Bamboletras recomenda 3 pequenos grandes livros

Bamboletras recomenda 3 pequenos grandes livros

A newsletter de quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Sim, três pequenos grandes livros.

O primeiro, Encaixotando minha biblioteca, é um canto de louvor ao livro escrito por Alberto Manguel. Gente, Manguel é um daqueles argentinos geniais que não dá para desconhecer, ainda mais que ele foi amigo de Borges e diretor da Biblioteca Nacional da Argentina.

Taxitramas é pura diversão de primeira linha. São as incríveis histórias que Mauro Castro colhe em seu táxi. O cara escreve muito bem, é realmente engraçado.

E a terceira sugestão é Cartas para minha avó, de Djamila Ribeiro, uma tocante memória da autora a respeito da sua infância, da avó e de tudo o que circunda uma infância sob o racismo brasileiro.

Abaixo, mais detalhes.

Boa semana com boas leituras!

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Encaixotando minha biblioteca, de Alberto Manguel (Cia. das Letras, 184 páginas, R$ 44,90)

Encaixotando minha biblioteca é uma grande declaração de amor aos livros e à leitura. Fala sobre a importância dos livros em nossa vida e como são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. No verão de 2015, Alberto Manguel se preparou para mais uma mudança: ele sairia de sua casa medieval no Loire, na França, e passaria a morar em um apartamento em Nova York. Sua biblioteca pessoal, com cerca de 35 mil volumes, teria que ser guardada. Nesse momento, o escritor começa a relembrar sua relação com os livros e as bibliotecas (públicas e privadas) que já passaram por sua vida, apresentando aos leitores uma elegia apaixonada. As reflexões de Manguel variam amplamente, desde as adoráveis idiossincrasias dos bibliófilos a análises mais profundas de eventos históricos, como o incêndio da antiga Biblioteca de Alexandria. Com perspicácia e carinho, o autor ressalta a importância dos livros e seu papel único em nossa sociedade.

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Taxitramas, de Mauro Castro (Evangraf, 136 páginas, R$ 39,90)

Uma gostosura em forma de livro. Quero ver você largar as histórias de Mauro Castro depois de começá-las. Entre centenas de personagens, um cardíaco em pânico, uma freira em fuga, uma mulher nua, um homem baleado, um passageiro querendo comprar as meias do taxista, uma mãe que esquece sua filha no banco traseiro, um bêbado distribuindo dinheiro, um sujeito querendo pagar a corrida com camarões, uma mulher violentada, uma vovó entalada, um ex-detento perdido, a busca por uma aborteira, a mulher do marido que foi deixado num motel telefona, a reação a um assalto… Uma sucessão eletrizante de situações engraçadas, trágicas ou bizarras, no limite do verossímil, mas todas baseadas em corridas reais. Respire fundo e embarque!

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Cartas para minha avó, de Djamila Ribeiro (Cia. das Letras, 200 páginas, R$ 34,90)

Um relato memorialístico pungente e sensível sobre ancestralidade, feminismo e antirracismo na criação de filhos. No mais pessoal e delicado de seus livros, a filósofa Djamila Ribeiro revisita sua infância e adolescência para discutir temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos numa sociedade racista. O relato se dá na forma de cartas para sua saudosa avó Antônia – carinhosa e amorosa, conhecedora de ervas curativas e benzedeira muito requisitada. A cumplicidade que sempre houve entre avó e neta é o que permite que a autora rememore episódios difíceis, como a perda do pai e da mãe, as agressões que sofreu como mulher negra e os desafios para integrar a vida acadêmica. Djamila também fala de relacionamentos amorosos e experiências profissionais, das músicas, das leituras e das amizades que a acompanharam em sua construção pessoal – e da percepção paulatina de que a memória das lutas e das conquistas das pessoas negras que vieram antes de nós é a força que permite seguir adiante.

Recebendo o Dr. Cláudio Costa

Publicado em 10 de outubro de 2007

Tenho uma história muito feliz de encontros com blogueiros. Boa convivência, gentileza, piadas, amizades. Conheci muitos, dentre quais posso citar de memória Mônica, Tiago, Gejfin, Afonso, Biajoni, Olivia, Sandra Pontes, Marcão, Laura RJ, Mauro Castro, Stella, Rafael Reinehr, Sílvia Chueire, Donizetti, Inagaki, Nelson Moraes, Cynthia Feitosa, Gabriela Franco, Ticcia, Ane Aguirre, Fábio Danesi, Viva, Francisco Viegas, Nora Borges, Flavio Prada, Allan Robert, Fabrício Carpinejar, Nelson Natalino, Alê Felix, Adalberto Queiróz, Helenir Queiróz, Vanessa Lampert, Claudia Letti, Marcos Caiado, Fal, Manoel Carlos, Adelaide Amorim, Doce Maior, Thomaz Magalhães… e certamente muitos outros que esqueci e que ficarão irritados comigo.

Por falar em comportamentos limítrofes, minha mulher fica maluca quando vai receber alguém em casa. Casa? A casa se transforma. Não se sabe de onde nem como surgem toalhas novas, tudo vai para o seu lugar (ou para lugar um inédito, no caso daquelas coisas que nunca encontraram um paradeiro para chamar de seu), os sabonetes deixam de ser arredondados para adquirir sequinhos formatos de paralelepípedos, há fartura de papéis higiênicos nos banheiros — ninguém precisará gritar desesperadamente por ajuda — , fica tudo florido, as roupas DELA somem magicamente de seus habituais lugares para finalmente conhecerem o armário e eu tenho, além de organizar tudo o que é meu, que caminhar mui cuidadosamente pelo apartamento, lentamente, revisando se meus sapatos não trouxeram muito pó da rua e observando bem a nova disposição das coisas para não derrubar nada.

Como já me acostumei, não me incomodou muito a necessidade de levar o armário de CDs de um canto a outro da sala. Seu peso é mais ou menos o de um automóvel americano dos anos 60, porém, como preciso mesmo emagrecer, nem me preocupei com a ausência das rodas nem com o fato de ter alçado a cama de casal do meu filho para o quarto de cima. (Aqui há um interessante detalhe. Quando comprei a cama para o Bernardo, disse-lhe que havia três modelos na loja: No Sex, Stop Fucking e Penis Paralisator. Por profilaxia paterna, escolhi o Penis Paralisator; afinal, ele tem 16 anos, namora uma menina da mesma idade e eu não desvio um centímetro daquilo que está prescrito no Manual do Perfeito Católico: a Castidade é a Pérola das Virtudes.) Bom, então o fato é que nossos convidados, o Professor Doutor Psiquiatra e o escambal Claudio Costa e sua esposa, repousarão sobre o Penis Paralisator. Será um período imaculado na vida de nosso querido doutor. A imobilidade, dizem, além de tornar as pessoas mais espirituais, garante algumas reputações. A dele certamente não será diminuída pela falta dessas efêmeras dilatações. Ou… sei lá.

Algo que é normal lá em casa e que continuará acontecendo durante a estadia do mineiro casal é a comilança perpétua. E olha, é impossível resistir, a gente engorda pacas. Sou cobaia e beneficiário das artes de Claudia Antonini. Devido a ela, expando-me como o universo. Talvez os filhos do Claudio — eliminemos logo o “doutor” de alguém tão amável e sem frescuras –, não o reconheçam na volta, tal o incremento que sua barriga e outras partes expandíveis do corpo humano poderá receber. Mas deixo de lado qualquer possibilidade de incremento sobre o membro discutido no parágrafo anterior. Não há chances. E ele, coitado, fala sobre uma nova lua de mel em Porto Alegre…

Infelizmente, ficarão apenas de hoje até sábado. Quatro quilos? Não sei, se a Ana Letícia pedir muito, a gente pode piorar a comida… Filhos são assim: aposto que ela ficará satisfeita com o Penis Paralisator — pai, vai devagar, na tua idade… — e quererá seus papais comendo de forma equilibrada. Mas nós, que gostamos deles por serem divertidos e legais — não que ela não os ame pelo mesmo motivo — , pretendemos submergi-los em vinhos, massas, carnes e que tais. A vida é assim meio tola mesmo, né, Ana?

Há uns três meses, encontramos o Claudio aqui em Porto Alegre e posso garantir que contraí por ele uma paixão avassaladora — ainda que platônica, bem entendido. Conversamos como velhos amigos, dissemos coisa séria e muita bobagem e, quando soubemos do Congresso de Psiquiatria que ocorreria em outubro, o convite para que ficasse em nossa casa saiu-nos fácil. Ainda bem que ele aceitou nos incomodar. Era, exata e minuciosamente, o que desejávamos.

Comentários do blog anterior:

Ramiro Conceição: Dois comentários: 1) Milton, gostei muito da cinética, da fluidez do texto. 2) Agora sobre esse tal utensílio, denominado de “Pênis Paralizator”, Doutor Cláudio, cuidado!; pois o senhor e a sua senhora talvez estejam adentrado na trama mágica da teia do terrível Periquito da Genitália Grande, sob um surto da “Síndrome de Milton”. Explicando melhor. Como sabemos, quando casais se visitam, sempre, em alguma ocasião, as mulheres ficam com as mulheres e os homens com os homens. Aí, Doutor Cláudio, mora o perigo! O terrível Periquito, em milhares de subterfúgios colorados, tentará atraí-lo para o utensílio da devassidão. Mas, caro Doutor, já será tarde. O senhor ainda tentará o derradeiro argumento: Pera aí: isso não é o “Pênis Paralizator”? Mas aquela voz sedenta e cavernosa, babando de prazer dirá: “Não, querido Cláudio, aqui é o lugar do “Pênis pra Alisador”. Querido Doutor, aí — nem Freud explica!

Meg: Milton será que me colocaste no Index Prohibitorum? Nenhum comentário meu entra. Tamos maus;-) Beijos ao Cladio que deve dizer “Paralisator? antes ele do que o meu” hohoho Estou fazendo graça porque sei que não vai entrar o bendito do comentário Putz! Feliz dia das Crinaças. A começar por ti. M

M: Milton dá um beijo ou manda dar;-) um beijão especial no Claudio e na família dele. E diz que espero ele em Belém do Pará. Ele , como bom psi lacaniano, deve conhecer o inconsciente do Oiapoque ao Chuí, no caso o Oiapoque fica em Belém, mas só neste caso, especialmente para ele. beijos para ti, para a Claudia, tua mulher de verdade;-) e todas as crianças da casa Meg

Viva: Milton, tua crônica está deliciosa, como devem ser os pratos da Cláudia e a prosa do Cláudio. PS: se no domingo você amanhecer com um olho roxo, não vou estranhar. Essa função “casa organizada para as visitas” todo mundo faz. Só que não se conta!!!

Nina – Fenômenos: uhauhauahauhauh passei mal com a cama “penis paralizator”. aqui em casa nao e diferente. qdo tem visita e uma loucura. minha mae só falta nos pedir pra nao respirar. sem falar nos objetos novos que aparecem: talheres do faqueiro que herdou de nao sei quem, copos que eu nunca vi na vida, toalha de mesa bordada a mao (made in ceara). parece que estou em outro lugar!!! sem falar nas comidas. tenho um primo que se diverte qdo a familia inteira esta reunida. ele tira fotos da galera comendo. e so isso que se faz na familia buscape…comer!!! 150 mastigacoes por minuto!! impressionante!!! beijos

Gugala: Pelo jeito vais conseguir que o Dr. participe, solteiro, dos próximos Congressos . ahaha abraços

Cláudio Costa: Olhacá, vamos precisar de algumas laudas para falar de nossa alegria e emoção ao sermos recebidos com tanta fidalguia! Por ora, caríssimos Milton, Cláudia, Bê e Babi, deixamos aqui nosso agradecimento. Depois conto os “podres”, hehehe

Lord Broken Pottery: Milton, Boa companhia e comida farta. “Fartou” alguma coisa? Grande abraço

Flavio Prada: A raridade do encontro somada à raridade dos personagens, faz de tudo isso um momento precioso. Gente da melhor qualidade, e digo isso sem um minimo de confete, é sentido. Beijos a todos.

Ana Letícia: uahahahahaha Amei isso de “penis paralizator”!!! Tadinhos dos pombinhos enamorados, tentando comemorar longe dos “filhotinhos” os vinte e alguns anos de casamento… Crentes que teriam uma lua de mel digna dos “velhos” tempos… hehehe Milton, será que a Cláudia não é parente da minha mãe? Conversem aí e depois me contem, pois aqui em casa quando tem visita é a mesmíssima coisa! 😉 Beijos, obrigada por recebê-los, e adorei o post!

Eduardo: Milton, desejo que tudo corra à contento. Comam bem! Abraços!

Confessando o preconceito (Tertulha Virtual – Tema: Solidariedade)

Este blog participa hoje pela segunda vez da Tertúlia Virtual de cada dia 15, criada pelo grande Eduardo Lunardelli do Varal de Idéias e que propõe este mês o tema Solidariedade.

Uma vez, o Mauro Castro, do Taxitramas, publicou uma crônica chamada Confessando o Preconceito em sua coluna no Diário Gaúcho. Como sempre, ela também foi publicada também em seu blog. Sua leitura fez com que um caso análogo, ocorrido comigo na pior das circunstâncias, me viesse à memória.

A seguir, conto o meu caso e, logo depois, copio a crônica original. O Mauro é meu amigo e uma pessoa conhecida e querida de Porto Alegre.

Confessando o preconceito II

Eu estava no velório de meu pai, em pleno 11 de dezembro de 1993, o dia mais triste que passei até hoje. Na noite do dia anterior, encontrara-me casualmente com meu pai no supermercado. Eu sempre fingia esbarrar nele ou ele em mim, pelas costas; era apenas um dos muitos rituais que mantínhamos. Depois do choque, ele riu e me mostrou um monte de CDs que tinha recém comprado. Estava alegre, bem.

Às 6h da manhã, o telefone toca. Minha mãe diz que ele está caído no banheiro, que era para eu vir correndo, que fizera respiração boca a boca e que a Unimed e minha irmã, que é médica, estavam chegando. Nada resolveu. Ele estava perfeitamente reto no chão, pois não na verdade não caíra, devia ter-se deitado esperando que a dor diminuísse. O primeiro e fulminante enfarto.

Durante o velório, pouco antes de ser levado no caixão, fui me despedir dele. Dei-lhe um beijo. Era um sábado quente, mas ele estava estranhamente frio; só naquele momento concluí que ele não lembrava mais de mim, que não tinha mais suas vivências de 66 anos e nem as de ninguém, que tudo tinha terminado para ele. Fui chorar junto à minha família quando ouvi um amigo dizer indignado, referindo-se a algo que acontecia atrás de mim:

– Mas o que é isso?

Virei-me e, entre lágrimas, vi um mendigo todo esfarrapado caminhando em direção a meu pai. Pensei “que merda, ainda isso agora!”.

Fui para junto do caixão pelo outro lado, encarando de forma hostil o homem sujo de uns 40 anos, calculo. Não disse nada, mas ouvi:

– Eu era amigo do doutor. Ele sempre brincava comigo e me dava alguma coisa na rua – disse ele, gentil e comovido, olhando-me nos olhos.

Não havia nada melhor a fazer do que articular algumas palavras agradáveis, convidando-o a ficar à vontade.

Confessando o preconceito, por Mauro Castro

Eu estava no ponto, com o banco do táxi reclinado, quando, entre um cochilo e outro, vi um mendigo vindo em minha direção. Ele vinha acompanhado de um cachorro, e trazia nos lábios aquele sorriso preparado que todo o pedinte usa ao fazer uma abordagem. Mais um que vai me pedir uma moeda para interar o dinheiro da cachaça – pensei.

Sentindo que seria achacado, ainda tentei fingir que estava dormindo, mas o mendigo, decidido, bateu no vidro do táxi, obrigando-me a abrir a janela.

Quando eu pensei em abrir a boca para dizer que não tinha nenhum trocado para dar, o homem falou:

– Acho que não sou o primeiro nem serei o último a lhe pedir isso…- e fez uma pausa, como quem procura na cabeça as palavras certas.

Eu ainda pensei em aproveitar aquela pequena pausa para poupar-lhe o discurso, mas quando comecei a balançar a cabeça negativamente ele continuou:

-…mas o senhor poderia me dar um autógrafo?

Barbaridade, por essa eu não esperava! De imediato improvisei um sorriso, na tentativa de disfarçar minha cara de abobado. Acho até que consegui. Bem feito pra mim, eu que sempre reclamo do preconceito que o taxista sofre, acabei tomando nos dedos.

No papo que se seguiu, descobri que meu insólito fã é leitor eventual do Diário Gaúcho, que ele cata no lixo reciclável. Disse que minha coluna é a sua preferida.

Para não ficar muito feio, dei-lhe um exemplar do meu livro, com uma caprichada dedicatória. E escrevi esta confissão, digo, crônica, que talvez ele leia no lixo da semana que vem.