É quase sempre o mesmo texto, a cada rodada. Vamos tentar variar, partindo para coisas mais específicas.
Quando o ataque não funciona — Pottker e Nico López foram ridículos contra o CRB — tu colocas Cirino e Carlos em campo… Bem, aí fica muito complicado mesmo. Quando D`Alessandro não produz, tu te viras para o banco e só vês o bom Juan como possibilidade. Só que ele é um menino, pois a diretoria do Inter esqueceu da posição de armador. Contratou vários atacantes ruins e deixou os armadores para…. 2018, em nosso segundo ano de Série B? Só temos dois armadores em todo o grupo.
Atacantes temos muitos — só esta diretoria contratou Cirino, Carlos, Roberson e Pottker –, mas dispensou, sem reposição, os meias Anderson, Valdívia, Seijas, Andrigo e Ferrareis, etc. Não que haja jogadores bons nestas listas — o leitor deve focar-se na expressão “sem reposição”.
E, Guto tu sabes da verdade desta expressão matemática:
Melhor do que gastar com esse monte de mortos, seria ficar com Vitinho, comprovadamente bom jogador e que está jogando muito na Rússia. Imagine se tivéssemos Vitinho, Pottker, Nico e a gurizada? Muito melhor, né?
Outra expressão matemática diz claramente que não se deve deixar a armação de um time exclusivamente a cargo de um jogador de 36 anos… Mas já fale nisso.
E o que é aquele Felipe Gutiérrez? Perdeu um gol feito e errou muitíssimos passes, alguns até de recuo. De onde saiu essa desgraça chilena cujo pai e mãe devem ter sido pinochetistas?
Bem, perdemos 7 meses. Temos um time pessimamente montado — obra da diretoria e de Zago — e talvez não subamos para a primeira divisão em 2017. E, provavelmente, não há mais dinheiro, pois gastaram tudo com essas amebas, né?
Eu sei lá, mas talvez até o Inter B jogue mais do que as perebas que tens colocado em campo. Ah, O Inter B com o técnico do Inter B, Guto.
O regime soviético durou quase 70 anos, por isso, não é de se admirar que seu legado esteja vivo ainda hoje -– muitas vezes de formas peculiares. Conheça hábitos que alguns russos não abandonam.
Já passou por um bloco de apartamentos na Rússia e percebeu que havia uma série de varandas com um monte de tralha empilhada? Esquis velhos de madeira, rádios quebrados, peças de carros…Bem, esse é um dos sintomas da ressaca soviética. Os armários e prateleiras, provavelmente, também estarão cheios de cacarecos inúteis – alguns russos simplesmente não conseguem deixar as coisas para trás.
Durante a URSS, descartar coisas era considerado um desperdício, e esse hábito ficou arraigado na realidade pós-soviética. Nunca se sabe se o cortador de unhas enferrujada de uma tia distante será útil, ou se aquele pote de cebola em conserva de 20 anos realmente saiu da validade. As famílias soviéticas raramente jogavam comida no lixo, mesmo que o prato estivesse à beira de mofar.
2. Guardar o melhor para o futuro
Muitos russos mantêm conjuntos de cristal e porcelana (geralmente dados como presentes de casamento ou aniversário) escondidos. Por isso, é mais provável que você veja um russo sorrindo para um estranho na rua (veja o item 5) ou cantando o hino nacional americano do que tirando sua melhor louça chinesa do armário.
Seus pratos, xícaras, tigelas e talheres do dia a dia podem estar quebrados e velhos, mais nem isso será motivo para estrear sua empoeirada coleção. A razão para isso? Durante a União Soviética, as pessoas sonhavam com um futuro comunista brilhante, portanto, guardavam seus pertences mais preciosos para épocas mais prósperas.
Essa mentalidade se aplica também às roupas, com vestidos e ternos que, após anos sem uso, já até saíram de moda. Ainda hoje, alguns russos não tiram o controle remoto da TV da embalagem de plástico com receio de estragá-lo.
3. Pensar demais no que os outros dizem
“O que você está fazendo? O que as pessoas dirão? Você não percebe como aquela mulher está te olhando?” Os pais soviéticos eram bastante difíceis quando se tratava de ensinar os filhos a ficarem atentos a estranhos, vizinhos, colegas de classe e etc. Isso pode soar exagerado, mas era um medo genuíno naquela época. Até hoje, na Rússia, as pessoas podem tratar os estrangeiros com suspeita: “Por que alguém escolheria visitar a Rússia, sendo tão brutal, a menos que tenha sido enviado por um serviço secreto estrangeiro, certo?”.
4. Não gostar de elogios
Esse traço não é exclusivamente russo. Os ingleses, por exemplo, também têm dificuldade em aceitar elogios. Mas os russos têm reputação de se sentirem desconfortáveis se alguém lhes dá atenção demais. Por exemplo, se um vendedor for muito simpático em uma loja, eles provavelmente irão embora sem comprar nada.
A modéstia parece ser a melhor política na Rússia – expor-se na URSS era uma postura reprovável (não sabe por quê? volte para o número 3).
5. Não sorrir (gratuitamente) por aí
Qualquer um que tenha visitado o país, sabe disso muito bem: os russos raramente sorriem para estranhos, ao contrário dos brasileiros, que brincam com qualquer um.
Manter uma expressão séria fazia parte da vida na União Soviética. Havia muita desconfiança e tumulto – e, muitas vezes, poucos motivos para sorrir. Mas isso não quer dizer que tudo era tristeza, e surgiram algumas piadas boas na época:
“Três homens estão sentados em uma cela na sede da KGB. O primeiro pergunta ao segundo por que ele foi preso, e ele responde: ‘Porque eu critiquei Karl Radek’. O primeiro homem então retruca: ‘Mas eu estou aqui porque falei a favor de Radek!’. Eles se viram para o terceiro homem, que está sentado calmamente, e fazem a mesma pergunta. E ele prontamente replica: ‘Eu sou Karl Radek’.”
Seja como for, o velho provérbio russo “rir sem razão é um sinal de idiotice” ainda parece verdadeiro. No entanto, uma coisa deve se ter em mente: o fato de eles não sorrirem com frequência não significa que não sejam amigáveis, apenas reservados.
6. Festanças de arromba
Os russos adoram festanças com amigos e parentes, além de passar horas à mesa de jantar com pratos clássicos como salada Olivier, pelmêni e schi. Provavelmente acompanhados de uma quantidade razoável de bebidas alcoólicas e muitos brindes até amanhecer. “Se o jantar chega à sobremesa, a festa é um fracasso” é quase um ditado.
Não sabemos o que passava pela mente de designers e engenheiros quando criaram e construíram estes parques, mas é evidente que algo não está muito certo. É dano físico ou mental. Fonte: https://lemurov.net/.
Num de seus arroubos verborrágicos no Facebook, o prefeito Marchezan Jr., o Juninho do MBL, disse que o Sul21seria um veículo da “esquerda radical” e que seu “dono teria trocado o PT pelo PSOL”. Tal afirmativa me causa frouxos de riso e certa perplexidade. Sempre sublinhando minha qualidade de reles funcionário, gostaria de dizer humildemente que sou o único filiado ao PSOL que trabalha no jornal. Completo dizendo que não sou nada militante.
Talvez esteja sendo imodesto ao me inserir no caso, mas creio que algum assessor tenha feito confusão. Sou o veterano de nossa pequena aldeia gaulesa, mas meu cabelo e barba grisalhas, já quase brancas, não me fazem “dono do Sul21“. Na verdade, meu cargo está mais para o de Chatotorix do que para o do grande chefe Abracurcix, aquele que tinha medo que céu caísse sobre sua cabeça.
Interesso-me muito por redes sociais e a página Nelson Marchezan Júnior, do Facebook, muito me diverte por seu papel de meio de promoção pessoal e ataque a partidos de oposição, sindicatos, servidores e adversários políticos. Mas evitarei dar minha opinião a respeito. Acho que é fácil deduzir.
Completo dizendo que o Sul21não tem apenas um dono.
Após cansar de perder gols contra o Criciúma, o Inter voltou a apresentar um futebol de nível aceitável contra o Ceará na noite desta terça-feira. William Pottker e Nico López marcaram no primeiro tempo. No segundo, voltamos desperdiçar oportunidades uma atrás da outra. Agora estamos ocupando o quinto lugar, com 21 pontos. Destes, 14 foram conquistados fora de casa. Ainda bem que sábado (15/7) tem mais um jogo longe do Beira-Rio, contra o CRB, em Maceió.
Parece que o Inter tem medo de sua torcida. Ou esta lhe passa tamanha ansiedade que se torna impossível vencer. Aliás, nossa torcida, além de depredar o próprio estádio, costuma torcer o nariz para Nico López. Se estou certo, este é o 12º gol de Nico em 24 partidas. Retirar do time um cara que faz 0,5 gol por jogo — e muitas vezes é substituído, soa como piada. E que golaço o cara fez ontem! Erra muito, mas faz outro tanto. Normal, pois participa muito das jogadas de ataque. Jamais se omite.
Outra boa surpresa anunciada por todo colorado que nota que jogo de futebol é diferente de corrida de cavalos são as atuações de Cláudio Winck na lateral direita. Jamais será um Carlos Alberto Torres, marca muito mal, mas é bom no apoio e tem faro de gol. Foi dele o incrível chute que causou o bombardeio finalizado por Nico do jeitinho abaixo.
Nossa incompetência para marcar gols fica mais clara em William Pottker, goleador do último Campeonato Paulista… Ainda falando no gol de Nico, o segundo chute é dele, que perde o gol de forma inacreditável. Simplesmente acerta o goleiro caído. E, brincando, minha amiga Maria de Abreu diz que Pottker tentou de todas as formas retirar o corpo da jogada e não fazer o primeiro gol. Mas a bola caprichosamente trombou com ele e foi para o fundo das redes. Mentira.
Bem, o negócio é seguir mantendo esta escalação — que é a melhor — até que aprendam. A Série B é uma barbada. É só jogar direitinho, com um pouco de qualidade e calma.
Para finalizar: se Cuesta chamou o jogador do Ceará de “macaco” deve ser punido pela CBF e pelo clube. Racismo não se relativiza.
Há poucas semanas, li com agradável surpresa o livrinho de contos de Lídia Jorge Praça de Londres. A excelente impressão que tive da escritora portuguesa ampliou-se nesta narrativa longa, o belo romance A Noite das Mulheres Cantoras (LeYa, 320 páginas). O livro inicia com o reencontro das mulheres que formavam um grupo musical dos anos 80, o Apocalipse. Durante o evento, surge João Lucena, que voa em direção a Solange Matos, narradora do romance. “Lembras de mim?”.
Toda a narrativa, contada em primeira pessoa pela letrista do grupo — a citada Solange — dedica-se a explicar e detalhar o significado deste reencontro, coisa que não faremos aqui. Além disso, mostra a trajetória do quinteto vocal lisboeta em busca de espaço no mundo pop português. O grupo tinha como projeto o estilo dançante de Donna Summers e aquilo que chamavam de “música para ver”, ou seja, mulheres que cantavam, dançavam e encantavam com suas coreografias e músicas. Para tanto, era necessária muita disciplina e a líder do grupo, Gisela Batista, chegava ao ponto de tentar impedir os namoros de suas pupilas e de trazer balanças para que elas se pesassem diariamente. Nada de engordar, meninas! Às vezes, havia clara revolta: “Música para ver, pintura para ouvir, comida para ler, roupa para cheiras, dança para roer…” — ironizou uma das cantoras –, mas o maior perigo vinha sempre silenciosamente e de lugares afastados das fofocas das moças e do controle de Gisela.
A narrativa de Lídia Jorge é estupenda do ponto de vista da criação de cada um dos clímax. Com pleno domínio de vários meios narrativos, a autora alterna trechos decididamente cronísticos com outros de grande densidade de significados. Os traumas gerados pela busca incessante da fama e dos holofotes, independentemente do preço, são graves e irreversíveis para as meninas do Apocalipse. Tal como nos livros de Jane Austen, uma série de detalhes de aparência fútil servem para mostrar um pesado pano de fundo social, em parte vindo continente africano.
A Noite das Mulheres Cantoras traz uma excelente construção de personagens, como as das cinco mulheres, a do coreógrafo João de Lucena e do estudante Murilo Cardoso — espécie de consciência da obra. Além da alternância de estilos, Lídia Jorge trabalha com esmero e bons resultados o fato de o presente estar sempre lá, lançando seu olhar perplexo sobre os anos 80. O movimento de fazer emergir fatos do passado para o presente raras vezes foi tão bem articulado.
Em minha opinião, o roubo de livros é uma atividade adolescente, no máximo universitária. Um ladrão de livros com mais de 23 anos é um sujeito digno de lástima, a não ser que não tenha absolutamente dinheiro para obtê-los. O amor aos livros justifica o erro e esta atividade deve ser coibida pelo livreiro com compreensão, até com carinho por seu futuro cliente. Roubei muitos livros na época em que tinha entre 15 e 22 anos. Quando chegava em casa, escrevia meu nome e a data, acompanhado da misteriosa inscrição “Ad.”, de adquirido. Nunca me pegaram. Hoje tenho 59 anos e nem penso mais nisso. Porém, já fui um ladrão de livros. Comecemos pela ética da coisa e depois vamos às instruções.
Nunca roubarás as pequenas livrarias. Pois as pequenas livrarias foram feitas para a amizade, para as conversas e não combinam com atitudes detetivescas. Também não se rouba onde é fácil demais e onde o livreiro atende o cliente pessoalmente. Além do mais, roubar uma pequena livraria é colaborar com a proliferação das megalivrarias, estabelecimentos sem personalidade, de atendimento impessoal e onde grassa a ignorância a respeito do próprio acervo. Não se roubam livreiros que sobrevivem com dificuldade.
Nunca roube, a não ser que sejas estudante ou estejas desempregado. Roubo de livros não combina com salário e cleptomania. O roubo de livros deve nascer de uma necessidade absoluta de literatura ou informação, de um imperativo interno que esteja catalogado no CID.
Nunca olharás em torno. O fundamental, para quem pretenda atuar nesta área, é manter o ar casual. É como colar numa prova. Se, durante uma prova, você abre sua bolsa para pegar um lápis, você não olha para o professor. Se você for colar, aja com a mesma naturalidade. Não olhe para os lados, não observe onde o professor está — evite, é claro, fazê-lo com ele a seu lado –, pois se você se comportar como um periscópio de submarino, o inimigo irá observá-lo.
Nunca venderão livros onde vendem mondongo. Na minha época, a vítima principal de meus roubos era um supermercado. Vender livros em supermercados… Vender livros ao lado de azeitonas, bifes de fígado, mondongo e alvejante é algo que desmerece a literatura e, se nossas leis fossem inteligentes, tal absurdo seria proibido. O roubo era simples, mas envolvia alguns gastos. Eu pegava o livro na estante e me dirigia com ele à lancheria. Levava o livro como quem não quer nada, como se fosse seu dono. Lá, sentava-me e pedia qualquer porcaria, de preferência gordurosa. Enquanto esperava, pegava minha caneta e iniciava a leitura. Quando passava por uma parte interessante, sublinhava-a; se houvesse algo engraçado, desenhava uma carinha rindo; se triste, uma cara triste. Na última página, escrevia um número de telefone, como se ontem estivesse em casa com meu livro sem um papel para anotar e tivesse anotado na última página da coisa mais à mão, meu livro. Outra coisa importante que fazia era ler girando a capa até a contracapa, segurando o livro com firmeza, de forma a marcar a lombada. Fazia isso em vários pontos até a metade do volume. Sim, exato, você o deixará usado! Depois, é só sair do super com o livro na mão, naturalmente, à vista de todos.
Nunca terás pressa. Havia outras livrarias que colaboraram para meu acervo da época. Nelas, o método era outro. Sabemos que um bom leitor, utiliza seus livros como objetos transicionais; ou seja, ele leva seus livros aonde vai, da mesma forma que uma criança leva seu bichinho, travesseirinho de estimação, sentindo-se mal se ele não está próximo. Então, entrava na livraria sem pressa e pegava um livro. Caminhava lentamente mais ou menos 1 Km dentro do salão. Se alguém o estivesse observando, certamente cansaria. Lá pelo meio da jornada, colocava o livro a ser surrupiado junto do livro que trouxera, o objeto transicional. Caminhava mais 1 Km dentro da livraria. Chegava a cansar de ser dono daquele livro. Saía calmamente. Ficava um bom tempo na porta da livraria examinando os lançamentos, parava na frente da vitrine, demonstrava segurança, espezinhava o medo. Depois disso, podia ir para casa.
Nunca deixarás de examinar todas as variáveis à luz da tecnologia de nossos dias. Como já disse, não estou mais em idade de cometer tais pequenos crimes. Portanto, estou desatualizado e desconheço o método correto. Posso apenas sugerir posturas. As megalivrarias tem aquela coisa magnetizada ou com chip que acompanha o livro. Aquilo tem de ser anulado ou retirado. Estará a juventude de hoje destinada a pagar por todos os seus livros? E depois falam em incentivo à leitura! Olha, talvez não seja necessário pagar sempre. Há que anular o troço, talvez até arrancando a geringonça do livro. Pergunta: se você colocar o objeto de desejo dentro de uma bolsa, entre papéis ou de alguma forma tapado, mesmo assim acordará o alarme no momento da saída? Sim, o risco é imensamente maior e nem imagino o que os homens da segurança farão com você. Outro jeito é usar a ciência e desmagnetizar a coisa. Leve ímãs, leia a respeito, pesquise. Como esses livrarias são grandes e às vezes têm cafés, você pode avaliar com tranquilidade os riscos e a forma mais adequada de ler o próximo Thomas Pynchon. Todos nós já vimos como o caixa realiza a mágica de desmagnetizar; ele apenas adeja algo semelhante a um limpador de discos de vinil sobre a contracapa do livro. O que é aquilo? Concordo, é uma merda, haverá menos romantismo e mais aventura.
Nunca roubarás pockets. Sabemos que o preço do livro no Brasil é escandaloso. Para solucionar o problema, a L&PM começou a comercializar pocket books. Outras a imitaram. É uma coisa boa. Não, meu amigo, roubar esses bons livrinhos de menos de R$ 20,00 é pecado e, se você o fizer, merecerá o patíbulo.
Nunca negarás o empréstimo de livros. Um dos lugares-comuns mais ridículos que as pessoas dizem é “Não empresto meus livros”; verdadeiro clichê de quem não gosta e não confia nos amigos. Estes merecem o açoite. Imaginem que já emprestei até meu Doutor Fausto! Um livro lido e posto numa estante até o fim de seus dias é um livro que agoniza por anos. Comprar e nunca ler é fazer do livro um natimorto. Mas o pior são os do outro lado: aqueles que efetivamente não devolvem os livros tomados por empréstimo, justificando a atitude paranoica do primeiro. Patíbulo, novamente.
Só tenho certeza de uma coisa: enchi o saco de falar do Inter. Jogamos melhor, mas com os nervos tão à flor da pele, com tanto nervosismo, que é melhor contratar um time de psicólogos para deixar mais calmos aquele grupo muito bem pago de jogadores profissionais. É muita infantilização. É muito medo do palco.
Por outro lado, a torcida faz lamentavelmente sua parte. Em vez de apenas vaiar, abandonar ou virar as costas, começa a depredar o estádio, jogando pedras e rojões. Porque não deixam isso para as manifestações contra Temer, Sartori ou Marchezan? Só falta interditarem o Beira-Rio, dando argumentos para a diretoria falar em prejuízo financeiro, técnico e em mais um ano na B.
Se não fôssemos tão atabalhoados, podíamos ter ganho o jogo, mesmo levando um gol logo de cara. Só empatamos heroicamente nos descontos. Até D`Alessandro, com sua mais de década de praia, perdeu gols que não costuma perder.
Acho que um Rivotril geral seria uma boa. Conforme escreveu Marinho Saldanha no Uol, já temos 521 minutos — totalizam 8 horas e 41 minutos — sem um homem de frente balançar as redes adversárias. Ou seja, nosso ataque não faz gols. Nico López marcou 12 em 26 partidas, mas também está nervosinho, perdendo gols. William Pottker tropeça após driblar o goleiro e Brenner erra sem goleiro.
Acalmem-se e resolvam. A Série B é uma barbada, é só jogar.
Uma vez, publiquei um rumoroso post chamado Ensinando a roubar livros. Tive que retirar do ar este que talvez seja meu post mais comentado até hoje, após receber uma comunicação extra-judicial da Livraria Saraiva. Tenho o texto e garanto-lhes que o melhor são os comentários. São antológicos, maravilhosos, cheios de experiência. O post me granjeou uma fama tão planetária que fui entrevistado pela Folha de São Paulo… Para minha alegria, poucos livreiros parecem ter lido meus sábios ensinamentos e ainda posso entrar e sair de seus estabelecimentos com o título de bom cliente honesto.
Pois dia desses, meu amigo Fernando Guimarães veio tentar me seduzir me provocar para mais um post. É que jornais portugueses estavam novamente tocando neste assunto tão caro à humanidade pós-Gutenberg. Procurem não ler o texto que segue com o pobre olhar do moralismo, mas sim com o horizonte largo da profunda sede de cultura.
~o~
Criminosos improváveis: Como se roubam livros em Portugal
Há de tudo: até padres e coxos atacam nas livrarias portuguesas
A Renault Express não chegou. Foi preciso uma Ford Transit — com uma bagageira que consegue transportar quatro pessoas deitadas — para Antero Braga, ex-administrador da Bertrand, recuperar os livros que o professor disfarçado de cliente fiel lhe roubara durante vinte anos. Um mês depois de a livraria do Chiado ter instalado o sistema de alarmes, este disparou à passagem do insuspeito professor da Escola de Belas Artes, com conta corrente na loja. Mal sabia Antero Braga que acabaria por ganhar o dia: quando a caminhonete estacionou à porta, carregada com mais de mil livros roubados, percebeu que tinha recuperado o dinheiro investido nos alarmes.
Um milhar de livros roubados nem sequer chega a ser recorde. Nos anos 70, o mais famoso ladrão entre os livreiros do Chiado, conseguiu construir uma biblioteca ainda maior: 30 mil volumes. Só precisou de se disfarçar de padre e de uma batina com um forro falso.
As carreiras dos livreiros estão recheadas de flagrantes improváveis: um disfarçado de padre, um padre a sério, um disfarçado de coxo, munido de muletas.
Antero Braga, atual proprietário da livraria Lello, adianta que por ano são roubados “uma centena de livros” na livraria portuense. JoséPinho, da Ler Devagar, aponta para 20 livros roubados por mês. A Bertrand do Chiado só num fim-de-semana viu desaparecer 18 exemplares do mesmo livro. A Almedina suspeita que a taxa de furtos seja semelhante à dos EUA — onde os roubos representam “1,7% do volume de vendas”. Jaime Bulhosa (Pó dos Livros) explica a quebra aos leigos dos números: “Por cada livro roubado, tem de se vender três livros iguais só para cobrir o prejuízo.”
Há os ladrões profissionais — que roubam para vender –, e os amadores — que roubam um livrinho por ano — e até os VIP. “É muito comum apanhar figuras públicas. E o mais vergonhoso ainda é o que roubam. Já vi de tudo, até as anedotas do Herman”, conta Jaime Bulhosa.
O volume dos livros nem intimida os ladrões. Pelo contrário: os calhamaços até são os preferidos: 2666, o mais roubado na Bertrand em 2009, tem mais de mil páginas. Na mesma loja, já roubaram o dicionário Houaiss — três volumes que pesam 11 quilos. A Bíblia — pecado dos pecados — é um dos mais roubados de sempre. José Pinho (Ler Devagar) perseguiu “um ladrão pela baixa de Lisboa durante uma hora”, até dar com os cinco volumes das obras completas de Jorge Luís Borges no caixote do lixo.
Os bestsellers lideram a lista de roubos. Os livros mais caros também são apetecíveis e os livreiros optam por tê-los debaixo de olho — atrás ou à frente do balcão. Mas há quem roube os títulos mais improváveis. Jaime Bulhosa diverte-se a contar no blogue da Pó dos Livros a sua investigação não finalizada sobre um misterioso ladrão culto. “Desconfiamos que seja a mesma pessoa, porque só rouba poesia e música erudita.”
Por Sheila Bastos, no Lagoinha.com
Hoje é o dia em que minha mãe faria 90 anos. Também é o dia em que um de meus melhores amigos, Ricardo Branco, faz 59, mas deixemos a prioridade para ela.
À medida em que vou ficando velho — completo 60 anos em agosto, idade que não sinto, mas que é tristemente real — vai crescendo a certeza de que sou não somente a óbvia mistura genética de meus pais, Maria Luiza e Milton — herdei-lhes atitudes e posturas muito próprias. Parece que a idade acentua suas presenças em mim. Por mais que trabalhassem fora de casa, meus pais sempre se preocuparam com minha educação e a de minha irmã. Sempre penso que a Iracema, um pouco mais velha do que eu, nasceu pronta e perfeita. Ela estudava muito e parecia fazer aquilo com gosto e inteligência. Eu me sentia meio burro em relação a ela. Tinha que ser empurrado.
E era. Minha mãe foi quem mais empurrou o menino que fui e que só se queria estar na rua com os amigos e jogar (mal) futebol. Certamente veio dela meu amor pela literatura. Não que ela fosse uma grande leitora, é que ela respeitava e amava a cultura de forma devocional. Nós tínhamos sempre dinheiro para livros. Eu e minha irmã éramos modestos em nossos pedidos — sempre fomos bem conscientes de que nossa vida confortável não incluía grande fortuna e era fruto direto do trabalho duro e diário de nossos pais –, porém o fato é que nossa mãe era uma pessoa generosa em termos financeiros. Poucas vezes negava meus pedidos de mais grana para qualquer loucura que inventasse. Porém, quando a coisa era para comprar livros, ela vinha de carteira literalmente aberta. Fazia questão que eu lesse. Quando chegava cansada do consultório de dentista onde trabalhava o dia inteiro, perguntava o que eu estava lendo, mesmo que depois não soubesse o que comentar. Ela ganhou esse jogo. Hoje não consigo não estar lendo nenhum livro. E carrego-os aonde vou.
Acho que a Maria Luiza cresceu tentando manter alguma magia espiritual em torno de si, mas suas intenções esboroaram-se contra o chão duro das ruas da Azenha e a correria da maternidade. Nós crescemos e ela não obteve de volta o piano da juventude, onde tocava tangos, e muito menos os livros. Estava sempre trabalhando fora ou em casa. Sempre com alguma coisa pendente. Sempre correndo. Foi uma das primeiras dentistas profissionais do RS e foi massacrada pela necessidade de ser a mulher da casa. Em tempos em que não havia feminismo no Brasil, ela fazia dupla ou tripla jornada para não decepcionar ninguém. Quando jovem dentista, no início dos anos 50, foi criticada por não deixar que meu pai a sustentasse financeiramente. Ainda bem que ela jamais concordou com isso, não daria certo. Ela era a chefe da família e ponto.
O que permaneceu da jovem Maria era a forma com que enfrentava a falta de gosto e a vulgaridade. É dela uma frase que uso muito: “Não ouço música descartável”. Adorava Chopin e a música erudita romântica. Tentando abrir uma janela em suas atividades incessantes, meu pai estabeleceu a quarta-feira como “o dia de ir ao cinema”. Talvez aquilo soasse a ela como mais uma atribuição. Com o tempo, ele também perdeu este jogo.
Minha mãe era AMADA por seus clientes de consultório. Eu notava isso naquela época e ainda hoje. Era um sucesso dizer que eu era o filho da dentista da Azenha. A maioria de meus colegas a visitava, pois ela era odontopedriatra. Também estava sempre disposta a ajudar. O tempo esticava-se para dar lugar a tudo que seu 1,55m queria fazer. Mas ela dizia que não tinha feito nada.
A Elena sabe o quanto uso suas expressões cruz-altenses. Cada vez mais. O casamento com meu pai não era lá nenhuma maravilha em alguns aspectos, porém lembro de uma frase muito significativa que ela me disse quando meu pai morreu em 1993. “Ele me deu muito mais amor do que eu dei para ele”. Esta frase, para a pudica e reservada Maria Luiza, equivalia a dar uma voltinha nua pela casa.
Também minha teimosia e autocrítica vêm dela. Quando metia uma coisa ou um assunto na cabeça… Se o assunto não fosse do nosso agrado, melhor fugir. E ela costumava criticar a si mesma com algum desdém, especialidade que mantenho em alto nível. Tudo o que fazia acabava mal, o que era uma tremenda mentira e injustiça dirigidas a grande mulher que ela foi. Construiu uma casa ruim, não deveria ter sido dentista mas outra coisa, fez comida sem gosto, comprou um monte de coisas que não usa, errou nisso, naquilo. Essas coisas foram criando a certeza de que, filho dela, também eu só fazia coisas erradas. A Elena não parece gostar muito de minha autocrítica, só que é um vício complicado de contornar. Ela parecia estar sempre em falta e eu, coincidentemente…
Hoje, por um acaso, esbarrei neste poema de Shakespeare. É sobre o amor, só que fala tanto em faltas, vícios ocultos — que certamente ela não tinha, a não ser o de esconder caixas de Bis no guarda-roupa –, em injúrias dirigidas a si mesmo e em erros, que logo pensei “Putz, hoje é o dia da Maria Luiza mesmo”.
Assim é o meu amor
Quando for teu desejo teres por mim fraco apreço
E colocares meus méritos no centro do desdém,
Ficarei do teu lado, contra mim lutarei,
Provar-te-ei, ainda que traidor, virtuoso.
Usando as minhas faltas, essas que sei de cor,
Contarei uma história falando por teu nome,
E os meus vícios ocultos todos condenarei,
E tu, ao me perderes, alcançarás a glória.
E, ao fazê-lo, eu também serei vitorioso,
Dobrando perante ti meus ternos pensamentos.
E as injúrias que a mim eu mesmo me impuser
Redobrarão meus ganhos, ao te darem proveito.
Assim é o meu amor, assim eu te pertenço,
Pois, ao provar-te certo, me descubro no erro.
W. Shakespeare, trad. Ana Luísa Amaral
Ela faleceu em 2012 após longo e doloroso Alzheimer. Acrescento isso apenas aqui no final porque já quase esqueci desta fase terrível, deixando no lugar a mãe amorosa, presente, interessada e, puxa vida, ativa.
Na época de Bach, a sinfonia era uma peça instrumental que servia como abertura de uma obra musical maior, como uma ópera, uma cantata, um oratório, etc. Foi no classicismo que a sinfonia tomou a forma que conhecemos hoje, com os convencionais quatro movimentos, a forma sonata do primeiro deles, a multiplicidade de executantes para cada instrumento (ou não), a diversidade de timbres. Diferentemente do concerto, a sinfonia não dá destaque especial a nenhum instrumento, sendo que cada um possui várias participações ocasionais. É a música para orquestra, é o “solo de batuta” do maestro.
Quando pensamos no início do gênero sinfônico, é natural que três nomes nos venham logo à cabeça: os de Haydn, Mozart e Beethoven. Em primeiro lugar porque o gênero formatado pela Escola de Mannheim foi consolidado por Haydn, muito bem utilizado por Mozart e levado ao pódio da mais alta expressão por Beethoven.
Porém, como dissemos, antes a palavra “sinfonia” tinha outro significado. Era uma espécie de abertura interpretada pela orquestra. Por exemplo, a maioria das óperas e oratórios de Handel iniciam com um movimento de abertura, escrito habitualmente no pomposo estilo francês. (Falaremos dele a seguir). Handel, ocasionalmente, chamava este movimento de sinfonia, como fez em O Messias, identificando a abertura como Sinfony. Um caso interessante ocorreu quando, em 1789, Mozart fez um arranjo para uma versão em alemão do Messias. Ele simplesmente mudou o nome da abertura de Sinfonia para Abertura. Claro, na época de Mozart, Sinfonia já era outra coisa e ele tratou de evitar confusões.
Bach algumas vezes usou o termo Sinfonia (ou Sonata) para peças instrumentais de um único movimento que davam início a uma Cantata. Ouçam a abertura da Cantata BWV 106, Actus Tragicus, de Bach. Em algumas versões ela é chamada de Sonata, outras de Sonatina e ainda em outras de Sinfonia:
— de 0:00 até 2:34
Na França, as aberturas eram peças introdutórias de um único movimento, usualmente na forma A-B-A, onde as seções A têm um andamento lento, normalmente pomposo, enquanto que a seção intermediária, B, era comparativamente fluente e rápida. Com o tempo, este tipo de abertura passou a ser utilizada por compositores como Bach e Handel. São assim os movimentos iniciais das famosas Quatro Aberturas para Orquestra (ou Quatro Suítes Orquestrais) de Bach. No caso, era um movimento introdutório para uma série de danças.
A Suíte barroca de Bach consistia de uma abertura francesa seguida de uma série de movimentos de danças de ritmos diferentes cujas principais eram Allemande, Courante, Sarabanda, Minueto e Giga.
Já a abertura italiana era diferente, mais semelhante a um concerto de Vivaldi, tendo início rápido, uma seção lenta e depois um final novamente rápido. Este o padrão de abertura da ópera italiana. Exemplos desse tipo de sinfonia italiana são as numerosas aberturas das óperas de Alessandro Scarlatti.
Também no início do século XVIII, os três movimentos da abertura italiana separaram-se e começaram a ganhar vida independente. Tornou-se uma obra de concerto sem solistas. Por exemplo, Vivaldi compôs aqueles 477 concertos em três movimentos dos quais já falamos, mas também sinfonias de 3 movimentos, não muito diferentes, em espírito, de seus concertos, apenas sem instrumento solista.
Essa ideia de sinfonia italiana com três movimentos como uma composição orquestral independente tem intersecção com o classicismo: as primeiras sinfonias de Haydn e Mozart foram compostas nesse formato. Um lindo exemplo de sinfonia em estilo italiano foi composta por um filho genial de Bach, Carl Philipp Emanuel Bach. Notem como ela é antecipatória. O primeiro movimento, de tema curto e afirmativo, parece que nos aponta para Beethoven. Confiram.
— de 10s até 11min10
Mas, então, na Escola de Mannheim, através do compositor Johann Stamitz (1717-1757), foi completada a formulação geral do gênero sinfônico clássico. Foi ele e a Escola de Mannheim que fizeram a junção, permitindo que a sinfonia italiana e a abertura em estilo francês se encontrassem novamente. No modelo italiano, foi inserido um quarto movimento entre os dois últimos. Este movimento adicional foi um minueto, que, até então, tinha sido um movimento quase obrigatório de uma abertura (suíte) de estilo francês. Também passou a ser utilizada a forma sonata, princialmente no primeiro movimento, algo que se firmou como um padrão nas primeiras décadas da sinfonia. Nascia assim a sinfonia clássica.
Haydn acrescentou ainda – não como regra – uma introdução lenta no primeiro movimento desse novo modelo.
Ou seja, Haydn não criou o quarteto para cordas e nem a sinfonia, mas foi o primeiro a dar enorme nobreza aos dois gêneros e a levá-los ao mais alto nível. Também foi o primeiro a usar de forma genial a “forma sonata”, explorando-lhe a dialética.
Mas o que é a forma sonata?
Esta forma, este princípio estrutural, teve sua origem na Itália – Domenico Scalatti utilizou-o muito em suas 555 sonatas – e esteve presente na música ocidental em seu conjunto de 1750 a 1950, vale dizer a partir da primeira escola de Viena (Haydn, Mozart e Beethoven) até a segunda (Schoenberg, Berg e Webern). Teoricamente, aplica-se não a uma obra inteira, mas a um movimento isolado ou fazendo parte de uma obra em vários movimentos. Observe-se que a forma sonata vale para todos os gêneros instrumentais cultivados a partir de 1750 (não somente a sonata, mas também a sinfonia, o concerto, o quarteto de cordas, etc.) e mesmo, em certos casos, para gêneros de música vocal.
A forma sonata é um esquema simétrico em que cada um de seus elementos é respondido com um outro a ele relacionado e que buscam um equilíbrio – que é alcançado na reexposição. Como funciona?
Primeiro é apresentado um tema ou melodia, o qual é seguido de outro. A mudança de um tema para outro é facilmente perceptível. Nas sinfonias de Bruckner, na fronteira que separa os dois temas há um curto silêncio. Bem, estes dois temas juntos são chamados de Exposição.
Depois vem o Desenvolvimento. É onde os temas da exposição são misturados, reaproveitados e reelaborados. Não se trata de livre fantasia, mas de uma recriação dos dois temas, agora misturados, que recebem novos elementos.
Essa tensão apenas será liberada no momento em que o compositor nos mostrar a terceira parte, chamada Recapitulação, onde os dois temas iniciais serão novamente mostrados de forma transformada.
Sem desejar que vocês enlouqueçam, imaginem uma nova história do Chapeuzinho Vermelho que encontramos em um site russo. O primeiro tema (ou melodia) é o Chapeuzinho Vermelho e o segundo é a vovó. Então o compositor mostra ambos, um seguido do outro, Chapeuzinho e vovó. É a Exposição. O Desenvolvimento é a caminhada do Chapeuzinho Vermelho até a vovó. No meio do caminho tem um lobo e toda a sorte de diálogos e pensamentos sobre como chegar inteiro até a casa da vovó. Ela consegue se livrar do lobo e vai para a Recapitulação, representada pela vovó com Chapeuzinho em casa, tranquilamente aquecidas pela lareira.
Dito assim, parece uma bobagem, porém, nas mãos de um compositor de talento – como Haydn, Mozart, Beethoven ou Brahms –, a forma sonata é algo de poder expressivo verdadeiramente formidável. Às vezes, os dois temas são tão diferentes que parece que juntá-los seria como promover a paz entre israelenses e palestinos. Os dois lados são diferentes e têm boas doses de razão, até que a dialética do Desenvolvimento dobra arestas e ”convence-os”. É um prazer enorme – algo realmente filosófico – ouvir o compositor trabalhando os dois lados.
Então, a forma-sonata clássica se estrutura da seguinte maneira:
I) Uma introdução lenta, não obrigatória;
II) Exposição do tema principal (A);
III) Exposição do segundo tema (também conhecido como contra-tema, B) geralmente em contraste com o primeiro;
IV) Final da Exposição, um episódio curto só para entrar no…;
V) Desenvolvimento: a parte mais elaborada da sonata, onde os dois temas surgem muitas vezes em contraponto, gerando certa instabilidade e como que “pedindo” a volta dos temas principais;
VI) Recapitulação de A e B já alterados e preparação para o final, conhecido como…;
VII) Coda.
Grande parte dos primeiros movimentos das sonatas e sinfonias clássicas, românticas e até modernas seguem, rigorosamente ou não, este esquema.
Mas agora vamos tentar deixar esse esquema mais claro mostrando-o como funciona numa Sonata de Mozart, a de Nro. 16, K. 545.
Desta forma, o classicismo procurou realizar plenamente aquilo que os últimos compositores barrocos já aspiravam: a criação de uma arte abstrata, equilibrada, perfeita e absoluta.
Então, nós já falamos sobre a forma sonata e sobre a introdução de um movimento de dança, chamado Minueto, entre o terceiro e quarto movimentos.
Deste modo, o modelo clássico da sinfonia dividia-se então em 4 partes: O primeiro movimento pode ser uma música de caráter ligeiro, um allegro por exemplo. Alguns primeiros movimentos possuem uma curta introdução de caráter mais grave. O segundo movimento é a parte lenta e reflexiva da obra. O terceiro movimento é conhecido como minueto. É a música mais dançável da obra. O quarto e último movimento (finale) tem características semelhantes à do primeiro movimento, mas aqui o caráter é habitualmente triunfante, daquele tipo que busca o aplauso. Sim, há que considerar o ambiente dos concertos.
O compositor mais representativo do espírito clássico foi Haydn (1732-1809), autor de uma obra vastíssima, na qual as possibilidades musicais da Sinfonia foram exploradas com grande riqueza inventiva. A seguir, apresentaremos o primeiro movimento da Sinfonia Nro. 83 de Haydn, conhecida como “A Galinha”. O primeiro movimento vai até os 6min32. Notem como a forma sonata é utilizada. O primeiro tema é decidido e voluntarioso, o segundo, bem, nele vocês certamente entenderão o apelido da sinfonia.
— de 10s até 6min32
O Classicismo já estava maduro quando se destacou no cenário musical a figura de Wolfgang Amadeus Mozart, cuja obra é considerada por alguns como a maior de todo o século XVIII. Ele foi um compositor eminentemente clássico, isto é, do período clássico. Entretanto, muitas das suas peças, em especial as últimas, antecipam a música que depois surgiria com Beethoven.
Como todos sabemos, Mozart nasceu na Áustria e foi um gênio precoce, que desde pequeno se revelou um virtuose do piano. Escreveu com a mesma desenvoltura gêneros instrumentais e vocais, criando uma obra que só não foi mais extensa devido à sua morte prematura.
Mozart conheceu profundamente a obra daquele que chamava de Papa Haydn. Primeiro apenas através de partituras, depois pelo contato pessoal, pois durante a década de 1780, Haydn passou a deixar sua pacata vida na corte da família Esterházy (seus patrões) para visitar Viena nos meses de dezembro e janeiro – época em que os concertos eram frequentes. O primeiro contato pessoal entre ambos aconteceu em dezembro de 1783, durante um concerto beneficente.
Eles chegaram a tocar juntos em quintetos para cordas de Mozart. Mozart no primeiro violino e Haydn no segundo, imaginem. Depois, Haydn viajou para Londres e eles nunca mais se encontraram.
Ao ficar sabendo do falecimento de Mozart em 1791, ainda na Inglaterra, Haydn desabafou a um amigo não acreditar que a “Providência” tenha cessado tão rapidamente a vida de “alguém tão indispensável”.
Os dois se respeitavam muito. Um exemplo: quando mostraram o Quarteto das Dissonâncias, de Mozart, para Haydn, ele disse que era um equívoco, que aquilo não podia ser. Então, lhe disseram: “Mas é de Mozart”. E o velho respondeu: “Bem, neste caso, trata-se de um flagrante erro de minha parte. Eu é que não entendi.”.
A relação musical entre os compositores era tão forte que Haydn passou a ser considerado por muitos como a continuidade de Mozart, após a morte deste. Nesse sentido, o conde Waldstein, ciente de que Beethoven estudaria com Haydn em Viena, escreveu ao jovem alemão que, com sua dedicação, ele receberia “o espírito de Mozart das mãos de Haydn”.
Muito conhecido é o primeiro movimento de sua Sinfonia Nro. 40, mais um exemplo da forma sonata. Esse movimento inundou os escritórios de trabalho e as ruas na primeira década deste século, pois os telefones da marca Nokia, hoje em desuso, tinham uma opção de toque que era exatamente os primeiros compassos do movimento. Ela vai do começo até 8min20.
— de 45seg até 8min20
Porém, amigos, Haydn tinha um problema, ele não conseguia ser infeliz. Quando lhe encomendavam Missas, então, era terrível. Suas missas são belíssimas e criticadíssimas. Em primeiro lugar porque seriam alegres, felizes demais para o serviço religioso. Os padres e reverendos, sem observar a beleza e o equilíbrio delas, não as entendiam. Em segundo lugar, cada uma delas teria (e tem!) tal unidade que seriam inúteis para a igreja — onde normalmente as Missas são interrompidas pelas preces. Deste modo, os movimentos lentos de Haydn podem ter lá seus dramas, mas a maioria deles não nega a alegria de quem tinha um emprego estável com os Esterházy e de quem tinha sido amigo de Mozart e professor de Beethoven.
Um dos mais famosos movimentos lentos escritos por Haydn é o Andante da Sinfonia Nro. 101, conhecida como “O Relógio”. É lento, mas não é nada triste. E também é autoexplicativo. De 8min21 até 16min48.
— de 8min21 até 16min48
https://youtu.be/BMrQok1pvR4
A origem do minueto remonta a uma dança francesa homônima, tipicamente aristocrática, e que foi muito popular na corte de Luis XIV. Na sinfonia clássica, o minueto é contrastante em relação ao movimento lento que o antecede. Não creio haver maior exemplo de minueto do que este da Sinfonia Nro. 41, Júpiter, de Mozart.
— tudo 6min04
A série de livros de “Manual do Blefador” (Ediouro) dá dicas a pessoas que não querem passar vergonha entre entendidos. Há vários desses livrinhos: sobre música, vinhos, literatura, arte moderna, filosofia, teatro, etc. Eles são ótimos, engraçadíssimos, como demonstra este verbete sobre Haydn, escrito por Peter Gammond:
Haydn.
O pai da sinfonia. Haydn decidiu que as sinfonias deviam ter princípio, meio e fim. Beethoven, em seu estilo grosseiro, desconsiderou e estragou esse belo modelo convencional. O sentimento geral é de que Haydn poderia ser tão bom quanto Mozart se não tivesse sido tão incuravelmente feliz durante a vida. Esse espírito de contentamento insinuou-se por toda sua música e diluiu-a. As últimas sinfonias foram compostas em Londres para ganhar dinheiro vivo e a sombra do contrato que pairava sobre ele acrescentou-lhe aquela pitadinha de desgraça que tanto lhe faltara antes. Talvez somente um homem verdadeiramente sem coração poderia ter composto algo tão assombrosamente feliz quanto o final da Sinfonia Nº 88.
— tudo 3min47
Depois, no Romantismo, a sinfonia passou a ser maior, e de caráter mais emotivo. Beethoven, transformou o minueto em scherzo. Foi o primeiro compositor a colocar um coral no último movimento.
É importante lembrar que, apesar das características citadas, nem todas as sinfonias do período clássico foram compostas seguindo rigorosamente a forma. Existem obras no gênero que possuem 3 ou 5 movimentos. Mas são raros. Também o movimento lento é a terceira parte de algumas sinfonias.
Beethoven, portanto, ainda não é o compositor clássico por excelência, mas o inovador, o abre-alas para o romantismo. Com isso, não pretendemos certamente diminuí-lo, imaginem… Ao contrário, ele foi o fundador de uma era musical que até hoje não se esgotou. Quem ver o filme Eroica, de Simon Cellas Jones, verá na cena final um veterano Haydn, após presenciar a estreia da sinfonia, profetizar, com toda a razão: “A partir de hoje, tudo mudou”.
Vejam a reação do público à estreia de Renato Martins na FM Cultura antes que deletem. Um sucesso. A FM Cultura era uma das coisas boas deste estado.
Vamos tentar dar amplificação a quatro manifestações sobre a nova FM sem Cultura e outra de antes da “modernização”.
1. José Fernando Cardoso, funcionário da rádio.
Gente amiga (2), um último esclarecimento sobre as mudanças na Programação da FM CULTURA, pra que não haja alguma dúvida – e parece que tá ocorrendo um certo ruído, especialmente em relação a uma frase do presidente da FUNDAÇÃO PIRATINI, Orestes de Andrade Júnior, postada aqui no Facebook, de que “ouvimos e construímos uma nova grade junto com os servidores”. Sim, de fato Orestes e alguns membros de sua diretoria nos ouviram: nós, servidores da FUNDAÇÃO lotados na RÁDIO, fizemos três reuniões com eles na semana retrasada – e depois houve mais duas, com o novo diretor, Paulo Inchauspe, e os três programadores musicais, eu, Martinha e Clarisse. Nas reuniões com o Orestes, nos foi apresentada, num primeiro momento, uma nova grade, fechada, que acabaria por sofrer (mínimas) alterações depois de críticas e sugestões nossas. Pra se ter uma ideia, no primeiro modelo de grade não constava o ‘Conversa de Botequim’, simplesmente o programa mais conhecido e reconhecido – pelos ouvintes, músicos, colegas, apoiadores, jornalistas, divulgadores etc. – de toda a história de 28 anos da FM CULTURA. Insistimos que o ‘Conversa’ e o ‘Estação Cultura’ não poderiam cair: conseguimos manter o primeiro – e sugerimos o Demétrio Xavier pra apresentá-lo, já que a direção insistiu que o Luiz Henrique não mais poderia exercer a função -, mas infelizmente perdemos a batalha pelo segundo. Então, dizer que a grade foi construída conosco não é exatamente o que aconteceu – nossa compreensão sobre a discussão é bem diversa. Não concordamos com quase nada do que foi proposto pelos gestores: nem a troca dos apresentadores da Casa por terceirizados, nem a supressão de programas, nem o ‘Clássicos’ sendo jogado lá pra madrugada – é daí que surgiu a frase do “tu e mais 6”, quando uma colega nossa disse que era ouvinte assídua -, nem a inclusão de música estrangeira – que já é contemplada nos programas jornalísticos ‘Café Cultura’, ‘Cultura Na Mesa’, ‘Estação Cultura’ e segmentados –, o que fatalmente vai ocasionar perda de espaço para músicos locais e nacionais -, nem o esvaziamento do ‘Café Cultura’, que terá outro formato, muito mais superficial – risco que corre também o ‘Cultura Na Mesa’. Portanto, concluindo: a grade já estava modificada, 95% do que muda já estava decidido, nos opusemos de maneira muito clara, questionamos se essas medidas não deveriam passar pelo Conselho Deliberativo – eu, o colega Walmor Sperinde e o próprio Orestes, que ocupava uma das cadeiras do colegiado como representante da SECOM, sabemos disso de cor, até porque a FUNDAÇÃO ainda não foi extinta, então seu Estatuto e Diretrizes ainda tão valendo -, mas o atual presidente disse que entende que isso não é necessário. Então o que foi feito é que, a partir de nossa discordância, demonstrada já de cara e de forma veemente, deixou-se uma margem – pequena, minúscula, eu diria – para que sugestões nossas fossem levadas em conta. O que é bem diferente de uma construção conjunta, entre servidores e direção, da nova grade de Programação. O que aconteceu foi isso, perguntem aos demais colegas que lá estavam. Abraço a todos. E a luta continua.
2. Francisco Marshall, historiador.
DE ONDAS E DETRITOS
Se você fosse o dono ou gestor de uma empresa, trocaria uma funcionária culta, bem preparada tecnicamente, dedicada, reconhecida e aclamada por seu público, prestando um serviço relevante para a comunidade, pessoa certa no lugar certo, por seu oposto?
E trocaria um produto sofisticado, relevante, correto, bonito, singular, bem acolhido por seu público, por uma babaquice vulgar estilo camelódromo?
Resposta hoje vigente: “sim, afinal a empresa não é minha, o risco de solapá-la não atinge meu patrimônio, e o acionista maior (meu chefe) gosta mesmo de uma boa babaquice vulgar e aduladora. Ademais, se eu quebrar esta empresa, haverá quem aplauda, como há quem goste de me ver agredindo seus técnicos e seus clientes.”
3. Marcos Abreu, engenheiro de som.
4. Renato Martins, apresentador do Café Cultura, comprovando o “mais do mesmo” em emissora pública.
5. E vejam este post, por favor.
Aqui, o link, vale a pena clicar.. Hoje recebi uma visita pra lá de especial. A professora Isabel Velásquez é mexicana. Vive nos EUA. Leciona linguística na University of Nebraska. Lá ela ouve, diariamente, a FM Cultura! Fã de MPB, não perde um Conversa de Botequim. Apoiado por esta livreira. Participando de um seminário na PUC, as professoras que a acompanharam disseram que há três dias ela quer vir conhecer a livraria que apoia uma rádio cultural. E veio. Disse que a Bamboletras faz parte de seu imaginário cotidiano. Ao ouvir a rádio pensava: como será essa livraria? Agora conhece. Coisa de gente que ama os livros. Foi um lindo encontro!
Guto, na verdade eu acho que há graves problemas no vestiário. Contigo também, mas o mais grave deve ocorrer no vestiário e acima. Os jogadores estão descontentes com o clube ou contigo. Os caras estão se lixando pra ti. Vendo o jogo, nota-se irritação, depressão, jogadores tapando o rosto a todo momento como se estivessem horrorizados com seus erros (ou com a qualidade duvidosa dos adversários), bagunça, pouco empenho, treinamentos sem resultados.
Eu, se fosse jogador do clube, estaria puto. Uma diretoria que deixa o setor de armação de jogo exclusivamente nas mãos de D`Alessandro, de 36 anos, não tem planejamento nenhum. Há jogadores que são escalados repetidamente sem nenhum motivo. Com chefes tão ruins, nestas e outras questões, o funcionário perde a motivação, é claro. E há toda uma provável subserviência aos empresários. São eles que mandam no clube, na minha opinião. Nico López faz gols, mas tem dificuldades em manter a titularidade. Pior: sem ele, o Inter jogou 3 partidas sem acertar o gol adversário… Enquanto isso, Cirino tem chances de jogar até a torcida acabar com ele a golpes de vaias. Isso cansa todo mundo.
E os jovens, como chegarão à titularidade num time apavorado? Eles devem entrar em campo com alguma tranquilidade, mas são recebidos por um grupo em pânico. Juan fez alguns bons jogos e também teve dificuldades para ser escalado. Deve ter um mau empresário, coitado. Alguém de fora parecia estar te dizendo para escalar Cirino.
Não adianta, tenho a forte impressão de que pagamos bons salários a treinadores meia-boca para que eles obedeçam calados a interesses alheios aos clubes. O pior é que a vitrine onde estes atletas são mostrados… Daqui a pouco, nem ela vai servir, pois está rachada de lado a lado e (muito) emporcalhada.
Fizeste muito mal em dizer que o time melhoraria em uma “semana de treinos”. Piorou. Falam em contratar Moledo, mas alguém efetivamente observou seu desempenho na Grécia? Não será mais um bom negócio apenas para os negociantes e outros poucos? E por que estamos sem meia-armadores sem que ninguém fale em contratações? E quem é nosso centro-avante?
Mas formar um grupo melhor não adiantará nada se não houver uma reorganização geral interna. Aquilo que se viu sábado, contra o Boa Esporte, só pode vir do vestiário. A bola queima os pés de nossos jogadores, inclusive o de D`Alessandro. A bagunça e a perturbação vem de lá. A torcida? Olha, a torcida está louca para abraçar e amar seu time. Há anos. Mas tá difícil.
Desse jeito, não vamos nem subir. E a Série B é uma BARBADA, repito