Bom dia, Renato (com o melhor de Estudiantes 2 x 1 Grêmio)

Bom dia, Renato (com o melhor de Estudiantes 2 x 1 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Renato, na bacia das almas que se encontra na foz do Rio da Prata, repousam alguns dos espíritos mais fortes do COPEIRISMO continental. Tu, que já cruzaste tanto estes pagos, fardando os mantos tupiniquins que se atreveram a desbravar América a dentro, deverias saber bem disso.

Maicon em ação: com Cícero ao lado, pouca mobilidade para marcar | Foto: gremio.net
Maicon em ação: com Cícero ao lado, pouca mobilidade para marcar | Foto: gremio.net

Porque, Renato, não se encara o Estudiantes de La Plata, mesmo quando condenado pela imprensa desportiva por “não viver seu melhor momento”, sem considerar que o time dará o sangue e a alma para tentar buscar a vitória. Assim como na semana passada, vimos os jogadores jovens fazerem os nossos “velhos” sofrerem, coisa típica destes tempos em que não se respeita mais nada.

A noite fria em Quilmes – e infelizmente não falamos daquela loira gelada que importamos dos hermanos – viu, num primeiro tempo, um adversário que compensava suas deficiências técnicas com muita vitaliciedade e entrega. Quando parecia que o Estudiantes não teria muito mais recursos do que o “vamo que vamo, que se puede”, o jovem Apaolaza emplaca um chute de raríssima felicidade, abrindo o placar para os donos da casa logo no início da partida.

O primeiro gol deles, Renato, saiu de uma bola retomada da nossa defesa, na marcação pressão que eles aplicavam sobre nós. Mesmo tendo muito mais posse de bola já naquele momento, o Grêmio não raro se via apertado na saída, precisando dar chutões para a frente. E, sem o Jael, fica muito difícil ganhar a segunda bola. Pouco conseguíamos criar (a ausência do Everton foi gritante, especialmente porque Pepê pareceu sentir um pouco a pressão do jogo). De outro lado, víamos os contra-ataques impetuosos daquela voraz juventude platense.

Se a coisa já não ia bem, ficou ainda pior, quando, na cobrança de escanteio, Campi cabeceou no canto oposto de Marcelo Grohe, aos 38 do 1º tempo. Gol de manual, mas que contou com a falha da marcação na bola aérea – era daquelas noites em que até os problemas que pareciam estar resolvidos voltam a nos assombrar. O momento seguinte foi horrível: com dois gols à frente no placar, o Estudiantes encaixava contra-ataques perigosos. Parecia que o que era ruim iria piorar. Eu temi pelo pior por alguns instantes, Renato.

Entretanto, eis que a copeira bola aérea que pune também salva, liberta e dá esperanças. No apagar das luzes da primeira etapa, Luan bateu escanteio com precisão, André desviou de cabeça, Andújar fez grande defesa, mas Kannemann, nosso melhor jogador em campo, estava lá para completar para o fundo das redes, também de cabeça. 2 a 1, o alívio e a certeza de que dava para reverter a desvantagem ainda no jogo de ida.

No segundo tempo, contudo, o Grêmio até foi melhor, mas pouco efetivo. Perdemos boas chances e não soubemos aproveitar o fato de ter jogado os 15 minutos finais com um homem a mais, depois que Zuqui levou o segundo amarelo, numa falta infantil que mostrou que, para boa parte da equipe deles, ainda falta maturidade. O jogo terminou com o mesmo placar do primeiro tempo, o gol qualificado faz com que a vantagem deles não seja tão grande; mas ficamos com a sensação de que o Tricolor ficou devendo em campo, Renato.

O que eu gostaria de te dizer é que espero que não seja preciso uma eliminação precoce para que tu aceites que algumas mudanças precisam ser feitas no time. Cícero e Maicon são uma boa dupla de volantes, os dois têm qualidade, claro; porém, não está dando mais para jogarem juntos, porque são veteranos, não têm pernas para correr atrás na marcação (especialmente quando a velocidade do adversário no contra-ataque é uma arma). Mesmo que perca em qualidade técnica na armação, o time ganharia com Jaílson na marcação.

Da mesma forma, Leo Moura é um baita lateral. Mesmo quase beirando os 40 anos, ainda tem muita qualidade. Ontem deu conta de jogar toda a partida e foi bem. Mas sabemos que não será sempre assim, Renato. E, por falar em qualidade, não duvido da capacidade técnica do André, porém já não há mais justificativa para que Jael fique no banco. Toda vez que ele entra, o time ganha em movimentação, bola aérea, e segunda bola. E eu espero que o Bruno Cortês retome logo a posição do Marcelo Oliveira, que ontem foi MUITO mal.

Enfim, não precisamos apelar para clichês como “não tá morto quem peleia” ou discursos motivacionais que invocam a garra do gremismo. A desvantagem no confronto é totalmente reversível, sabendo que precisamos da vitória mínima aqui na Arena, quando tenho certeza que nossa torcida a lotará mais uma vez, para fazer com a bola entre nem que seja pela força do ALENTO. Mas eu gostaria, Renato, que tu abrisses mão de certas convicções – e PARA COM ESSA COISA DE ESCANTEIO CURTO, por favor (nosso único gol ontem saiu de uma bola cruzada, Renato!).

E vamos que vamos, que a busca pelo Tetra da Libertadores começou neste mata-mata com o pé esquerdo, mas a gente nunca para de acreditar. Vamos adiante, agora pensando no jogo em casa que termos contra o Vitória, no domingo. Aliás, como só voltarei a falar contigo na segunda-feira, já deixo aqui meu parabéns pra ti, pelo dia dos pais vindouro. Manda um beijo pra Carolzinha!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

https://youtu.be/OiADkFKyMMo

Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo

Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo

Caderno de Memórias ColoniaisO impacto deste livro em Portugal foi imenso. Isto deve-se ao fato de que o texto quebrava o mito de certa versão cor-de-rosa que boa parte da sociedade portuguesa seguia cultivando sobre o período colonial africano. Este teria sido muito mais um auxílio ao continente do que violência e opressão… Mas o livro de Isabela Figueiredo vai adiante de meras observações sociológicas, tratando da traição da autora às opiniões e à memória de seu pai, um colonizador daqueles bem típicos. Na verdade, Isabela sempre foi uma loira-negra, permanecendo solidária ao sofrimento dos negros e identificado-se com sua cultura. Seu pai era excelente como pai e a autora o amava, mas havia o lado B do colonizador que podia agredir funcionários e tinha a opinião de que todo e qualquer negro era incapaz de se organizar e era tolo, mesmo que sua pele tivesse sido salva por um deles, seu vizinho.

A autora sabe do que fala. Nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, e permaneceu no país até alguns dias depois da descolonização. Na verdade, saiu fugida porque os colonizadores estavam sendo perseguidos. É um livro raro porque há pouca informação sobre a vida real nas colônias, mesmo sob a perspectiva dos retornados. e retornadas. Caderno de Memórias Coloniais (Todavia, 180 págs.) nos conta tudo isso em 51 brilhantes textos escritos na primeira pessoa do singular, sem poupar detalhes. O livro reescreve a história oficial, mostrando desde o racismo do dia a dia — nosso íntimo também no Brasil — até às agressões que sofreram os colonos depois do 25 de Abril.

O testemunho de Isabela nos mostra a diferença de tratamento através dos olhos de uma criança que se retirou do país aos 13 anos, também fala da exploração do trabalho — os “pretos do meu pai” — e o medo colonial que gera e justifica a violência.

Há também o sexo. Os colonos gostavam de transar com as negras e as pagavam na frente de seus maridos, humilhando-os. As mulheres dos colonos “compreendiam” tal atração: afinal, as negras estariam mais perto da natureza, teriam a vagina mais aberta (?), fácil e convidativa… Isso era o que elas diziam.

Porém, além de toda a informação, há a excelente escritora que é Isabela Figueiredo. Sua prosa é de primeira qualidade, ao mesmo tempo clara e lírica. Se fosse um livro comum, ficaria como documento. Seu sucesso de crítica e público deveu-se à linguagem de Isabela, que catalisa sentimentos, impulsiona e dá colorido adequado a tudo que é contado.

Recomendo fortemente!

Isabela Figueiredo
Isabela Figueiredo

Lembram daquela exposição de mediocridade quando do impeachment de Dilma?

Lembram daquela exposição de mediocridade quando do impeachment de Dilma?

Gente, as eleições mais importantes são as para Deputado Federal e Senador. Nestes cargos é que fundamental influenciar, votando em quem não será depois Centrão. A palavra Centrão significa o grupo de deputados que apoia a quadrilha que ora ocupa o Planalto e que deverá estar com Alckmin e Ana Amélia.

Importante: o título deste post não defende Dilma, uma de nossas piores presidentes da história. Usei o episódio apenas como exemplo, pois foi ali que todos viram em quem votamos, quem é nosso Congresso. O que sei é que ignoramos o parlamento no período eleitoral e depois nos surpreendemos com sua ruindade, tolice e corrupção. Há que examinar o voto com lupa.

Foto: Portal da Câmara dos Deputados
Foto: Portal da Câmara dos Deputados

O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa

O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa

Já tivemos Ian McEwan no Fronteiras. Ele comentou um livro seu, Enclausurado, cujo narrador era um feto. Pois o narrador de O Vendedor de Passados é uma lagartixa. E esta conta a história de Félix Ventura, um negro albino que vende passados para quem não gosta do seu. Ou seja, ele prepara e vende árvores genealógicas, criando passados mais amenos e bonitos. Seus clientes são prósperos empresários, políticos e militares que têm assegurados belos futuros em Angola. Todavia, falta-lhes um passado digno. A lagartixa Eulálio vive nas paredes da casa de Félix acompanhando seu trabalho de comerciante. Conta-nos sobre a enorme biblioteca de Félix e dos recortes de jornais e revistas de várias épocas que guarda e consulta. Além disso, ele frequenta lojas de antiguidades e sebos, a fim de buscar inspiração. Afinal, o passado tem de ser plausível, se possível colorido e sedutor. E acaba negociando objetos comprobatórios, pois seu trabalho de “romancista” não vai para as páginas de livros, deve ser real, ou quase.

Vendedor de Passados Agualusa

Bom dia, Renato (com os melhores lances do grande jogo Grêmio 1 x 1 Flamengo de ontem à noite)

Bom dia, Renato (com os melhores lances do grande jogo Grêmio 1 x 1 Flamengo de ontem à noite)

Por Samuel Sganzerla

Eu vou ser bem sincero contigo, Renato: nem sei exatamente o que escrever por aqui hoje. Saí tão p… da cara da Arena ontem, xingando até a oitava geração da família do juiz. No fundo sabemos que jogamos para tomar o merecido empate. Mas o senhor de amarelo, que sujeitinho bem SAFADO, invertendo faltas e adotando duplo critério na marcação.

O gol sofrido faltando 15 segundos deu aquela sensação de que tudo deu errado, Renato. Mas, a bem da verdade, eu te digo e afirmo que, no final, tudo deu certo ontem à noite. Porque a vida do Grêmio é assim mesmo: entre tropeços e erros, vem a superação. Foi o primeiro episódio de uma batalha que só termina daqui a duas semanas.

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O futebol tem dessas coisas: no momento em que o time segue a boa fase e vem fazendo grandes partidas em casa, tem aquele jogo para colocar tudo em dúvida. Levar aquele empate no final é como, nas metáforas que só os românticos como nós entendemos, Renato, quando aquela morena de lábios carnudos que te propicia noites maravilhosas vai embora de manhã, te deixando sem saber muito o que pensar da vida.

Enfim, nem tenho muita coisa para dizer hoje. Poderia descrever cada uma das atuações individuais ruins e das tuas más substituições, mas prefiro focar na ideia de que a classificação lá é bastante possível. No próximo fim de semana jogamos de novo contra o Flamengo na Arena, desta vez pelo Brasileirão. Mas já estou com a cabeça lá no Maracanã, onde mais de uma vez já triunfamos. Que 97, em especial, seja lembrado!

Saudações Tricolores, Renato!

E segue o baile…

https://youtu.be/1rX1OJo_ecs