado em ideologia. Tal fato só aumenta a burrice geral do estado.
Voltarei ao assunto, pois, na verdade, estou em pânico com os rumos estaduais.