Desejava que o Rafael Guimaraens fosse o patrono da Feira do Livro, é sempre um reconhecimento. Ele há anos escreve sobre Porto Alegre e seus livros são cada vez melhores. Mas houve uma enchente este ano e ele tem um livro sobre a Enchente de 41. Talvez algumas ôtoridades ficassem de nariz torcido com um sujeito que, além disso, criticou bastante a postura de alguns deles durante os eventos de maio.
Só que escolheram Sergio Faraco, o maior contista brasileiro, um fantástico escritor que jamais tinha sido patrono. A escolha de Faraco evita qualquer protesto. Claro, basta abrir um livro dele para fechar a boca. O cara é genial.
De minha parte, sempre fui meio avesso à feira do livro. Lembro que lá em 2014 ou 15, quando ainda não era dono de livraria — era jornalista do Sul21 –, fui chamado a improvisar algo sobre a Feira para o jornal.
Tenho aquele defeito de ser sincero. É uma droga isso. Parei na frente da câmera pilotada pela querida Roberta Fofonka e, em plena praça, disse algo que era mais ou menos assim, de costas para a Rua da Ladeira.
“Esta é a festa das editoras e das distribuidoras. Fora os sebos, é uma feira de lançamentos, a maioria de autoajuda. Não há grande atenção pelo que está sendo vendido. É meio nauseante passar entre as maiores bancas, pois elas vendem os mesmos livros. Então, se você quiser literatura (e apontei para trás), suba a Ladeira e dobre à esquerda na Riachuelo. Ali está o que você procura”.
A coisa foi ao ar e alguém da organização pediu para falar com minha chefe. Ela deu risada e me chamou. Tomamos um café juntos.
Sim, vamos. Pois quem é que não sabia? Naquele domingo de eleição, houve gente literalmente chorando no balcão da Bamboletras. E tu estavas comemorando, Leite.
Tu fizeste campanha pro cara que matou desnecessariamente 450 mil brasileiros — o cálculo de mortos no país, se houvesse ação efetiva do governo, é de 150 mil. Inadvertidamente, mas por burrice, falta de visão e opção classista, foste parceiro em um genocídio, meu caro.
Em todos os governo eleitos, existe uma relação óbvia: quem os elegeu carrega responsabilidade por isso.
Agora que estamos no pior governo da história, fascista, burro, corrupto, grosseiro, os eleitores não querem assumir a parte que lhes cabe no genocídio. E mais: querem atribuir justamente a quem não votou em Bolsonaro, o resultado dessa merda toda.
Ora, Sr. Eduardo Leite, se você cravou 17 na urna em 2018, esse voto é seu, somente seu. Talvez, como menino branco, rico, mimado, o Sr. não tenha sido ensinado a lavar a privada onde caga, mas isso não quer dizer que foi outra pessoa que cagou. Assumir a própria merda seria um bom sinal de que deixou de ser o filhinho de papai e se tornou, sei lá, adulto, que é requisito pra se candidatar, aliás.
Você, gaúcho, que vota em Bibo Nunes, Danrlei, Jerônimo Goergen, Marcel Van Hattem, Pedro Westphalen, Osmar Terra e outros notórios cretinos e imbecis, é um deles. Leiam bem os nomes dos deputados e dos partidos das duas colunas.
Não sei como é no resto do Brasil, mas os cafés de Porto Alegre não abrem de manhã cedo. Agora mesmo passei por um na Lima e Silva. Uma placa avisava que abriria às 12h.
Sábado, por volta das 8h30, ao caminhar pela Osvaldo Aranha, olhei para dentro da Lancheria do Parque. Estava lotada de pessoas tomando café. Até parei na calçada para olhar as torradas, o leite e o colorido dos sucos.
Há exatos oito anos, era domingo e o plantão no Sul21 era do Samir Oliveira. Ele trabalhou feito um condenado. O Igor Natusch correu para ajudá-lo, se não me engano. Eu estava na praia, na casa de minha irmã, e me vieram lágrimas quando falaram nos celulares tocando nos bolsos dos mortos.
O prefeito irresponsável hoje está todo pimpão em Porto Alegre, trabalhando na ínclita gestão de Sebastião Melo.
Na semana seguinte, viajei para a Europa com minha filha Bárbara Jardim. No primeiro dia em Roma, fomos ao Pantheon. Deu fome. O garçom perguntou se éramos brasileiros. “E moram perto de Santa Maria?”.
(Todos estão impunes. Não aconteceu ainda o julgamento dos réus).
A combativa imprensa gaúcha diz que o Estado está falido, que é necessário um pouco de sacrifício e aguentar o parcelamento de salários há anos sem reajuste…
Então, para ter uma graninha a mais, o Leitinho cobra o IPVA em janeiro sem parcelamento e a mesma imprensa diz que é um absurdo, que não pode ficar assim!
E o governador — do alto de suas inabaláveis convicções — recua…
Ontem, peguei um Uber com um haitiano. Logo notei que o sotaque me era estranho e ele me disse que sua língua preferencial era o francês.
— E o crioulo?
— O crioulo é a língua das ruas. O francês é a língua da escola, dos livros e dos documentos. Eu falava crioulo na rua, mas tudo o que escrevia e lia lá era em francês.
— São línguas parecidas?
— Sim. Bon jour, bon soir, quase tudo igual, mas o criolo tem algumas palavras diferentes, nossas.
— O francês é oficial?
— Sim. Somos um dos 2 países da América com língua oficial francesa. O outro é o Canadá.
Perguntei como ele aprendera o português.
— Em Manaus, com um professor angolano. Três meses de aula. Bom professor, mas com aquele sotaque e a fala rápida dos portugueses. Tinha que suar para acompanhar.
— E o clima em Manaus, é parecido com o do Haiti?
— Não. O Haiti tem o melhor clima do mundo. É seco e agradável. É dos poucos motivos de orgulho. O sol do Haiti é vitamina, o de Manaus é doença.
— Sim, minha mulher viveu 7 anos lá e concordaria. E como vieste parar em Porto Alegre?
— Meu filho conseguiu emprego aqui. Me ajudou a alugar este carro e estou dirigindo há 4 semanas, sem conhecer quase nada da cidade.
— E tu sente o racismo?
— Claro que sim. Brasileiro não é fácil. Me olham estranho. É difícil alguém sentar do meu lado como o senhor. E reclamam que eu não sei o caminho. Não sei mesmo. Ainda bem que tem o banco de trás, né?
E abriu enorme sorriso.
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(Boa sorte no Brasil, M., vais precisar. Detalhe: M. tem 4,66 na avaliação. Não sei se é merecido).
A partir de hoje, as emissoras passam a obedecer ao comando direto do órgão responsável pela propaganda e divulgação das ações do governo. Tudo isso em ano eleitoral, no qual Sartori é considerado pré-candidato, pelo MDB, à releição ao governo do Estado.
Nesta quarta-feira (11/04), o Diário Oficial do Estado publicou um decreto do governador, alterando a estrutura da Secretaria da Comunicação (SECOM). A principal mudança é a criação de departamento de Radiodifusão e Audiovisual, que irá absorver as atividades da Fundação Piratini caso a extinção se confirme.
Na prática, as emissoras passarão a sofrer a interferência direta dos governantes, já que a SECOM está submetida ao gabinete do governador. A própria secretaria é composta, neste momento, quase que exclusivamente por Cargos Comissionados, abrindo a possibilidade de contratação irrestrita de terceirizados e apadrinhados políticos para trabalhar na TVE e FM Cultura. Ao mesmo tempo, as primeiras realocações de servidores concursados da Fundação Piratini foram oficializadas hoje, diminuindo o quadro de funcionários de carreira.
O Conselho Deliberativo – órgão composto por representantes da sociedade civil e encarregado de zelar para que a programação das emissoras cumpra o caráter público e educativo – deixará de existir nesse novo modelo. As atribuições serão definidas apenas pelos interesses partidários, tanto que o decreto reitera repetidas vezes a prática das parcerias públicas-privadas. Em nenhum momento, porém, é detalhado quais serão os critérios para regular esses acordos.
Em dezembro de 2016, os advogados Antonio Carlos Porto Junior, representante do Sindicato dos Jornalistas, e Antonio Escosteguy Castro, representante dos Sindicato do Radialistas, haviam denunciado que a extinção da Fundação fere princípios constitucionais como o de liberdade de imprensa.
“A ideia de subordinar um órgão de comunicação pessoalmente ao governador do Estado ou a algum governante é algo que não encontra paralelo na história política há muito tempo. Nem na Alemanha dos anos 30 se tinha uma subordinação jurídica de um órgão de comunicação a pessoa do governante. Isso é uma violação expressa do artigo 220 de CF que estabelece que qualquer tipo de óbice a liberdade de informação e expressão é proibida”, afirma o advogado Porto Junior.
Amanhã, a Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul completa 60 anos. Foi a primeira rádio universitária e pública do país. Comecei a ouvi-la diariamente desde os 15 anos e não imaginava que ela tivesse nascido no mesmo ano que eu. Antes desta idade, meu pai já nos fazia ouvi-la no carro e em casa. Naquela época, suas transmissões começavam às 8h e iam até a meia-noite. Tudo terminava num estranho “Boletim Astrônomico”. Assim que meu pai notou em mim alguma tendência para apaixonar-me pela música erudita, iniciou um jogo que durou até sua morte em 1993. Toda vez que ligava o rádio, nós tínhamos que adivinhar que obra estava sendo executada. O jogo era levado tão a sério que, logo após o final de cada música e do locutor anunciar o nome do compositor e título da obra – tínhamos que ouvir atentamente, porque era nossa conferência para saber quem tinha acertado — , o rádio era desligado a fim de que não ouvíssemos o nome da próxima. Deixávamos passar alguns minutos para só então religarmos o rádio e as tentativas de adivinhação.
Isso me deu um treinamento incrível para reconhecer estilos e obras. Mas o que interessa hoje é que há mais de 45 anos ouço a rádio, a minha rádio que tantos problemas apresentava nos primeiros anos: sinal fraco, interrupções das transmissões, vinis com problemas (alguns arranhados, outros em tal estado que não deixavam a agulha avançar…), etc. Hoje, o maior problema é o fato de ela ser uma emissora AM. Melhor ouvi-la sempre na Internet. Quando virá o FM? Outro problema é que, antigamente, a escolha do repertório tinha mais lógica.
Os méritos da rádio ultrapassam em muito os seus problemas e foi ali, com o grande compositor e ex-diretor da emissora Flavio Oliveira e com Rubem Prates, que aprendi que uma programação não era mero sorteio ou livre-associação. É notável como eles conseguiam ligar inteligentemente cada música à próxima, fosse por seu tema, por sua evolução na história da música ou pela pura sensibilidade desses dois conhecedores, que viam parentescos em coisas aparentemente díspares. Com eles, aprendi que havia várias formas de se avançar na grande árvore da história de música. Por exemplo, pela manhã, a rádio iniciava por um compositor de música antiga ou barroco, depois ia para um clássico, daí para um romântico, e assim por diante, nos mostrando sempre os caminhos e os diálogos que um compositor travava com seu antecessor. Foi a maior das escolas. Com a Rádio da Ufrgs conheci o que cada compositor passou a seus sucessores e aquilo, após milhares (mesmo!) de dias como ouvinte, tornou natural a leitura das histórias da música que fiz depois. De forma misteriosa, estranha e certamente gloriosa, aqueles dois homens silenciosos já tinham me ensinado tudo, colocando as coisas na ordem certa para que meu ouvido entendesse. Hoje, a coisa está mais bagunçada, às vezes temos que reformatar o ouvido de uma obra para outra.
É claro que me emociono ao falar da Rádio da UFRGS, não há como ser diferente. Voltando a sua história, depois seu horário foi ampliado e já faz décadas que transmite 24 horas por dia como qualquer outra emissora. Conheci na rádio quase tudo o que ainda ouço hoje ou posto no PQP Bach. Lembro do dia em que ouvi a Oferenda Musical de Bach numa manhã intacta e perdida, no quarto já então pleno de futura saudade. Era uma gravação de Hermann Scherchen e, naquele momento, eu tive a certeza de que não existia nada que pudesse deixar aquele momento mais perfeito e importante, tal o modo como a música caiu sobre mim. Lembro do dia em que mandei uma carta — sim, pelo correio — para o programa de sábado à noite Atendendo o Ouvinte. Pedi a Sinfonia Nº 10 de Shostakovich. Fui atendido. Eu e uma namorada — eu devia ter entre 18 e 20 anos — deixamos de sair para ficar ouvindo aquela maravilha. Fora da música, talvez apenas os filhos, os momentos de amor ou a futura leitura do Fausto de Mann, de Tolstói, Dostoiévski, Bulgákov ou de Machado, além do enlouquecido Guimarães Rosa do Grande Sertão, me proporcionaram momentos em que novamente pareci ter saído de minha pequena natureza.
E, no grande último momento, dias atrás, ao ligar a rádio, dei de cara com a esquecida Sinfonia Turangalîla de Messiaen e permaneci – por sorte estava em minha cama, antes de dormir — por mais de uma hora, de olhos arregalados, cada vez mais acordado e eufórico. Ou ainda, anos atrás, quando atrasei-me para um encontro porque TINHA que saber qual era aquela música incrível que, afinal, era desconhecidíssima para mim na época: a Sinfonia Singular de Berwald.
É por viver com ela há mais de 45 anos, é por saber que só em Montevidéu, em Oslo e em Amsterdã (ouço pela internet) há emissoras de mesma categoria, é por ter receio de que a programação da rádio caia na vala comum — como tantos já desejaram –, que saúdo e fico feliz com os 60 anos, meus e de “minha rádio”.
Parabéns e longa vida!
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P.S. 1 — Tenho no computador de casa um excelente programa Música em Pessoa cuja entrevistada é minha Elena Romanov, que é violinista da Ospa. Ela foi entrevistada pela Ana Laura Freitas e é um baita programa.
P.S. 2 — Pedro Palaoro, funcionário da Rádio de Ufrgs, me informa: “O FM aparentemente virá em 2018. A banda será liberada no final de janeiro, quando caírem as TVs analógicas. Tem o tempo de aquisição de equipamento e tal, mas o planejamento é que isso ocorra logo”.
====== De meu amigo para certo ‘Grande Jornalista’ =====
Uma dúvida ácida:
Agora com patrocínio do Banrisul e do Governo do Estado (falido) o seu blog pode ser considerado como “Chapa Branca”?
Se o Sr. Despacito passar a colocar banners do DMAE / Procempa / PMPOA as críticas contra ele também vão sumir, como sumiram todas as críticas ao desgovernador (ao menos o Google não achou nada) ?
Abs!
====== Réplica do “Grande Jornalista” =====
eu te pergunto: o que tu tens a ver com isso?
o blog é meu e eu faço o que quero.
e tu tens a opção de não ler.
entendeu ou eu tenho que te enfiar goela abaixo?
Abraço? um caralho pra ti
====== E a tréplica de meu amigo: ======
Olá:
Respondendo tuas perguntas: se estás sendo patrocinado com dinheiro público, tenho a ver com isso sim, porque eu pago impostos como todo mundo. É bom saber onde o Sartori investe nosso (pouco) dinheiro.
E tens razão, não sou obrigado a ler teu blog, principalmente agora, que é patrocinado pelo PMDB. Ficou claro que o teu “lado” é o teu mesmo.
No período dos Assuntos Gerais da reunião ordinária da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado Jeferson Fernandes (PT), na manhã desta quarta-feira (13), deputados debateram sobre a exposição Queermuseu, Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A mostra, que acontecia no Santander Cultural, foi fechada pelos organizadores no domingo (10), após divergências e protestos. Presente, o promotor de Justiça Júlio Alfredo de Almeida, da área da Infância e Juventude do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS). Na segunda-feira (11), o promotor esteve no Santander, acompanhado da coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, promotora Denise Villela.
Nas considerações iniciais, o deputado Marcel van Hattem (PP) explicou que havia convidado o representante do MP diante da mobilização da sociedade “gaúcha e brasileira em razão da exposição, que acabou fechada. A questão é pertinente e deve ser analisada democraticamente, sem violências”, ponderou. Para ele, a indignação aconteceu por parte de pessoas “que não se conformaram com situações que apresentavam sexo explícito, com acesso livre às crianças”. Disse que oficiou o MP por entender que, deve sim, haver liberdade de expressão, “mas que esta liberdade igualmente precisa ter limites, independente daquilo que é classificado ou entendido como arte”.
O deputado Pedro Ruas (PSOL) considerou que houve indignação, igualmente, por setores da sociedade que entenderam ter acontecido “um ataque à democracia e à liberdade de expressão”.
MP
O promotor Júlio Almeida, com 20 anos de atuação ligados à infância e juventude, disse que estava no encontro para “prestar contas à sociedade, tarefa do MP”. Informou que tomou a decisão de ir ao Santander, na companhia da promotora Denise Villela, após ter acesso a várias notas divulgas na imprensa e por parte das redes sociais. “Diante de algumas manifestações, segundo as quais haveria crime na mostra, me senti provocado, e o MP tem a obrigação de atuar quando provocado”, acrescentou, citando que foi recebido pela diretoria que lhe passou todas as informações solicitadas, bem como explicou as razões do fechamento da exposição.
Conforme ele, os dois promotores analisaram as mais de 200 obras e identificaram que algumas poderiam ter cunho sexual. “Não tratamos do mérito das obras enquanto arte. Nos fixamos no aspecto técnico, nas definições do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)”, ponderou, destacando a atenção especial quanto ao crime de pedofilia. “Na nossa avaliação, depois que vimos as obras polêmicas, não havia crianças ou adolescentes em sexo explícito ou exposição de genitália de crianças ou adolescentes. Também não havia obras fazendo com que crianças fossem incentivadas a fazer sexo com outra criança”, comunicou, ponderando que a pedofilia ocorre em outras situações, como traz o artigo 241 do ECA: simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual. Já o artigo 241-D cita: aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, como fim de, com ela, praticar ato libidinoso.
De acordo com ele, se poderia considerar que algumas obras apresentavam cenas com extremada sexualidade, mas sem pedofilia. “Em outros casos, nos deparamos com a simulação de ato sexual, aí caracterizada como pornografia. No entanto, se houvesse situação de pedofilia eu daria voz de prisão aos responsáveis”, assegurou. Conforme o promotor, é preciso analisar a intenção da exposição. “Além disso, a legislação brasileira garante a liberdade de expressão”, adendou. Na sua avaliação, é necessária a construção de dispositivos que especifiquem mais claramente faixas etárias dos visitantes também no caso de exposições e mostras de arte. “O ECA é claro na classificação indicativa de idade para casos como filmes, peças de teatro e programas de TV. Não há nada em referência a museus ou exposições”, sublinhou. Júlio Almeida ressaltou que uma medida, simples, a ser tomada, seria a colocação de peças polêmicas em área restrita e frisou que não houve crime no episódio.
Pedro Ruas (PSOL) também destacou a presença do MP no encontro, pela importância dos esclarecimentos. “Lamento, no entanto, que estejamos discutindo este tema, que não deixa de ser significante, ao invés de estarmos buscando atenção e medidas que diminuam o sofrimento de milhares de crianças e adolescentes no Estado que não têm saúde, remédios, alimentos, educação e nem casa. O MP foi claro: não houve crime, ponto”. Advertiu que já conhece este caminho. “Primeiro, fecham atividades culturais; depois, prendem quem for contra”
A deputada Manuela d Ávila (PCdoB) cumprimentou o MP por seu papel no episódio, verificando no local o conteúdo da exposição e sugeriu que o promotor solicite imagens dos dias nos quais funcionou a mostra. “Por certo verificará a ação de grupelhos que perseguiram artistas e constrangeram o curador. Preocupa, isso sim, que este tipo de ação tenha contribuído para o fechamento da exposição, algo muito próximo da censura. Não quero isso de volta; já vivi este tempo”, assinalou.
A deputada Stela Farias (PT) citou nota divulgada pelo Conselho Estadual de Cultura, intitulada Inaceitável Censura, em referência ao episódio Santander. O texto cita a inconformidade do Conselho, “diante da reação de intolerância que deu causa para o encerramento da exposição Queermuseu, programada para permanecer aberta ao público até 8 de outubro, no Santander Cultural”. Ainda de acordo com a nota, “o Conselho Estadual de Cultura afirma que a obra de arte não pode ser cerceada, limitada ou censurada, e seu caráter sempre será promover a liberdade criativa, assim como refletir o seu tempo sob as diversas óticas e contradições. Restrições a alguma obra asseguram ao público descontente o direito de abster-se de ir ao local de visitação, assim como acontece com qualquer outra manifestação de livre acesso”. Para Stela Farias, a situação é esta: “devemos ter o direito de acesso. Vamos se queremos”.
Por fim, o deputado Jeferson Fernandes, presidente da CCDH, observou que o debate propiciou pontos convergentes, como a necessidade de classificação indicativa de idade para casos como este. “De outra parte, tivemos a posição, segura, do MP de que não houve crime de pedofilia. Entendo, isso sim, que a exposição foi pano de fundo para posições retrógradas, de censura. O mais estranho é que grupos que se denominam liberais estejam por de trás disso. Algo paradoxal. Os que defendem a liberdade foram autores de denúncia que fechou a mostra”, analisou.
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A nota divulgada pelo Conselho Estadual de Cultura que foi citada acima pela deputada Stela:
O Conselho Estadual de Cultura vem a público manifestar sua inconformidade diante da reação de intolerância que deu causa para o encerramento da exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira” programada para permanecer aberta ao público até 8 de outubro, no Santander Cultural, em Porto Alegre. Esta mostra reúniu Pintores mundialmente reconhecidos como Alfredo Volpi e Cândido Portinari, além de outros 83 artistas.
A Constituição do Rio Grande do Sul em seu artigo 220 prevê que: “O Estado estimulará a cultura em suas múltiplas manifestações, garantindo o pleno e efetivo exercício dos respectivos direitos bem como o acesso a suas fontes em nível nacional e regional, apoiando e incentivando a produção, a valorização e a difusão das manifestações culturais. Parágrafo único: É dever do Estado proteger e estimular as manifestações culturais dos diferentes grupos étnicos formadores da sociedade rio-grandense”. A mesma Constituição prevê, em seu artigo 221, parágrafo V, inciso a: “as formas de expressão constituem direitos culturais garantidos pelo Estado”.
Lamentamos que tantos anos dedicados na separação dos direitos e deveres do Estado em relação à igreja e as ideologias sejam ignorados. Lamentamos constatar a apunhalada objetiva desferida contra a humanidade e o empobrecimento simbólico que este horror provocará
O Conselho estadual de Cultura afirma que a obra de arte não pode ser cerceada, limitada ou censurada e seu caráter sempre será promover a liberdade criativa, assim como refletir o seu tempo sob as diversas óticas e contradições.
Restrições a alguma obra asseguram ao público descontente o direito de abster-se de ir ao local de visitação, assim como acontece com qualquer outra manifestação de livre acesso.
O resultado destas manifestações, de indisfarçável intransigência e censura para com a referida exposição, evidencia a intolerância com o contraditório, o diferente, o novo. É sabido que não é função de uma exposição formar opinião ou definir posições ideológicas a partir do seu conteúdo e certamente isso não ocorrerá com o tema em tela.
Queremos um Brasil livre de medos, de preconceitos, de discriminação, de intolerância e por isso nos solidarizamos com o Curador e aos artistas da referida exposição.
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Recebi de colegas da UFRGS:
As e os docentes da Ufrgs, reunidos em Assembleia Geral no dia 11 de setembro de 2017, manifestam seu repúdio ao encerramento da exposição ‘Queermuseu – Cartografias da diferença na Arte Brasileira’ no Museu Santander Cultural de Porto Alegre, atendendo a pressões de grupos que realizaram campanhas pelas redes sociais e ações de constrangimento aos frequentadores da mostra. O encerramento da exposição é uma concessão à intolerância, ao preconceito e à incompreensão das artes. As alegações apresentadas para o cancelamento desrespeitam as obras e os artistas envolvidos, privam a população porto-alegrense do acesso a uma mostra de relevância internacional e acenam para um caminho inaceitável de censura e de restrição às manifestações artísticas e ao debate sobre a diversidade. (ANDES-UFRGS).
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Nota do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes – IdA (UnB) sobre a exposição Queermuseu:
Nós, membros da comunidade artística, cultural e acadêmica, professores do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília queremos manifestar nossa contrariedade e nosso repúdio à decisão do Santander Cultural, de Porto Alegre-RS, de fechar e (auto)censurar a exposição Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira.
Em um momento de aumento do conservadorismo, da intolerância e da violência ocasionada pelo preconceito, o fechamento e a censura de uma exposição abre um precedente gravíssimo que poderá ter como consequência a repetição de situações repressivas como essa em outras partes do Brasil e com diferentes atividades artísticas e culturais.
Afirmamos que as razões justificadas para a interrupção da exposição um mês antes de seu final são produto de uma campanha subterrânea pelas redes sociais que disseminaram informações falaciosas, equivocadas e deliberadamente mentirosas acerca das obras em exposição e sobre a plataforma curatorial da exposição.
Consideramos que decisão da instituição cultural terminará por reforçar movimentos obscurantistas e de caráter fascista que devem ser combatidos por todos os que defendem uma sociedade democrática e livre.
Nos solidarizamos com todos os 85 artistas participantes da exposição e com o curador Gaudêncio Fidelis pela violência dessa decisão e nos posicionamos radicalmente em defesa da liberdade de expressão e da liberdade da atividade artística no Brasil.
Num de seus arroubos verborrágicos no Facebook, o prefeito Marchezan Jr., o Juninho do MBL, disse que o Sul21seria um veículo da “esquerda radical” e que seu “dono teria trocado o PT pelo PSOL”. Tal afirmativa me causa frouxos de riso e certa perplexidade. Sempre sublinhando minha qualidade de reles funcionário, gostaria de dizer humildemente que sou o único filiado ao PSOL que trabalha no jornal. Completo dizendo que não sou nada militante.
Talvez esteja sendo imodesto ao me inserir no caso, mas creio que algum assessor tenha feito confusão. Sou o veterano de nossa pequena aldeia gaulesa, mas meu cabelo e barba grisalhas, já quase brancas, não me fazem “dono do Sul21“. Na verdade, meu cargo está mais para o de Chatotorix do que para o do grande chefe Abracurcix, aquele que tinha medo que céu caísse sobre sua cabeça.
Interesso-me muito por redes sociais e a página Nelson Marchezan Júnior, do Facebook, muito me diverte por seu papel de meio de promoção pessoal e ataque a partidos de oposição, sindicatos, servidores e adversários políticos. Mas evitarei dar minha opinião a respeito. Acho que é fácil deduzir.
Completo dizendo que o Sul21não tem apenas um dono.
Vejam a reação do público à estreia de Renato Martins na FM Cultura antes que deletem. Um sucesso. A FM Cultura era uma das coisas boas deste estado.
Vamos tentar dar amplificação a quatro manifestações sobre a nova FM sem Cultura e outra de antes da “modernização”.
1. José Fernando Cardoso, funcionário da rádio.
Gente amiga (2), um último esclarecimento sobre as mudanças na Programação da FM CULTURA, pra que não haja alguma dúvida – e parece que tá ocorrendo um certo ruído, especialmente em relação a uma frase do presidente da FUNDAÇÃO PIRATINI, Orestes de Andrade Júnior, postada aqui no Facebook, de que “ouvimos e construímos uma nova grade junto com os servidores”. Sim, de fato Orestes e alguns membros de sua diretoria nos ouviram: nós, servidores da FUNDAÇÃO lotados na RÁDIO, fizemos três reuniões com eles na semana retrasada – e depois houve mais duas, com o novo diretor, Paulo Inchauspe, e os três programadores musicais, eu, Martinha e Clarisse. Nas reuniões com o Orestes, nos foi apresentada, num primeiro momento, uma nova grade, fechada, que acabaria por sofrer (mínimas) alterações depois de críticas e sugestões nossas. Pra se ter uma ideia, no primeiro modelo de grade não constava o ‘Conversa de Botequim’, simplesmente o programa mais conhecido e reconhecido – pelos ouvintes, músicos, colegas, apoiadores, jornalistas, divulgadores etc. – de toda a história de 28 anos da FM CULTURA. Insistimos que o ‘Conversa’ e o ‘Estação Cultura’ não poderiam cair: conseguimos manter o primeiro – e sugerimos o Demétrio Xavier pra apresentá-lo, já que a direção insistiu que o Luiz Henrique não mais poderia exercer a função -, mas infelizmente perdemos a batalha pelo segundo. Então, dizer que a grade foi construída conosco não é exatamente o que aconteceu – nossa compreensão sobre a discussão é bem diversa. Não concordamos com quase nada do que foi proposto pelos gestores: nem a troca dos apresentadores da Casa por terceirizados, nem a supressão de programas, nem o ‘Clássicos’ sendo jogado lá pra madrugada – é daí que surgiu a frase do “tu e mais 6”, quando uma colega nossa disse que era ouvinte assídua -, nem a inclusão de música estrangeira – que já é contemplada nos programas jornalísticos ‘Café Cultura’, ‘Cultura Na Mesa’, ‘Estação Cultura’ e segmentados –, o que fatalmente vai ocasionar perda de espaço para músicos locais e nacionais -, nem o esvaziamento do ‘Café Cultura’, que terá outro formato, muito mais superficial – risco que corre também o ‘Cultura Na Mesa’. Portanto, concluindo: a grade já estava modificada, 95% do que muda já estava decidido, nos opusemos de maneira muito clara, questionamos se essas medidas não deveriam passar pelo Conselho Deliberativo – eu, o colega Walmor Sperinde e o próprio Orestes, que ocupava uma das cadeiras do colegiado como representante da SECOM, sabemos disso de cor, até porque a FUNDAÇÃO ainda não foi extinta, então seu Estatuto e Diretrizes ainda tão valendo -, mas o atual presidente disse que entende que isso não é necessário. Então o que foi feito é que, a partir de nossa discordância, demonstrada já de cara e de forma veemente, deixou-se uma margem – pequena, minúscula, eu diria – para que sugestões nossas fossem levadas em conta. O que é bem diferente de uma construção conjunta, entre servidores e direção, da nova grade de Programação. O que aconteceu foi isso, perguntem aos demais colegas que lá estavam. Abraço a todos. E a luta continua.
2. Francisco Marshall, historiador.
DE ONDAS E DETRITOS
Se você fosse o dono ou gestor de uma empresa, trocaria uma funcionária culta, bem preparada tecnicamente, dedicada, reconhecida e aclamada por seu público, prestando um serviço relevante para a comunidade, pessoa certa no lugar certo, por seu oposto?
E trocaria um produto sofisticado, relevante, correto, bonito, singular, bem acolhido por seu público, por uma babaquice vulgar estilo camelódromo?
Resposta hoje vigente: “sim, afinal a empresa não é minha, o risco de solapá-la não atinge meu patrimônio, e o acionista maior (meu chefe) gosta mesmo de uma boa babaquice vulgar e aduladora. Ademais, se eu quebrar esta empresa, haverá quem aplauda, como há quem goste de me ver agredindo seus técnicos e seus clientes.”
3. Marcos Abreu, engenheiro de som.
4. Renato Martins, apresentador do Café Cultura, comprovando o “mais do mesmo” em emissora pública.
5. E vejam este post, por favor.
Aqui, o link, vale a pena clicar.. Hoje recebi uma visita pra lá de especial. A professora Isabel Velásquez é mexicana. Vive nos EUA. Leciona linguística na University of Nebraska. Lá ela ouve, diariamente, a FM Cultura! Fã de MPB, não perde um Conversa de Botequim. Apoiado por esta livreira. Participando de um seminário na PUC, as professoras que a acompanharam disseram que há três dias ela quer vir conhecer a livraria que apoia uma rádio cultural. E veio. Disse que a Bamboletras faz parte de seu imaginário cotidiano. Ao ouvir a rádio pensava: como será essa livraria? Agora conhece. Coisa de gente que ama os livros. Foi um lindo encontro!
O RS é um estado triste administrado por um merda. Porto Alegre — local onde nasci e onde vivo — é uma cidade truculenta, capaz de desalojar crianças numa noite como a de ontem. Somos um estado hipócrita e sujo, que tem Campanha do Agasalho para que a primeira dama apareça e que depois, em noite gelada, pede para a Brigada tirar o teto de 200 pessoas que não têm para onde ir. Foi uma noite horrorosa, de guerra contra desarmados e desamados, patrocinada por Sartori, pelo PMDB gaúcho e seus aliados. Espero que ninguém esqueça da noite desumana de 14 de junho de 2017 na hora de votar em outubro de 2018. Noite gelada, famílias postas no olho da rua, silêncio de parte da imprensa e prisão de deputado — fato apenas importante em relação às famílias por não ter ocorrido desde a ditadura. Meu pequeno consolo é não ter votado em nenhum deles. Nem de perto. Isso não me dá nenhum mérito. Gauchada burra, vá tomar no cu!
Aline S. G. (não pretendo sujar meu blog com seu nome completo, nem receber eventuais visitas deste tipo de gente) é o nome da juíza que autorizou a reintegração de posse de um prédio que ficou mais de dez anos abandonado e que nos últimos dois anos abrigava 70 famílias (homens, mulheres, crianças, idosos, etc.). Preocupada com o trânsito de veículos na região, determinou que a desocupação ocorresse à noite, autorizando o uso de força contra crianças, idosos, mulheres e homens. Esta senhora recebe um salário de milhares de reais. Além de outros tantos benefícios, percebe também R$ 4.300,00 de auxílio moradia, pagos com dinheiro público.
Muita gente lamentando a “atividade” do Colégio Luterano de Novo Hamburgo (IENH) “Se nada mais der certo”. Tem gente reclamando até porque o Colégio é gaúcho e isto seria uma vergonha para o Estado… Olha, tem tanta coisa ruim no RS além do elitismo cafona… Tanto, mas tanto atraso — e me incluo nisso! E vejam bem: o ensino particular do IENH é tão ruim que os caras não vieram vestidos de professores ou jornalistas, só de lixeiros, atendentes do McDonalds, mecânicos, petistas, etc. Alguém diga a esses adolescentes que eles não precisam se preocupar, só os pobres se ralam no Brasil. Eles nasceram a salvo das profissões que consideram degradantes. Beijos nos corações de todas essas crianças!
Raul Ellwanger, em seu perfil do Facebook, raciocinou com lógica. Colocando-se no lugar do senador Lasier Martins, descreveu com clareza o que faria uma pessoa digna. Se Lasier garante e berra que sua mulher mente sobre as agressões que teria sofrido, deveria pedir licença do Senado, liberando-se do foro privilegiado. Ato contínuo, solicitaria investigação como cidadão comum pela Lei Maria da Penha. Seria exemplar, altivo, bonito, e talvez satisfizesse seus 2.145.479 eleitores, se estes estão realmente ligados em outra coisa que não no Jornal do Almoço.
Mas não. Ele se defende na tribuna, coisa que sua esposa não pode fazer, para gritar que o caso é “um conflito conjugal”, assunto da vida privada, e jurar que jamais agrediu uma mulher. Também acho que em problema de marido e mulher, não se deve meter a colher, mas houve uma denúncia então o caso virou um vaudeville, senador. É natural que a coisa esteja e seja pública, senador.
Hoje, soube que o escritor Luiz Paulo Faccioli criou um abaixo-assinado pedindo a renúncia de Lasier. Coloco o texto de Faccioli ao final deste post. Ele também clama por alguma grandeza por parte do senador. Não ocorrendo tal fato, tendo a pesar que Janice Santos não tem nada de louca — como acusou Lasier –, e que tem minuciosa razão em tudo o que disse. E desta vez nem vou nem reclamar que o Sr. assina coisas sem ler, tá?
Acabo de saber que, na contramão do combate à violência contra a mulher travado diariamente no país, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) saiu em defesa do conterrâneo e ex-colega de RBS, senador Lasier Martins (PSD). “É muito difícil, num caso estritamente pessoal e particular, íntimo, porque é a sua palavra e a palavra da pessoa que o denunciou”, ela disse. Discordo, senadora, há corpo de delito e testemunhos. Não é briga de bugios.
Abaixo, o texto de Faccioli em seu abaixo-assinado:
Não fui eleitor do jornalista Lasier Martins na eleição para o Senado Federal, mas ele está sentado na cadeira de Senador da República para representar o estado do Rio Grande do Sul, portanto ele me representa, mesmo contra a minha vontade. Penso que, como cidadão gaúcho, estou no meu mais absoluto direito de exigir sua renúncia a partir de fatos recentes noticiados pela imprensa. Lasier Martins tem dado provas sobejas de que não honra o cargo que ocupa. Admite que assinou sem ler um documento de extrema importância, contrariando a razão de ser de sua atividade parlamentar e me deixando em dúvida sobre o que é pior, se verdadeiro o que ele afirmou ou se apenas uma mentira rasa para justificar a falta de caráter. Nesta semana foi obrigado a sair de casa, o apartamento funcional que o Estado paga para ele em Brasília, por decisão do STF, por causa de uma separação litigiosa e uma denúncia de agressão física por parte da esposa. Lasier Martins é uma vergonha e sua presença no Senado, uma afronta ao povo gaúcho! Haverá sempre alguém a argumentar que existem exemplos ainda mais vergonhosos protagonizados por Senadores vindos de outros estados da Federação. Mas eles não estão sob nossa jurisdição e não representam o RS nessa instância legislativa. Portanto, clamo aqui pela renúncia do Senador Lasier Martins, que será interpretada como um ato de grandeza e tentativa de salvar uma parte de sua questionável biografia.
O Tribunal de Justiça Militar permanece. Só Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo têm tais maravilhas de notável utilidade. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já sinalizou que poderiam ser extintos para dar lugar à criação de câmaras especializadas nos Tribunais de Justiça dos estados para julgamento de processos de competência militar. O órgão gasta R$ 36 milhões ao ano, 26% de tudo o que o governo da anta Sartori pensa economizar com a extinção de fundações estaduais. Mas são milicos, não fazem pesquisa nem divulgam cultura. São gente boa.
Já a Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), a Fundação Piratini (TVE e FM Cultura), a Fundação de Economia e Estatística (FEE), Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), a Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (Fepps), a Fundação de Zoobotânica (FZB) e a Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas (Corag) têm grande ligação com a produção científica e cultural do estado. Então devem ser extintas.
A burrice do governo olha apenas a despesa, sem buscar novas receitas. Não creio que nosso modelo federativo livre-se das isenções fiscais que somam R$ 9 bilhões por ano — pura e puta renúncia fiscal. Mas o governo recusa-se a ir atrás dos R$ 7 bilhões por ano de sonegação realizada basicamente por empresários. E quando vemos que a economia prevista com a extinção das empresas constantes no pacote de Sartori é de 137 milhões anuais — eu escrevi milhões, não bilhões –, só posso concluir que há um enorme ressentimento e ódio à ciência, à cultura e ao conhecimento.
Por outro lado, não temos uma imprensa plural. Os governos petistas nem tentaram alterar tal situação. Não houve a tão propalada democratização dos meios de comunicação, só o pagamento de alguns blogs. O monopólio da informação permanece e atrapalha qualquer reflexão crítica. A RBS, por exemplo, faz a assessoria de comunicação de todos os governos alinhados com o mercado, com a direita e com o senso comum evangélico. Servidor é vagabundo? Sim, é. Então vamos acabar com esses caras que só mamam na teta do estado.
Se as extinções ocorrerem como parece que vão, certamente haverá uma corrida de CCs vindos dos partidos aliados. Afinal, como ficar sem a FEE, por exemplo? Em substituição, vão contratar consultorias dos amigos, claro.
Eu não votei em Sartori, é claro. Não tenho grande visão política, mas o mundo me ensinou a avaliar pessoas e jamais votaria num cara flagrantemente mais ignorante, inepto e palerma do que eu. Ele está no posto para fazer um trabalho em benefício de grandes empresários. E só.
Fico deprimido de pensar que o local onde hoje está a TVE / FM Cultura talvez vire outra coisa. Fico fulo ao ver empresários e empresas sonegadoras protegidos. Fico desapontado com quem votou neste asno. Paralelamente, sorrio ironicamente com o ridículo discurso de fachada de que tais atos tirarão nosso Estado da situação de calamidade.
Ontem fui ao Tudo Fácil, onde fui fazer uma nova Carteira de Trabalho porque a minha está lotada de anotações. Já tinha revisado os documentos necessários e estava com tudo em dia e novinho. O atendente elogiou o estado de minha Carteira atual. “O Sr. é uma pessoa caprichosa”, disse. Então, o burocrata acordou nele e se pronunciou do modo que segue: “Mas antes o Sr. terá que fazer uma nova Carteira de Identidade porque essa foi feita sobre a sua Certidão de Nascimento e o Sr. é oficialmente divorciado”. Então, fiquei sabendo que um casamento é como nascer de novo, apesar de eu ter quase morrido no meu, aquela infelicidade toda. Depois de casar, a Certidão de Nascimento não vale mais porra nenhuma.
Já bastante puto, fui para a fila da Identidade. Mostrei todos os meus documentos e tudo ia bem até que a mocinha burocrata chamou uma colega que chamou mais uma que, por sua vez, chamou o chefe. Acontece que o sistema diagnosticava “Sorriso Detectado”, rejeitando minha foto. Sem exagero, tiraram 20 fotos minhas. “Ergue o queixo, não, não, abaixa um pouquinho”, essas coisas. Em todas eu estava sério, cada vez mais sério, mas a merda dizia que eu sorria. Olhavam para mim e diziam um pro outro, “deve ser a barba”. Já tinha umas 10 (dez) pessoas me atendendo. Então, eu falei que ia fazer cara de morto. Caprichei para imitar o olhar daqueles peixes da Semana Santa no Mercado. Deu certo. Obtive a foto mais horrorosa de todos os tempos. Parecia a Anna Kariênina depois do trem. Porém, finalmente o sistema deu OK. Agora são 15 dias para a nova Identidade e mais 15 para a Carteira de Trabalho. Entro em férias bem no meio deste período. Tudo fácil.
P.S.– Ah, e ainda tenho que pagar por estes documentos.