O Mário Marcos tem razão: a Seleção perdeu até a capacidade de decepcionar

É normal o Mário Marcos de Souza ter razão. No último sábado, ele novamente produziu uma manchete cuja clareza e verdade são absolutas. O tema era a Seleção Brasileira: “A Seleção que perdeu até a capacidade de decepcionar”. Ele cita vários problemas pontuais da seleção brasileira. Eu gostaria de me afastar um pouco deles e observar o fenômeno de uma forma mais geral. E há vários pontos a considerar.

Creio que grande parte do desencanto das pessoas com a seleção nasce no absoluto anacronismo de uma instituição que é administrada da mesma forma com que era durante a ditadura. Pior: hoje, a CBF presidida por um dos mais destacados membros da ex-Arena, o moralmente discutível José Maria Marin. Imaginem que, no dia 1.º de abril, a CBF receberá uma petição que cobra a saída de José Maria Marin da presidência da entidade em razão causa de seu envolvimento com a ditadura militar.

Ontem, a petição online ultrapassou a marca de 50 mil assinaturas de apoio. O organizador da petição, Ivo Herzog, é presidente do Instituto Vladimir Herzog e filho do jornalista assassinado em 1975, quando se encontrava detido nas dependências do Departamento de Operações e Informações (DOI), controlado pelo Exército, em São Paulo. Marin discursou várias vezes contra Herzog e sua atuação na TV Cultura de São Paulo.

Mas você me dirá que os clubes também são administrados como eram na ditadura e que sua sedução não diminuiu. Então, eu contraponho o fato de que há outros desencantos: o povo brasileiro nunca foi muito ufanista e, agora, com os jogadores atuando em sua maioria fora do país, quebrou-se o elo entre eles e a seleção.

Nos últimos anos, a população brasileira apenas se preocupa com os rumos do time brasileiro durante as Copas do Mundo. Fora delas, o que ela vê é um time formado por jogadores cujas biografias não são acompanhadas por aqui. Não são mais ídolos nacionais. Ninguém está morrendo de preocupação com as lesões de Kaká no Real Madrid ou se Hernanes é ou não o dono da Lazio. Pior: estes jogadores têm visivelmente uma preocupação periférica pela Seleção e isto fica claro em cada entrevista. E, não havendo tesão do lado deles, a gente brocha por aqui.

De minha parte, posso acrescentar que o fato da Rede Globo ser a principal divulgadora da Seleção faz com que meu interesse nela passe a ser quase negativo, ainda mais  quando há amistosos como o de hoje. Hoje, possivelmente, a Seleção, no jogo contra a Rússia, em Londres, nos chegará companhada da voz de Galvão Bueno. A voz de Galvão é-me nauseante. Deve ser o mesmo para muita gente. Pior: a Seleção joga normalmente fora do país, durante a semana e à tarde, quando estamos trabalhando. Poucos a veem e só prestamos atenção vagamente aos gols e ao resultado e olhe lá. Ou seja, ela não decepciona e nem entusiasmaria a ninguém, pois é pouco vista

É claro que, em 2014, seremos engolfados pela Copa e estaremos na maior expectativa. Estabeleceremos com a Seleção aquela relação paradoxal que temos com nossos atletas olímpicos. Ou seja, após passar quatro anos nos lixando para eles, faremos a cobrança por vitória como se o time de Felipão carregasse uma procuração nossa. Aí, talvez outro jogador faça o mesmo que fez o lateral Rafael na decisão das Olimpíadas de 2012: vaiado e perdendo o jogo por 2 x 0 para o México — após ter sido o responsável direto pelo primeiro gol mexicano –, o lateral do Manchester United, deu um toque de letra no melhor estilo tô-nem-aí.

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Ainda há mulheres de verdade neste mundo:

“Eu perdoaria uma traição do Kaká. E sabe por quê? Porque quando o homem trai, é sinal de que a sua mulher falhou em algum ponto. Eu não estaria dando o necessário. E não falo só de sexo. Falo de carinho, diálogo, cumplicidade. Se eu descobrisse um caso do Kaká, seria complicado, claro. Mas se ele me trair, tenho certeza de que o motivo seria algo de muito errado feito por mim”.

A mulher do Kaká é da igreja Renascer. Indico a todas.

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A Copa de 2014 será uma tragédia futebolística para o Brasil

Só se fala em estádios, obras viárias e aeroportos, mas eu gostaria de falar sobre futebol, mas especificamente sobre a Seleção Brasileira. Quem viu Bósnia x Brasil, viu: o Brasil não tem um bom time de futebol e, pior, com aquele grupo de jogadores não se fará uma boa seleção. O problema não está localizado em Mano Meneses mas numa pobre geração de jogadores. Como as seleções pouco treinam, dependem ou de seus talentos ou têm por base um grande time, coisa que também não há.

Kaká e Ganso poderiam organizar um time, porém Kaká está envolvido há anos por repetidas lesões e atuações burocráticas. Já Ganso simplesmente decaiu e parece que não será aquele maestro que pintava ser. Ronaldinho Gaúcho e Neymar, em torno dos quais talvez se pudesse organizar uma equipe, parecem ser insuficientes — o primeiro não é nem sombra do que foi e o segundo sofre demais com a marcação, principalmente a estrangeira, muito mais implacável. O bósnio Papac foi suficiente.

Se pensarmos que falta pouco mais de dois anos para a Copa brasileira, fica clara a improbabilidade de brotar em nossos campos uma nova geração. Hoje, nomes comuns como Hulk, David Luiz, Fernandinho, Jonas, para não falar em quem estava e permaneceu no banco contra a Bósnia, parecem ter cadeira cativa nas convocações. Em anos anteriores, vários jogadores de peso e biografia eram descartados; agora, estes não são mais encontrados. Da nova geração, acho que Thiago Silva é a joia, mas sabemos que não se faz um time a partir de um excelente zagueiro. Dos 23 indicados para a Bola de Ouro de 2011 — que visa premiar o melhor do mundo — só havia um brasileiro: Neymar.

Ou seja, estamos convivendo com uma geração pobre e lamento dizer que acho que o Brasil deverá ser um mero participante da Copa 2014. Claro que isso vai acabar em crise mesmo antes da Copa. Provavelmente Mano Meneses vai comer a massa pré-pronta que o diabo amassou. E não descartem um Maracanazo II.

Assinado: Mãe Dináh (01/03/2012).

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Relatório Franciel

Quando chegamos ao estádio Olímpico — eu, meu filho e o Butragueño de Amaralina –, tomamos uma enorme vaia que encarei com bom humor. Nada demais, apenas palavrões. Quando entramos é que houve o primeiro choque: atendendo a seus arbóreos, finos e calosos torcedores, o Grêmio viria sem Tcheco. Mas aquilo era só o primeiro prato, pois logo veríamos um prato principal que outro não era senão a famigerada linha de quatro jogadores no meio-campo: Souza, Adílson, Rochemback e Douglas Costa. Ou seja, Souza e Douglas Costa estariam a quilômetros de distância. Quando vi aquilo, pensei de imediato neste parágrafo, nas inevitáveis críticas a Autuori, na futura entrada às pressas de Tcheco e no entusiasmo que isto causaria. O único grave problema encontrava-se no fim do túnel de meus pensamentos — lá estava novamente Dante Sasso dizendo inexoravelmente que não curtira o parágrafo.

Era uma experiência nova aquilo de ficar numa arquibancada vazia protegido pela polícia de Yeda Crusius. Chamei um guarda para um papo. Avisei e ele que, apesar de ocuparmos um latifúndio improdutivo e quase silencioso, não éramos do MST. Mostrei-lhes minhas mãos de dândi e eles baixaram as armas. Mas um brigadiano mais arguto desconfiou de meu sotaque, obrigando Franciel a intervir:

— Esse porra faz a porra de dez anos que vive na porra desse estado e perdeu um sotaque da porra que fazia a porra da madeira gemer — disse ele no mais irrepreensível sotaque Elevador Lacerda.

O primeiro policial garantiu, com ar de inteligência:

— Ele parece a Sônia Braga de Dona Flor, deve ser baiano mesmo.

E o segundo lhe cochichou:

— Sim, os cabelos são os mesmos.

E em voz alta:

— Podem ver o jogo.

Em campo, eu torcia para um time que não conhecia direito. Acreditem, é pior. Há anos não ficava nervoso num estádio. Não tenho mais idade para essas angústias, mas o fato de só conhecer Magal, Viáfara, Apodi e Leandro Domingues estava me deixando maluco. Apodi via pela primeira vez em sua vida dois laterais para impedir-lhe a passagem: Douglas Costa e Lúcio. Lúcio olhava para a frente e pensava em como fazer um overlapping educado em Douglas para chegar à linha de fundo. Douglas não sabia se abria espaço para Lúcio passar, se atacava ou se marcava Apodi. O mesmo impasse triângular ocorria do outro lado. Souza pensou que talvez devesse telefonar para Douglas Costa a fim de marcar um encontro. Mandava-lhe recados através de Adílson, que os repassava a Fabio Rochemback. Este estava muito ocupado em desfilar sua elegância algo exagerada e esquecia-se de avisar Douglas.

Enquanto isso, o Vitória marcava, desarmava, tocava a bola com tranquilidade e divertia-se perdendo gols, coisa na qual não víamos graça alguma. O excelente Neto Berola mostrou que não era Luís Fabiano ao tocar por cima do gol em jogada idêntica a que seu modelo converteria horas depois. Roger… Bem… Roger… Melhor não falar. Quase morremos na arquibancada. Não se mira no pobre zagueiro que está dentro do gol quando temos o gol aberto, mas diversão e lazer é um direito previsto na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Cônscio do fato, Réver resolveu colaborar com a brincadeira de perder gols do Vitória, mas Neto, demonstrando que não se deve confiar em baianos, fez o gol. Sacanagem.

No intervalo, recebemos um arbóreo torpedo dando conta de que tínhamos sido observados aos pulos, subindo e descendo as escadarias do Olímpico. A RBS mostrou que sempre MENTE ao relatar a seus ouvintes que havia 14 torcedores do Vitória assistindo à partida. Mentira! Havia 35,71% a mais. Éramos DEZENOVE, caraglio.

No segundo tempo, mais brincadeiras. Aos 21 segundos, Leandro Domingues chutou no poste esquerdo de Marcelo Grohe e, aos 4 minutos, Neto Berola fez o mesmo, tentando mostrar que aquele poste era, em verdade, seu. Então Autuori refletiu sobre as vaias que ouvia e conjeturou sobre como seus arbóreos, finos e calosos torcedores eram volúveis: eles agora babavam pelos lindos peitos de Tcheco. O moço entrou e tivemos finalmente chances de ver o futebol dos azuis. Claro, ele não deveria ter entrado. Mesmo sem ser arrasador, víamos bolas mais inteligentes chegando ao ataque gremista. Aquilo perturbou Magal, que acabou expulso por não cometer uma falta. Apavorado por ficar com menos um volante, Vagner Mancini tirava um atacante por minuto, trocando-os por volantes.

Quando tínhamos vinte e seis volantes rubro-negros em campo, Jonas — o qual deveria ser multado por pensar em chutar de primeira aquele passe de Tcheco impossível de acertar — fez um golaço. É aquela coisa, se antes nos tivessem dito que seria 1 x 1, correríamos pelos campos e colheríamos flores, felizes como a Noviça Rebelde. Só que levar um gol daquele jeito nos deixara a certeza de que estávamos destinados a morar até o fim dos dias com a madrasta da Cinderela.

Franciel passou bem. A hospitalização foi rápida e mesmo que o marca-passo tivesse parado às quatro e trinta e cinco da madrugada por defeito numa pilha paraguaia, teve a sorte de encontrar um doador argentino vitimado por Kaká. Nunca vi ninguém mais nervoso. Ele pergunta o tempo de jogo a cada trinta segundos, mas não usa relógio. Ele quer saber dos outros resultados, mas não usa rádio. Ele quer entabular arbórea conversação, mas não usa celular. Como vingança, levei-o ao Parque da Harmonia e mandei-o contar todas as piadas de gaúcho de seu repertório, também mostrei-lhe a arquitetura dos Supermercados Zaffari, visitamos a Vila Cruzeiro e tomamos banho no Guaíba. Como compensação, deixei-o fazer livremente a opção entre comida vegetariana e Mac Lanche Feliz. Nada de carne vermelha. Amanhã, terá moqueca podre.

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