Delírio dialógico polifônico matinal (após longo e literário telefonema que me impediu de escrever o post)

É? Então vai ver que persigo os polifônicos…

Eu defenderia Thomas Bernhard e Cunningham numa discussão, mas seria capaz de gritar por Virginia Woolf, de me escabelar por Guimarães Rosa, de ir às vias de fato por Melville, de roubar álcool, tabaco e papel para Faulkner, de rolar no chão pelo Mann de Doutor Fausto, de ter uma convulsão por Joyce, outra por Dostoiévski, de matar e roubar por Juliette Binoche, Emmanuelle Béart, Irène Jacob ou Cécile de France e faria minuciosamente TUDO O QUE ACABO DE CITAR por Tchékov, cujas peças te mostrariam, te mostraram ou te mostrarão grandes diálogos.

Diálogos? Ih, esqueci Shakespeare e… Deixa assim.

22 comments / Add your comment below

  1. Costumo dizer em discussões acerca de “grandes personagens de nossa história” que nossa humanidade, tão repleta de gênios, é incapaz de prover necessidades básicas a 70% de seus habitantes, comprovando que genialidade e merda pra mim é tudo a mesma coisa, como já disse o sábio Dorival. Assim, não me bato por por ninguém; se tiver que ir à vias de fato por uma mulher, entrego numa boa pois: 1) detesto apanhar; 2) mulher que se dá à disputa nesses termos merece o pitboy que tem.

    Quanto ao assunto de ontem, sobre o Nobel de literatura, a princípio ele deve ser oferecido a qualquer escritor que esteja à míngua (logo, me candidato ao prêmio), mas o agraciado deverá morrer em até três dias após tê-lo recebido (logo, declino da minha candidatura). Ademais, dizem haver uma maldição cercando o Nobel – após recebê-lo, nenhum escritor produziu nada que prestasse. Mas sou capaz de apostar que este ano o prêmio irá para um Odysseus Elytis da vida (o nome é este mesmo, só a grafia pode ser – deve ser – outra), como é contumaz depois de alguns nomes mais – Saramago – ou menos – Le Clézio – conhecidos, porém difundidos e reconhecidos. Boto na bolsa de apostas, então, qualquer poeta erudito e hermético, lustro imprescindível à Academia para merecer seu nome, sua glória e seu ridículo.

  2. Eu teria outra sugestão: convocar o médium Nelson Morais – o outro! – para receber o Nobel de Literatura em memória do maior inteleca da nossa história: Raulzito Seixas e seus alternativos discos voadores amestrados e, para comoção nacional, junto com o médium, subiria ao palco também o nosso mago maior – ele , aquele, o indiscutível, o inigualável, o arqueiro de meia flecha, o psiquiatra das prostitutas, o sábio dos sábios do Oriente, a pedra filosofal da nossa cultura: Louro José!
    (Enganei vocês, hein? Pensaram naquele outro, né?). Não sou besta!

  3. Já que se trata de polifonia e de defender quem se ama, hoje estou bastante deprê (deprê é bem um termo para blogs de coroas que dividem suas mágoas em não conseguir o lift perfeito, a marca ideal das 800 calorias queimadas no stets, e de se apercebem que a hidrostática já não permite que se aufira o aumento das nádegas com o eufemismo “excesso de gostosura”). Precisava sair sozinho ontem à noite, depois de uma semana corrida no auxílio de aulas de campo de cirurgia animal, em que castrou-se, deu-se parto, curou-se cascos e corrigiu-se a postura de patelas etc, como se fôssemos apóstolos de um cristo franciscano que não precisávamos de tirar o pó dos chinelos diante o batente de casas que não nos aceitassem, pois todas as fazendas das cercanias nos deu abrigo e tratou de difundir para a posteridade os eventos do milagre. Assim, abatido, feliz pela recepção do arbo ao meu “ensaio” sobre o Dostoiévski, quebrei minha promessa de não frequentar mais bares, e fui ao bar que seria mais cult aqui, de frente a uma pracinha com o incentivador apelido de “pracinha da maconha”. No primeiro copo de vodka com coca-cola, sinto na coxa o peso da cabeça de meu velho amigo, um vira-lata chamado Leão, meio abandonado mas que recebe cuidados do dono do boteco. Brinco com ele, lhe faço carinho, retiro-lhe um carrapato já em pulpa do lombo, quando o espetinho chega lhe dou quase metade da carne. De sua testa, retiro um chiclete de menta que algum imbecil pregou, pensando o quanto a minha espécie não merece ocupar uma posição moralmente privilegiada à dele. No quarto copo de cuba libre, não aguento ver os maus tratos que os ocupantes da mesa vizinha faziam ao Leão, que minutos antes havia saído de perto de mim para conferir sua caixa de emails deixada numa das árvores da praça. Os idiotas, uma turma de fotógrafos que havia vindo de Goiânia para firmar contratos com as turmas da universidade local para suas fotos de formatura, já começara dando ao Leão nomes uns dos outros, assim rebaixando por brincadeira seus colegas ao associá-los a um cão. Até aí, tudo bem, visto a boa capacidade mestiça do Leão em não se incomodar com ofensas. Do alto de minha etilia, mandei uma mensagem mental para meu amigo: “Que bom que você sabe que por debaixo destes jeans há cuecas listadas de bosta e hemorróidas sofríveis, companheiro!” Mas quando um deles deu um chute no Leão, com um ríspido “sai pra lá”, eu não aguentei, já estava de pé, dizendo literalmente para os filhos da puta não fazerem isso com o pobre cachorro, e demais impropérios dos quais não me orgulho nem um pouco. Fui possuído, ao contrário da noite insone em que fui tomado pelo fantasma de minhas leituras juvenis de Dostoiévski, por outros russos, confinados na garrafa de Smirnof e vermelhos de vontade de uma refrega à moda pré-revolucionária, e meu desejo era que os tais revidassem e partissem pra cima de mim. Mas a visão assustada que eles tiveram foi o de um brutamontes peso pesado de 1,90 de altura, com os olhos incendiados de fúria alcoólica e que comprovava sua periculosidade desarroada por querer briga em honra de um cachorro, e pediram desculpas, fizeram as vênias necessárias para transformar minha ira em vergonha. Paguei a conta, fiz um último carinho no Leão, olhando-os como aviso (o desgraçado do dono do bar, que é meu amigo, para afastar a nuvem de constrangimento, vai dizer que eu dei um beijo de língua no Leão, para deixar comprovado que eu voltaria e mataria todos eles se soubesse de outros maus tratos), e fui embora. Entrei em casa, beijei minha mulher que sentiu mas não disse nada o odor saopetersburguense, conferi o sono supra-dimensional do Eric, e peguei da gaveta o tal “O desabafo do diabo”, que iria entregar para meu amigo Emerson ler. Rasguei as quatro páginas em letra grande do “ensaio” e atirei-as na lixeira. Quando é que iria aprender a ser sério e coerente?

    1. Apontamentos:

      1) Continuas a violar a sagrada regra das 10 linhas;
      2) Coca-Cola com vodka cuba-libre? Não é com rum? Não tinha nada menos ruim para beber? Nem maconha na praça?
      3) Penso num altar para os cães, mas eles teriam que construi-lo, juntamente com alguma ideia de moral;
      4) Felizmente não lavo minhas próprias cuecas;
      5) Dostoiévski é uma péssima companhia para uma noite centro-oestina, e desconfio que em São Petersburgo, à parte as loas oficiais, os russos do século XXI tenham por ele o mesmo carinho nutrido em favor de seus centenários bisavôs encharcados de vodka;
      6) Parte do texto me lembra mesmo é outro diabo, o mesquinho, de Sologub, e suas incontáveis narrativas de porres e ambições falidas;
      7) Seriedade e coerência são qualidades em que mundo?

      1. “Seriedade e coerência são qualidades em que mundo?”
        no mundo afetado por vodka com coca cola, imagino.

        não estou pensando muito no q digo agora, mas, ontem, numa caminhada do centro à cidade baixa, pensei nas qualidades q teriam me impressionado naquele desabafo. fiz o caminho inverso, talvez por mais fácil, e refleti sobre o q me enerva nos discursos corriqueiros, para os quais meu silêncio é resposta freqüente e, pelo menos, muito polida. pensei em INOCÊNCIA. mas aí penetrei neste pensamento, vi q não se trata de qq inocência. vi mais: certo tipo de inocência chega a me enternecer. era necessário diferenciar e é certo q não o fiz até agora. mas poderia pensar… sim! me irritam as frases todas para as quais minha consciência já silenciou antes mesmo de serem ditas. essa mesma consciência ampla q vi atormentar o autor das notas do subsolo e, se me lembro bem, o d’a queda. me irritam esses juízos de metralhadora: é tão fácil apertar um gatilho e ver as balas se reproduzirem. é isso: as pessoas sendo as balas, atirando-se, perdendo-se. é isso: no teu desabafo, charlles, ao menos a intenção de te colocar no centro do debate e não fugir dele.

        1. Li várias vezes este seu comentário, arbo, e não sei o que dizer, a não ser que compreendi de forma muito pessoal. Não sei por que, mas de imediato voltou á minha mente um poema do Salvatore Quasimodo, que julgava esquecido:

          Todo homem está só no coração da terra,trespassado por um raio de luz; e de improviso é noite.

        2. O bão desse blog é que, quando estamos em uma fase lacônica (como eu), isso não chega a ser um incômodo, pois sempre há algum comentador que parece ler nossa mente e dar vazão à nossos pensamentos.

          Nesse post, por exemplo, eu não preciso dizer mais nada: Arbo falou tudo. E falou melhor: “juízos de metralhadoras” foi lapidar, de verdade. Limito-me a subscrever.

          Ah, mas acrescento algo sim: Charlles, li sua narrativa com uma subjetividade cúmplice, pois não me escabelo escritor algum, mas sou capaz de ir às vias de fato em defesa de um cão (ou de qualquer animal).

          Um quebra-costelas a todos (culpem o red label por minha afetuosidade).

  4. Nunes:

    1)O prazer é escrever, mesmo que não haja ninguem disposto à leitura. Não me adequo à linguagem de libras do twitter;
    2)Troco essa minha ignorância do drink pela sua do nome do poeta grego;
    3)Penso que se fôssemos amigos, a base de nossa consideração dificilmente passaria pela exigência dispendiosa e sem lógica de erigirmos templos um para o outro: bastaria, como me basta aos meus, uma sala de estar, uma mesa de bar, ou uma beirada de rio. Sobre moral canina, o pragmatismo espontâneo como eles a empregam anula minha vontade retórica;
    4)Eu lavo as minhas, devido ao sangue e demais escrementos que as tornam deploráveis depois das 11 da manhã, em meu cargo de inspetor de abate;
    5) Concordo com você. A de Hemingway teria correspondido à eminência da briga. Ambos teríamos o sério compromisso de defendermos nossos cojones;
    6)Não conheço Sologub. Afora no contexto humano, minhas “ambições” estão perfeitamente saciadas, visto meu pouco apreço ao conceito usual de felicidade e fortuna;
    7)Só esta anularia todos os outros seus itens, mas não te responder anularia o meu primeiro iten.

  5. O poema a seguir nasceu no último PHES…

    O ESCROQUE
    by Ramiro Conceição

    “Meninas de 14 não são tão meninas assim…”
    ”Meninos de 16 não são tão meninos assim…”
    “Então prostíbulo pra elas!”
    “Pra eles?…: — Cadeia!”

    Não é assim o seu latido,
    escroque oriundo de malditos?

  6. O poema a seguir nasceu no último PHES…

    ESCROQUE
    by Ramiro Conceição

    “Meninas de 14 não são tão meninas assim…”
    ”Meninos de 16 não são tão meninos assim…”
    “Então prostíbulo pra elas!”
    “Pra eles?…: — Cadeia!”

    Não é assim o seu latido,
    escroque oriundo de malditos?

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