Seleção de fotos: Cristóvão Crochemore Restrepo

Uma norte-americana chamada Sara Malakul Lane…. Malakul? De onde saiu isso?

Ah, sim, de uma mãe tailandesa e de um pai inglês. Mas hoje vou falar sobre o tema

mais importante do dia: falarei, um tanto misteriosamente, sobre o chá.

E, para tanto, solicitarei auxílio a Haroldo de Campos — À Maneira Provençal:

carmen castelã domina
estas torres de palavras
que eu construo como quem
junta limalhas de ferro
fazendo da língua imã

amor vendado de ouro
com dedos de purpurina
traça no ar o desenho
de som de sentido e sina

carmen castelã domina
estas torres de linguagem
imagem de mãe e filha
rosto de amante e menina
senhal miragem poesia

e o tempo de chá e Proust
se dissolve qual neblina
volta a manhã volta a noite
o escuro se faz matina

e é tudo como se fosse
a mesma matéria-prima
de vida revisitada
de instante que não termina:
carmen castelã domina

o tempo reprimavera
na trama da luz mais fina
neste castelo de ar
carmen castelã domina
feto de ser e de tempo
que o imã da língua junta
qual limalha de platina

amor vendado e vidente
aos pés do castelo assina
seu mistério e grava o nome
com selo de turmalina

diz camões que o amador
na coisa amada se ultima
horácio diz: carpe diem
curte o tempo: flor que fina

mas aqui o tempo tira
da garganta a mão mofina
s’insempra – Dante diria
se enamora: repristina

amor dessela o mistério
que tem seu nome por cima:

“amor mais forte que a morte”
diz a pedra turmalina

neste castelo de torres
carmen castelã domina

E, agora, troquem carmem por Elena.

Espero, meu amor, que não fiques sem chá nem Proust.
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