A Ospa de ontem em vários comentários: fotos, escolhas, Sartori, parcelamento, nomeações e boa música

A Ospa de ontem em vários comentários: fotos, escolhas, Sartori, parcelamento, nomeações e boa música

O concerto começou muito bem. Na plateia do Theatro São Pedro, duas mulheres me pediram para que lhes tirasse uma foto. Tirei bem mais de uma. Elas estavam felizes, ornamentadas pelo velho edifício e pelos músicos que se preparavam para o concerto no palco. Ao verem o resultado, voltaram para falar comigo. Estavam encantadas. Disseram que eu lhes dera a coisa mais bonita que elas tinham. Fiquei comovido. A noite prometia.

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Mas começo por um fato de antes do concerto: a entrevista que o Diretor Artístico da Ospa concedeu recentemente à ZH. Não entendi porque Evandro Matté irá convidar apenas nomes inéditos para reger a orquestra nos próximos meses. Ele disse que deseja “oxigenar a lista dos maestros convidados e dos solistas”, evitando aqueles que tenham se apresentado com a orquestra nos últimos três anos. Tento interpretar e não consigo entender porque Lavard, Rauss, Teraoka, Volkman, Nakata, Hahm, Levin ou Vigil não possam retornar em futuro próximo. São excelentes regentes que fizeram bons trabalhos. A opção pelo novo, nestes casos, não me parece a melhor.

Pior: é um crime que gaúchos que estão se consagrando no exterior — como Lavard Skou-Larsen, que acaba de arrasar com a Royal Flemish Philharmonic, de Antuérpia, e Tobias Volkman, que fez o mesmo na semana passada com a Sinfônica de Brandemburgo — não possam ser reconvidados. É gente talentosa, nascida aqui, com parentes na cidade, que conquista o mundo, mas que não pode mostrar-se em sua cidade. (OK, sei que o Tobias é de NH ou de São Leo).

Isso é tanto mais ilógico quando se pensa que o concurso da Ospa parecia beneficiar os locais…

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Yang Liu atingiu o coração do Secretário Victor Hugo
Yang Liu atingiu o coração do Secretário Victor Hugo

O programa de ontem:

Jean Sibelius – Finlândia, op.26
Camille Saint-Saëns – Concerto para violino nº 3 em Si menor, op.61
Maurice Ravel – Pavana para uma Princesa Defunta
Nikolai Rimsky-Korsakov – Capricho espanhol, op. 34

Regente: Evandro Matté
Solista: Yang Liu, violinista

Sibelius completa 150 anos de nascimento neste ano. Nada mais natural que a Ospa iniciasse sua temporada com ele. Finlândia é um poema sinfônico escrito em 1899 e revisado no ano seguinte. Foi composto como um protesto contra a crescente censura do Império Russo. Era comum, na época, trocar o nome da obra nos concertos com a finalidade de iludir a censura russa. Isso adquiriu ares de piada. Os títulos com os quais a peça foi mascarada foram muitos: um deles foi Sentimentos Felizes ao Amanhecer da Primavera Finlandesa. A peça traz melodias crescentes e agitadas, evocando a luta nacional do povo finlandês. À medida que vai chegando ao final, a melodia serena do hino da Finlândia é ouvida. O careca alcoolista foi bem representado pela Ospa, mas senti saudades da execução redonda que Nicolas Rauss criou com a mesma Ospa no Colégio Anchieta, se não me engano.

Bá, eu estava com fome. Enquanto isso, pensava que Camille Saint-Saëns fora um sujeito feliz. Foi organista, pianista, caricaturista, cientista amador, apaixonado por matemática e astronomia, comediante amador, folhetinista, crítico, viajante e arqueólogo. Também gostava de viajar. Movido por impulsos súbitos, fazia excursões repentinas às partes mais distantes do planeta. Visitou a Espanha, as Canárias, o Sri Lanka (Ceilão), a Vietnã (Cochinchina), o Egito, e esteve várias vezes na América. Deu concertos em lugares exóticos como o Rio de Janeiro e São Paulo em 1899. A morte pegou-o numa cama de hotel em Argel.

O Concerto n° 3 para Violino e Orquestra foi escrito em 1880 especialmente para o célebre Pablo de Sarasate, para quem Saint-Saëns já havia escrito seu Primeiro Concerto. O primeiro movimento me pareceu de execução tediosa. Quando terminou esta parte da música, o governador Sartori e o Secretário de Cultura Victor Hugo prorromperam em aplausos, no que foram seguidos por boa parte da plateia. Sorridente, o Secretário batia delicadamente no próprio peito, como se tivesse sido atingido no coração. Bem, deixa pra lá, o governador certamente não sabe que não se aplaude entre os movimentos. Yang Liu e o regente Matté ficaram duros, esperando o entusiasmo arrefecer.

Tenho para mim que Sartori, que fala em parcelar os salários do funcionalismo público estadual, resolver parcelar o Concerto para Violino. Se ele insistir nesta ideia de pagar aos poucos, sugiro que a Ospa toque seus concertos também de forma parcelada.

Mas o fato é que o Concerto de Saint-Saëns melhora a partir do segundo movimento. E Yang Liu deu-nos uma magnífica interpretação do movimento central e do final. Saint-Saëns tem outros concertos cujos movimentos finais são superiores ao inicial. Mereceria revisão.

O intervalo foi penoso com a fome apertando. O melhor momento foi quando a Elena saiu do palco e veio me fazer um carinho. Minha vizinha de cadeira disse: “Como a sua esposa é linda!”. Ninguém duvida.

A impressionista Pavane pour une infante defunte (Pavana para uma Princesa Defunta) foi composta em 1900, quando Ravel tinha vinte e cinco anos. Devido à origem basca, Ravel tinha uma predileção especial pela música espanhola. A pavana é uma tradicional e lenta dança espanhola, que gozou de popularidade entre os séculos XVI e XVII. A peça foi escrita em 1899 para piano, durante os estudos do compositor no Conservatório de Paris. Ele a orquestrou em 1910. Segundo ele, ela não evoca nenhum momento histórico. É apenas a dança de uma jovem princesa imaginária na corte espanhola. Também, segundo o compositor, a música não deve levar o ouvinte a pensamentos funéreos. Ravel afirmou que o motivo do título da peça era porque gostava do som da combinação das palavras “infante défunte”… É uma música levada pelos sopros e o trompista viking Alexandre Ostrovski esteve nostálgico e parisiense como devia.

O esparramado Capricho Espanhol, Op . 34, foi composto em 1887 por Nikolai Rimsky-Korsakov. Como título demonstra, é baseado em melodias espanholas. Dã. O título original russo é ainda mais claro: Capricho sobre temas espanhóis. Como Rimsky-Korsakov era oficial da marinha russa, costumava viajar um bocado — ainda mais do que Saint-Saëns. Entre 1862 e 1865, o cara revirou o mundo. Na Espanha, passou algumas semanas em Cádiz, fascinado pela cultura e pelas mulheres locais (isso é invenção minha). Assim como Sheherazade, a peça tem um importante e belo solo de violino. Aliás, o Capricho foi inicialmente concebido como uma fantasia para violino e orquestra.

Em alguns momentos do Capricho, as cordas da Ospa foram cada uma para um lado para reunir-se novamente ali na esquina. Mas nada de assustar. Há muitos solos na obra. Augusto Maurer (clarinete), Omar Aguirre (primeiro violino), Paulo Calloni (corne inglês), o viking (trompa), Artur Elias (flauta) e Wenceslau Moreyra (violoncelo) estiveram muito bem. Talvez apenas o solo de Aguirre merecesse uma cintura mais solta. Mas a alegria e luminosidade de peça de Korsakov estavam lá. Acho que Evandro Matté estava tão feliz com o bom final do concerto que se esqueceu de pedir para Artur Elias erguer-se a fim de receber seus aplausos. Estou certo?

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Adendo: sou totalmente favorável à nomeação dos concursados da Ospa. Reclamei muito do Concurso realizado no ano passado, mas, já que este foi válido, penso que as vagas devam ser preenchidas o mais rapidamente possível. Aliás, de minha perspectiva pessoal, o concurso teve momentos que se inscreveram entre os mais patéticos de minha vida, como aquele em que um membro da Associação de Funcionários da orquestra ligou para o Sul21 dizendo que eu estava atacando a Ospa, a Secretaria de Cultura e, consequentemente, atrapalhando a reeleição de Tarso Genro. Muita loucura, né? Imagina se eu, com meu pequeno blog, tenho o poder de intervir numa eleição para o Governo do Estado. Ao final, o cara pedia a retirada dos posts e minha cabeça. Algo me diz que fui chamado de psolento…

Gosto e preciso de meu emprego. E não tenho estabilidade. Minha chefe ouviu tudo aquilo, me chamou e disse que tinha mais o que fazer do que ouvir aquele tipo de coisas. Eu que desse um jeito de o cara não telefonar mais. Não fiz nada, mas o cidadão não voltou a ligar. Foi uma ação maldosa e inexplicável, inspirada, pirada e repirada sei lá por quem ou o quê.

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Milton Ribeiro foi ao concerto às suas próprias expensas.

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A Ospa com Shinik Hahm

A Ospa com Shinik Hahm
Shinik Hahm, correto | Foto: Antonieta Pinheiro / Divulgação
Shinik Hahm, correto | Foto: Antonieta Pinheiro / Divulgação

O maestro sul-coreano Shinik Hahm é colorado. E suas boas escolhas ficaram comprovadas ao convocar sua conterrânea Hyejin Kim para interpretar o Concerto para piano e orquestra, Op. 16, de Edvard Grieg. É a segunda vez este ano que assisto a este concerto. A primeira vez foi com a Osesp no Theatro São Pedro, com Dmitry Mayboroda ao piano e regência de Marin Alsop. Como pianista, Kim me pareceu ainda melhor. Como estamos entre colorados, afirmo que ela também é melhor do que Wellington Silva como lateral, por exemplo. A moça deu uma interpretação de notável perfeição técnica e musicalidade para uma obra apenas OK. Uma pena que uma pianista de tamanha qualidade tivesse vindo ao RS apenas para tocar o concerto de Grieg. Merecia algo mais interessante. Como o seu bis, por exemplo, um esplêndido e jazzístico primeiro movimento de uma Sonata do ucraniano Nikolai Kapustin. Grieg é como a defesa do Inter, não tira o sono de ninguém. Sabiam que ele era parente distante de Glenn Gould? Pois é.

Retirado do palco o piano, o programa seguiu com a Sinfonias (assim mesmo, no plural) para instrumentos de sopro, de Igor Stravinsky. A peça foi dedicada à memória de Claude Debussy e inaugura o período neoclássico do compositor. Foi muito bom ouvir música com menos de 100 anos e fora da curva habitual da orquestra. Aliás, negando a frase anterior, em 2012 a Ospa já tinha tocado esta obra com o regente Dario Sotelo dançando as tortuosas melodias do talentoso nanico russo amante da grana. Foi um bom momento com os bons sopros da Ospa mandando bala na noite quente.

Depois veio o poema sinfônico As Fontes de Roma, de Ottorino Respighi. O bolonhês Respighi gostava da cidade e escreveu também Os Pinheiros de Roma e Festas Romanas, formando sua Trilogia Romana. Na primeira metade do século passado, Toscanini deixou as peças famosas, mas sua orquestra tinha certamente cordas mais afinadas do que as da Ospa. Há uma história curiosa sobre a de As Fontes: Arturo Toscanini tinha planejado estrear a obra em 1916, mas o compositor italiano se recusou a comparecer ao concerto por motivos políticos. Acontece que, na mesma noite, Tosco iria executar algumas peças de Wagner. Consequentemente, a estreia foi adiada, acontecendo só em 1917, com Antonio Guarnieri. Embora a desavença inicial, Toscanini foi o grande divulgador da obra, regendo-a diversas vezes com enorme sucesso.

Foi um bom concerto. O crescimento da Ospa em menos de sete dias de Hahm, faz-me pensar se ele não aceitaria o lugar de Abel Braga no Inter. Também precisamos de uma melhora súbita. Vai lá, Shinik! Aliás, a célebre Holanda de 74 tinha em seu meio de campo um grande jogador chamado Hahn, lembram? Vai que o coreano não aceita?

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Ospa: belos retalhos do tecido metafísico

Ospa: belos retalhos do tecido metafísico
Foto: Antonieta Pinheiro
Foto: Antonieta Pinheiro

Creio que todos se emocionaram na noite de ontem ouvindo grande música e levados a pensar na existência do ponto de vista metafísico. Se a metafísica busca alguma explicação sobre a essência dos seres e as razões de estarmos no mundo, também o faz o Réquiem de Verdi. Ontem, a Igreja da Ressurreição do Colégio Anchieta recebeu este Réquiem que sai de um quase nada, com violoncelos e cordas sussurrantes que se dirigem a um débil coro que pede descanso eterno, para logo depois tremer com a fúria do Dies Irae (Dia da Ira / aquele dia / em que os séculos se desfarão em cinzas, / … /  Quando o terror é futuro, / quando o Juiz vier, / para julgar a todos / A trompa esparge o poderoso som / pela região dos sepulcros, / convocando todos ante o Trono) e desmanchar-se com o Libera me final, o qual pede a Deus que tenha misericórdia. Read More

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Ospa entre a alegria e o aperto

Ospa entre a alegria e o aperto
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Ospa: mais um belo concerto ontem à noite | Foto: Antonieta Pinheiro — Clique para ampliar

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados aprovou ontem o projeto de decreto legislativo que trata da chamada “cura gay”. A proposta altera uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que proíbe psicólogos de atuarem na mudança da orientação sexual de pacientes. Desta forma, a homossexualidade volta a ser uma doença em nosso país e pode ser tratada. Mais uma vez, o Congresso debruça-se sobre uma besteira.

Coincidentemente, como frisou o Samir Rahde na saída do concerto, a Ospa dedicou a noite de ontem à música de um doente: Tchaikovsky. De um doente talvez em surto, pois sua 4ª Sinfonia foi escrita durante o tumultuado casamento com Antonina Ivanovna Miliukova, na verdade uma tentativa de cura gay feita pelo próprio compositor, uma autoajuda que não deu certo. O casamento, proposto à princípio pela moça e aceito com relutância, durou apenas seis semanas, não obtendo colocar Tchaikovsky entre os honrados chefes de família da sociedade czarista. A moça não queria só fachada. Tinha razão, claro. Por outro lado, não há notícia de que houvesse um Marco Felicianov na Rússia do século XIX. Só houve sofrimento, pois. Read More

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Quando tudo está certo, mas a música é ruim

Não, não adianta. Nunca vou conseguir suportar a pianística de Rachmaninoff. Ontem,  com a OSPA, assisti a Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, Op. 43, para Piano Hero e Orquestra. Céus, que música chata! Mas logo haveria algo semelhante: Berlioz.

Rachmaninoff: nem ele se aguenta...

Comecemos pelo Rachmaninoff. O problema não é o de ele ter sido um romântico tardio, mas sim o de fazer música virtuosística vazia para concertos onde era o solista. Rach foi um hábil pianista. Também era grande: tinha 2 metros de altura e uma mão que, aberta, abarcava 30 centímetros. Dizem que era sindrômico, Síndrome de Marfan. Para piorar, ainda compunha temas sobre Paganini, espécie de primeiro rock star que apavorava por sua aparência, virtuosismo e vazio. Ou seja, Rach fazia música difícil para si mesmo. Meu estômago acaba se revoltando, quer ficar vazio também, fico nauseadíssimo e meu humor vai embora. Prefiro suas peças orquestrais como A Ilha dos Mortos e Os Sinos, muito mais interessantes e, aliás, as preferidas pelo compositor em momentos mais razoáveis. O pianista de ontem, Sergio Monteiro, era pequeno, mas se houve muito bem nas peripécias.

Berlioz não precisava de guarda-chuva

Depois tivemos Berlioz e sua Sinfonia Fantástica, Episódio da Vida de um Artista. Uma hora de duração! Uma sinfonia programática, romântica até o último fio, de autoria de alguém que conhece as potencialidades de uma orquestra. Sinfonia difícil, mas breguinha como só ela.

Claro, o problema é meu. A plateia estava contente, apesar de ter ouvido uma crítica pesada a Berlioz de um casal que desceu as escadas da Reitoria na minha frente: “Que música de merda!”. A orquestra esteve muito bem, parecia feliz e animada. O regente Shinik Hahm é ótimo e sabe se portar: recebe os aplausos junto com os músicos, abandonando o estrado, ou seja, colocando-se ao nível deles sem nenhum Complexo de deus. Mas espero ter largado de vez tanto o pianismo de Rachmaninov quanto o romantismo de Berlioz por completo. Detesto-os desde a infância com meu pai. Não tenho mais idade para perder tempo com bobagens.

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