No dia 26 de fevereiro, há exato um ano, eu e a Elena acordamos atrasados — demoramos anos para sair do hotel — e extremamente bem-humorados. Tudo era motivo de piadas e digo-lhes, meus amigos, a Elena é extraordinária nisso. Tem uma acidez toda especial que não sei se é de origem soviética ou judaica… Já expliquei que o mapa do metrô de Paris não foi feito para daltônicos e, como eu era o condutor da viagem, acabei nos levando para fora de Paris em vez de nos levar para o Museu d`Orsay, para onde poderíamos ter ido a pé. Acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes para gente daltônica como eu. Voltamos a Paris e finalmente…
Chegamos ao melhor Museu de Paris, o Museu d`Orsay. Lá é proibido tirar fotos dos quadros. Respeitamos, é claro. As coleções do museu apresentam principalmente pinturas e esculturas da arte ocidental do período entre 1848 e 1914. Entre outras, estão presentes obras de Van Gogh, Monet, Degas e Redon — segundo a Elena, os Renoir estão na Rússia. Situado na margem esquerda do Sena, o edifício era originalmente uma estação ferroviária, a Gare d`Orsay. Abaixo, uma foto geral que deixa clara a função original do prédio.
Lá em cima, no caminho dos poucos Renoir do museu, tem o relógio da estação, através do qual pode-se ver Montmartre.
E esta é uma foto tirada através do vidro do grande relógio. Abaixo, vê-se a margem direita e a Catedral de Montmartre ao fundo.
A próxima foto continha uma mensagem cifrada para o Latuff, mas não lembro qual…
Pierre-Auguste Renoir, Le Moulin de la Galette Eu e Elena ficamos minutos e minutos parados observando esta maravilha. Mas foi muito pouco tempo. A lembrança do quadro ficará para sempre ligada a ela.
Na saída, fomos a um café na rua detrás do Museu. Aqui, eu estava tentando chamar silenciosamente a atenção da Elena. Ela estava no meu tablet e eu fui fotografando.
Ela não me olhava.
Não queria saber de mim.
Pô.
Comentário de Tina Martina no Facebook sobre a próxima foto: “acho essa foto incrível, o desenho da gola do casaco faz um caminho para o olho se fixar no segundo plano. boa pra estudar”.
E a resposta do Marcos Vasconcelos: “A Tina me lembrou minhas aulas de visualização fotográfica na faculdade. Essa foto é realmente um espanto. Pela teoria, a primeira coisa que a gente deveria ver é o Milton, mas não… o olho vai direto no vermelho do casaco da Elena e desce naturalmente para as mãos dela. Só quando a gente percebe que essa foto não está aí só pela beleza da fotografada, é que a gente encontra o Milton. E então, o humor da foto”.
Jonatha Arruda: O amor tem de ser assim, brincalhão, divertido…
Elena Romanov: Sempre voltamos para rir desta foto…
Gente, é uma obra-prima involuntária. A mim, só me dá vontade de tocar na Elena, mas este é um assunto de foro íntimo. Voltando à situação da foto…
Cansei. É muita concentração para mim.
Estava já nas vascas da morte, emitindo sons de estertores para ela me olhar. Foi quando…
… ela finalmente olhou para mim…
Ainda no café, logo depois de ver as fotos, ela citou Goya: “O sono da razão produz monstros”.
Nossa, queria ter uma almofada como esta.
Sou um cara cheio de circunspecção. Minha seriedade é inabalável.
Não gosto de brincadeiras, todos sabem que Milton Ribeiro é alguém severo e plano.
Meu deus, quem terá pago este café?
Dos Cadernos de meus Fiascos (volume XXIII).
O que Milton, que é um cara generoso, não conta, é que eu enviei a ele um texto sobre coisas para aproveitar em Paris. E sugeri que pegasse o metrô sempre que não pudesse ir a pé. E disse que o mapa do metrô era uma maravilha.
Não me passou pela cabeça a relação das cores do mapa e o daltonismo do Milton.
Mas isso não tão grave, fica pior se soubermos que, poucos meses antes (ou depois, não lembro). Fiz as mesmas entusiasmadas recomendações a outro amigo que ia a Paris. As mesmas.
Ele TAMBÉM é daltônico.
Uadarrél!!!
Muito bom! Eu e a Elena gargalhamos!