Maria Luiza Cunha Ribeiro

Cruz Alta 05/07/1927 – Porto Alegre 31/10/2012

Faleceu hoje, depois de prolongada e dolorosa enfermidade,
a mãe do Milton, minha sogra, Maria Luiza Cunha Ribeiro.
Era uma mulher à frente de seu tempo,
formou-se dentista, quando a profissão era dominada pelo outro sexo,
trabalhou, quando lugar de mulher era em casa,
e certamente chefiava a família, quando o normal era a esposa se submeter.
Eu a conheci quando tinha 75 anos e já estava aposentada,
não era mais o furacão que todos relatavam.
Era generosa, carinhosa e, como todos diziam,
um exemplo de mulher, mãe e profissional.

O velório será na sala 04 do Crematório Metropolitano, na Av. Professor Oscar Pereira, 584, acerimônia de cremação será às 19h.

POEMA DA DESPEDIDA
[Mia Couto]

Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

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  1. Meus votos de pleno restabelecimento para você, Milton. Abaixo, um pequeno poema.

    Não estou lá

    Digam o que quiserem: paraísos para almas benditas
    Purgatórios e infernos para almas malditas
    Não estou lá

    Se em nada creio, não precisam nem tentar
    Me convencer sobre impossíveis transcendências
    Não estaremos lá

    Lá é um lugar que não existe, enquanto aqui
    A realidade nos espanca com suas paredes frias

    Lá é um lugar que não existe, enquanto o resto
    Nos surpreende os sentidos fragilizados

    Façam da maneira que quiserem, mas
    Se depender de mim
    Não vou lá

    Há governo, sou contra, e ainda assim há governo
    Há morte, sou contra, ainda assim há morte

    Há sentimentos, mas nenhum basta e nenhum expressa
    Aquilo que a memória guarda em seu orgulho egoísta

    Nós, que tanto amamos as palavras
    Hoje as perdemos, como se também elas
    Estivessem lá

    1. DO OUTRO LADO RIO
      by Ramiro Conceição

      Lá, do outro lado do rio,
      talvez algo esteja alegre
      e cante à tristeza de cá.

      Lá talvez comece a lucidez
      que lave a insensatez daqui
      (Quem efetivamente sabe?).

      O interessante é que, não importa o lado,
      se pousa sempre… cá… ou lá… calado.

  2. Para Sempre

    Por que Deus permite
    que as mães vão-se embora?
    Mãe não tem limite,
    é tempo sem hora,
    luz que não apaga
    quando sopra o vento
    e chuva desaba,
    veludo escondido
    na pele enrugada,
    água pura, ar puro,
    puro pensamento.

    Morrer acontece
    com o que é breve e passa
    sem deixar vestígio.
    Mãe, na sua graça,
    é eternidade.
    Por que Deus se lembra
    – mistério profundo –
    de tirá-la um dia?
    Fosse eu Rei do Mundo,
    baixava uma lei:
    Mãe não morre nunca,
    mãe ficará sempre
    junto de seu filho
    e ele, velho embora,
    será pequenino
    feito grão de milho.

    (Carlos Drummond de Andrade)

  3. Meus honestos pêsames, pois de tanta gratidão e respeito ao Milton, me sinto um pouco próximo e compartilho um pouco das felicidades e tristezas expressadas aqui neste blog e no outro.
    Que o carinho de seus amigos e familiares te façam superar melhor essa perda.
    Um abraço de um de seus vários nonos leitores.

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