Charlotte Brontë sobre Orgulho e Preconceito
Em carta a G. H. Lewes (amante de George Eliot), 12 de janeiro de 1848:
Por que você gosta tanto da senhorita Austen? Estou intrigada. O que o induziu a dizer que preferia ter escrito Orgulho e Preconceito ou Tom Jones do que qualquer um dos romances de Walter Scott? Eu não tinha lido Orgulho e Preconceito até ler essa sua frase, e então peguei o livro e estudei. E o que eu encontrei? Um retrato daguerrotipado (de daguerreótipo, antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre 1787-1851, físico e pintor francês) preciso de um rosto comum; um jardim cuidadosamente cercado e altamente cultivado, com bordas próximas e flores delicadas — mas nenhum vislumbre de uma fisionomia vívida e brilhante — sem campo aberto — sem ar fresco — sem colina azul — sem nada bonito. Eu dificilmente gostaria de viver entre suas damas e cavalheiros em suas casas elegantes, mas confinadas. Essas observações provavelmente o irritarão, mas eu correrei o risco.
Agora, eu posso entender a admiração por George Sand. Ela é perspicaz e observadora.
“O que o induziu a dizer que preferia ter escrito Orgulho e Preconceito ou Tom Jones do que qualquer um dos romances de Walter Scott?”
O que mais me chama a atenção nessa pergunta é o processo de mudança de sensibilidade estética que acontecia naquele momento. A dimensão literária de Scott era muito maior então, e eu mesmo, que li e reli Ivanhoé quando era criança, tenho dificuldade para entender isso — talvez justamente por essa razão. Tadinho de Scott, vítima do modernismo. É uma casa derrubada para a abertura de uma avenida.