Polanski, a polêmica que nunca acabará

Polanski diz que Harvey Weinstein atacou o filme “O Pianista” com queixa de estupro

O diretor polonês de Paris diz ao Paris Match:

“Em 2003, Weinstein entrou em pânico quando O Pianista venceu dois BAFTAs, incluindo Melhor Filme. Weinstein, que tinha dois filmes indicados ao Oscar, lançou uma campanha para impedir que o mesmo acontecesse em Hollywood. Foi ele quem desenterrou a história de [então] 26 anos com Samantha. Sua assessoria de imprensa foi a primeira a me chamar de estuprador de crianças. O paradoxo é que O Pianista não ganhou o Oscar de Melhor Filme, um prêmio que é do produtor, mas eu ganhei o de Melhor Diretor.”

Sobre a acusação de estupro: “Só Samantha e eu sabemos o que aconteceu naquele dia. O que quer que eu tenha feito, seja como for, é profundamente lamentável. Eu já disse isso várias vezes. Tenho contato com Samantha e ela sabe. Ela e sua família sofreram por minha causa. Ela escreveu várias vezes ao promotor para explicar que o trauma causado pelo circo da mídia é bem pior do que o que eu a fiz sofrer.”

Era uma vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino

Era uma vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino

Talvez este seja o melhor filme de Quentin Tarantino. Saí do cinema muito feliz e passei três dias com várias cenas voltando a minhas retinas tão fatigadas (boa tarde, Drummond!). Mas creio que a catarse do final do filme — fiquem sossegados, não vou contar — apenas possa ser compreendida por quem viveu a época do assassinato de Sharon Tate (Margot Robbie, boa atriz e linda como Sharon) pelo grupo de hippies de Charles Manson, o olhar mais apavorante daquela época em que eu tinha 12 anos. Meu pai falava daquele olhar assassino, minha mãe também.

(Este filme foi visto no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?)

Como escreveu o Paulo Moreira no meu perfil do Face: “Desta vez, me deu um nó na garganta. Quanto eu era criança — 9 anos em 1969 — lembro de ver as matérias da Manchete e da Fatos & Fotos sobre o assassinato, as paredes escritas com sangue, as macas tapadas de lençol sendo retiradas. Aquele ataque bárbaro ficou marcado na minha memória. É divertida… (CENSURADO POR CONTER SPOILER)… mas ainda fica um travo na garganta.

O mundo ficou quase tão chocado com aquele assassinato ritual de extrema violência quanto com o tiro recebido pelo genial beatle pacifista John Lennon na frente do edifício Dakota. Sharon Tate era esposa de Roman Polanski (Rafal Zawierucha) — que recém filmara O Bebê de Rosemary — e ambos eram o casal da hora, ambos estrelas em ascensão que todos amavam.

1969, Los Angeles. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de séries de cowboy da TV que, juntamente com seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), está decidido a fazer o nome em Hollywood, não obstante o fato de estar em decadência na TV. Ele mora do ladinho da mansão de Tate-Polanski, o que o deixa próximo dos fatos que citei acima.

O trabalho de Dalton e Booth permitem que Tarantino brinque dentro de alguns de seus gêneros e formatos preferidos. Há cenas sensacionais com DiCaprio atuando em westerns spaghetti, seriados policiais, caçador de recompensas e garoto-propaganda, porém, por mais citações e inspirações que tenha, este filme está longe de ser uma paródia. Ele é muitíssimo original. Obviamente, trata-se de um Tarantino, com seus diálogos amalucados, cenas longas, carros, etc., mas é também um filme maduro de narrativa madura e com significativos silêncios, o que nos deixa totalmente imersos no mais puro cinema.

Há duas histórias sendo contadas. A de Dalton-DiCaprio, ator de baixa auto-estima e ah… Temos Al Pacino, sensacional como o agente entusiasta que, para reanimar sua carreira, o leva aos spaghetti western, o que faz Danton e Cliff irem à Itália.

Pitt, DiCaprio e Pacino: atuações absurdamente boas | Divulgação

Em paralelo com esta história ficcional acontece outra, real: o ataque da seita de Charles Manson no número 10050 de Cielo Drive, em Los Angeles, moradia onde viviam Polanski e Tate. Há uma cena linda e longa numa sala de cinema onde a atriz se revê na tela. Nela, assistimos simultaneamente ao  maravilhoso desempenho de Tate herself e a felicidade de Margot-Tate ao ver a si mesma na tela. É uma bela homenagem de Tarantino a Sharon Tate.

Ao longo de duas horas e cinquenta minutos, assistimos a uma obra lotada de detalhes. Deve-se ficar atento, pois mesmo as cenas e planos mais longos estão repletos de referências.

Tarantino e sua Sharon Tate, vivida por Margot Robbie | Divulgação

O que é aquela cena com a atriz mirim onde ficam expostas todas as inseguranças do ator Dalton? O que é aquela cena pós-créditos? Por favor, não saiam do cinema durante os créditos! Vão perder uma cena hilariante. Que grande atuação de DiCaprio!

É um baita filme, surpreendentemente comovente e de sutil melancolia. O final fez vir lágrimas aos olhos de minha companheira, algo inimaginável em produções anteriores do diretor. Tarantino encontrou uma linda forma de reescrever e melhorar a história e as quase três horas passam como se fossem 30 minutos.

Sim, eu sei que está na moda criticar Almodóvar, von Trier e Tarantino, mas esqueça as modinhas críticas e vá assistir. Eu garanto.

Trailer 1:

Trailer 2:

Porque hoje é sábado, Sharon Tate na cama elástica

Porque hoje é sábado, Sharon Tate na cama elástica

Don’t Make Waves (1967), de Alexander Mackendrick. Além de Sharon, o filme traz Claudia Cardinale e Tony Curtis, que pode também ser visto abaixo. Sharon Tate, mulher de Roman Polanski, foi brutalmente assassinada em 1969, grávida de oito meses, durante um “ritual satânico”, por Charles Manson, até hoje preso na California.

https://youtu.be/zu62I9Pi_UQ

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Porque hoje é sábado, Sharon Tate

Porque hoje é sábado, Sharon Tate

Hoje, 9 de agosto de 2014, faz 45 anos do assassinato de Sharon Tate.

Em 1969, eu tinha de onze para doze anos, havia alguns nomes de pessoas que eram tratadas com notável cuidado e que faziam muita gente abrir a boca de susto ou admiração. A primeira delas era indiscutivelmente Che Guevara. Devido ao “Tchê” eu pensava que se tratava de um gaúcho. Por influência de alguém — quem seria? –, nós gritávamos seu nome quando fazíamos gols, mas essa é outra história. Com maior liberdade circulava o nome de João Saldanha, o técnico comunista da seleção brasileira. Mas era inadequado admirá-lo demais. Porém, se eu quisesse que as mulheres pusessem as mãos na boca, dizendo “que barbaridade”, bastaria citar o nome de Sharon Tate.

Claro que eu demorei muito para saber que Sharon era uma bela mulher, na época esposa do diretor Roman Polanski, e que fora assassinada em agosto de 69 grávida de oito meses, num ritual ordenado por Charles Manson. Manson estava simplesmente iniciando uma guerra — denominada de Helter Skelter, como a música dos Beatles. Seria uma guerra entre negros e brancos, onde os brancos seriam exterminados. Ele acreditava que algum negro logo seria acusado dos assassinatos e os confrontos explodiriam com derrota final da raça branca. Ele e sua “família” (ele assim chamava seu grupo de lunáticos) eram brancos e planejavam esconder-se dentro de um poço no deserto para fugir da guerra. Era apenas mais um norte-americano doido varrido.

Ao procurar fotos de Sharon Tate, acabei vendo algumas imagens de seu assassinato. Não terei o mau gosto de mostrá-las aqui, mas posso compreender as caras assustadas de minha mãe e tias. Charles queria que os assassinatos fossem realizados com a maior crueldade e gratuidade possíveis — por isto, a escolha de Tate grávida, com parto previsto para dali a duas semanas –, com suas vítimas sendo espancadas, esfaqueadas e baleadas até a morte. Manson matou seis pessoas e, depois de preso, reafirmou seu ódio profundo pela humanidade.

Polanski salvou-se por estar trabalhando em Londres, mas três amigos de Sharon foram assassinados junto com ela. Ela era linda, com uma cara típica dos anos 60, de que foi símbolo.

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A curta vida de Sharon Tate foi cheia de som, filmes, fotos e fúria.

Bem anos 60, aí está uma das fotos do rumoroso casamento da atriz…

…com o cineasta polonês Roman Polanski. Tudo começou em A Dança dos…

… Vampiros (1967), comédia de humor negro (mesmo!) do futuro maridinho.

Sharon nasceu em 1943 e, seis meses depois, vencia um concurso de beleza.

É, seus pais deviam ser uns chatos. Depois Sharon tornou-se isso aí.

Era linda, famosa e sua imagem tomava conta das revistas da época.

Sua atuação em O Vale das Bonecas ameaçava torná-la uma grande estrela…

…quando foi assassinada cruelmente pelo psicopata hippie Charles Manson,…

… preso até hoje na Califórnia. Para piorar, Sharon estava grávida de oito meses.

sharon tate

Como confirmou o psicanalista e blogueiro Cláudio Costa, o caso Sharon Tate…

… provocava associações de erotismo, nojo e medo em nossas tias.

Um assassinato desses era uma novidade. Nunca se divulgara algo deste gênero…

… em uma mídia recém planetária. Foi uma comoção, um ato repulsivo, inaceitável.

Para falar de Manson e mesmo de Sharon, baixávamos o tom de voz.

Era vergonhoso. As pessoas todas começavam a se verem refletidas na mídia.

Consequentemente, tapava-se pudicamente a boca.

Eram tempos em que crimes ainda nos chocavam.

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Um dia, o Ramiro Conceição comentou aqui no blog:

Quando aconteceu o assassinato, eu era um tenro adolescente; contudo, lembro-me ainda do olhar esquizóide de Manson… Milton, aquele olhar ficou em mim! Muito mais tarde, compreendi que aquele olhar esquizóide, na realidade, era o verdadeiro olhar da América! Explicando ainda muito melhor: foi quando compreendi o bombardeio de Dresden, já com a Alemanha vencida; quando compreendi a tragédia de Hiroxima e Nagasaki; as guerras da Coréia e Vietnã; as intervenções militares na Guatemala, Cuba; o apoio logístico ao assassinado de Allende; o apoio ao golpe de 64, no Brasil; o fomento, em todas as partes do Mundo, de elites sanguinárias; a guerra no Iraque, Afeganistão etc., etc.: sempre, sempre, sempre aquele olhar esquizoide! Em poucas palavras: o olhar de Manson está na estátua da Liberdade; aliás, somente na América a Liberdade é rígida; na minha rua, a Liberdade é música!

Os melhores filmes de 2012

Bem, meus sete leitores me conhecem. Não posso oferecer-lhes a habitual lista de dez filmes porque não vi dez filmes realmente bons. E olha que vi uns oitenta.

A listinha ficou assim:

— A Separação, de Asghar Farhadi
— Drive, de Nicolas Winding Refn
— As praias de Agnès, de Agnès Varda
— Deus da Carnificina, de Roman Polanski
— Fausto, de Alexander Sokurov

Importante: como Porto Alegre é cada vez mais periférica, não viu filmes como Holy Motors, de Leos Carax, nem O Cavalo de Turim, de Béla Tarr. Periferia é foda, vou te contar…

Como filme do ano escolhemos por unanimidade:

Melancolia, de Lars von Trier

Vi duas vezes Melancolia, de Lars von Trier. A primeira foi logo na pré-estreia, na primeira sessão do filme em Porto Alegre. Eu não podia deixar de fazer isso. Lars von Trier, Emir Kusturica, Peter Greenaway, Abbas Kiarostami, Roman Polanski e talvez Alexander Sokurov ainda mantêm viva aquela curiosidade que no passado tinha cada lançamento de Bergman, Truffaut, Tarkovski ou Antonioni. Destes, dos modernos, apenas von Trier, Kiarostami e Polanski têm vida comercial em cinema. Os outros estão em DVD e olhe lá.

Ontem, ao sair do cinema, depois de ver o filme pela segunda vez, minha mulher pôs em palavras minha opinião. Ela disse que achara Melancolia mais simples e inferior a Anticristo. Estou de acordo. Mas a produção cinematográfica de nosso tempo é tão lastimável que não me surpreendo com as loas que tecem à Melancolia como obra-prima e candidato a “filme do ano”.

A ação do filme centra-se menos no fim do mundo — o planeta chamado Melancolia aproxima-se da Terra e os cientistas são cétidos sobre se Melancolia vai passar ou bater…  — , mas na relação entre as irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg). O início é muito bonito plasticamente — momento em que lembramos da deslumbrante abertura de Anticristo. São dez minutos com a música de Wagner (Tristão e Isolda) que terminam com o maior dos spoilers: o choque entre Melancolia e a Terra. Ou seja, já de saída somos informados do provável final. Quem vê o filme pela segunda vez nota claramente a simbologia da abertura. Justine, vestida de noiva, tenta avançar mas está amarrada pelas pernas. Claire, charfurdando, leva o filho no colo para não se sabe onde, nem ela. Justine constrói com o sobrinho a “proteção” para o fim do mundo. Novamente Justine, de vestido de casamento, é levada pelas águas. Os planetas chocam-se.

Como ocorre com tantos bons filmes (lembrar de voltar a este assunto), Melancolia está dividido em duas partes. Estas têm os nomes das irmãs. Na primeira, Justine casa-se numa cerimônia de opereta. Poucas vezes vi uma depressão ser tão bem caracterizada. Justine não quer casar, não parece interessada, está de saco cheio de tudo, da vida, do chefe, do futuro marido e parece apenas dar importância ao pai brincalhão (John Hurt) e à irmã. Neste trecho do filme há muito que observar. É notável como retorna ali, perfeitamente reconhecível, o cineasta que criou o Dogma 95. A câmera está na mão de alguém nervoso, os cortes ocorrem com frequência e em momentos pouco habituais, as crises são resumidas por von Trier em “apresentação da situação” e “consequência”. Neste modo cinematográfico de mostrar os fatos, as falas nunca são longas. E como rende!

A narrativa aproxima-se do clássico na segunda parte. É quando Claire, que ama a vida, desespera-se. Justine, pelo contrário, parece conformada e ciente de tudo o que ocorrerá. Porém, seu bom senso e inteligência é complementado por desconcertante passividade, a mesma utilizada para entrar na fria de sua festa de casamento. Ela sabe de seu destino. E sabe que nada pode fazer a respeito. Cética, fatalista e paralisada, faz uma adivinhação surpreendente e, transformada em oráculo (Respondendo a meu filho Bernardo: acho que o número de feijões adivinhado apenas quer dizer “eu sei tudo”), revela para a irmã a verdade fatal: “a humanidade é má, a Terra não merece existir, não há deus, nem vida em outro planeta, esqueça”. Quando Claire balbucia uma reclamação sobre o futuro de Leo, seu filho, Justine não responde.

À medida que von Trier envelhece, fica cada vez mais claras suas influências: Tarkovski e Strindberg. Se Anticristo é dedicado a Andrei Tarkovski e é tão próximo a O Espelho (1975), Melancolia parece vir de Solaris (1972). Lá também a ficção científica foi utilizada para cogitar e interrogar o humano e a humanidade. Como nos filmes do russo, o olhar dos personagens para o céu e o para que não entendem reflete um mergulho em suas interioridades. Muitos, como o marido de Claire (Kiefer Sutherland), não suportam conviver com ela. É Tarkovski e não é; trata-se é uma continuidade. Uma vez, com entrevistadores mais inteligentes que os de Cannes, Trier disse algo mais ou menos assim: “Tarkovski é um deus real para mim. Quando eu vi O Espelho, Stalker e Andrei Rublev, mesmo num televisor pequeno, fiquei em êxtase. Se você quiser falar sobre religião, eu te respondo que minha relação religiosa é com Tarkovski. Ele viu o meu primeiro filme e o odiou… Mas eu me sinto muito próximo a ele”. O deus de Trier é punitivo…

Não estou com pressa de terminar hoje. Ontem, publicamos no Sul21 uma entrevista que fiz com o escritor Charles Kiefer e vejam só. Na entrevista também havia uma questão de troca identidade e revelação da verdade do leito de morte da mãe. Quando a mãe de Trier morreu, ela lhe contou que seu pai não era o judeu Trier, mas Fritz Michael Hartmann, de família católica alemã. Vários de seus novos parentes eram renomados músicos, etc. Após quatro encontros nada felizes, o alemão recusou-se seguir mantendo contato com o filho. Isso não explicaria a entrevista de Cannes, quando ele se disse “nazista” e não judeu? E como fazer para não olhar para a melancolia e Melancolia, quando ela aparece como uma enorma esfera pronta a nos aniquilar?

24 Letras por Segundo — Aguardo vocês amanhã (4), no GNC Moinhos

Tive o privilégio de ter sido convidado para integrar o time deste curioso livro. A ideia é simples. Cada um de nós deveria criar um conto dentro do estilo de um diretor de cinema que fosse de nossa preferência. De cara eu escolhi Bergman, mas me pediram para me limitar aos vivos. Optei primeiro por Kusturica, porém rapidamente enviei outro e-mail perguntando se alguém já havia reservado Polanski. Tinha certeza que não o “ganharia”, mas o polaquinho tarado caiu no meu colo.

A história nasceu de um comentário-conto do Marcos Nunes, feito aqui no blog. Usei duas ou três fases dele, as iniciais; depois a coisa torna-se incontrolavelmente outra. Tive preocupação em citar vários filmes de Roman Polanski e isso foi o que me deu mais trabalho, juntar tudo sem quebras, deixando algum estranhamento pelo caminho. O ambiente era para ser o de O Inquilino (1976), filme que vi nos anos 70 e nunca mais… É o meu preferido dentre a filmografia do diretor. Trouxe alguma coisa da notória vida pessoal do cineasta — como não? — mas lembro de ter citado de passagem O Inquilino, O Bebê de Rosemary, Lua de fel, Chinatown, Frantic e Repulsa ao Sexo, além de passar por Sharon Tate e Charles Manson. Relendo hoje o texto, acho que poderia ter enviado ao Rodrigo Rosp a versão ampliada, mas lembro que me deixei seduzir pela alta velocidade da versão mais curta. Enfim.


Abaixo copio o post e as imagens do Samir Machado de Machado (<— VALE MUITO UMA VISITA E ESTE BLOG GENIAL)  a respeito do livro, que ficou muito bonito. Clique nas imagens para ampliá-las.

24 Letras por Segundo
Autores
: vários
Design da capa
: Samir Machado de Machado
Projeto gráfico interno
: Guilherme Smee
Editora
: Não Editora

O novo livro da Não Editora, a ser lançado na primeira semana de agosto, é uma coletânea de dezessete autores (este que aqui escreve incluso) em que cada conto é escrito ao estilo de um cineasta da preferência do autor.

A maior dificuldade encontrada na elaboração do projeto foi encontrar um ponto do qual se pudesse criar algo original a partir de um tema não só batido, como cheio de referências óbvias – pipoca, poltronas de cinema, rolos de filme, claquetes, todos os objetos pertencentes ao imaginário do cinema já foram suficientemente explorados em inúmeras propostas.

A solução encontrada veio quase por acaso: ocorre que, para toda uma geração, a experiência cinéfila se deu menos pela sala de cinema e mais pelo videocassete, para o qual há uma gama de referências pouco exploradas, do universo de uma locadora de VHS – as etiquetas de categoria, os rasgos na capa, os logos de som MONO e advertências de direito autoral, que nos levaram no sentido de fazer uma capa como se fosse uma caixa de VHS.

A idéia acabou explorada também no projeto gráfico do miolo, criado pelo Guilherme Smee: chuviscos, quadros de ajuste de imagem, pedidos para rebobinar a fita, páginas de abertura para cada conto simulando a tela de abertura de um filme ao estilo do diretor trabalho em questão, além de “fichas” reunindo informações do autor e do diretor homenageado que remetem às antigas fichas de video que algumas locadoras colavam no verso das caixinhas.

A Fita Branca, de Michael Haneke, foi o melhor filme de 2010

OK, eu abandonei a lista de filmes que mantenho no blog. Esqueci dela, assim como esqueci de declarar o melhor filme do ano passado, em minha humilde opinião. Claro, o mundo não mudará se eu não declinar minha lista, mas eu costumo encher o saco dele todos os anos.

Não foi um ano tão fraco quanto os anteriores. A Fita Branca, de Michael Haneke, foi DISPARADO o melhor filme de 2010. Outros bons filmes foram o argentino O Segredo dos seus Olhos, de Juan José Campanella, o italiano Vincere, de Marco Bellocchio — fui convencido por amigos de que se tratava de um bom filme, apesar de não aprovar seu estilo tonitruante — , O Escritor Fantasma, de Roman Polanski, Tudo pode dar certo, de Woody Allen e O que resta do tempo, de Elia Suleiman.

Mas Polanski, 33 anos depois, está preso

Pois é. Andei lendo sobre o Caso Roman Polanski e — apesar de considerar a pedofilia o crime mais grave antes do assassinato — há tantos, mas tantos detalhes, que não sei o que eu decidiria em um juri. Os anos 70 eram diferentes. Polanski, já adentrado nos quarenta anos, namorava meninas de 15, como a grande Nastassja Kinski. Era tudo permitido, como podemos ver por esta surpreendente foto norteamericana de Brooke Shields, aos 11 anos de idade, em 1976.

Se isto não é pornografia infantil, não sei o que é. Saiu na imprensa da época, apesar de ser revoltante a nossos olhos certamente mais esclarecidos. (Digo isso sem nenhuma ironia).

Para meu pasmo, Samantha Gailey foi levada a Polanski pela mãe. E a mãe deixou-a sozinha lá para uma sessão de fotos… E Polanski era uma conhecida e admirada figura pública. E reconhecido por correr atrás de ninfetas. E era aceito pela sociedade menos conservadora. E Samantha, de 13 anos, tinha experiência sexual prévia.

Olha, é tudo muito estranho. O que hoje é um crime indiscutível, não parecia ser grave nos anos 70, apesar do veredicto do tribunal, que foi escolhido a dedo. De resto, calo-me antes que as feministas apareçam com uma argumentação perfeitamente razoável, porém com aquele tom indignado que nos deixa sem opções. Ou respondemos e somos sexistas (acusação falsa), ou ficamos quietos e somos indiferentes (acusação falsa), ou rimos e somos o pior tipo de rastejante (acusação que minha modéstia impede de considerar 100% falsa).

(*) A foto acima foi retirada deste post do Varal de Ideias.

Roman Polanski

Gostaria que todos soubessem como é encorajador, quando se está trancado em uma cela, ouvir este murmúrio de vozes humanas e solidariedade no correio matinal.

OK, pedofilia é assunto inegociável, mas, não adianta, sinto a maior solidariedade pelo grande artista Roman Polanski, 76, há meses numa cela, hoje em prisão domiciliar, pelo fato de ter mantido relações sexuais com uma menina de 13 anos em 1977. Sim, em 1977! Há 32 anos, quase 33.