O Remendão sobre sobras

Eu e o Igor somos coeditores do Sul21. Temos a característica de concordar em quase tudo. Isso é maravilhoso, pois evita brigas, estresse, etc. Também moramos na Zona Sul, mais ou menos perto um do outro, e nosso ônibus vai para o centro da cidade passando pelo Beira-Rio, o qual é observado com expectativa por mim e com prazer por ele. Porque não há mais Beira-Rio e porque numa coisa discordamos — ele é gremista e eu colorado. Quando a gente passa pela Padre Cacique, o que se vê é uma casca com o anel superior completo e com algumas partes do inferior. E só. Tantas paredes foram derrubadas que a gente consegue ver da rua não apenas o outro lado do estádio, mas o rio, ou lago, através do túneis de acesso e do vazio de alguns paredões. Além disso, não há gramado.

Nos últimos dias, eu, que achava até simpático o termo Remendão inventado pelos gremistas, passei a achá-lo inadequado. Remendo é um pedaço de pano que se costura sobre uma base rota. Uma base. Aquilo que está lá nem é uma base, tanto que a cobertura terá fundações próprias. Não será um Remendão, será um estádio construído sobre as sobras do tal anel superior e as rampas. Acho que até teria sido mais produtiva uma implosão. Só que haveria a resistência dos nostálgicos, que acham que as pedras do Beira-Rio lembram de Figueroa e do gol de Tinga no São Paulo.

Ah, estou exagerando? Então vai lá e olha! Ontem, fui comprar um presente na loja do estádio. Cheguei ao Beira-Rio às 18h. Sabem o que me disseram? Que a construtura pedira que a loja fechasse às 16h para evitar o trânsito de pessoas. Voltando ao termo Remendão, aquilo que vi não é uma obra de arte que mereça o nome de Restauro, por exemplo. Merece um nome mais chinelão. Desta forma, não sei que nome sugerir, só sei que está horrível.

Foto do gremista @FTarganski

15 comments / Add your comment below

      1. Até reli para ter certeza de que não havia cometido uma injustiça, Milton. Mas, sinceramente, me parece claro que tu não tens (ou não queres ter) noção do que está prestes a ser erguido nessas “sobras” – ou seja lá qual for o nome “mais chinelão” que tu aches adequado.

        Falar que o Beira Rio está muito feio é apenas uma obviedade – já viste o tamanho da reforma pela qual ele está passando? Mas dar importância a essa feiúra, que é meramente transitória, para mim soa apenas como má vontade ou falta de visão. É um momento histórico, o início de uma transformação marcante. Mas, claro, o importante são as vigas expostas.

        Durante as obras de construção do Beira Rio, quando as primeiras estacas do estádio se situavam quase dentro do Guaíba, houve quem dissesse que nós, colorados, sentaríamos em “bóias cativas”. Talvez a gozação fizesse sentido naquela época. Hoje, quem ouve essa história só consegue pensar no tamanho da ingenuidade de quem dizia esse tipo de coisa naquela época.

      2. Eu não tenho essa visão messiânica das coisas, de modo algum. Até porque nosso Messias não consegue nem dispensar um general de pijamas. Na minha “noção”, o resultado da reforma será um bonito puxadinho. As superiores permanecerão afastadas do campo e darão um jeito das inferiores darem um passinho à frente, como pedem os cobradores de ônibus. Concordo que o local do Beira-Rio é lindo e insubstituível, mas o estádio sempre foi bem feínho com sua micro cobertura de um lado só na arquibancada superior, além de outros detalhes lastimáveis. Quase toda a torcida ficará à sombra, não nego que esta é uma vantagem, mas é pouco e acho que jamais me orgulharei de nosso novo puxadinho. Aliás, orgulhar-se de estádios… Francamente!

        Guardar concreto erguido há pouco tempo é coisa do Pedro Ruas. Os títulos — ISSO É O QUE INTERESSA, NÃO? — que conquistamos e os bons times que montamos lá devem ser guardados no mesmo lugar onde se guardam os melhores vinhos: na memória.

        Abraços.

        1. Certo, Milton. Já vi que não temos a mesma visão (e tampouco o mesmo sentimento) pelas coisas que materializam nossa história e memória. Discordo, claro, do teu ceticismo e desapego. Mas respeito. Um abraço.

  1. Remendão era a forma como meu pai chamava o Olímpico, que foi construído por partes, até se tornar o “Olímpico Monumental”, então não consigo aceitar esse nome, muito menos sugerido por aqueles sem memória. Mas ruínas dá um certo ar de grandiosidade!

  2. Pior se fosse “remendinho” aí sim seria pejorativo. Remendão também não daria para usar, pois foi sim o que foi feito no Olímpico quando da contrução do anel superior, quando foi este foi “aplicado” sobre o inferior. Recicladão seria um termo adequado. Como diria um amigo meu, estádio é quem nem mulher: na maioria das vezes é mais barato reformar do que trocar por uma novo.

    Na verdade, a primeira arena de Porto Alegre, a que está sendo reformada, dá as boas-vindas à segunda, que foi inaugurada recentemente sem ter sido terminada…

  3. Queria o que? Que reformar um estádio fosse pouca coisa? Tenha o mínimo de bom senso em reconhecer o tamanho da obra que está se realizando. E não me venha dizer para guardar títulos na memória, temos que expor, para os que não presenciaram os títulos, a casa deles. Se queres guardar algo na memória, guarde tua ironia.

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