Por mais e melhores canções de Natal

Ontem, eu estava falando com um pessoal da música erudita de Porto Alegre. Nesta época de Natal, é normal que se interpretem músicas natalinas que vão desde O Messias de Handel e o Oratório de Natal de Bach, até as várias canções populares de Natal brasileiras e estrangeiras que recentemente passaram a incluir a, desculpem, muito xaroposa Hallelujah, de Leonard Cohen. (Sim, gosto de Cohen, não gosto é desta canção).

Mas, nos últimos anos, eu noto a ausência da mais laica Happy Xmas (War Is Over), de John Lennon, que é excelente para corais — por favor, esqueçam Simone, esqueçam Simone… Por que deixam esta música de fora?

E, sonho impossível, temos a desconhecida e divertida Merry Xmas Everybody, do Slade, que tem a letra mais engraçada de todas e que jamais será tocada, creio, pois é demasiadamente rock and roll.

Mas, dentre horrores religiosos, cantam Anoiteceu — na verdade o título da canção é Boas Festas — , que também é laica e que tem uma letra-verdade bem dura, apesar da muito alegre melodia. Seus autor, Assis Valente, suicidou-se após várias tentativas e a letra é de cortar os pulsos.

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel
Não vem
Com certeza já morreu
Ou, então felicidade
É brinquedo que não tem
(Laiá laiá, laiá lalaiá, laiá lalaiá, laiá lalaiá)

Merry Xmas Everybody
Slade

Are you hanging up a stocking on your wall?
It’s the time that every Santa has a ball
Does he ride a red nosed reindeer?
Does he turn up on his sleigh
Do the fairies keep him sober for a day?

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

Are you waiting for the family to arrive?
Are you sure you got the room to spare inside?
Does your granny always tell ya that the old songs are the best?
Then she’s up and rock ‘n’ rollin’ with the rest

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

What will your daddy do
When he sees your Mama kissin’ Santa Claus?
Ah ah

Are you hanging up a stocking on your wall?
Are you hoping that the snow will start to fall?
Do you ride on down the hillside in a buggy you have made?
When you land upon your head then you’ve been Slade

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

So here it is merry Christmas
Everybody’s having fun
Look to the future now
It’s only just begun

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Rock and roll

Sou uma pessoa que quase só ouve música erudita mas que não vê o resto do mundo com superioridade, coisa tão comum entre meus pares… Ouvi rock somente até a adolescência e ainda tenho, em vinil, um bom acervo de “dinossauros”, o qual muitas vezes provoca ohs e uaus nos amigos de meu filho. Ele, Bernardo, hoje com 18 anos, costumava reclamar de mim por ter abandonado o rock que ainda ama e queria que eu voltasse à minha adolescência pondo só Beatles, Led Zeppelin, Deep Purple, Rolling Stones e mesmo o medonho Pink Floyd pós-Dark Side no CD player — ele é um voraz consumidor de música e ficava carente entre seus muitos amigos por não encontrar, entre eles, outros que fossem tão “cultos” musicalmente.

Eu ficava pasmo de ser tão atualizado. Afinal, Bernardo e seus amigos ouviam embevecidos as novidades do tio Milton: Quadrophenia (1973) do Who, Fragile (1972) do Yes, A Night at the Opera (1976?) do Queen, e mais uns 100 bolachões inéditos para a petizada.

A cena era assim. Em pleno 2000 e alguma coisa, Bernardo se atirava sobre meus velhos vinis e desencavava uns Alice Cooper, uns The Who (legal!), uns Queen (bom), Gentle Giant (que voz horrorosa a daquele cantor) e até Slade. Por outro lado, sou casado com uma mulher que ama as óperas, principalmente as de Mozart e Rossini, e que tem baixa tolerância aos grupos de som mais agressivo e que começa a berrar (sério!) quando pressente a iminência de Pink Floyd, pois foi traumatizada por seu irmão que ouvia The Wall cinco vezes ao dia — era deprimido, claro. (A propósito, comprei The Wall no dia em que foi lançado no Brasil e o vendi com lucro dois dias depois. Era muita adolescência). E, para piorar, ouço insistente a voz de meu pai que sempre me dizia que era importante não perder a contemporaneidade.

O único acordo possível seria o de ficar ouvindo Tom Jobim, Chico Buarque, Elis Regina, bebop e esquecer meu pai. Neste caso, todos ficariam felizes, mas o espectro se limitaria muito e estaríamos definitivamente fora das paixões de uns e outros. Ou seja, não dá.

Sou um cara de gosto musical eclético e até desejo ser tolerante, então só fecho a porta para as músicas absolutamente imbecis — ou seja, quase tudo –, além de boleros, alguns tangos cantados e reggaes, que não suporto. Por exemplo, ontem, fiquei bem feliz ouvindo com a Claudia a ópera L´Italiana in Algeri de Rossini. Porém, para aumentar a confusão sonora da casa, nos últimos dias fiz pesados esforços com roqueiros contemporâneos tais como Beck, Radiohead, Oasis e outros. Estes três são artistas ou grupos de produção muito boa e civilizada, porém… como são convencionais! Será que não há mais para onde ir? Cadê a vanguarda? Será que a indústria a sufocou?

Beck escreve as mesmas letras de gosto duvidoso que quase sempre caracterizaram o rock, mas é um grande inventor de melodias. Já o Radiohead se preocupa demais com a estrutura dos arranjos e perde a fluência. É um bom grupo que tem o problema de repetir-se ad nauseaum. O Oasis é um epígono dos Beatles e do T. Rex, mas quem se importa? Acho que a canção Cigarettes and Alcohol, do CD Definitely Maybe, é o máximo que se pode exigir de um rock — poucas vezes me deparei com uma letra que combinasse tão bem com música e interpretação.

Mas, olha, não adianta, todos eles parecem um pouco aprendizes (podemos incluir Pearl Jam aí também). Não há no horizonte nada parecido com Beatles, Stones, Led, Who, etc. E não apenas uma questão de postura, trata-se de qualidade musical mesmo. Escrevi toda esta coisa confusa porque ontem recebi o seguinte torpedo do Bernardo:

Tchê, descobri um puta álbum dos Stones, Sticky Fingers. Tu deve conhecer.

Imagina se não! Tal fato foi uma espécie de involução… (*) De resto, ele está descobrindo Charlie Mingus (Aleluia!), Ligeti (três Ave-Marias), Shostakovich (dez Pais-Nossos) e, compreensivelmente, não sabe onde botar Wynton Marsalis na história do jazz. Miles Davis sabia bem onde enfiá-lo. Mas, já que o assunto é rock, volto ao tema para finalizar: chego à conclusão de que os dinossauros ainda dominam esta área do mundo. O céu do rock está lotado de pterodáctilos.

(*) Ato falho de origem controlada.

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