Bom dia, Dunga

Bom dia, Dunga

dungaDunga, meu amigo. Se tu quiseres comprovar, venha ao Sul21 e pergunta pro Igor Natusch, pro Iuri Müller ou pro Nicolas Pasinato. Eu previ o fiasco de ontem. Previ no momento em que vi que D`Alessandro e Fabrício provocaram o terceiro cartão amarelo para jogarem o Gre-Nal. Burrice, Dunga, coisa de quem não sabe jogar pontos corridos. Todos os concorrentes ao título e à Libertadores vencerão o Náutico em Recife e em casa. Ademais, os três pontos contra o Grêmio valem o mesmo que os três pontos contra o Náutico, só que os últimos são muito mais fáceis. A matemática ainda não foi avisada de que essa coisa de que ganhar Gre-Nal é importante. Três são três. Sempre.

Voltando aos amarelos: Fabrício e Dale são os dois armadores do time. Como esperar a manutenção da qualidade da armação sem eles? Impossível, né? Ainda mais colocando um estreante de belo nome como Alan Patrick… Coitado do cara, né, Dunga? O time ficou todo torto e lento. Não foi falta de esforço, foi falta de entrosamento, de mecânica.

Outra coisa que deu pra notar é que o Ronaldo Alves não dá. Jackson ou Alan jogariam muito mais ali do lado direito. Para de inventar hierarquias por idade, Dunga.

Depois de ontem, se perdermos o Gre-Nal, tu arranjaste uma crise, certo? Que mancada, Dunga, pelamor.

Nem vou falar mais porque estou meio puto contigo, tá?

Escritora entra na justiça contra escola maternal barulhenta e vence

Cíntia Moscovich: enfim, silêncio

Há quatro anos, a escritora Cíntia Moscovich, que reside em Porto Alegre na Rua Marquês do Pombal, entrou na Justiça contra a escolinha do Grêmio Náutico União. Esta teria o pátio muito próximo de suas janelas e atrapalharia seu processo criativo. Afinal, eram 60 crianças brincando diariamente. O primeiro fato que me surpreende, antes mesmo de comentar a decisão da Justa, é que Cíntia é casada e mora com o também escritor Luiz Paulo Faccioli. Por que os dois não entraram juntos nessa furada? Pô, Luiz Paulo, que falta de solidariedade! Bem, estou brincando, cada casal é de um jeito. Conheço e gosto do casal, apesar não concordar em nada com a ação ganha. Pois é, de fato a escritora venceu e as crianças não podem mais sair para o pátio, a não ser que sejam antes caladas. Se alguém der o primo canto, pronto, a escola terá que pagar R$ 5 mil de multa.

O fato inusitado deu à escritora uma celebridade nunca antes fruída por ela — toda a cidade e todo o Facebook só fala disso. Nunca li um livro de Cíntia, apenas suas colunas, e acho que ela tem o direito de trabalhar em silêncio dentro de sua casa. A minha opinião é torta e a Justiça não gosta de complexidade: se o barulho fosse gerado por um maluco com um rádio tocando música perecível, este seria digno de um processo, mas 60 (sessenta) crianças não. Cíntia não apenas escreve como também dá aulas em casa. Mais um motivo para diminuir as interferências da rua com o isolamento acústico. Por que a escritora não optou pelo isolamento acústico e um ar condicionado? Custa certamente menos do que contratar um advogado.

Numa entrevista concedida por Cíntia, ela dizia que absorvia “mais a interferência do cotidiano doméstico, fracionando sua atenção entre os sons que vêm do pátio, da rua e dos bichos, e estava produzido melhor de madrugada”. Agora, trabalhará de dia.

A opinião de Cíntia é a opinião de Cíntia, o problema maior é a Justiça ter embarcado na insistência dela. Lembro de quando era estudante e achava que tinha que me livrar dos sons da vida para conseguir aprender alguma coisa. Olha, foi a melhor das épocas. Eu ia para a Biblioteca Pública. OK, OK, isso sou eu. Se fosse a Cíntia, um tratamento acústico me bastaria. Pois, pensemos, a escola terá de fechar por causa da profissão e das exigências da escritora? E as crianças? É uma questão numérica: 60 x 1 ou 60 x 2 com o Luiz Paulo. Mas a Justiça é burra como uma anta. Os caras foram lá, mediram o barulho e disseram que estava acima do permitido. Só que não era um motor, uma festa, o DOPS ou um rádio, eram crianças.

Se um dia eu for atropelado, vou lembrar de não gritar. Tenho Unimed, mas não R$ 5 mil disponíveis. Vou dizer um ai bem baixinho e pedir ajuda educadamente.

Ah, — lembra um amigo — Proust fez isolamento acústico. E era Marcel Proust.

E volto para minhas férias.

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A escritora Cíntia Moscovich publicou na tarde de hoje um comentário sobre a ação que moveu (e venceu em duas instâncias) contra o Grêmio Náutico União.

Leiam o que a escritora publicou:

“Vamos aos fatos: a escola União Criança costumava estar localizada dentro do clube, em um espaço amplo, bem diferente do espaço em que se encontra hoje. A mudança ocorreu porque o clube resolveu construir um estacionamento onde antes ficava a escola. Estacionamentos são um negócio bem mais rentável que a educação. Todos sabem disso. No fim das contas, a escola foi transferida para uma casinha na Rua Marquês do Herval. De um lado dessa casinha mora a vizinha que entrou na justiça e que acabou sendo tratada como vilã da história, mesmo sem ser. Do outro lado, moro eu e minha família há 25 anos. A janela do meu quarto, aliás, dá exatamente para o pátio da escola. Estão dizendo por aí que o processo todo é um absurdo, que representa a vontade de uma pessoa contra a vontade de todos. Vontade de todos? Peraí! Quer dizer que a vizinhança do Grêmio Náutico União não faz parte desse todo? Desde que moro aqui (minha vida inteira!) o ruído oriundo do clube sempre foi um pé no saco. E tenho certeza de que não falo só por mim. Tanto que existe outro processo, movido por outros vizinhos, que reclamam justamente do barulho descomunal gerado pelo clube. Barulho esse que, diga-se de passagem, não tem dia nem hora pra acontecer, já que a sede Moinhos de Vento é “pioneira no oferecimento de serviços 24 horas”.

Mas voltemos à escola: se o barulho já era ruim antes, ficou ainda pior. Na realidade, o volume de emissão sonora da escola é cinco vezes superior ao permitido por Lei. Isso foi atestado por perícia realizada a mando do TJ. Se é natural que crianças façam barulho, não é natural – muito menos saudável – que alguém esteja sujeito a esse barulho doze horas por dia. Imagina que tu quer falar ao telefone quando vinte crianças estão no pátio. Não dá. Agora imagina que tu quer ler. Também não dá. Imagina que tu quer estudar. Desiste, chapa. Agora imagina que tu depende justamente disso tudo pra sobreviver. Imagina que teu sustento está baseado em algum tipo de atividade que exige o mínimo de concentração. Esse é o caso da vizinha que moveu o processo, e esse é também o meu caso. Nos últimos cinco anos, tenho sido obrigado a ajustar a minha rotina à rotina da escola. Nesse tempo, compartilhei minha frustração com muita gente. É triste não conseguir fazer o que se tem vontade dentro da própria casa. Se alguém duvida que a situação seja essa, as portas estão abertas. Empresto o quarto pra quem quiser trabalhar uma tarde aqui. Se conseguir fazê-lo, ganha um doce. Salvem a União Criança, sim, mas salvem-na da negligência da administração do clube. E vamos ser mais criteriosos pra não difundir bobagens por aqui.”

Manhã Patrocinada

O despertador de meu celular Nokia me acorda. Levanto a cabeça para conferir a hora no rádio-relógio General Electric sobre o criado-mudo SRD. Levanto-me lentamente pensando se tiro meu pijama Benet ou se vou ao banheiro ainda vestido. Está frio e resolvo mantê-lo. Faço xixi na privada Ideal Standard e vou para cozinha, onde abro o freezer-geladeira da Eletrolux e pego um croissant congelado da Casa do Croissant e uma caixa de leite da Elegê. O croissant é imediatamente redirecionado para o forno de microondas Panasonic e o leite, acompanhado de Zero Cal, vai para um copo SRD. Ainda dormindo, com o piloto automático me levando, pego meu lanchinho e vou à sala onde ligo o amplificador Gradiente, o DVD da Philips para ouvir um CD da EMI Classics com música de Hindemith. Na caixa de correspondência Cristal Acrimet, pego o jornal de literatura Rascunho. Levanto a cabeça e vejo a minha mulher aproximar-se com um roupão da Teka e um iogurte Activia, da Danone, na mão esquerda. Serve-se dele numa colher Pinti. Diz que estamos sem papel (Chamex) para a impressora Epson de nosso computador Dell. Não dou muita importância. Vejo meu saldo no Santander pois tenho que fazer um depósito para a Flávia em sua conta da Caixa Econômica Federal. Faço-o. Volto ao banheiro e escovo os dentes com Oral-B e pasta Close-up. Sento-me na Ideal Standard e livro-me dos vestígios com Neve. Tiro o mau cheiro com Gleid. Uso o sabonete Original para lavar as mãos e o rosto e vou me vestir. Vagarosamente, vou pondo uma cueca da Preston Field, calças da Happy Man, camisa da Riccardi, meias da Lupo e sapatos da Gallarate. Depois, reviso o que tenho que levar para o trabalho. Pego então a calculadora HP e um livro da Companhia das Letras, assim como uma agenda da Globo. Jogo-os na pasta cuja marca procurei procurei procurei e não encontrei. Dou um beijo na minha esposa e desço as escadas pensando em como ela beija bem até encontrar meu carro Ford. Coloco-o para funcionar e reviso se ele tem em seu tanque gasolina Ipiranga. Aliviado, faço os pneus Good-year me levarem ao trabalho. Durante o caminho confiro em meu relógio Technos se não estou atrasado. Chego ao escritório e, enquanto ligo meu computador Dell, vejo se o chá Leão já está na garrafa térmica da Termolar. Como estava, pego um copo plástico da Zanatta e tento me lembrar se pus no porta-malas do carro Ford o tênis Nike, o calção Wilson e a camiseta da Sul Malhas, pois posso precisar disto se sobrar um tempinho para ir à academia do Grêmio Náutico União. Volto para a mesa e começo a telefonar num Siemens para o cliente Trensurb. Enquanto isto, abro a gaveta da mesa Orlandi e pego as contas para pagar. Há uma do Colégio Leonardo da Vinci e uma do Banco Itaú. Com uma caneta Cross assino cheques do Santander e vejo que acabaram os clips da ACC. A ligação é desligada. Volto-me para o monitor da Dell de meu computador e ele mostra meu blog, da WordPress, onde leio esta bobagem comendo um chocolate Alpino da Nestlé, desejando imensamente um café da Segafredo que há no posto AM-PM da Ipiranga aqui ao lado.

Observação final: SRD é uma expressão do jargão veterinário e significa “Sem Raça Definida”.