Se eles cagam para o plágio, por que vou me importar?

Sou todos os autores que li, todas as pessoas que conheci, todas as aventuras que vivi.
Jorge Luís Borges

Certa vez, um crítico contou o número de plágios de Shakespeare. Ele vasculhou 6.043 versos. Destes, 1.771 foram copiados, 2.373 foram reescritos (na verdade foram muito melhorados) e os restantes 1.899 pertencem a Shakespeare. Entre os plagiados, há autores como Robert Greene, Marlowe e muitos outros. Mas, meus amigos, a obra é de Shakespeare. Afinal, só ele juntou e alinhavou tudo aquilo.

Shakespeare brincava que às vezes boas filhas nascem em más familias e que cumpria corrigir a natureza… Mas ocorre também o contrário de uma filha estabelecida em boa família migrar para uma pior ou para uma de mesmo porte.

Deste modo, se um autor rouba ideias de outro, é plágio; se rouba de muitos autores, é pesquisa. Esta frase é minha? Sei lá, entende? Ah, Chaucer, Sterne e De Quincey também foram grandes ladrões. A grande, a imensa literatura inglesa está cheia deles.

Dentre os músicos, Bach, mas principalmente Rossini e Händel, faziam algo mais lícito, mas que às vezes enche o saco. Eles faziam o autoplágio, complicado de ser descoberto numa época em que as músicas eram apenas escritas em partituras, mas facilmente descoberto hoje, mesmo por meros melômanos como eu.

Meu blog já foi plagiado. Ontem descobri mais um. Eram duas frases. Olha, quando é uma frase, um trecho, fico até honrado. Agora sei que é sabedoria…

O Eduardo Lunardelli publicou em seu blog duas divertidas imagens relativas a plágio que copio, claro, abaixo.

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  1. Existem aí umas diferenças sutis; ser o que se é pelo que viveu e leu e, em seguida, escreveu, tendo à mente os recursos obtidos através da experiência, não é plagiar, mas apenas aproveitar abordagens e temas de forma particular; citando-se fontes, não há plágio, ou não se citando, pode não haver (por exemplo, Borges escreve poesia para um leitor culto que, para ele, identificará as fontes de tais e tais versos inseridos em seus próprios poemas); não se plagiando diretamente, pode se encontrar plágio, se não em trechos, na própria estrutura da obra; muitas “variações sobre o tema” são creditadas, outras não – vi um concerto de Hermeto pascoal em que ele ensina a utilizar temas alheios de maneira tão hábil que nem os compositores dos originais identificariam ali suas próprias obras; muitos roubos não são homenagens, mas críticas, e assim não são plágios, mas uma maneira azeda de enxovalhar aquele de quem não se gosta, esperando que o outro se veja ali citado ou parodiado e se faça de desentendido (ou não), alimentando (ou não) polêmicas que podem até levantar hipóteses de plágio, no geral para tentar reverter o descrédito próprio desacreditando aquele que critica através do plágio ou da paródia; aliás, existe a paródia que muitas vezes incide em plágio, por pinçar trechos inteiros do parodiado; existe o plágio acadêmico, e esse é descarado, pois os originais são completamente desconhecidos, e nada é mais fácil que reproduzir dissertação ou tese alheia, na íntegra mesmo, e tantas vezes obter, assim, notas maiores do que aquele que obrou o original; plágios em blog praticamente não são plágios, mas meramente o copiar e colar em um universo de 99,9% de irrelevância; há plágios nada sutis, que invertem enunciados ou alteram subtítulos, às vezes chegando a conclusões diferentes, mas explorando contextos idênticos em linguagem idem, com transcrições ligeiramente alteradas para deixar, no máximo, a impressão de que o autor é influenciado por, e não copia o; poxa, existem tantas formas de plágio que poderia exercitar-me para criação de um catálogo imenso, mas certamente alguém já fez isso antes, daí que basta copiar e não se dar a esse trabalho tonto.

  2. Eu vi plágios inacreditáveis, de histórias muito pessoais: plágio de um texto que a mãe contava as coisas que seu filho havia dito para ela, ou da experiência de engravidar cedo, plágio da descrição de opiniões e problemas familiares. Nos dois casos, leitores identificaram as histórias e avisaram os blogueiros.

    Talvez em algum lugar algum texto meu tenha sido copiado. E pode estar fazendo o maior sucesso, mais do que faz comigo, porque o meu blog é desconhecido.

  3. Infelizmente, não há como conter os plágios na internet e duvido que algum dia alguém consiga. Todos os dias costumamos lembrar e citar frases (ou fragmentos delas) que ouvimos (lemos) de alguém e em algum lugar. Com tanta informação, fica difícil recordar a fonte do aprendizado.
    Mas existem os que vivem na base do “copia” e “cola”.
    São pessoas sem criatividade alguma, com preguiça mental. Ainda bem que há os inteligentes e criativos para lhes fornecerem “disfarces”. Usando a obra de um autor como sendo de sua propriedade, sentem-se menos ineptos.

  4. Provavelmente Shakespeare tambem copiava, colava, plagiava, seja lá o que for… Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma… Ah, isso é sugado de Lavoisier…

  5. “Uma pedra no meio do caminho
    ou apenas um rastro, não importa.
    Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
    de toda a precisão se incorporaram
    ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinícius
    sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
    Que Neruda me dê sua gravata
    chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
    São todos meus irmãos, não são jornais
    nem deslizar de lancha entre camélias:
    é toda a minha vida que joguei.”

    Carlos Drummond de Andrade – “Consideração do poema”

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