Uma Virose e Duas Miniaturas

Meu início de semana foi muito ruim. Quando decidia fazer alguma coisa vinha a febre; então, tomava o antitérmico e deitava-me para sentir naúseas ou ser atacado pela diarréia. (Este negócio de ir ligeirinho para o banheiro como uma gueixa em fuga é das coisas mais humilhantes, não?) Aí sentava na cama para melhorar da náusea e acabava me interessando por alguma coisa e começava a me mexer. Animava-se mais e saía da cama para voltar a sofrer os tremores da febre. Um saco!

Um dia alguém me pediu para escrever histórias em 300 toques, título incluso. Não lembro bem quem foi que pediu e muito menos se foram publicadas. Sei que encontrei duas em meu micro ontem.

Além de ser um desafio para um cara que gosta de discorrer calmamente sobre os assuntos, foi muito divertido escrevê-las, Primeiro, fiz uma grade de 20 linhas, com 15 caracteres em cada uma. Depois, fiquei mais esperto e usei o BrOffice para contar os toques (opção Arquivos, depois Propriedades e Estatísticas).

O resultado está a seguir. A primeira historieta é original, a segunda é um ultrarresumo de outra pequena história já publicada.

1. Casou-se com o Corretor

Acorda e decide matar-se. O celular toca : “Filha, me deu outra crise, venha”. Vai à sacada e olha e rua, mas não quer pular de pijama. Veste-se e pensa na mãe: merda, só atrapalha. O celular de novo. A morte. Desce e dirige de olhos fechados. A despesa não supera a franquia.

2. A Erudição Rejeitada.

— Se desejas me conhecer — disse o conhecido intelectual — , ouve isto. É a 7ª de Beethoven.
Queria mostrar-se sublime.
Separaram-se na frente do prédio. Ao entrar, ela indaga ao porteiro:
— Que música te descreve?
— Ora, Gostoso Demais, da Bethânia.
Ela riu. Acabaram subindo juntos.

5 comments / Add your comment below

  1. Eu fiquei uma semana inteira com virose, agora o Luiz é que está com ela. A nossa tinha a característica de dar tudo (dor de garganta, enjôo, diarréia, fraqueza, dor de cabeça) menos febre.

    Aqui nós desistimos de tomar remédios e deixamos os vírus seguirem o curso natural deles. Como eu nunca tomo nada, qualquer Tylenol acaba com meu estômago e me dá enxaqueca, além de não funcionar. Quando funcionam, esses remédios parecem nos deixar pesados mais tempo do que os vírus. Pelo menos essa é a percepção que temos aqui. Quando tenho febre, apelo para a sabedoria das vovós e tomo chá de alho.

    Melhoras!

  2. Rapaz, nem me fale de doença; Rachel caiu de cama com uma rinite alérgia fortíssima, de forma que me transformei em motorista de forno e pia; ontem mesmo fui ao supermercado fazer compras, comparar preços, qualidade, cogitar se um desinfetante é tão bom quanto o detergente da mesma marca, e se a alcatra combina com alho, shitake, hortelã e raiz forte…

    Gosto da 7ª de Beethoven e desconheço a tal música cantada pela Bethânia. Deve ser por isso que não como ninguém faz tempo…

    Perda total (inclusive da vida) compensa o custo da franquia.

  3. “Um dia alguém me pediu para escrever histórias em 300 toques, título incluso.”
    Então…

    A HISTÓRIA DE LÚCIFER
    by Ramiro Conceição

    No passado… Lúcifer foi batizado
    d’Estrela da Manhã – a última irmã
    antecedente do Esplendor dum dia.
    Durante eras foi uma alegre alegria…
    Mas, aos poucos, sorrateiramente,
    uma inveja do Esplendor virou nascente
    e, a cada dia, a Estrela da Manhã não ria…
    Contudo, o Mistério, que Verá, Vê e Via,
    Sabendo que o rancor é a semente da dor,
    Fez de lúcifer, Vênus; que é menor e menos
    do que o Sol – o esplendor do nosso Amor.

  4. Gostei dos contos pequenos. O último me lembrou de um poema do Celso Gutfreind, poeta porto-alegrense, do livro Arte de Rua.

    Vou procurar e te mostro.

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