Ontem foi o pior dos dias: nunca fomos tão rapidamente do luto à baixeza

Ontem foi o pior dos dias. Primeiro, houve a tragédia com o time da Chapecoense, vitimando jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas do excelente, simpático e organizado clube catarinense. Só se falava nisso, a comoção foi mundial. Pois enquanto todos os olhos estavam voltados para a Colômbia, enquanto a Rede Globo botava o país para chorar com edições de alta temperatura emocional, ratos de todas as espécies — deputados gaúchos, deputados federais e senadores, todos juntos, ao mesmo tempo — aproveitaram-se para deitar e rolar.

Foda-se o povo | Foto: Gisele Arthur
A brilhante foto-resumo: foda-se o povo | Foto: Gisele Arthur

Na verdade, a maioria dos políticos brasileiros está como na foto acima: lixando-se para as consequências sociais de seus atos. Eles trabalham apenas para seus patrões financiadores de campanhas e para suas igrejas. Porém, infelizmente, são os legítimos representantes do povo brasileiro, um povo sem o menor grau de informação, idiotizado pela propaganda e bovinizado pelos meios de comunicação dominantes.

A desonra do que fizeram ontem a Assembleia Legislativa do RS, o Congresso Nacional e o Senado, dificilmente será superada. Mesmo assim, a imensa maioria do povo brasileiro ainda não entendeu que os atuais donos do poder são meros estafetas de grandes empresários que ganham muito, mas muito com eles.

Tais testas-de-ferro querem reduzir um estado que não dá o mínimo de saúde, educação e segurança. A intenção é de privatizar o que der, sempre em causa própria e na de seus patrões. O que pensar do Ministro da Saúde Ricardo Barros, um engenheiro civil que teve sua campanha financiada por um dos principais operadores de planos de saúde do país? O que ele tentará fazer? Você já sabe, vai reduzir os gastos e o atendimento do SUS. Quem se rala? Os mais pobres, a maioria, justo aqueles que votaram nos deputados de propagandas mais ostensivas e nos evangélicos do Congresso.

Não tenho mais dúvidas sobre a necessidade das ruas. E elas se tornarão mais e mais violentas. Lamento, mas creio ser necessário. Temos em Brasília uma quadrilha governando para si e procurando anistiar-se de seus próprios crimes. Imaginem que a Câmara dos Deputados, também ontem, rejeitou a criação do crime de enriquecimento ilícito de servidores públicos. A noite de 29 para 30 de novembro de 2016 jamais será esquecida pelos servidores que recebem propina. Foi uma noite de liberação!

Mas ainda maior repercussão terá a PEC 55, aprovada ontem em primeiro turno no Senado e que corta investimentos sociais por 20 anos, jogando muita gente na absoluta falta de saúde e educação. Tal PEC é uma encomenda de certos empresários financiadores de campanhas. Estes são os piores inimigos do povo brasileiro. E devem ser tratados como tais.

Curiosamente, as manifestações de 2013 começaram pedindo mais investimentos em serviços públicos e no combate à corrupção. Ontem, o Congresso respondeu impondo severos limites a ambos.

Como escrevi, acho que temos que ir mais e mais para as ruas. Meus parabéns aos estudantes que ontem foram a Brasília. Estamos nas mãos de ministros corruptos, senadores corruptos, deputados corruptos, juristas corruptos. E as grandes emissoras de TV e rádio, comprometidas com o lamaçal, ainda vêm dizer que se trata de vândalos, que democracia não é baderna. Que a baderna aumente! Infelizmente, é o momento da Grande Baderna.

P.S. — Peço desculpas pelo texto (muito) irritado, inteiramente fora da linha habitual do blog.

5 comments / Add your comment below

  1. Há muita coisa dentro do mesmo balde e isso fomenta muita confusão, algumas certa e outras, penso eu, nem tanto.
    Pessoalmente, acho que algumas medidas sugeridas pelo MP flagrantemente inconstitucionais. Não sou criminalista, minha atuação é na esfera trabalhista. Mas querem um exemplo?! Esse crime de enriquecimento ilícito perverte toda lógica processual-constitucional: a pessoa deverá provar que não cometeu crime! (detalhe: já existe crime para punir servidor público. As pessoas falam como se fosse um fato sem tipicidade!).
    Bom, o fato é que o congresso não aceitou essa proposta e tantas outras e aproveitou a situação para jogar dentro do pacote outras coisas ainda mais polêmicas. Resultado: a proposta inicial tornou-se outra coisa.
    Não li a proposta de punição a magistrados e membros do MP, mas não vejo porque isso representa ameaça à lava-jato ou à atuação da justiça. Os abusos devem ser punidos mesmo, pois esses nunca o são! Querem exemplos?!
    1 – Um magistrado do Maranhão (não me recordo o Estado) determinou que uma menina fosse encarcerada num presídio de homens!
    2 – Uma juíza do Estado do RJ estava vendendo sentenças e recebeu como punição aposentadoria.
    Etc.
    Não sei se o projeto envolve esse tipo de safadeza, mas seria bom punir o servidor e parar de culpar o Estado pelos abusos de seus membros (assim como ocorre em qualquer empresa).
    Em resumo: abusos devem ser punidos mesmo e inverter a ordem do ônus da prova no processo criminal é um retrocesso, ao menos segundo aprendi com todos os livros que li ao longo de minha vida.
    Abraços!

  2. Muito bom o desabafo, Milton. Aquela figura patética da Leilane, no canal alternativo da Globo, só falava em vândalos e as imagens mostravam a polícia jogando bombas nos manifestantes. Embora esteja a serviço dos empresários, é a grande mídia (também de empresários) quem assume este papel sujo de mentir e enganar a população. Isso é o mais trágico de tudo: a profunda alienação da população mais pobre do País, produzida por esta grande máquina de enganar as pessoas que é fundamentalmente a televisão. Os jornais e revistas fazem sua parte nessa maldade, mas quem precisaria se dar conta do que ocorre na realidade, não lê jornas e revistas e se informa apenas pelo que dizem as Leilanes e os Bones da vida. São os estudantes, principalmente que vão para as ruas enfrentar a polícia. Precisamos muito desses vândalos e hunos para derrubar este novo e corrupto império romano.

  3. Parabéns! Estou tão indignada quanto você. Tenho 74 anos, fui professora de Educação Musical do Estado de Minas Gerais, trabalhei 40 anos e vi meu salário ser esfacelado pela dupla Aécio-Anastasia. Sofri com a ditadura e sofro agora vendo o que estão fazendo com o país e a educação. Querem transformar os jovens em robôs sem capacidade de discussão, sem o refrigério das artes, da cultura física e do espírito. Escola boa só para eles. Os outros, massas de trabalho. Um horror! A ditadura militar disse a que veio, essa que está aí enganou as vaquinhas de presépio que dizem Amém à mídia. Vamos para as ruas! Abaixo a canalhada!

  4. A política brasileira vai a reboque dos interesses globais. Aqueles que seriam os representantes do povo brasileiro são apenas seus patrões, são apenas senhores de engenho que reconhecem para si mesmos todos os direitos, inclusos o de exploração dos escravos, que são os demais, o povo. O Brasil nunca superou o trauma da invasão portuguesa, da exploração dita “colonial”, e sua história é a dos voos de galinha entre golpes e usurpações várias. Não se construiu uma nação: aqui todos são arrivistas, aqui todos são selvagens do pior tipo: o dos capitalistas selvagens. Enquanto não houver uma determinação o mais homogênea e coordenada possível para construir uma estrutura política capaz de atender os direitos constitucionais a cada cidadão brasileiro, ficaremos sujeitos à desordem econômica internacional e sua eterna busca de recursos para sustentação de privilégios imperialistas.

    Temos também a renúncia coletiva dos Procuradores da Lava Jato enquanto protesto é interessante: livra a cara de Aécio, Serra, Alckmin, etc. Finda o teatro? Revoltam-se contra o Congresso, mas desde quando o papel do Judiciário é fazer leis, e principalmente leis que lhes acrescentam poderes? E dizer que os 10 artigos encaminhados ao Congresso partiram da iniciativa popular é mentira que segue os padrões do governo atual: escárnio. Que o Congresso faz merda todo dia todo mundo sabe, mas quando ele não se curva aos ditames do Judiciário este último grita? Poupem-nos.

    O Judiciário luta pelo poder: não quer mais saber da tríade federativa. “Somos nós contra eles”, eles pensam. Eles somos também nós: o povo. Desde que sou jovem nunca vi juízes e procuradores se manifestando sobre temas afins ao Executivo e Legislativo. Agora isso é moeda corrente

    Não há o que fazer com o Legislativo que aí está, muito menos com o Executivo e Judiciário: são todos marajás que sufocam o povo brasileiro.

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