Os dez discos que mais me influenciaram

Os dez discos que mais me influenciaram

O Paulo Ben-Hur me convidou para deixar aqui as dez capas dos discos que mais me influenciaram. Só as capas, mas não resisti a fazer comentários. E eles foram crescendo disco a disco…

~ 1 ~

Bem, eu era uma criança quando minha irmã Iracema Gonçalves, em 1965, trouxe isso aqui pra casa. Eu certamente ouvi este disco mais de 500 vezes na minha vida — talvez mais de 1000 — e até hoje meu coração bate mais forte vendo a agulha com o disco girando antes de Harrison iniciar aquele solo de guitarra.

~ 2 ~

O segundo disco que mais me influenciou vem também lá da infância. A eletrola do meu pai ficava, por motivos difíceis de entender, no meu quarto. E ele ouvia muita música. Muita mesmo. Como eu, hoje, ele podia passar horas e horas ouvindo discos, um bem diferente do outro, o que deixava minha mãe louca.

Este era especial porque ele dizia que era algo diferente. Mas como eu saberia que era diferente se não conhecia nada? E ele, que era dentista e pianista amador, me explicava as harmonias, o violão, a batida, a forma de cantar… De tal forma que este é um LP que faz parte de mim. Veio pré-instalado no meu cérebro, o que jamais me incomodou.

E hoje eu sei que ele é absolutamente genial e revolucionário.

~ 3 ~

Esta é uma capa famosa, inspiradora de memes. Meu pai comprou o disco no ano de lançamento, em 1966, e ele rodava sem parar na nossa eletrola. Conheço cada acorde e verso dele.

É o LP de estreia deste cidadão muito admirado. Ouço este disco até hoje com enorme prazer.

~ 4 ~

O quarto disco é o primeiro erudito que comprei em minha vida. Era uma gravação pioneira em instrumentos originais, ainda com um jeitinho romântico, mas já com o som delicado e afinadíssimo que amo.

O Collegium Aureum era cheio de craques como Franzjosef Maier, Hans Martin Linde e Gustav Leonhardt.

Dias antes de comprá -lo, tinha saído do banho molhado, enrolado numa toalha, para perguntar a meu pai que maravilha era aquela que ele estava ouvindo. Era o Concerto de Brandenburgo N° 3 tocado com instrumentos modernos.

Então, dias depois, encontrei a minha maravilha na King’s Discos. Ele também ficou babando.

~ 5 ~

Eu era um adolescente que estava descobrindo Bach quando comprei este disco de Thurston Dart (1921-1971) interpretando as Suítes Francesas de Bach no clavicórdio. Estas Suítes foram escritas para cravo ou clavicórdio, tanto faz.

Eu não sabia, mas Dart não era qualquer um, tanto que foi professor de gente como Michael Nyman, Davitt Moroney, Sir John Eliot Gardiner e Christopher Hogwood. Era um disco estupendo comprado na sorte por um ignorante.

O clavicórdio é um instrumento de teclado onde as cordas são percutidas como as do piano, e não pinçadas como as do cravo. Seu som é o mais leve e intimista dentre os três e as Suítes Francesas de Dart me pareceram a coisa mais próxima a um sussurro que já tinha ouvido. Mas era um sussurro muito belo, engenhoso e astuto.

Na Inglaterra, Dart é o padroeiro dos estudos de interpretação histórica. Toda a geração seguinte reverencia seu nome, e vários livros de interpretação histórica dividem esta área do conhecimento musical entre antes e depois de Thurston Dart. Parece que era uma pessoa realmente inspiradora.

Ouço este LP até hoje com enorme prazer.

~ 6 ~

Esse influenciou mesmo. Foi o disco que abriu as portas da música erudita do século XX para mim.

Quem me levou até Bartók foi Erico Verissimo lá nos anos 70. Num de seus livros — creio que se trata de O Senhor Embaixador –, um personagem diz que os Quartetos de Bartók davam-lhe uma representação tão vívida da Europa nos períodos das Guerras Mundiais que lhe era insuportável ouvi-los.

Como sabia de entrevistas que Erico amava os Quartetos de Bartók, aquilo foi a senha definitiva para que eu os procurasse. Perguntei para o amigo Herbert Caro que gravação deveria comprar e ele respondeu que eu deveria ouvir a do Quarteto Végh. Bem, teria que importar e o fiz. Eram 3 LPs da Astrée Auvidis. Me custaram os olhos da cara e aquela pessoa que SABEMOS QUEM É sumiu com o trio de LPs nos anos 90.

Só que o mundo abriga amigos e amigos e é comum acontecerem coisa mágicas. Há uns 5 anos, o Norberto Flach me ofereceu a gravação do Végh para ouvir. Essa mesmo, a de 1972, a que eu tinha. Eu jamais tinha falado pra ele do roubo nem nada, ele só chegou e colocou num e-mail: “Queres?”. Imaginem o que respondi.

~ 7 ~

Depois eu fui tomado de assalto por Schubert, o homem que conseguia fazer a poesia cantar e a música falar. Poderia colocar aqui o LP de A Morte e a Donzela, ou um de Sonatas (Pollini ou Brendel), ou o Winterreise com Fischer-Dieskau, ou a Fantasia Wanderer (com Pollini, novamente), quem sabe os dois últimos quartetos com o Allegri ou A truta, mas acho que ouvi muito mais este Quinteto que chamava de Quintetão.

É uma peça bastante longa e foi a última composição de câmara de Franz Schubert. Às vezes é chamado de “Quinteto para violoncelo” porque foi escrito para um quarteto de cordas padrão mais um violoncelo extra em vez de duas violas, como é mais comum em quintetos de cordas convencionais. Foi composta em 1828 e concluída dois meses antes da morte do compositor.

O incrível é que a primeira apresentação pública da peça só ocorreu em 1850 e a publicação em 1853.

Vale a pena ouvir mil vezes. O Adágio é algo sobrenatural com suas duas seções externas muito lentas e uma parte central turbulenta.

Sem exageros, penso que quem não conhece esta música ainda não viveu. Simples assim.

~ 8 ~

Uma capa ridícula, um disco de uma gravadora desconhecida em 1982, mas eu queria conhecer a tal Sinfonia Concertante de Mozart. E tive uma surpresa.

Sim, há ‘Don Giovanni’, ‘A Flauta Mágica’, os Concertos para Piano de números mais altos, a Júpiter, a 40, o Concerto para Clarinete, o Divertimento K. 287, é tanta obra-prima que nem sei, etc., porém, dentre os sei lá quantos CDs de Mozart de minha discoteca, escolho esta despretensiosa gravação da Bis sueca. É a que mais gosto, é endorfina pura, me deixa feliz. E nem é pelo extraordinário Concerto para Piano, é muito antes pela interpretação da Sinfonia Concertante para Violino e Viola K. 364. Para meu gosto torto, é meu melhor CD do mestre de Salzburgo.

Em 1988, Peter Greenaway realizou sua obra-prima ‘Afogando em Números’ utilizando o Andante da Sinfonia Concertante, o qual é executado longamente durante as cenas de assassinatos de maridos pelas Cissies do filme. Certamente, Mozart nunca imaginaria tal utilização, mas ficou lindo, perfeito, dentro de um filme virtuosístico tanto pela atuação dos atores como por sua beleza plástica.

Mas nosso assunto é Mozart. Prestem atenção ao primeiro movimento da Sinfonia Concertante, atentem ao momento em que violino e viola entram para fazer seu primeiro solo. Se você não sentir arrepios, a pandemia lhe afetou. Dificilmente haverá um mergulho vertiginoso que seja mais belo.

E num ano desses — antes de 2013 –, a Elena, seu ex e o Alexandre Constantino me deram de presente uma interpretação do Andante da Concertante na casa onde eu morava. Fiquei pasmo.

Este disco está no PQP Bach.

~ 9 ~

Tenho que colocar aqui meu querido Shostakovich. E uma audição da 10ª Sinfonia me deixou tão, digamos, fora de mim, que eu escrevi uma carta para a Rádio da Ufrgs pedindo que eles repetissem a Sinfonia no programa Atendendo o Ouvinte.

Fui atendido e fiquei deitado no sofá de casa tentando entender porque aquilo me contava uma história e qual seria exatamente ela. Pois eu sentia que algo de muito grave estava sendo contado.

Este monumento da arte contemporânea mistura música absoluta, intensidade trágica, humor, ódio mortal, tranquilidade bucólica e paródia. Tem, ademais, uma história bastante particular.

Que é, resumidamente, esta:

Em março de 1953, quando da morte de Stálin, Shostakovich estava proibido de estrear novas obras e a execução das já publicadas estava sob censura, necessitando autorizações especiais para serem apresentadas. Tais autorizações eram, normalmente, negadas. Foi o período em que Shostakovich dedicou-se à música de câmara e a maior prova disto é a distância de oito anos que separa a nona sinfonia desta décima. Esta sinfonia, provavelmente escrita durante o período de censura, além de seus méritos musicais indiscutíveis, é considerada uma vingança contra Stálin.

Primeiramente, ela parece inteiramente desligada de quaisquer dogmas estabelecidos pelo realismo socialista da época. Para afastar-se ainda mais, seu segundo movimento – um estranho no ninho, em completo contraste com o restante da obra – contém exatamente as ousadias sinfônicas que deixaram Shostakovich mal com o regime stalinista.

Não são poucos os comentaristas consideram ser este movimento uma descrição musical de Stálin: breve, absolutamente violento e brutal, enfurecido mesmo. Sua oposição ao restante da obra faz-nos pensar em alguma segunda intenção do compositor. Para completar o estranhamento, o movimento seguinte é pastoral e tranquilo, contendo o maior enigma musical do mestre: a orquestra para, dando espaço para a trompa executar o famoso tema baseado nas notas DSCH (ré, mi bemol, dó e si, em notação alemã) que é assinatura musical de Dmitri SCHostakovich, em grafia alemã.

Para identificá-la, ouça o tema executado a capela pela trompa. Ele é repetido quatro vezes. Ouvindo a sinfonia, chega-nos sempre a certeza de que Shostakovich está dizendo insistentemente: Stalin está morto, Shostakovich, não. O mais notável da décima é o tratamento magistral em torno de temas que se transfiguram constantemente.

Crianças, não ouçam o segundo movimento previamente irritados. Você e sua companhia poderão se machucar.

Ah, e quem eu ouvia? Ora, a Filarmônica de Leningrado sob Mravinsky, que foi o maestro que estreou a obra.

~ 10 ~

Esta é uma gravação que ouvi lá na virada do século e que, para mim, é a melhor desta obra-prima de Bach. Talvez seja a música que mais amo de todas. Sim, muita gente a gravou, os adversários são fortíssimos, mas nada se lhe compara ao que fez Pierre Hantaï. Confiram!

Eu nunca tive insônia. Talvez, em razão de alguma dor ou febre, não tenha dormido repousadamente apenas uns dez dias em minha vida. Não é exagero. Quando me deprimo, durmo mais ainda e acordar é ruim, péssimo. O sono é meu refúgio natural. Mas há pessoas que reclamam (muito) da insônia. Saul Bellow escreveu que ela o teria deixado culto, mas que preferiria ser inculto e ter dormido todas as noites — discordo do grande Bellow, acho que ele deveria ter ficado sempre acordado, escrevendo, vivendo e escrevendo para nós. Também poucos viram Marlene Dietrich adormecida. Kafka era outro, qualquer barulho impedia seu descanso, devia pensar no pai e passava suas noites acordado, amanhecendo daquele jeito após sonhos agitados… Groucho Marx, imaginem, era insone, assim como Alexandre Dumas e Mark Twain. Marilyn Monroe e Van Gogh também sofriam muito.

O Conde Keyserling sofria de insônia e desejava tornar suas noites mais agradáveis. Ele encomendou a Bach, Johann Sebastian Bach, algumas peças que o divertissem durante a noite. Como sempre, Bach fez seu melhor. Pensando que o Conde se apaziguaria com uma obra tranquila e de base harmônica invariável, escreveu uma longa peça formada de uma ária inicial, seguida de trinta variações e finalizada pela repetição da ária. ‘Quod erat demonstrandum’. A recuperação do Conde foi espantosa, tanto que ele chamava a obra de “minhas variações” e, depois de pagar o combinado a Bach, deu-lhe um presente adicional: um cálice de ouro contendo mais cem luíses, também de ouro. Era algo que só receberia um príncipe candidato à mão de uma filha encalhada.

O Conde tinha a seu serviço um menino de quinze anos chamado Johann Gottlieb Goldberg. Goldberg era o melhor aluno de Bach. Foi descrito como “um rapaz esquisito, melancólico e obstinado” que, ao tocar, “escolhia de propósito as peças mais difíceis”. Perfeito! Goldberg era enorme e suas mãos tinham grande abertura. O menino era uma lenda como intérprete e o esperto Conde logo o contratou para acompanhá-lo não somente em sua residência em Dresden como em suas viagens a São Petersburgo, Varsóvia e Postdam. (Esqueci de dizer que o Conde Keyserling era diplomata). Bach, sabendo o intérprete que teria, não facilitou em nada. As Variações Goldberg, apesar de nada agitadas, são, para gáudio do homenageado, dificílimas. Nelas, as dificuldades técnicas e a erudição estão curiosamente associadas ao lúdico, mas podemos inverter de várias formas a frase. Dará no mesmo.

O nome da obra — Variações Goldberg, BWV 988 — é estranho, pois pela primeira vez o homenageado não é quem encomendou a obra, mas seu primeiro intérprete.

Não posso distribuir cálices de ouro por aí, mas talvez devesse dar alguma coisa a Pierre Hantaï, o maior intérprete da obra.

Fotos do aniversário: Sequência VI

Fotos do aniversário: Sequência VI

Fotos: Augusto Maurer

Nem só de conversas sobre política ou práticas sexuais adolescentes foi a mesa. Havia também o amor. Na mesa abaixo, o Augusto sacaneou o Alexandre Constantino, que tem um olhar mais inteligente e vivo do que o demonstrado. Fez melhor com a Liana, que está encantada com o neto Pedro Arthur, prestes a ver o mundo para poder enfim gritar “Fora Temer”. Mas quis mesmo dedicar-se aos jovens.

Liana AlexE começou a tirar fotos do Santiago Ortiz, importado da Colômbia, com sua namorada Lizaveta Romanov, filha da Elena.

Liza Santiago 01 (2)Tirou tantas fotos deles que vocês nem imaginam.

Liza Santiago 01Ele não parava.

Liza Santiago 02O Santiago é apenas passável mas a Liza é linda, né?

Festa de aniversário da Elena e do Augusto (com fotos)

Festa de aniversário da Elena e do Augusto (com fotos)

No último sábado, tivemos um baita festerê na casa da Astrid e do Augusto. O pretexto eram os aniversários da Elena (19 de maio) e do Augusto (23), ao qual veio se juntar o Valter (22). Vi o anfitrião tirar fotos das comidas, coisa que não fiz. O que fiz foi comê-las, fato que me impediu de voltar à mesa antes das 22h de ontem, domingo. Sim, até Pantagruel tem que dar um tempo.

E céus, como fomos bem recebidos e como a comida estava boa! O que eram aquelas tapas? E o caldo de camarão? E a torta? Pessoalmente, agradeço a generosidade da Astrid e do Augusto. Eles mostraram que receber e cozinhar é um ato de amar os outros, como diz, penso, Mia Couto. Abaixo, algumas fotos das pessoas que participaram da orgia gastronômica. Mas, antes, uma …

Observação importante: Faltaram fotos das duplas de irmãos Pedro e Arthur, Miguel e Enzo. Os dois primeiros são filhos do Augusto com sua ex e a outra dupla é assim: Miguel é filho da Nikelen e do Farinatti, enquanto que o Enzo surgiu da Cláudia e do Dario (rimou!). Porém eles, no meio da festa, declararam-se espontaneamente irmãos de coração. Deste modo, este blog, não obstante a ausência de pais em comum, passa a considerá-los irmãos. Eu tenho grande e especial amizade com os filhos do Augusto, mas acho que já passou o tempo em que eu lhes ensinava sacanagens. Agora são eles que devem me tomar como aluno.

Bernardo entedia as moças  contando coisas sobre a página 23 da Superinteressante.
Bernardo visivelmente entedia as moças. Deve estar contando alguma coisa sobre ciência ou a respeito de um japonês serial killer.
Ah, elas (e ele) viram o fotógrafo legal!
Ah, elas (e ele) viram o fotógrafo legal!
Elena manifesta sua indignação pela falta de comida na festa. Liana já abriu da disputa, literalmente, das tapas.
Elena manifesta sua indignação pela falta de comida na festa. Liana já abriu mão da disputa pelas tapas.
Elena e Liana suportam a cantoria desafinada de Nikelen e Rovena.
Elena e Liana suportam com dificuldades a cantoria desafinada de Nikelen e Rovena. Elas procuraram o tom até o final da festa. São leitoras de Bulgákov, certamente.
Corredor polonês formado por Alexandre Constantino, Philip Gastal Mayer e pelo casal Kitty e Marcelo Piraíno. Renate Kollarz está preocupada em passar rapidamente, claro.
Corredor polonês formado por Alexandre Constantino, Philip Gastal Mayer e pelo casal Kitty e Marcelo Piraíno. Renate Kollarz está preocupada em passar rapidamente sem deixar cair seu prato.
Conheci Ricardo Branco em 1976, o Dario em 1984 e a Cláudia Guglieri ali por 2008 (?)
Constatação chocante: conheço o Branco há 38 anos — e, pasmem, conheci-o na universidade –, o Dario há 30, mas a Cláudia Guglieri veio muito depois. Também pudera, ela é muito mais jovem.
Sintam a elegância dos primos. Com Robson Pereira, Augusto Maurer e Lúcia Serrano.
Sintam a elegância dos primos. Com Robson Pereira, Augusto Maurer e Lúcia Serrano. A echarpe do Robson provocou suspiros.
Mais um casal: Renate Kolarz e Valter.
Mais um casal: Renate e Valter Souza.
Renate dá uma fugidinha com Phil.
Renate dá uma fugidinha com Phil.
Olha só que amor! Kitty e Marcelo posam para nossas câmaras.
Olha só que amor! Kitty — Cristina Bertoni dos Santos — e Marcelo posam para nossa câmera fora de foco.

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Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Paris, 24 de fevereiro: a visita aos amigos (II)

Se há uma coisa ruim em Paris é o metrô. Afirmo-lhes que, além de sujo, trata-se de um insulto aos daltônicos. Não sou nenhum macho-alfa, apenas acho que me oriento um pouco melhor que a Elena, mas lá tinha que deixar tudo para ela, tudo o que conseguia fazer era tatear cegamente no esquema padrão das linhas. Um dia, quando fomos para o Museu d`Orsay, por culpa minha acabamos numa cidadezinha da periferia chamada Juvisy-sur-Orge, a 19 Km de Paris. O esquema do metrô tem cor-de-rosa, violeta, vários tons de verde, lilás, púrpura e outras cores sabidamente inexistentes. Ou seja, era tudo com a Elena. Problema nenhum, mas e se eu estivesse sozinho? Em Londres, Roma, Rio e São Paulo há respeito conosco. Em Paris, não. São 14 linhas em estilo impressionista. Vão se fuder!

Clique na imagem para ver melhor o absurdo
Clique na imagem para ver melhor o absurdo

Então foi a Elena quem me levou até o hotel onde estavam hospedados a Liana e o Alexandre. Levou com competência, porém, quando chegamos na portaria do hotel não havia nenhum Alexandre Constantino nem nenhuma Liana Bozzetto na lista. O porteiro do Hotel Saint-Germain nos olhou com cara de quem estava vendo um casal de comediantes. (Numa cidade daquelas, eles não pensam num casal de assaltantes de hotéis, pensam em babaquice mesmo). Devíamos ser ainda mais engraçados por estarmos sem celular, desconectados do mundo. Perguntamos pelos brasileiros hospedados e o cara deu uma risada deliciosamente inconclusiva, respondendo que o hotel estava cheio de nossos conterrâneos, que a cidade e o mundo estava cheio deles. Olhei a lista de cima a baixo e nada. Vi quem tinha feito check-out naquele dia. Nada de Constantino, nada de Bozzetto. Mas eles tinham que estar ali. No dia anterior eles tinham sumido ali dentro. Foi quando vimos o Alexandre descendo calmamente as escadas. Porra, era ele mesmo. Com a tranquilidade habitual, ele me disse que devia estar registrado com algum de seus inúmeros nomes, pois, como um verdadeiro membro de nossa família imperial, nascera Alexandre Nogueira de Castro Constantino! Ah, voilá, c`est Monsieur Nogueirrá! E subimos com o Nogueirrá.

Nosso objetivo era o bebermos um dos vinhos franceses que compráramos, acompanhado da comida que eles tinham acumulado. (Em verdade vos digo, somos exagerados e gordos, levamos comida também…). E, como eles voltariam para o Brasil no dia seguinte, a ordem era vandalizar. Abaixo, nossa mesa antes de virem as coisas da geladeira.

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E comemos e bebemos e conversamos por horas. Era salmão pra cá, pão pra lá, pasta acolá, camarões alhures, vinho sob a cadeira e água aquecendo na mesa para o chá, tudo ao mesmo tempo. Primeiro falamos de coisas tristes, mas depois, sob a influência de baco…

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… ficamos mais alegres. Contamos sem maldade cada uma das últimas sacanagens que sofrêramos e sobre algumas iniquidades, também falamos sobre assuntos muito sérios e irreversíveis. Mas o vinho… A Elena contou que a escolha do vinho fora por ter sido produzido no mesmo ano em que seu filho nascera (hã?) e eu lembro que contei algumas de minhas histórias loucas. Mas nada pode comparar-se ao cartaz que vimos na estação de metrô onde pegamos o trem de volta. Pô, 20 cm de prazer? Mesmo sendo uns 20 placide, tô fora.

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Paris, 23 de fevereiro: com amigos, caminhando loucamente pela cidade (II)

Paris, 23 de fevereiro: com amigos, caminhando loucamente pela cidade (II)

Neste dia, sobre o qual comecei a falar aqui, Elena e eu nós caminhamos muito. Refazendo nosso trajeto a pé no Google Maps, e considerando que este propõe sempre o caminho mais curto — exatamente o que não tomamos –, chegamos a um total de 11,5 Km, ou 2h28 de caminhada. Mas garanto a meus sete leitores, foi muito mais. Depois dos Jardins de Luxemburgo, atravessamos a cidade até o Palais Garnier na Rue Scribe para encontrar nossos amigos Liana Bozzetto e Alexandre Constantino. Causa certa euforia encontrar queridos amigos fora de nosso habitat. Pensamos em parar num café, mas começamos a caminhar, a conversar, a caminhar, a conversar e a caminhar juntos. Atravessamos Champs-Élysées, vimos cartões postais, …

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… e mais cartões postais, …

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… paramos para fotos no meio do caminho, …

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… pedimos para um japinha tirar uma registro nosso na frente do Louvre, …

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… pedimos uma segunda foto para garantir, …

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… atravessamos o Sena e acabamos comendo um salmão genial num bistrô à beira do rio. Então, saímos novamente a pé até o hotel de nossos amigos em Montparnasse. Durante a caminhada, eu e Alexandre íamos léguas à frente das meninas. Conversávamos de forma copiosa fazendo um mix de algumas de nossas experiências. Quem conhece o Alexandre, sabe: ele não é um sujeito de jogar palavras fora; é um cara que pensa antes de falar, que se aprofunda nas coisas, que diz não ler muito, mas que cita autores de diversas áreas e tamanhos. É sempre um prazer conversar com ele.

Há cem metros, as meninas vinham nos seguindo. Liana e Elena contavam experiências uma para outra. Elena disse que sua conversa com ela valeu por várias sessões de terapia. Quando eu e Alexandre parávamos para que elas nos alcançassem, elas pareciam diminuir ainda mais a velocidade. Aquele avanço até Montparnasse era efetivamente meio louco — havia prazer em conversar com o Alexandre e culpa pela nossa velocidade alucinada, havia prazer na conversa entre Liana e Elena e algum desejo de privacidade, o que as tornavam lentas. Mas bastava que eu e Alexandre apontássemos nossos narizes para Montparnasse que a correria voltava. Era como se nossa prosa nos obrigasse àquilo.

Mas finalmente chegamos ao hotel deles. O objetivo era o de simplesmente tomar um chá. Foi tudo tão bom que marcamos um jantar para o dia seguinte. O retorno a nosso Tim Hotel foi feito a pé, passando novamente pelos Jardins de Luxemburgo e pelo Panthéon, sempre ignorado.

Paris, 23 de fevereiro: Notre Dame, a sopa Pho da nossa desesperança, Os Jardins de Luxemburgo (I)

Paris, 23 de fevereiro: Notre Dame, a sopa Pho da nossa desesperança, Os Jardins de Luxemburgo (I)

Quando descrevi rapidamente o dia 22, esqueci de dizer que Liana Bozzetto e Alexandre Constantino entraram em contato conosco através do Facebook para nos dizer que estavam na cidade. Combinamos de nos encontrar ao final desta tarde (23), quando eles estivessem saindo da Ópera Nacional de Paris (o Palais Garnier da Rua Scribe). Iniciamos nosso dia fazendo uma caminhada até Notre Dame em pleno domingo pela manhã, dia de missa.

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O fotógrafo Milton Ribeiro insiste em não fotografar a torre por inteiro. Abaixo, os cadeados com juras de amor eterno. Acho uma baixaria este símbolo. Não quero ninguém preso a meu lado, quero alguém que queira estar comigo por sua e por minha vontade.

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A fachada principal, …

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detalhes da mesma, …

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e, pronto, entramos!

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Algo de mágico ocorreu lá dentro da Catedral de Notre Dame. Estávamos caminhando dentro dela (ia começar a missa e o silêncio era completo, a não ser pelos passos e as máquinas fotográficas dos turistas que caminhavam pelas laterais da nave enquanto uma fila de padres com seus turíbulos preparava-se para ir até o altar), quando subitamente o órgão atacou acordes dissonantes e apocalípticos, nada harmônicos.

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Era uma peça de Messiaen que dava início à missa e que mais parecia uma acusação aos homens. Foi lindo e assustador. Estávamos ouvindo música moderna num edifício que fora construído entre os anos de 1163 e 1345. A cultura francesa nos proporcionava aquele momento arrepiante, aquela poderosa e inesperada união entre passado e presente.

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Eu e Elena Romanov ficamos dando voltas até o final da peça. Aliás, ficamos ainda depois por ali. Afinal, a coisa podia voltar. Não voltou, mas que maravilha ouvir uma obra daquelas — com aquele poder — em seu habitat. Ah, querem saber o que ouvimos? Soava mais ou menos assim.

Bem, já que o dia lá fora era belíssimo, resolvemos sair de Notre Dame…

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em direção aos Jardins de Luxemburgo. No meio da caminhada pela cidade, além de vermos alguns cartões postais naturais, …

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nos deu uma fome do cão. E foi então que cometemos o maior erro de nossa viagem. Na cidade de melhor culinária do mundo e após passarmos batido ao longo da Rue Mouffetard, veio-nos uma fome urgente, desesperadora. Passamos a procurar alguma porta de restaurante que nos abrigasse, mas os mesmos, na segunda magia do dia, simplesmente insistiam em não aparecer. Passamos ao lado do Pantheon se nem olhar para ele e acabamos entrando num restaurante vietnamita. Sim, vagando no pleno mar da culinária francesa, atracamos numa porra duma ilha vietnamita. E, ali dentro, completamos a tragédia. Pedimos a terrível, implacável, horrorosa e intragável Sopa Pho.

Sopa phoO gosto que a porcaria acima tem é complicado. Sentimo-nos deglutindo comida de astronauta em pleno paraíso. Todas as pessoas são felizes em Paris, à exceção de quem comeu sopa Pho no almoço. Uma água quente é jogada sobre finas fatias de carne. A fantasia é a de que, deste modo, a carne cozinhará. Na verdade, a água fervendo lava a carne, deixando-a clarinha. Em seguida, acrescenta-se manjericão, coentro, broto de feijão e pedaços de limão. Uma iguaria que só pode ser fruída adequadamente se estivermos entre napalms e bombardeios aéreos norte-americanos. Eu olhava para a Elena e ela olhava para mim. Difícil saber a quem culpar. Gosto dela, ela gosta de mim, se não somos jovens, somos um casal jovem, que não vai discutir idiotices. A Elena jogava temperos para todos os lados, tentando melhorar a coisa. Vendo que eu estava derrotado, ela falou que era nutritivo. Rimos sem graça.

Afinal, era uma atitude dantesca aquele negócio de atravessar o mar para comer uma merda daquelas. Saímos de lá loucos por comida de verdade, mas impossibilitados de qualquer coisa, pois estávamos enjoados, com receio de rever a sopa Pho a qualquer momento. Vou parar de escrever porque acho que ainda sobrou um pouco de Pho no meu estômago. Volto a sentir o gosto daquela nojeira.

Mas os Jardins de Luxemburgo estavam ali ao lado.

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Festim Diabólico CCXIV

(Por isso é que mantenho a categoria “Amigos, tudo”).

Acho que ainda não chegamos à edição de nº 214, mas certamente já passamos fácil das 50 edições. Os Festins Diabólicos são as festas aqui de casa, sempre com 20 pessoas para fora. Sábado, foram 36. O motivo do nome do encontro é o filme de Hitchcock, que tinha um baú no meio da sala. Já sabem o que temos no meio da nossa, mas sem um morto dentro, se lembro bem. Ultimamente, após o jantar, quase sempre alguém senta em nosso combalido piano ou pega seu instrumento e a música acontece. São amigos, músicos profissionais, que tocam aqui em casa por pura amizade. Poderiam deixar seus instrumentos e partituras em casa. Poderiam dizer que não estavam a fim, poderiam alegar uma tendinite ou simular um desmaio, qualquer coisa que todo mundo compreenderia, mas não, eles tocam pra nós.

No grupo, há o núcleo duro, os que sempre são convidados. Dentre eles, há gente como a Nikelen e o Guto que viajam incondicionalmente por quatro horas com um filho pequeno e o deixa com a avó num hotel. E viajam mais quatro horas de volta, tudo por quatro horas de festa. É maravilhoso isso. Lamentavelmente, alguns dos habituais participantes acabaram ficando de fora no último sábado porque a casa poderia explodir de tanta gente. Fazer o quê? Bem, os dois últimos Festins foram muito particulares, mas o de ontem foi invulgar para mim. Era meu aniversário e houve algumas manifestações que realmente me tocaram.

A Claudia, minha mulher, sempre faz a comida e a bebida é trazida pelos comensais. A “chef” que fica mais próxima dela é a Astrid. Pois ontem ela veio com um exército de canapés. Dizendo assim, parece pouco. Parece até que ela comprou ali na esquina. Nada disso, ela, que está super estressada com uma série de coisas, fez um por um para quase quarenta pessoas. E eram ab-so-lu-ta-men-te geniais. Assim como os músicos que tocam aqui expressam seu carinho através de seu trabalho, há pessoas que o fazem através da comida. É o caso da Claudia e da Astrid. Agora cheguei a um impasse em meu texto porque sou bom para comer mas péssimo para descrever comida. Talvez consiga algumas fotos depois… Para que meus sete leitores tenham uma ideia, no dia seguinte, domingo, quando acordou, o meu concunhado Bruno ligou aqui pra casa perguntando se tinha sobrado canapés. Das centenas, tinha sobrado um (1) e a primeira coisa que fiz ao acordar foi zerar a conta. Peço desculpas a ele.

A música. Deve ter sido ideia da Elena Romanov. De repente, logo após o jantar, ela, que é violinista e seu marido, o violista Vladimir Romanov, prepararam as estantes. Até aí, tudo normal. O pianista Alexandre Constantino estava sentado ao meu lado com uma partitura e me informou vou tocar com eles e eu disse que estava ótimo, ora. Tudo normal. Então, o Alexandre juntou-se ao casal e eles começaram o Andante da Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra de Mozart. A Elena sabe de amor que tenho por esta música, protagonista de minha novelinha O Violista. Foi a coisa mais linda e só pensei que aquilo era endereçado a mim quando estavam terminando. Queria até que repetissem… Eles tocaram uma redução onde o acompanhamento é feito pelo piano. Abaixo, o original.

Tchê, foi lindo. Depois o professor doutor Luís Augusto Farinatti, o Guto, fez mais um de seus tradicionais e irresistíveis stand-ups. A Carmen Crochemore me disse hoje que nunca tinha rido tanto. O curioso é que o Farinatti acha que a gente se incomoda com as repetições. Negativo, rapaz.

E depois para terminar. O Marcelo Delacroix deu um show completo aqui em casa com mais dois músicos seus amigos — o Rodrigo Calveyra e Manuel de Olaso. Confesso que tinha pedido pra ele como presente. A afinação, seu bom gosto e senso de estilo são um verdadeiro absurdo e às vezes tenho que olhar para a sala refletindo que recebi tudo o que ele desempenhou de presente, somado ao Farinatti, ao Mozart do trio e à gastronomia da Astrid e da Claudia. É óbvio que nenhum dos não citados deixam de ser extraordinários; todos são inquilinos de meu ventrículo esquerdo — que é onde o coração bate mais forte (minha irmã me ensinou) — , só que a amizade + a música ou o riso ou a gastronomia tornam tudo mais memorável, não? Ou, melhor dizendo, a amizade mais a arte acaba sendo superior, o que não significa que esta não esteja assentada naquela. Bem, ao menos aqui em casa, sempre está.

A seguir, fotos. Não sei se todos estão nelas, não contei.

Vladimir Romanov e Lia Zanini aguardando o vinho que o Augusto Maurer abre lá atrás.
Astrid Müller e Rovena Marshall: brinde e risadas para alguém fora do quadro.
Augusto Maurer e Marcelo Delacroix em primeira leitura do primeiro.
Meus filhos Bárbara e Bernardo estremecendo a foto.
Os mesmos da foto acima, mas agora absolutamente enfeitiçados pelo Farinatti. Olhem as caras.
Batatas.
Gente falando bobagem, gente ouvindo bobagem. Eu, Dario Bestetti e Luís Augusto Farinatti.
Cadê?
Antônio Castro num impasse: como pegar o garfo? Carmen Crochemore o orienta.
Igor fica aliviado quando Castro logra libertar as mãos. Com Igor Natusch, Bruno Zortea, Nikelen Witter, Farinatti, Carmen, eu e as mãos.
Mãos muito, extremamente bobas. Com Anderson Larentis, Rachel Duarte e Igor.
Claudia Guglieri ensina Vladimir como se bebe o suco.
Credo, como esse cara come (e mente). Nikelen e Farinatti.
Magro de ruim.
Grande momento. Marcelo Delacroix solo.
Uma toca violino, todos tocam piano. Com Elena Romanov, Alexandre Constantino e Liana Bozzetto.
Preparação para o Andante. Com Elena e Vladimir. Adorei.
Credo, se tu soubesses como eu te odeio, Chico Marshall! Com Farinatti , o odioso e Nikelen.
E o impossível acontece. Farinatti para de movimentar os braços.
Sei lá, acho que alguém já bebera um ribeiro de vinho. Com Chico e Astrid.
Aspecto singular da sala dos Antonini Ribeiro.
Todos ouvindo Elena, Vladimir e Alexandre. Em primeiro plano eu a Claudia.
Ah, não. Me sujei de novo! Com Rovena Marshall.
O pé da Bárbara, meu cunhado Sylvio e minha irmã Iracema. Ao fundo, no espelho, o casal Rovena e Chico.
Alexandre, o Cavaleiro das Trevas.
Tão bonita, só que ninguém queria fotografar a Bianca! Lá à direita. Com Claudia Antonini e Bruno.
Apagando a (1) velinha com la Guglieri.

Obs.: Fotos de Liana Bozzetto, Lia Zanini e Augusto Maurer.

Ospa: Drago e Asterix arrasam no dia da assinatura do contrato

Foi um excelente concerto, pena a falta de um café no local, o Auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa. A noite começou com o bom gosto de não haver discursos. Foi uma surpreendente renúncia num dia em que a Ospa tinha assinado o contrato para o repasse das verbas necessárias para a construção de sua Sala Sinfônica. Já houvera discursos pela manhã no Palácio Piratini, claro, mas a gente sabe como alguns políticos gostam de falar e refalar. Acho que o Assis Brasil não aderiu 100% à classe, o que não deixa de ser um raro caso de belo conservadorismo. Outra surpresa foi o grande público. O que não faz um estacionamento próximo, não? Ali na UFRGS a coisa é duríssima para estacionar. Talvez o simples fato de estarmos na frente de uma praça, com todo seu entorno “estacionável”, tenha trazido um grande público. E havia um programa popular, equilibrado e de bom nível, mesmo que eu esteja de saco cheio de ouvir Quadros de uma Exposição.

O solista era o extraordinário Alejandro Drago que… bem… Já tocara o solo introdutório da Tzigane sábado em minha casa. Fazer o quê? E o regente era novamente o uruguaio Federico “Asterix” García Vigil. Ou seja, a margem de erro era mínima.

Alejandro Drago e Alexandre Constantino em Oblivion, de Astor Piazzolla, na minha casa. Te mete!

Não sou nada apaixonado pela Introdução e Rondó Caprichoso, Op. 28 de Camille Saint-Saëns, mas é claro que uma execução convincente mata muitas restrições. Já a Tzigane de Ravel é uma peça espetacular, cheia de virtuosismo, originalidade, liberdade e sensualidade. Se você estava nas redondezas e perdeu este concerto… Olha, só tenho a lamentar. É uma peça de aproximadamente dez minutos, talvez simples para a orquestra, mas o solista Drago e leitura compreensiva de Asterix fizeram toda a diferença. Foi um momento para se guardar bem na memória e confesso que meus olhos ficam marejados com a lembrança das retomadas rítmicas da peça que Ravel escreveu orginalmente para piano e violino, mas que cuja melhor versão é a ouvida ontem. Quem perdeu o concerto… E a entrada era franca, tchê!

Após o intervalo (e ainda sem café), veio Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, na versão orquestral de Ravel. É uma grande e exigente orquestração. A Ospa saiu-se maravilhosamente, com destaque para os metais — não sei o nome do trompetista que arrasou ontem. A obra ficou muito popular a partir dos anos 70, com dois discos best sellers: a versão algo abusiva do grupo de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer e o disco da DG com Karajan e a Filarmônica de Berlim desta mesma versão dos Quadros e com um complemento igualmente matador — o Bolero de Ravel. Foi um dos discos mais vendidos da história da Deutsche Grammophon.

Agora, olhem esta foto e me digam que não é o Asterix:

Federico García Vigil: a alegria do gaulês platino

Prokofiev – Concerto Nº 1 para Piano e Orquestra

O primeiro concerto para piano e orquestra de Prokofiev tem pouco mais de 16 minutos, é belíssimo e extraordinariamente difícil. A forma bem humorada com que Martha Argerich tira de letra as dificuldades nos fazem pensar em algo como um gol de Messi. É uma gravação ao vivo 100% honesta. Quem conhece o concerto de cor sabe que ela come algumas poucas notas, mas francamente, que besteira! O que interessa é a musicalidade, como disse meu amigo Alexandre Constantino. Aliás, é por esta razão que sempre prefiro as gravações ao vivo às de estúdio. Ao vivo, é o músico; em estúdio é a concepção ideal do músico ou, pior, a do produtor. Prefiro o primeiro, sempre. O regente é Alexander Rabinovitch, antigo parceiro de Martha.

(Post escrito logo após uma garrafa de espumante bebida sozinho. Ou seja, pode ter erros. A escolha da obra é perfeita, eu garanto. Vejam até o fim que vale a pena. Martha é uma deusa. Sabem que ela já falou comigo? Pois é…).

Ah, este filme me foi apresentado pelo Luiz Paulo Faccioli.

Mais um Festim Diabólico

Foi a comemoração atrasada do aniversário da Claudia. Vamos a algumas fotos. Fico sempre achando que ficou gente de fora das imagens. E pode ter acontecido, sim.

A comida estava demais… Nunca tinha provado o tal do locro.

Como consequência, houve gente que dormiu em pé (Augusto Maurer e Astrid Müller).

Que dormiu deitada (Heloísa Marshall).

Que chorou (Claudia Antonini com Augusto ao fundo).

Que fez arte (Vladimir Romanov).

Que trouxe arte de presente (escultura trazida pela Caminhante).

Que se dedicou apenas à arte. (Minha experiência mostra que todas as mães têm um pouco de vergonha do que seus filhos são capazes. Besteira pura.). Estrelando Nikelen Witter e Miguel Witter Farinatti.

Que teve os olhos vazados para que não dançassem (Astrid e Caminhante).

Que ficou feliz apesar das trevas (Caminhante com Elena Romanov ao fundo).

Que conversou (muitos).

Que ficou esperando beijo (Claudia e um bobão).

Que não parava de mentir (Milton e Guto “Antes faça mal que vá fora” Farinatti).

Que deixou a gente muito feliz (Vladimir e Elena Romanov). Destaque para os sorridentes Chico e Rovena Marshall.

Que também tocou demais (Alexandre Constantino).

Que comeu pra caralho (Dario Bestetti).

Que riu, ora (Helen Osório). Olhem a hora.

Que disputou sobremesa (Lia Zanini e Marcelo Delacroix).

Intermezzo (ou Serenata de Haydn): ufa, cansei de iniciar frases com quê.

Mais uma foto dos autenticamente queridíssimos Vladi e Elena.

Augusto, Astrid e a Caminhante conversam.

Laura Marshall com a Claudia ao fundo.

Helen e minha irmã Iracema.

Alexandre Constantino dá enorme atenção à Liana Bozzetto.

Laura, Sylvio e Cláudia Guglieri — a última prepara-se para dormir, como sempre.

O presente da Helen era lindo, parecia algo não vivo, sei lá. Cardamomos?

Augusto Maurer, já emburrecido pelos excessos, toma seu chá de boldo com Alexandre Constantino.

A foto de Sóbis

Foi um final de semana totalmente satisfatório com as visitas da Caminhante, da Nikelen e do Farinatti. Houve também um festim diabólico de aniversário, que teve como destaques não apenas o grupo reunido e a excepcional gastronomia, mas o belo e inesperado recital da Elena e do Vladimir Romanov, tocando uma Serenata de Haydn para a aniversariante — as lojas estavam fechadas, então a gente resolveu dar música de presente (obrigado, Elena e Vladimir) — e várias músicas brasileiras em arranjos que nos deixaram (muito) embasbacados. Era a noite do pessoal da música erudita tocar popular. O Alexandre Constantino também sentou-se ao piano para esmerilhar a bossa nova (obrigadíssimo, Alexandre!).

Porém, não adianta. A gente sempre lembra mais daquilo que não gostou. Ou daquilo que gostou menos, porque na história que vou contar há muito de gratidão, amor e respeito. Eu e o Farinatti fomos ao jogo do Inter e eu, com minha boca grande e boba, resolvi me referir antes do jogo ao fato de Gamarra, Fernandão, Iarley, Alex e muitos outros ex-jogadores do Inter terem ido ao Beira-Rio jogar, alguns marcando gols — como todos os citados — , mas sempre demonstrando seus sentimentos à torcida, pois nunca vibraram ao balançar as redes do ex-clube.

Como é característico meu, não pude deixar de dizer: “Os gremistas devem ficar loucos com isso, os caras vêm aqui e demonstram gratidão, coisa raríssima de a gente ver no outro lado”.

Então ontem, no mais importante jogo para o Internacional neste Brasileiro, Rafael Sóbis nos fez o mais doloroso dos gols, o da vitória do Fluminense. Sua reação — para demonstrar a todo o estádio que não vibraria — foi a mais cabal possível. Juntos as mãos como se rezasse, num pedido desajeitado de desculpas (vejam abaixo a foto de Alexandro Auler publicada no Impedimento). Depois, do jogo, confessou que seus filhos foram ao estádio ver papai jogar, ambos com camisas vermelhas. Dizer o quê? Triste consolo para um time de 7 milhões mensais, que joga pouco e que não irá à Libertadores 2012.

Só espero não ter que gostar de tomar gols.

E, após o jogo, Sóbis falou:

— Peço desculpas à torcida. Podem ter certeza de que estou com uma dor enorme no coração por vencer o meu time e distanciá-lo de um objetivo. Queria que esse gol fosse de outro.