Sou um cara insistente. Quando pego um livro ruim, tento ir até o fim. Sempre fiz isso. Gostaria de contrair imediatamente a Síndrome de Gambardella, personagem principal do filme A Grande Beleza. Ele dizia: “Tenho 65 anos, não posso mais perder tempo fazendo coisas que eu não quero fazer”. Pois ler sem vontade, ler achando ruim, é penoso. A gente lê e o pensamento sai por aí. A gente lê e lembra do Facebook. A gente lê e pensa na agenda, nos pagamentos. Quando avançamos duas ou três páginas, damo-nos conta de que nada se fixou na nossa mente e temos que voltar. É frustrante e burro. Chego a pensar se os 57 anos não estão queimando todos os neurônios, ou ano ao menos os destinados à leitura.
Eu estava às voltas com um traste desses até domingo. Então, ontem, olhei para minha hoje diminuta biblioteca e decidi pegar um dos confirmados. Escolhi um romance de Graham Greene, daqueles antigos. Tratava-se de uma tradução do célebre Brighton Rock — O Condenado, no Brasil. E simplesmente grudei no livro. A narrativa é elegante e inteligente. Pinkie, líder de uma gangue adolescente, quer tronar-se um mafioso na cidade inglesa de Brighton. Ele decide casar com a ingênua garçonete Rose a fim de comprar o silêncio dela sobre um assassinato que cometera. Mas há mais pessoas que sabem do fato.
Greene dividia seus livros entre os “sérios” e os “de entretenimento”. Jamais imaginaria, mas ele classificou Brighton Rock no segundo grupo. Toda aquela discussão sobre apenas acreditar no Diabo e no Inferno, caso de Pinkie, enquanto Rose também crê em Deus e no Paraíso e Ida, a perseguidora, na justiça terrena e no prazer… Tudo isso é entretenimento? Só para Greene e só em 1938. Hoje, Brighton Rock seria coisa muito séria.