Ospa com Copland, Rossini e Brahms no Dante Barone…

Milan Rericha: sensacional
Milan Rericha: sensacional

Lembro do Augusto Maurer em Capão da Canoa. Eram os anos 80, éramos jovens e às vezes íamos para a praia no inverno. Ficávamos na casa de uma namorada dele. Eles faziam a comida, eu lavava a louça. Eu lia, ela estudava e o Augusto ensaiava. E o que o Augusto mais ensaiava era a cadência do Concerto de Copland. E o fazia de um modo muito estranho, dando voltas em nossa quadra vazia da praia. Eu o localizava pelo som do clarinete.

Ontem, a Ospa iniciou seu excelente programa justamente com o lindo Concerto para Clarinete de Aaron Copland. O virtuose checo Milan Rericha é um caso à parte. Toca demais, tem som e musicalidade impressionantes. Trata-se de um sujeito sorridente e com o ar zombeteiro de quem vai abrir uma cerveja para beber conosco. Toca sorrindo, dando a impressão de fazer tudo com facilidade. A obra de Copland é formada por dois movimentos unidos pela citada cadência. O primeiro movimento é lento e lírico. A cadência dá ao solista a chance de mostrar seu virtuosismo, introduzindo temas jazzísticos — não esqueçam de que a peça foi dedicada a Benny Goodman. O segundo movimento é alegre, dando seguimento ao jazz e puxando aplausos. Rericha deu um banho.

Tanto que nem precisava da xaroposa Introdução, tema e variações para clarinete e orquestra de Gioacchino Rossini. Mero vetor de virtuosismo, desta feita sem mérito artístico, a obra serve apenas para brilhaturas do solista. Sim, o público adorou. Eu apenas pedi aos céus que a peça fosse curta. Fui atendido.

Após o intervalo, tivemos a Sinfonia Nº 1 de Johannes Brahms (1833-1897). É uma das melhores sinfonias que conheço e, dia desses, estava brigando por ela no Facebook como uma das cinco melhores de todos os tempos. Só que… Olha o Dante Barone não dá! O esforço dos músicos é comovente, não sei o que os metais e as madeiras fizeram para salvarem-se mas, desculpem, o resultado final não foi o que Brahms merece. Acho que o jeito é tornar os concertos na AL cada vez menos sinfônicos, privilegiando as instrumentações rarefeitas. O Copland estava até bem, mas quando a orquestra teve que fazer “barulho”, tudo nos chegava empastelado. Não dá. Simples assim.

8 comments / Add your comment below

  1. Realmente, o solista é uma figura, ele parecia estar se divertindo horrores com aquelas escalas intermináveis do Rossini. Eu só que me preocupava quando o regente acenava com a mão esquerda para os violinos, parecia que a qualquer momento ia dar uma bofetada nele.

      1. Pois é… A seguir deixo na íntegra o meu comentário que fiz lá… no Reinaldo Azevedo. Fui a única voz dissonante entre mais de 1000 comentários (que consegui ler…). Mas, reconheço: o Azevedo mostrou mérito, pois, como conservador autodefinido, não censurou o dito-cujo… Tal fato, por desprezível que pareça, é um colossal avanço à democracia, em minha opinião, socialmente, sem importância…
        Por outro lado, o assustador foi ler, paulatinamente, o teor dos quase mil comentários a dilapidar o Celso Mello…; e, consequentemente, a comprovar efetivamente a inutilidade, os rescaldos da dita “revolução junina brasileira” – que nunca existiu!, e que se constituiu somente de milhares de cervejas, de milhares de mijadas e cagadas, de milhares de apedrejamentos associados à poucas centenas de mascarados, covardes!!, filhinhos e filhinhas de papais e de mamães que resolveram, de vez em quando, parar de ir à academia de musculação… (Sim… Estou a denunciar tais canalhas, desde Junho, nesse blog!… Todavia, Caetano agora decidiu também se tornar um “black bloc superbacana…). Bem, indo direto aos “finalmente”: eis o meu comentário que deixei lá e que, volto a lembrar, foi respeitado entre tantos mil contrários:
        “O voto de Celso Mello foi magistral… Deixou claro, na minha opinião, que a polêmica criada sobre os tais embargos – ERA FALSA!, ou seja, tal questão já fora aprovada pelo Legislativo e que – fique bem claro! – com exceção do PDT, todos os partidos, da situação ou da oposição, aprovaram-na anteriormente. Portanto, o Decano deixou claro que: a não possibilidade de tais embargos é que seria uma ILEGALIDADE. Dessa maneira, na minha opinião, o processo global em questão começa a caminhar para os limites da razão, quer dizer, os réus, principalmente associados à formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, terão uma nova oportunidade de se defenderem. Por outro lado, O CRIME COMETIDO POR TODOS OS ENVOLVIDOS, na corrupção de políticos via suborno para aprovação de objetivos do executivo, à época, deverá ser rigorosamente mantido. Uma coisa é uma coisa – outras são “ostras”… Tal condenação será a prova cabal da necessidade, urgentíssima, da revisão de nosso sistema político principalmente no que concerne à criação de partidos e, fundamentalmente, ao dinheiro associado às campanhas políticas. É isso. Obrigado.”

        1. À JUNINA REVOLUÇÃO BRASILEIRA
          by Ramiro Conceição
          .
          .
          Ah,
          quantos intelecas e suas cascatas;
          quantos édipos, lacaios e jocastas;
          quantos jumentos transatlânticos;
          quanta atriz-modêlo-vila-madalênica;
          quantos mascarados de passeatas,
          mas filhinhos de papai e de mamãe;
          quanto jornaleco embrulho de peixe;
          quanto jornalista metido a besta;
          quanto publicitário com cabresto;
          quanto big-brother-globetrotter de cabiçulinha;
          quanta celebridade com a altura de um bueiro;
          quanta fashion week;
          quanta frescura no chiqueiro.
          Por quê? Pra quê? Pra nada!

          1. MOQUECA
            by Ramiro Conceição
            .
            .
            Não sou vermelho, branco, preto ou amarelo.
            Muito menos mulçumano, judeu ou cristão.
            Não cuspo no chão. Santo? Não sou não!
            Sim, tenho o estranho hábito de enterrar
            e desenterrar os ossos do nosso desatino
            e, com carinho, planto girassóis no quintal.
            Sim, sou um cachorrinho,
            um quase canibal, um misto de coveiro,
            jardineiro e cozinheiro que faz uma moqueca
            de estrelas aos convidados – à mesa triunfal.

  2. Curioso como cada pessoa percebe a acústica de um ambiente.

    Concordo que a acústica do Dante Barone não é boa. Mas por razões quase que opostas às apontadas aqui. Na minha percepção (tanto do palco como da platéia) o som projeta bastante bem porém soa magro ao extremo e absolutamente NÃO ENVOLVE. Nesse aspecto específico tem exatamente o mesmo problema de TODAS os outros espaços portoalegrenses: SESI, Reitoria UFRGS, Bourbon, etc. O TSP é um pouco melhor (fica tanto melhor quanto maior for a orquestra).

    (e tem arquiteto que ainda defende esses projetos)

    Continuando, tenho convicção que essa característica – som não-envolvente – é decisiva para a falta de emotividade na platéia. É muito difícil se emocionar quando a gente não se sente “dentro” da música, ou pior ainda, quando a gente sente que tem que “procurar” certos instrumentos, tem que se ESFORÇAR para ouvir bem.

    A recíproca é naturalmente verdadeira: quando a gente se sente envolvido no som, tende a se emocionar com mais facilidade (mesmo que outros aspectos acústicos sejam imperfeitos).

    A meu ver, quanto MENOR for a orquestra ou grupo, numa tal acústica seca e “árida”, PIOR vai ser o resultado.

    o Theatro São Pedro é um ótimo exemplo disso. Relativamente seco (mas não horroroso como os outros), tende a soar mais envolvente e generoso com orquestra grande. Por isso (mas não só por isso) a 4ª de Tchaikowsky soou MUITO emocionante lá.

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