Pequenas férias na pequena e aprazível Salvador do Sul

Pequenas férias na pequena e aprazível Salvador do Sul

No final de junho, fiz uma consulta aos meus “amigos” do Facebook. Queria saber onde poderia ir um casal em dez dias de férias no inverno. Desejávamos um local bonito, tranquilo, onde pudéssemos dar longas caminhadas, ler bastante e estudar um pouco. Porque, falando apenas de mim, a primeira metade deste 2016 foi uma loucura para quem trabalha nesse negócio de jornalismo. Outro de meus pedidos era que não fosse muito caro, pois pretendo visitar meu filho na Alemanha em janeiro e duas férias dispendiosas seria uma demasia.

Recebi mais de 90 sugestões nos comentários e inbox. Algumas delas sensacionais, principalmente uma do interior paulista, mas a opinião do Marcos Abreu logo me deixou encasquetado. Ele disse que o local perfeito seria Salvador do Sul, e deu o nome do hotel que eu deveria procurar, um certo Candeeiro da Serra. Conheço mais ou menos o Marcos. Engenheiro de som — uma referência na área –, ele é uma pessoa de fino trato e bom gosto musical, e… sei que também ama o silêncio em circunstâncias não musicais. A indicação tinha tudo para ser quente. Sem perguntar muito, procurei fotos do hotel na rede.

Lá em cima, bem no alto, o Candeeiro da Serra | Foto: Milton Ribeiro
Lá em cima, bem no alto, o Candeeiro da Serra | Foto: Milton Ribeiro

O Candeeiro fica no ponto mais alto da cidade, os escritores do passado diriam que ele “domina a cidade”. Liguei para o hotel e a diária ficou dentro do orçamento. O local ofereceria café da manhã, o qual mostrou-se excelente, além de garantir respeito à alergia ao leite da Elena. As outras refeições faríamos lá embaixo, na cidade. Às vezes, o Candeeiro oferece jantar. Salvador tem apenas 7 mil habitantes, então não há uma vasta oferta de restaurantes. Mas nos apaixonamos pela “comida da vovó” oferecida pelo tradicional Apolo XII. Só pelo nome já dá para ver que é  um local aberto há de mais de 45 anos. Mas estou escrevendo muito desorganizadamente.

Quando liguei de Porto Alegre para o Alex Steffen, responsável pelo Candeeiro, ele me ofereceu quarto com ou sem vista. Os últimos são um pouco mais baratos. Se um de meus sete leitores vier para cá, deixo um recado bem claro: peça com vista! Desta forma, você terá a melhor paisagem de Salvador do Sul, com a cidade abaixo e o belo Colégio Santo Inácio encravado no morro à esquerda.

O Colégio Santo Inácio visto da janela de nosso hotel | Foto: Milton Ribeiro
O Colégio Santo Inácio visto da janela de nosso hotel | Foto: Milton Ribeiro

Ao chegarmos, logo lembrei dos corredores do hotel de O Iluminado. Não são em curva, mas são longos e adequados a triciclos infantis. Assim como o hotel onde Jack Nicholson enlouqueceu, o Candeeiro estava quase vazio. Coisas da crise.

Todos os quartos têm dois ambientes. Uma salinha de entrada e um quarto de dormir bastante amplo, mais o banheiro e, no nosso caso, uma sacadinha. Eu e a Elena somos assim: no primeiro dia achamos tudo mais ou menos, no segundo paramos de reclamar e no terceiro nos apaixonamos. Estamos aqui desde quinta-feira (28/7). Ganhamos alguns quilos e estamos perfeitamente felizes, cumprindo todo o planejado. Não é que não esteja preocupado com a paralisação da segurança pública no estado, mas aqui em Salvador não há crimes. É um outro mundo a 100 Km de Porto Alegre.

Salvador é toda bonitinha, as pessoas tratam os forasteiros com cortesia logo no primeiro diálogo, cumprimentando-nos efusivamente como se fôssemos um milagre brotado da terra. Assim, nosso estresse vai desaparecendo até virar uma vaga lembrança.

Nosso quarto é é o do segundo andar, no final do prédio. | Foto: Milton Ribeiro
Nosso quarto é o do segundo andar, no final do prédio. | Foto: Milton Ribeiro

Como não usamos carro, nosso meio de transporte são os tênis que nos levam para cima e para baixo nas íngremes ladeiras da cidade. É um exercício físico considerável. Numa noite, vi o único carro de polícia de Salvador subir o morro que leva ao hotel. Com receio de algum rolo qualquer, não quis subir a pé e chamei um táxi. Quando cheguei na recepção, todos riram de minha porto-alegrice, pois a cidade é praticamente livre de crimes e o homem devia estar pegando reforço em razão de uma briga de bar, o fato mais grave que costuma acontecer por aqui. Os policiais moram na subida do morro…

Curiosamente, Alex Steffen, responsável pelo hotel, também é jornalista, proprietário do jornal Qtal e marido da prefeita Carla Specht. O cara é muito atencioso e super bom papo. Creio que, pela primeira vez em minha vida, comi um jantar preparado por uma prefeita em exercício.

Hoje, o programa foi tentar ir até o Colégio Santo Inácio por uma trilha, mas não deu muito certo. Depois de cruzar várias cercas de arame farpado, decidimos pelo asfalto. É mais normal.

Elena entusiasmada com a trilha. Doce ilusão | Foto: Milton Ribeiro
Elena entusiasmada com a trilha. Doce ilusão | Foto: Milton Ribeiro

Para finalizar, uma curiosidade. A cidade não tem uma rodoviária, apenas uma parada. Aliás, tinha uma, mas fechou em razão de não satisfazer as exigências mínimas do DAER. Este quer que as rodoviárias tenham seis banheiros — dois femininos, dois masculinos e dois especiais –, praça de alimentação, funcionamento 24h, etc. Digam-me para que uma cidade de 7 mil habitantes teria toda esta estrutura? Então a gente chega na cidade e é despejado no meio da rua. Ah, DAER…

Um bairro da cidade, visto do nosso quarto | Foto: Milton Ribeiro
Um bairro da cidade, visto do nosso quarto | Foto: Milton Ribeiro

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Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Se há uma coisa ruim em Paris é o metrô. Afirmo-lhes que, além de sujo, trata-se de um insulto aos daltônicos. Não sou nenhum macho-alfa, apenas acho que me oriento um pouco melhor que a Elena, mas lá tinha que deixar tudo para ela, tudo o que conseguia fazer era tatear cegamente no esquema padrão das linhas. Um dia, quando fomos para o Museu d`Orsay, por culpa minha acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes. Ou seja, era tudo com a Elena. Problema nenhum, mas e se eu estivesse sozinho? Em Londres, Roma, Rio e São Paulo há respeito conosco. Em Paris, não. São 14 linhas em estilo impressionista. Vão se fuder!

Clique na imagem para ver melhor o absurdo
Clique na imagem para ver melhor o absurdo

Então foi a Elena quem me levou até o hotel onde estavam hospedados a Liana e o Alexandre. Levou com competência, porém, quando chegamos na portaria do hotel não havia nenhum Alexandre Constantino nem nenhuma Liana Bozzetto na lista. O porteiro do Hotel Saint-Germain nos olhou com cara de quem estava vendo um casal de comediantes. (Numa cidade daquelas, eles não pensam num casal de assaltantes de hotéis, pensam em babaquice mesmo). Devíamos ser ainda mais engraçados por estarmos sem celular, desconectados do mundo. Perguntamos pelos brasileiros hospedados e o cara deu uma risada deliciosamente inconclusiva, respondendo que o hotel estava cheio de nossos conterrâneos, que a cidade e o mundo estava cheio deles. Olhei a lista de cima a baixo e nada. Vi quem tinha feito check-out naquele dia. Nada de Constantino, nada de Bozzetto. Mas eles tinham que estar ali. No dia anterior eles tinham sumido ali dentro. Foi quando vimos o Alexandre descendo calmamente as escadas. Porra, era ele mesmo. Com a tranquilidade habitual, ele me disse que devia estar registrado com algum de seus inúmeros nomes, pois, como um verdadeiro membro de nossa família imperial, nascera Alexandre Nogueira de Castro Constantino! Ah, voilá, c`est Monsieur Nogueirrá! E subimos com o Nogueirrá.

Nosso objetivo era o bebermos um dos vinhos franceses que compráramos, acompanhado da comida que eles tinham acumulado. (Em verdade vos digo, somos exagerados e gordos, levamos comida também…). E, como eles voltariam para o Brasil no dia seguinte, a ordem era vandalizar. Abaixo, nossa mesa antes de virem as coisas da geladeira.

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E comemos e bebemos e conversamos por horas. Era salmão pra cá, pão pra lá, pasta acolá, camarões alhures, vinho sob a cadeira e água aquecendo na mesa para o chá, tudo ao mesmo tempo. Primeiro falamos de coisas tristes, mas depois, sob a influência de baco…

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… ficamos mais alegres. Contamos sem maldade cada uma das últimas sacanagens que sofrêramos e sobre algumas iniquidades, também falamos sobre assuntos muito sérios e irreversíveis. Mas o vinho… A Elena contou que a escolha do vinho fora por ter sido produzido no mesmo ano em que seu filho nascera (hã?) e eu lembro que contei algumas de minhas histórias loucas. Mas nada pode comparar-se ao cartaz que vimos na estação de metrô onde pegamos o trem de volta. Pô, 20 cm de prazer? Mesmo sendo uns 20 placide, tô fora.

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Paris, 24 de fevereiro: depois do erro, puro turismo (I)

Paris, 24 de fevereiro: depois do erro, puro turismo (I)

Eu não sou uma pessoa tão pouco informada a ponto de ignorar que os museus não ingleses costumam fechar às segundas-feiras. Só que estávamos em meio a uma viagem, estávamos muy contentos e amorosos e não pensamos que estávamos indo para o Museu Rodin numa segunda-feira. Estava pra lá de fermé e ficamos num café ali ao lado, resolvendo para onde ir.

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E voltamos a nossa vida de flâneurs das avenidas, dos parques, das galerias, dos cafés. Mas há flâneurs estúpidos e inteligentes. Nesta dia, escolhemos a primeira opção. Já que Rodin nos sacaneara, nada de museus, nada de livrarias, iríamos abandonar a vida cultural neste 24 de fevereiro.

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E fomos flanando até a Torre Eiffel.

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Tirando fotos.

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Inúmeras fotos.

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Tentei imitar Hitler, mas ele é muito mais discreto do que eu.

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E fomos nos aproximando da Torre.

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Ficando cada vez mais perto.

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Lembro de algumas de nossas piadas — todas impublicáveis e sem relação com a

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construção a nossa frente.

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Quando saímos de lá, depois de várias voltas, descobri uma coisa que jamais imaginaria: a Elena adora carrosséis.

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Ela ficou doida por esse aí. Enquanto nos aproximávamos, vi surgir uma criança felicíssima ao meu lado. Ela não deu voltas nele, mas me obrigou a tirar várias fotos de todos os ângulos possíveis.

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E dá-lhe carrossel.

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Não nego que era bonito.

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E ela não parava de exigir fotos mais e mais perfeitas… Até que subiu na escadaria quando ele parou.

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Saímos de lá com o espírito infantil e começamos a fazer outra série de fotos, agora brincando com a Torre. Claro que tenho várias com a Elena segurando a Torre por baixo, mas essa é clássica demais. Começamos a brincar com o topo da Torre e qual não foi a nossa surpresa quando vimos

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um monte de turistas nos imitando, tentando pegar a Eiffel por cima. Quando chegáramos, a brincadeira era pegar por baixo. Credo, que gente imitona.

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No início, todos faziam assim, ó.

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A seguir, fomos a pé até o Arco de Triunfo, uma construção enorme e sem graça — só a vista lá de cima é que é legal — e que comprova a visita de Napoleão à cidade natal de Elena. Mohilew (ou Mogilev) é a bonita cidade em que minha namorada nasceu. O baixinho levou até lá seu cavalo branco numa visita pouco apreciada pelos bielorrussos.

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Antes de chegarmos a Arco, tínhamos entrado numa loja na Nespresso com a intenção de usarmos o banheiro, mas só conseguimos provar um café, pois o pessoal da loja é tão fino que aparentemente não faz suas necessidades no local. Pedimos o mais forte e garanto que estava excelente, apesar da bexiga cheia. Como não comíamos desde o café do manhã, escolhemos a dedo um local para fazê-lo da forma mais típica. Entramos numa boulangerie cheia de franceses e não nos arrependemos.

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