Duas coisonas e duas coisinhas

Taí o seu presente, Milton. Espero que você goste. Um abração!

Quando recebi esta mensagem pelo Facebook, pensei que fosse mais uma composição que o Gilberto Agostinho desejava me mostrar. Gosto muito de ouvi-las e, bem, de dar meus pitacos. O Gilberto é um compositor brasileiro que estuda em Praga e suas obras são efetivamente muito boas, tanto que ele acaba de classifcar-se em primeiro lugar na principal Academia de Música de Praga. Ouvi a tal música e gostei muito. (Vocês podem baixá-la aqui, vale a pena). Chamava-se Suite for Cello and Harpsichord, in Old Style. E escrevi-lhe de volta:

Rapaz, consegui ouvir apenas ontem. Gostei muito. Achei ADMIRÁVEL e deixo a palavra em caixa alta para demonstrar que este é um elogio repleto, onde a palavra deve receber significado pleno. É claro que notei a Courant e sua citação. Me diverti com o final perfeitamente bachiano da abertura, e — mesmo com a séria sarabanda — o efeito geral sobre mim foi de felicidade. Ouvi tudo com um sorriso. Achei o final da Giga um tanto inesperado, talvez brusco, mas eu jamais o alteraria, pois aquilo parece uma frase tua dizendo “gente, é bem feito, bem escrito, mas é uma paródia, claro”.

Cara, nós já temos material para outra postagem naquele blog, não? Esse teu sw de agora é melhor do que aquele outro. Até o pizzicato funciona bem. O cravo tem som de cravo, etc. Poderíamos montar uma postagem assim que eu voltar de uma viagem que farei de quinta a terça? Volto em 22/02. Tu poderias ir escrevendo os textos de apresentação, certo?

Inclua o que quiser, mas não retire essa Suíte, pelamor.

Grande abraço!

P.S.– Acredito que estejas passando por um período feliz em Praga. A Suíte, além de excelente, é feliz.

Tudo normal até aqui. Mas então ele escreveu de volta:

Oi Milton,

Muitíssimo obrigado pelos elogios! Já fazia tempo que eu estava querendo dedicar uma obra minha pra você, e eu achei que esta cairia muito bem, já que você é outro fanático pelo período barroco. Você pegou bem o espírito desta peça, e eu fico feliz que o final tenha sido bem entendido. Eu me considero um contrapontista acima de tudo, então eu escrevi esta obra como uma espécie de desafio para mim mesmo. Será que eu ainda conseguiria escrever algo tonal, respeitando todas as regras do período barroco? Pois bem, eis o resultado.

Umas das questões que me ocorreram enquanto eu escrevia esta obra foi sobre liberdade de escrita. Eu tentei escrever algo que fosse “histórico”, mas ao mesmo tempo eu tentei ao máximo me expressar neste idioma. Só que acontece que nós já não temos o direito de “quebrar regras”, como Bach fazia. Quando você ouve uma obra como a minha fuga favorita, aquela em si menor do primeiro livro do cravo, você tem um tema quase dodecafônico, e isto deve ter sido um choque na sua época (ainda hoje muita gente não gosta desta fuga, fazer o quê?). Só que seria incoerente se eu me propusesse escrever algo barroco, e então saísse quebrando as regras. Quebrando para aonde? Para atonalidade? Felizmente perdemos este direito, pois com isto ganhamos outros, mas é uma questão interessante que me apareceu. Então eu ousei mais na forma das composições, não no conteúdo tonal.

E sim, eu tenho muitas composições para postar no blog sim! Eu vou separar algumas delas, e vou escrever o texto e depois te mando. Quando você voltar de viagem, você me diz o que achou. E a maioria das composições que eu gostaria de incluir serão aquelas outras que eu te mandei, mas não sei se você já teve tempo para dar uma ouvida. Depois me diga o que você achou, eu estou bem curioso com suas opiniões (mas sem pressão para ouvir logo). E esta suite será inclusa sim, pódexá!

Sobre Praga, eu estou muitíssimo feliz com a minha vida musical. Eu estou me sentindo bem seguro e produzindo muito, o que é ótimo.

(…)

Um grande abraço, meu caro!
Gilberto Agostinho

Ou seja… Ou seja.. A obra é dedicada a mim, como aliás estava escrito na partitura e eu, boca-aberta, não tinha visto.

Eu realmente não sei como agradecer. Estou explodindo de tão orgulhoso e feliz. Muito obrigado, Gilberto.

~o~

Hoje viajamos em visita ao Dr. Cláudio Costa! Passaremos 4 dias em sua companhia e de sua mulher Amélia. Já estiveram aqui em casa e foi indiscutivelmente maravilhoso, ao menos para nós. Ele ligou várias vezes convidando e já viram, vou ter que fazer meu tratamento psiquiátrico nas cidades históricas de Minas em meio àquela baita gastronomia. (suspiro) Volto terça-feira durante o dia. Mais um motivo para comemorar. Mas nem tudo pode ser perfeito, senão não seria a vida.

~o~

Mônica Leal me processou. Já retirei o post causador da pendenga, se o deixasse teria de pagar um salário mínimo por dia… Não entendo, mas, enfim, é a nossa justiça. Ela insiste numa indenização. Se soubesse de minhas posses e de minha conta bancária, não perderia tempo. Acho que se esqueceu de averiguar. Ela deveria ser incentivada a fazer uma devassa em minha vida. E a vida segue.

~o~

E segue com Celso Roth, que recebeu um timaço e insiste em jogar retrancado dentro de seu esquema chama-derrota. O Mazembe não serviu de lição; acho que a diretoria espera algo mais grave como um enorme fiasco da Libertadores 2011 e um grupo de jogadores descontentes. Deram um carro de Fórmula 1 para um motorista de taxi.

Recebendo o Dr. Cláudio Costa

Publicado em 10 de outubro de 2007

Tenho uma história muito feliz de encontros com blogueiros. Boa convivência, gentileza, piadas, amizades. Conheci muitos, dentre quais posso citar de memória Mônica, Tiago, Gejfin, Afonso, Biajoni, Olivia, Sandra Pontes, Marcão, Laura RJ, Mauro Castro, Stella, Rafael Reinehr, Sílvia Chueire, Donizetti, Inagaki, Nelson Moraes, Cynthia Feitosa, Gabriela Franco, Ticcia, Ane Aguirre, Fábio Danesi, Viva, Francisco Viegas, Nora Borges, Flavio Prada, Allan Robert, Fabrício Carpinejar, Nelson Natalino, Alê Felix, Adalberto Queiróz, Helenir Queiróz, Vanessa Lampert, Claudia Letti, Marcos Caiado, Fal, Manoel Carlos, Adelaide Amorim, Doce Maior, Thomaz Magalhães… e certamente muitos outros que esqueci e que ficarão irritados comigo.

Por falar em comportamentos limítrofes, minha mulher fica maluca quando vai receber alguém em casa. Casa? A casa se transforma. Não se sabe de onde nem como surgem toalhas novas, tudo vai para o seu lugar (ou para lugar um inédito, no caso daquelas coisas que nunca encontraram um paradeiro para chamar de seu), os sabonetes deixam de ser arredondados para adquirir sequinhos formatos de paralelepípedos, há fartura de papéis higiênicos nos banheiros — ninguém precisará gritar desesperadamente por ajuda — , fica tudo florido, as roupas DELA somem magicamente de seus habituais lugares para finalmente conhecerem o armário e eu tenho, além de organizar tudo o que é meu, que caminhar mui cuidadosamente pelo apartamento, lentamente, revisando se meus sapatos não trouxeram muito pó da rua e observando bem a nova disposição das coisas para não derrubar nada.

Como já me acostumei, não me incomodou muito a necessidade de levar o armário de CDs de um canto a outro da sala. Seu peso é mais ou menos o de um automóvel americano dos anos 60, porém, como preciso mesmo emagrecer, nem me preocupei com a ausência das rodas nem com o fato de ter alçado a cama de casal do meu filho para o quarto de cima. (Aqui há um interessante detalhe. Quando comprei a cama para o Bernardo, disse-lhe que havia três modelos na loja: No Sex, Stop Fucking e Penis Paralisator. Por profilaxia paterna, escolhi o Penis Paralisator; afinal, ele tem 16 anos, namora uma menina da mesma idade e eu não desvio um centímetro daquilo que está prescrito no Manual do Perfeito Católico: a Castidade é a Pérola das Virtudes.) Bom, então o fato é que nossos convidados, o Professor Doutor Psiquiatra e o escambal Claudio Costa e sua esposa, repousarão sobre o Penis Paralisator. Será um período imaculado na vida de nosso querido doutor. A imobilidade, dizem, além de tornar as pessoas mais espirituais, garante algumas reputações. A dele certamente não será diminuída pela falta dessas efêmeras dilatações. Ou… sei lá.

Algo que é normal lá em casa e que continuará acontecendo durante a estadia do mineiro casal é a comilança perpétua. E olha, é impossível resistir, a gente engorda pacas. Sou cobaia e beneficiário das artes de Claudia Antonini. Devido a ela, expando-me como o universo. Talvez os filhos do Claudio — eliminemos logo o “doutor” de alguém tão amável e sem frescuras –, não o reconheçam na volta, tal o incremento que sua barriga e outras partes expandíveis do corpo humano poderá receber. Mas deixo de lado qualquer possibilidade de incremento sobre o membro discutido no parágrafo anterior. Não há chances. E ele, coitado, fala sobre uma nova lua de mel em Porto Alegre…

Infelizmente, ficarão apenas de hoje até sábado. Quatro quilos? Não sei, se a Ana Letícia pedir muito, a gente pode piorar a comida… Filhos são assim: aposto que ela ficará satisfeita com o Penis Paralisator — pai, vai devagar, na tua idade… — e quererá seus papais comendo de forma equilibrada. Mas nós, que gostamos deles por serem divertidos e legais — não que ela não os ame pelo mesmo motivo — , pretendemos submergi-los em vinhos, massas, carnes e que tais. A vida é assim meio tola mesmo, né, Ana?

Há uns três meses, encontramos o Claudio aqui em Porto Alegre e posso garantir que contraí por ele uma paixão avassaladora — ainda que platônica, bem entendido. Conversamos como velhos amigos, dissemos coisa séria e muita bobagem e, quando soubemos do Congresso de Psiquiatria que ocorreria em outubro, o convite para que ficasse em nossa casa saiu-nos fácil. Ainda bem que ele aceitou nos incomodar. Era, exata e minuciosamente, o que desejávamos.

Comentários do blog anterior:

Ramiro Conceição: Dois comentários: 1) Milton, gostei muito da cinética, da fluidez do texto. 2) Agora sobre esse tal utensílio, denominado de “Pênis Paralizator”, Doutor Cláudio, cuidado!; pois o senhor e a sua senhora talvez estejam adentrado na trama mágica da teia do terrível Periquito da Genitália Grande, sob um surto da “Síndrome de Milton”. Explicando melhor. Como sabemos, quando casais se visitam, sempre, em alguma ocasião, as mulheres ficam com as mulheres e os homens com os homens. Aí, Doutor Cláudio, mora o perigo! O terrível Periquito, em milhares de subterfúgios colorados, tentará atraí-lo para o utensílio da devassidão. Mas, caro Doutor, já será tarde. O senhor ainda tentará o derradeiro argumento: Pera aí: isso não é o “Pênis Paralizator”? Mas aquela voz sedenta e cavernosa, babando de prazer dirá: “Não, querido Cláudio, aqui é o lugar do “Pênis pra Alisador”. Querido Doutor, aí — nem Freud explica!

Meg: Milton será que me colocaste no Index Prohibitorum? Nenhum comentário meu entra. Tamos maus;-) Beijos ao Cladio que deve dizer “Paralisator? antes ele do que o meu” hohoho Estou fazendo graça porque sei que não vai entrar o bendito do comentário Putz! Feliz dia das Crinaças. A começar por ti. M

M: Milton dá um beijo ou manda dar;-) um beijão especial no Claudio e na família dele. E diz que espero ele em Belém do Pará. Ele , como bom psi lacaniano, deve conhecer o inconsciente do Oiapoque ao Chuí, no caso o Oiapoque fica em Belém, mas só neste caso, especialmente para ele. beijos para ti, para a Claudia, tua mulher de verdade;-) e todas as crianças da casa Meg

Viva: Milton, tua crônica está deliciosa, como devem ser os pratos da Cláudia e a prosa do Cláudio. PS: se no domingo você amanhecer com um olho roxo, não vou estranhar. Essa função “casa organizada para as visitas” todo mundo faz. Só que não se conta!!!

Nina – Fenômenos: uhauhauahauhauh passei mal com a cama “penis paralizator”. aqui em casa nao e diferente. qdo tem visita e uma loucura. minha mae só falta nos pedir pra nao respirar. sem falar nos objetos novos que aparecem: talheres do faqueiro que herdou de nao sei quem, copos que eu nunca vi na vida, toalha de mesa bordada a mao (made in ceara). parece que estou em outro lugar!!! sem falar nas comidas. tenho um primo que se diverte qdo a familia inteira esta reunida. ele tira fotos da galera comendo. e so isso que se faz na familia buscape…comer!!! 150 mastigacoes por minuto!! impressionante!!! beijos

Gugala: Pelo jeito vais conseguir que o Dr. participe, solteiro, dos próximos Congressos . ahaha abraços

Cláudio Costa: Olhacá, vamos precisar de algumas laudas para falar de nossa alegria e emoção ao sermos recebidos com tanta fidalguia! Por ora, caríssimos Milton, Cláudia, Bê e Babi, deixamos aqui nosso agradecimento. Depois conto os “podres”, hehehe

Lord Broken Pottery: Milton, Boa companhia e comida farta. “Fartou” alguma coisa? Grande abraço

Flavio Prada: A raridade do encontro somada à raridade dos personagens, faz de tudo isso um momento precioso. Gente da melhor qualidade, e digo isso sem um minimo de confete, é sentido. Beijos a todos.

Ana Letícia: uahahahahaha Amei isso de “penis paralizator”!!! Tadinhos dos pombinhos enamorados, tentando comemorar longe dos “filhotinhos” os vinte e alguns anos de casamento… Crentes que teriam uma lua de mel digna dos “velhos” tempos… hehehe Milton, será que a Cláudia não é parente da minha mãe? Conversem aí e depois me contem, pois aqui em casa quando tem visita é a mesmíssima coisa! 😉 Beijos, obrigada por recebê-los, e adorei o post!

Eduardo: Milton, desejo que tudo corra à contento. Comam bem! Abraços!