Bela entrevista de Celso Bandeira de Mello

Retirado daqui.

Trecho:

Trinta anos depois, juízes e autoridades italianas ainda manifestam muito ódio em torno do caso. Ofenderam o ministro da Justiça brasileiro (“ele disse umas cretinices”) e o presidente chamando-o de “cato-comunista”. Isso é de uma grosseria impensável. Falaram em boicotar produtos brasileiros e o turismo no Brasil, caso a decisão no caso Battisti fosse contrária aos seus interesses. Isso é inaceitável. Disseram ainda que o Brasil é um “país de bailarinas”, uma descortesia monumental, grosseria inominável. Afirmações melodramáticas e ridículas que só depõem contra seus autores e a favor da decisão do ministro da Justiça brasileiro. Se, trinta anos depois, esse é o clima, imagine o que era quando Battisti foi julgado e que risco ele corre hoje se for extraditado. Por isso, a decisão do ministro da Justiça foi correta quanto ao refúgio.

Cabe agora ao presidente da República decidir. Se eu estivesse na pele dele, depois de tanta pressão e insultos por parte de autoridades italianas, eu não cederia. Ninguém disse aqui, por exemplo, que o parlamento italiano é mais conhecido pela Cicciolina. Ninguém disse também que o sr. Berlusconi é mais conhecido por seu apreço por jovenzinhas do que por sua intuição política. Nenhum parlamentar ou autoridade brasileira disse isso. Se dissesse, estaria tomado por uma fúria total. Seria uma grande grosseria. O que dizer, então, de um prisioneiro que é objeto de tamanha sanha?

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  1. Milton,
    não sou um jurista, portanto, não vou entrar em tecnicalidades. Parece-me, no entanto, a decisão do STF acertada.
    A sentença, conforme compreendi do Supremo afirma que cabe a elqa apenas impedir que pessoas sejam extraditadas pelo Presidente, mas a ação de faze-lo é uma questão di´plomática, portanto fora da sua alçada.
    Isto significa, sim o Battisti é um assassino, não é um refugiado político, mas cabe ao presidente decidir se convém ao Brasil entregá-lo à Italia, assim como conviria a Monaco devolver Cacciola. Se ele fosse considerado refugiado o Presidente Não TERIA o direito de extraditá-lo.
    QUanto ao caso Batisti, nosso ministro também foi extremamente deselegante, inclusive chamando a Italia de fascista. E nós podemos pensar o que quisermos sobre o Berlusconi (e, no meu caso, nada lisonjeiro), mas a Italia, na época era uma democracia e soube como poucos enfrentar a situação. Até gente de PDe o Mino Carta, longe de serem fascistas, pedem sua extradição.
    O caso é que se dermos margem a considerar como crime político o asssinato de civis em estados democráticos, criaremos precedentes para outros crimes. Afinal, podemos legitimar assassinatos de gays , imigrantes, Olof Palme, explosão do Rio Centro,etc. Tudo isto é no fundo político.
    Branco

  2. Canso de ler o Milton criticando corrupção no Estado, com discurso moralista. Falar da ditadura brasileira, da violência. Quando se pensa que ele é um democrata, um republicano, ele vem e defende terrorista.

    Que triste defender as coisas que criticamos nos outros.

  3. Bom, eu acho o caso muito complicado e falei algumas vezes a respeito com políticos do PD italiano. Eles também não sabem o que seria mais correto fazer e, neste caso, não se faz nada. Dois deles me perguntaram se os militares brasileiros que mataram guerrilheiros estão presos.

    — Por motivações políticas ou por achar que as tinha, Battisti comete crimes na Itália e foge.
    — Ele é condenado à revelia…
    — A justiça italiana não dá qualquer relevância às motivações políticas dos atos ou crimes cometidos.
    — São julgados apenas os resultados de suas ações. Ele é, assim, um criminoso comum. Será mesmo?

    — Battisti nega que tenha cometido os crimes comuns que lhe foram imputados.
    — Esta negação tem relevância política, e isto é importante pois à época o próprio Estado italiano participou da guerra suja.
    — Agentes do serviço secreto da Itália praticaram atentados que foram atribuídos aos grupos de esquerda e ficaram impunes.
    — O Estado infiltrou agentes secretos nos grupos de esquerda para coletar informações sobre suas atividades, mas não coibiu atentados planejados antes de serem praticados.

    Agora, condenem o cara.

    1. Milton,
      – Por motivações políticas ou por achar que as tinha, Battisti comete crimes na Itália e foge. Como falei, tu matarias a Yeda para acabar com uma corupta? Ou o Tarso Genro por acobertar guerrilheiros. Veja que são motivações políticas. Vou contar um “causo”. Estava a 50/100 m do policial que foi assassinado pelo cara do MST na Borges de Medeiros, famoso caso. Ele simplesmente matou o policial por que era uma autoridade e estava lá. Tanto que se refugiou na prefeitura alegando motivação política.
      – Ele é condenado à revelia… Como o Cacciola e todo réu fujão
      – A justiça italiana não dá qualquer relevância às motivações políticas dos atos ou crimes cometidos. – Se estamos numa democracia não deve dar mesmo relevância. Os assassinatos fascistas também tinham motivação política
      – Battisti nega que tenha cometido os crimes comuns que lhe foram imputados. Houve um julgamento seguido pelo devido processo legalo e reconhecido pelo supremo como tal. Que se encontre motivos para anulação
      – Esta negação tem relevância política, e isto é importante pois à época o próprio Estado italiano participou da guerra suja. Agentes do serviço secreto da Itália praticaram atentados que foram atribuídos aos grupos de esquerda e ficaram impunes.O Estado infiltrou agentes secretos nos grupos de esquerda para coletar informações sobre suas atividades, mas não coibiu atentados planejados antes de serem praticados. – Deveriam ser punidos, não se justifica soltar um por que outros escaparam. Deveria haver na Italia uma espécie de Nunca Mais para prede-los.

      O planejador do ataque às Torres Gêmeas vai ser julgado agora em NY. Vais me dizer que o ato não foi político? Que a CIA não aprontou poucas e boas (crimes). Deve ser solto, então?

      Para mim, inocentá-lo é fazer o mesmo com Fujimori, Pinochet, Videla, Fidel, o governo boliviano em relação ao Che, o RioCentro, as porradas de cacetete que levei, aliás, é chamar o que ocorreu aqui de ditabranda.

      — Apesar disto, considero o que ocorreu aqui diferente. Houve criminosos sim entre os “terroristas”, é óbvio, mas muitos estavam lutando apenas contra a ditadura. Como não dá pra saber, ficam com o benefíco da dúvida.

      Branco

    2. Eu acho que esta discussão tende a ficar parecida com uma discussão futebolística. Ou tu achas que eu não tenho respostas? E sei que tu terás mais respostas…

      Não que seja uma questão bizantina. Não, é muito mais importante que o sexo dos anjos. Mas é italiana, sabe?

      1. Milton,
        se é italiana, devolvemo-la a eles.
        Hehe.

        Não acho que seja futebolística, pois tanto tu como eu, digamos, “distorcemos” um pouco os fatos quando falamos de futebol. E deve ser assim, senão não teria graça.
        Por outro lado ela tem algo de principios (que variam em cada pessoa, claro). Para mim crime, no estado de direito, sempre será crime, os motivos podem ser atenuantes, mas crime.

        Isto não significa que se o Lula decidir não extradita-lo ele estará errado, em minha opinião. Pode ser do interesse da nação que isto não ocorra. É uma questão diplomática. Eu é que acho realpolitik uma palavara feia.

        Branco
        Branco

  4. Ah,
    terminei de ler que a tal da Fernanda Young (diz-se escritora) afirmou que, ao pousar nua para a Playboy (e receber uma bela grana), fê-lo por motivações políticas…”foi uma nudez política”, sic.

    Branco

  5. Milton, vejo que andamos conversando com políticos diferentes dentro do Partito Democratico. Todos os que consultei e ouvi (inclusive o eleito pela América Meridional Fabio Porta e o ex-premier Massimo D´Alema) querem a extradição – e são maioria, não só no PD, mas também em outros partidos mais à esquerda que, em tese, deveriam defender os “crimes políticos”.

    Sem querer fazer auto-promoção (mas já fazendo volentieri), quero contrastar algumas coisas:

    1. O Estado brasileiro foi, sim, “deselegante” com a Itália, com Tarso apelando inclusive pra uma suposta “guinada fascista” em favor da repatriação de Battisti. Seria o (não) argumento de quem já não tem mais o que dizer? É uma pergunta retórica, obviamente.

    Mesmo que essa comparação com o fascismo não tivesse acontecido, não exilar alguém por “birra diplomática” (como defende o Bandeira de Mello em um parágrafo inteiro que parece saído do jardim de infância) seria uma atitude de republiqueta tropical, justamente a imagem que lentamente conseguimos limpar no exterior;

    2. Acredito que tu deveria referir no post que o Bandeira de Mello trabalha pro Battisti. A opinião é mais do que parcial, não é, no caso, de um douto sem intenções, e sim de um prestador de serviços. É a tese da defesa (pouco “bela”, na minha opinião);

    3. (agora a auto-promoção) Neste post (http://leandrodemori.com/2009/11/20/tarso-ve-pressao-fascista-da-italia-e-diz-que-battisti-deve-ficar/) eu elenco alguns importantes líderes da esquerda italiana que querem a extradição. É claro que há, como tu disse, gente dentro do PD que seja contra – é natural -, mas são, em geral, políticos de menor peso, tanto que não estão se manifestando publicamente. As principais cabeças, as que falam pelo partido, são abertamente pró-repatriação.

    Duas coisas pra fechar: Battisti é peixe pequeno entre os extremistas de esquerda foragidos da Itália, há outros (inclusive que mataram/participaram do assassinato do premier Aldo Moro) vivendo felizes e contentes fora da Bota. Nesses, sim, os italianos querem botar a mão; se Lula resolver deixar Battisti no Brasil não será nenhum absurdo jurídico ou diplomático e não afetará em nada as relações globais da Itália com o Brasil. Ninguém vai mexer na balança comercial por causa de um foragido quase insignificante como Battisti. Não precisa nem apelar pro fascismo.

    distinti saluti,

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