Provas do ENEM eram vendidas em pizzaria e outros símbolos

Acordei e estava discutindo tranquilamente com o Cristóvão Feil a respeito do fundamental tema da cobertura das ovelhas. Ele me dizia que eu me confundira e que:

No rebanho de ovinos, se lambuza a barriga do carneiro com pigmento colorido engraxado, gorduroso (como fixador). Se tiver mais de um, marcam-se com cores distintas. Quando alguma ovelha fica “ocilha” (conforme se diz em Viamão), o carneiro (se for do ramo) monta e emprenha (se for “especialista”). Aquela fêmea, já fecundada, fica com o lombo colorido, carimbado e engraxado das partes pudendas do macho. Então, ela é apartada do rebanho, com o objetivo de merecer mais cuidados, alimentação balanceada, observação diária, etc.

Por isso, hay que tener precauciones quando uno mas pícaro ha dito que todavia esta sucio de “graxa” de ovejas. Onde? Nas pudendas ou no lombo?

Era uma troca de e-mails muito pouco séria, pois eu estava admirado com o valor metafórico ou simbólico do fato dos amantes ficarem marcados com a mesma cor denunciadora de seu ato, mesmo sem relacionar os locais das pinturas ao sexo de cada animal, certamente denunciadores de outras preferências.

Enquanto isso, via na TV a mais bela das brasileiras ufanando-se da candidatura do Rio de Janeiro para as Olimpíadas. Um de meus menores problemas é o de amar o Rio de Janeiro. É a cidade quase perfeita, apenas lhe falta as gaúchas. Infelizmente, digo que a média de todas as cariocas que não leem meu blog estão em nível bastante inferior de beleza. Porto Alegre e o interior do estado sempre foi um duro teste para a fidelidade (imaginem que escrevi fodelidade, mas notem que o “o” fica ao lado do “i”, mesmo no seu teclado, maldoso leitor) de quaisquer maridos e a região de Passo Fundo — onde italianos, alemães e bugres moram juntos — é a região do país que apresenta proporcionalmente o maior número de divórcios. Mas tergiverso, penso em mulheres quando tenho que cortar o cabelo e acabo não enveredando pelo caminho planejado de argumentar que o Rio de Janeiro é o maior símbolo do Brasil, com sua beleza e perfeição, riqueza e pobreza, corrupção e desídia; que adoro passear numa cidade onde as pessoas, mesmo os velhos, saem às ruas à noite — enquanto aqui temos apartamentos-asilos –; que adoro as padarias de meus patrícios; que gosto das esquinas com lojas de sucos; que acho os cariocas gentis e filhas da puta. E que, apesar de estar acostumando com mulheres mais belas, gosto muito daquilo e, portanto, torço para o Rio ser a cidade sede das Olimpíadas de 2016, mesmo que nosso prezado Marcos Nunes veja perturbada sua vida de pedestre habitante da cidade. Não preciso falar com ele para saber: posso antecipar que ele é contra o evento e hoje, enquanto tomava café num bar, olhando e sonhando com Renata Vasconcellos (suspiro), dizia, orgulhoso de sua sacrofobia, a seu vizinho, :

— Fodam-se as Olimpíadas. Que vão para outro lugar.

Maior valor simbólico talvez seja o fato da prova do ENEM ter sido vendida numa pizzaria, que fazia a intermediação do negócio. Provavelmente vinha da gráfica do Senado ou da Assembleia gaúcha direto para a pizzaria paulista. Visualizo uma prova colada, dentro de um plástico, sob a caixa de uma telentrega. Pague R$ 500 mil ao motoboy. Sim, porque o Sr. Luciano Rodrigues, proprietário da Donna Pizzaria & Restaurante, estava cotando a prova em R$ 500 mil. Alega que trabalhava para dois sujeitos que teriam a posse das provas. Repórteres viram a dita cuja. A piada é que, entrevistado, declarou que, se voltar a se encontrar com os dois homens, vai avisá-los de que a reportagem da Folha quer falar com eles a fim de saber como foi feito o vazamento das questões. Rodrigues afirmou que não sabe como isso aconteceu, claro.

Para finalizar este post objetivo e focado, informo-lhes que, enquanto via Renata, escrevia para o Cristóvão e pensava no Rio, chegou um e-mail do Sergio Gonçalves com um conteúdo de 1928, uma maravilha — The Lion`s Cage, de Charlie Chaplin:

7 comments / Add your comment below

  1. Milton,
    este negócio das provas é o maior absurdo.
    Sabia que são 20.000 fiscais no Brasil e recebem as provas em casa, dias antes do exame? Abertas.
    Depois do evento, guardam em casa os testes e enviam depois.

    Realmente, ou bolaram um sistema para ser fraudado ou foi planejado por um nematelminto lá no ministério. É para derrubar ministro e a mãe dele.

    Branco

    PS.

    Curiosidade: o ENEM recebeu 20 páginas favoráveis da VEJA. Quem não era a favor dele (os de má fé, claro) chegou a dizer que a revista havia sido “comprada” pelo governo

  2. Estive certa vez Lages, SC, a trabalho (será que alguém faz turismo em Lages?); enquanto jantava com meu pobre clientinho, devorando uma perna de carneiro, o dito cujo me perguntou se já tivera o gosto de embarreirar uma ovelha; cogitei a matéria por dois segundos para descobrir do que se tratava e disse que não, pois no Rio de Janeiro só tínhamos cadelas, e elas são meio ariscas (à parte suas inclinações pelos cachorros, mas Darwin explica isso enquanto Freud não explica nada)… O tipo fez um muxoxo e passou a narrar suas excitantes aventuras ovelhísticas: seus olhos, excitados, esbugalhados, molhados, soltando faíscas. Lembrei-me do canastrão do Gene Wilder no filme do Woody Allen, deve ter coisa aí, mas infelizmente não terei a oportunidade para consumar a experiência, e por isso fico por aqui, doce reminiscência.

    Não é para contrariar (juro!) mas sou a favor das Olimpíadas no Rio, mesmo com toda porca administração, roubalheira e “falta de compreensão do esporte em termos olímpicos e educacionais” dos governantes e governados. Foda-se; ganharemos novas estações de Metrô e trens, melhorias no transporte aeroviário e várias outras obras de saneamento, além de um clima mais alegre durante as festas, enquanto os atletas, como sempre, se drogando e se matando por milésimos de segundo inúteis. Falam do Panamericano e do abandono dos equipamentos, mas algo sempre fica, como a Arena na Barra e o Engenhão, por exemplo, arrendado o último ao Botafogo, o que é mais difícil de entender, mas… E, ora, se Renata Vasconcellos é a favor, estou do lado dela, encima, embaixo, coladinho a ela em pé, na invertida simples ou dupla e outras posições de yoga.

    Evidente que as competições não me interessam nem um pouco. Gosto de futebol e fim, essa coisa de dar saltinhos e corridinhas é coisa de bicho fugindo de predador, na terra ou na água. Jogo de xadrez num campo de cem por setenta, peças móveis, cheiro de grama e bola ao ar, rumando não se sabe com certeza para onde, o barato é esse.

    Já estive no RS; a mulher mais bonita que vi por aí estava no aeroporto, vindo para o Rio… Bah, tá louco, as gaúchas são jecas, e minorias são minorias. Cariocas falam bonito e não que nem caipiras (de todos os sotaques, o gaúcho é, de longe, o mais irritante), são acessíveis e filhas da puta, o que em determinado contexto é ótimo.

    Pulando o ENEM, mas nem tanto, e unindo coisas diferentes, porém afins, uma lembrança: o partido dos liberais alemães atende pela sigla FDP.

  3. Sobre Chaplin

    Espetacular, é claro.

    Me identifiquei de cara: o Carlitos sou eu, a moça é a Nika (minha mulher) e o leão é o Miguel. Igualzinho!

Deixe uma resposta