Os jogos de domingo

Haverá disputa, e disputa sensacional, entre Fluminense, Botafogo, Coritiba e o vegetativo Santo André. Haverá outra decisão entre São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro pelas últimas vagas na Libertadores. Mas acredito que não haverá disputa pelo título.

Eu nasci e vivo no Rio Grande do Sul. Gremistas e colorados vivem na mesma sociedade, são semelhantes étnica e religiosamente e acho que posso me colocar na pele dos gremistas com naturalidade. Basta inverter a situação e imaginar como eu reagiria. Eu nunca, mas nunca mesmo, desejaria ver o Grêmio campeão brasileiro. Então, por que o auxiliaria? É claro que eu torceria e aconselharia os jogadores e o clube a perderem o jogo de domingo logo nos primeiros minutos, para não deixar dúvidas nem esperanças ao outro lado. Porém, há outros clubes envolvidos e nem Souza nem a direção do Grêmio tiveram inteligência para notar onde estavam se metendo ao declararem abertamente que entregariam o jogo.

O jogador Souza, o qual não costuma primar pela reflexão, saiu de campo prometendo vingança ao Inter: entregariam o jogo pois o Inter fizera o mesmo no ano passado. Como colorado, admito que desejava que o São Paulo nos vencesse de forma a ultrapassar o Grêmio na liderança. Só que o Inter, muito mais malandro e marqueteiro, tratou de justificar a utilização do time reserva naquele jogo em São Paulo. Ah, temos jogo contra o Boca quarta-feira em Buenos Aires; ah, o temos que poupar nossos atletas porque só nos resta a Sul Americana; ah, pobres de nós que não temos mais chance de Libertadores e vamos lutar por um título de consolação, de segunda linha — afirmação que mudou logo após a conquista: ah, conquistamos um título INÉDITO para o Brasil, agora somos (nós, o Inter) campeões de TUDO.

Então, meus amigos, o jogo do Maracanã será uma farsa como foi São Paulo x Inter em 2008. O absurdo desse jogo foi o fato do Grêmio ter limpado a área dizendo que ia entregar MESMO. É claro que, durante a semana, sob protestos de Inter, São Paulo e Palmeiras, teve de recuar. Agora as vozes do Olímpico prometem luta, honra, dedicação, seriedade e… time reserva, provavelmente. Pois a forma politicamente correta de entregar um jogo é escalando um time fraco, mandando-o vencer o jogo. O que a tola direção gremista não pensou é que esta partida será transmitida para o mundo inteiro como a Decisão do Brasileiro de 2009 e que há uma grana grossa envolvida. Os donos dos direitos de transmissão querem vender o campeonato como um bom produto, como uma disputa séria e hasta la muerte, não como uma farsa. Me desculpem os amigos gremistas, mas que diretoria imbecil vocês têm.

A declaração lapidar (literalmente) sobre a situação foi dada pelo jogador Giuliano, 19 anos, do Internacional:

Se não perderem para o Flamengo, os jogadores ficarão marcados pela própria torcida. Se forem mal, serão lembrados por terem entregado a partida. Ficarão em situação ruim de qualquer jeito.

Óbvio, uma ação que teria de ser feita justificando a ausência de cada jogador — estes dois se machucaram durante os treinamentos, aquele perdeu a avó, o outro já tinha uma dispensa prometida previamente — foi feita à vista de todos. E digamos que o Brasil tenha certa dificuldade em compreender ou admitir nossa rivalidade sem tréguas. Um argentino, torcedor de Boca ou River, entenderia facilmente. A gente prefere mil vezes ver nosso time perder a imaginar o outro feliz. Somos irracionais? Mas é claro! Qual foi o idiota que disse que NÃO SOMOS IRRACIONAIS?

8 comments / Add your comment below

  1. Debate ideológico fundamentado na Constituição

    Reza o Artigo 5º da Constituição Federal que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, mas há a liberdade e, entre elas, a de escolha, ou, conforme os incisos II, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, IV, “é livre a manifestação do pensamento”, VI, “é inviolável a liberdade de consciência e de crença”, IX, “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” e XX, “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”. Devo incluir também o inciso LXVIII “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Podes ver então que, apesar de torcer pelo Grêmio, posso vestir minha camisa oficial, postar-me em frente à televisão do bar e torcer pelo adversário; ninguém poderá inibir minhas intenções e comportamento nesse ínterim; meu pensamento poderá ser expresso oralmente na forma como eu bem entender; por último, não me impedirás de trilhar meu caminho em direção ao bar, nem me impedirás de ali permanecer.

    A mulher, colorada, teve que aturar a peroração de seu marido, gremista e, além disso, advogado. Bastou-lhe, porém, um olhar, um único olhar, para estabelecer que a igualdade de direitos depende não de sua expressão constitucional, mas do equilíbrio pautado nas forças disponíveis e de posse de cada parte posta em conflito.

    Iriam, portanto, ao estágio às margens do Guaíba, ela envergando sua camisa vermelha, ele com uma camisa preta sem qualquer identificação de filiação clubística. E ai se o Inter não ganhasse! E ai se o Grêmio entregasse a partida no Maracanã!

    Revolução Francesa, Revolução Russa, Movimento Operário, Movimento Feminista, Marcha com Deus e a Família pela Propriedade, tudo passava à mente do advogado, enquanto seu rosto declarava à mulher que, sim, estava prostrado diante de seus argumentos e que, sim, fariam, mais uma vez, como ela queria. Alguém tem que ceder.

  2. Para mim, cada final de semana tem sido um sofrimento, uma decisão heroica, um inferno que pode se transformar em esperança. Domingo não será diferente. Ah, sim, o Flamengo será campeão? Que o seja, já que o seu time é mesmo melhor do que o do Grêmio, que só conseguiu, em todo o campeonato, uma única vitória fora de casa: contra o Náutico. Sei que no Rio, para quem não é Flamengo, é duro aguentar a empáfia de parte considerável de sua torcida. Mas o que fazer? Paciência… No Rio, o Fluminense contribuiu para um título carioca do Mengo, nos anos 60. Em 1983, os rubro-negros “retribuíram” a gentileza, quando – já sem chances no Carioquinha – derrotaram o Bangu e deram o título ao Fluminense. E assim foi. Não sei como seria hoje, é bom acrescentar.

    Um grande abraço.

    1. Sou Fluminense e não abro. É um time épico, sensacional, incansável, que faria muito bem se aceitasse trocar Conca e Fred por D`Alessandro e Alecsandro.

  3. Milton,
    fecho contigo. Vamos para com a rivalidade, nos unir e onde ficará a graça. Façamos isto assistindo baseball, que achas?
    A cronica gaúcha é que está desesperada, o próprio gerente de futebol do SAO PAULO disse que preferiria que no Gremio ganhasse, ma snão seria cara de pau pra pedir isto.

    Veja bem, um colorado tuitou Vice, mas com dignidade. Perguntou por que e ele disse que não fiacrai pedindo pros outros ganharem o campeonato pra eles.
    Brama dignidade, mas verdadeira está com o meu amigo.

    (No fundo eu queria ganhar e vcs perderem pro Sto Andre, mas ai já é ser muito ilógico)

    Branco

    1. Bá, a crônica gaúcha realmente está em crise. Não sabem lidar, não conseguem consentir com aquilo que creem ser corrupção. Não é corrupção.

      É interesse, certamente imoralidade, coisas já vistas até em Copas entre alemães e austríacos. Mas que acontecem. É complicado convencer alguém a lutar por algo que pode prejudicá-lo quando está na cara que o melhor é não fazer nada.

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