Paris, 26 de fevereiro de 2014: Museu d’Orsay e o Sono da Razão

Paris, 26 de fevereiro de 2014: Museu d’Orsay e o Sono da Razão

No dia 26 de fevereiro, há exato um ano, eu e a Elena acordamos atrasados — demoramos anos para sair do hotel — e extremamente bem-humorados. Tudo era motivo de piadas e digo-lhes, meus amigos, a Elena é extraordinária nisso. Tem uma acidez toda especial que não sei se é de origem soviética ou judaica… Já expliquei que o mapa do metrô de Paris não foi feito para daltônicos e, como eu era o condutor da viagem, acabei nos levando para fora de Paris em vez de nos levar para o Museu d`Orsay, para onde poderíamos ter ido a pé. Acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes para gente daltônica como eu. Voltamos a Paris e finalmente…

Milton Ribeiro e Elena Romanov 00

Chegamos ao melhor Museu de Paris, o Museu d`Orsay. Lá é proibido tirar fotos dos quadros. Respeitamos, é claro. As coleções do museu apresentam principalmente pinturas e esculturas da arte ocidental do período entre 1848 e 1914. Entre outras, estão presentes obras de Van Gogh, Monet, Degas e Redon  — segundo a Elena, os Renoir estão na Rússia. Situado na margem esquerda do Sena, o edifício era originalmente uma estação ferroviária, a Gare d`Orsay. Abaixo, uma foto geral que deixa clara a função original do prédio.

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Lá em cima, no caminho dos poucos Renoir do museu, tem o relógio da estação, através do qual pode-se ver Montmartre.

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E esta é uma foto tirada através do vidro do grande relógio. Abaixo, vê-se a margem direita e a Catedral de Montmartre ao fundo.

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A próxima foto continha uma mensagem cifrada para o Latuff, mas não lembro qual…

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Pierre-Auguste Renoir, Le Moulin de la Galette  Eu e Elena ficamos minutos e minutos parados observando esta maravilha. Mas foi muito pouco tempo. A lembrança do quadro ficará para sempre ligada a ela.

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Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Se há uma coisa ruim em Paris é o metrô. Afirmo-lhes que, além de sujo, trata-se de um insulto aos daltônicos. Não sou nenhum macho-alfa, apenas acho que me oriento um pouco melhor que a Elena, mas lá tinha que deixar tudo para ela, tudo o que conseguia fazer era tatear cegamente no esquema padrão das linhas. Um dia, quando fomos para o Museu d`Orsay, por culpa minha acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes. Ou seja, era tudo com a Elena. Problema nenhum, mas e se eu estivesse sozinho? Em Londres, Roma, Rio e São Paulo há respeito conosco. Em Paris, não. São 14 linhas em estilo impressionista. Vão se fuder!

Clique na imagem para ver melhor o absurdo
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Então foi a Elena quem me levou até o hotel onde estavam hospedados a Liana e o Alexandre. Levou com competência, porém, quando chegamos na portaria do hotel não havia nenhum Alexandre Constantino nem nenhuma Liana Bozzetto na lista. O porteiro do Hotel Saint-Germain nos olhou com cara de quem estava vendo um casal de comediantes. (Numa cidade daquelas, eles não pensam num casal de assaltantes de hotéis, pensam em babaquice mesmo). Devíamos ser ainda mais engraçados por estarmos sem celular, desconectados do mundo. Perguntamos pelos brasileiros hospedados e o cara deu uma risada deliciosamente inconclusiva, respondendo que o hotel estava cheio de nossos conterrâneos, que a cidade e o mundo estava cheio deles. Olhei a lista de cima a baixo e nada. Vi quem tinha feito check-out naquele dia. Nada de Constantino, nada de Bozzetto. Mas eles tinham que estar ali. No dia anterior eles tinham sumido ali dentro. Foi quando vimos o Alexandre descendo calmamente as escadas. Porra, era ele mesmo. Com a tranquilidade habitual, ele me disse que devia estar registrado com algum de seus inúmeros nomes, pois, como um verdadeiro membro de nossa família imperial, nascera Alexandre Nogueira de Castro Constantino! Ah, voilá, c`est Monsieur Nogueirrá! E subimos com o Nogueirrá.

Nosso objetivo era o bebermos um dos vinhos franceses que compráramos, acompanhado da comida que eles tinham acumulado. (Em verdade vos digo, somos exagerados e gordos, levamos comida também…). E, como eles voltariam para o Brasil no dia seguinte, a ordem era vandalizar. Abaixo, nossa mesa antes de virem as coisas da geladeira.

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E comemos e bebemos e conversamos por horas. Era salmão pra cá, pão pra lá, pasta acolá, camarões alhures, vinho sob a cadeira e água aquecendo na mesa para o chá, tudo ao mesmo tempo. Primeiro falamos de coisas tristes, mas depois, sob a influência de baco…

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… ficamos mais alegres. Contamos sem maldade cada uma das últimas sacanagens que sofrêramos e sobre algumas iniquidades, também falamos sobre assuntos muito sérios e irreversíveis. Mas o vinho… A Elena contou que a escolha do vinho fora por ter sido produzido no mesmo ano em que seu filho nascera (hã?) e eu lembro que contei algumas de minhas histórias loucas. Mas nada pode comparar-se ao cartaz que vimos na estação de metrô onde pegamos o trem de volta. Pô, 20 cm de prazer? Mesmo sendo uns 20 placide, tô fora.

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