Bom dia, Renato (com os lances de Grêmio 1 x 0 Pachuca e a agonia do Planeta)

Por Samuel Sganzerla

Como estamos todos aí nos Emirados? Aqui em Porto Alegre (e em toda América do Sul), ontem estivemos todos em transe, aguardando o momento derradeiro que nos permitiu sorrir e achar que, sim, ainda vamos acabar com o Planeta! O Coração Tricolor é muito forte, Renato! Teste após teste, ele resiste firmemente, quando muito se socorrendo do desfibrilador da LOUCURA LUDOPÉDICA. Não foi diferente ontem!

Foto: gremio.net
Foto: gremio.net

O jogo ontem, contra o Pachuca, foi de grande tensão. Pairava no ar aquele clima de OBRIGAÇÃO que se criou sobre os clubes sudacas, especialmente os brasileiros, desde que o coirmão e o Galo sucumbiram na semifinal do atual formato do Mundial de Clubes. Em verdade, é a dignidade do futebol sul-americano que entra em jogo: quem ainda tem a pretensão de fazer frente ao multimilionário e poderoso futebol europeu necessita prevalecer sobre os demais.

O problema, Renato, é deixar a pretensão se confundir com a arrogância. Porque, como eu disse no outro dia, histórico não entra em campo. Felizmente, não foi o nosso caso ontem. Mesmo diante de tantas dificuldades contra um adversário que, no último sábado, aparentou (enganosamente) ser mais fraco do que se apresentou ontem, a ansiedade não virou desespero e a aflição não se abateu a ponto de virar tragédia.

Tivemos problemas no meio campo, nitidamente sentidos na ausência do Rei Arthur. Os mexicanos detiveram maior posse de bola, que, diante de uma boa postura de nosso sistema defensivo, não se converteu em volume de jogo. Cabe destacar a boa atuação da nossa sempre valorosa dupla de zaga. Mas o elogio especial vai mesmo para Bruno Cortez, salvando o time em duas ocasiões, com botes precisos como um CÃO DE GUARDA abocanhando um naco de vazio mal passado.

Luan, mesmo muito marcado e com o homem do apito deixando Hernandez lhe surrar à vontade, aparecia bem na articulação. Foi dele o chute que quase abriu o placar, não fosse a defesa de Perez (o arqueiro com porte de jogador de fim de semana e vasta experiência), que ainda permitiu a bola triscasse a trave. Barrios apagado deu lugar a Jael, o centroavante que revoluciona o jogo mesmo sem fazer gol (foi um elogio, OK!?). Mesmo com a melhora e com o domínio da partida, persistiu a igualdade e fomos para a prorrogação.

Eis que Everton Cebolinha, o TALISMÃ TRICOLOR, encarnou o seu melhor espírito para infernizar a defesa mexicana e soltar um petardo no canto oposto da meta mexicana. Claro, um tento logo no início da prorrogação era apenas a confirmação do bom presságio que se desenhará sempre que, numa partida do Mundial, o nosso camisa 7 sentir cãimbra nas pernas aos 45 do segundo tempo. Sabes de quem falo, né, Renato?!

Enfim, foi o grito de gol desengasgado, a alegria de uma tarde de terça-feira fugaz, que seria só mais um dia banal se não fosse o Grêmio. Desenhou-se ali a nossa vitória, e depois tudo foi alívio e festa. Estamos na final, mantendo vivo o sonho de atingir o topo do mundo novamente. Acompanharemos hoje a definição do nosso adversário, na partida em que o time do país-sede recebe o famigerado campeão europeu.

Evidentemente, a lógica nos obriga a afirmar que o Real Madrid já é nosso adversário (mesmo que, no futebol, a lógica às vezes passe fome). E, contra os Merengues, não temos nada a perder. Agora, o favoritismo, convenhamos, é todo deles. Até os quero-queros que voam sobre o crescido gramado do saudoso estádio Olímpico sabem disso. O que vier para nós será lucro. Lembremos que, daquele lado, está o maior clube da história do futebol (por méritos ou por razões escusas, como tanto acusam).

O Real É o maior vencedor do Mundial de Clubes, com cinco títulos. O maior campeão da Liga dos Campeões da UEFA, sendo também o único clube a ter vencido duas edições seguidas nas últimas três décadas. Chega com o time completo, recheado de jogadores que são titulares absolutos em suas seleções. A estrela do time já escreveu seu nome no rol dos grandes jogadores da história – e não apenas acaba de vencer sua quinta Bola de Ouro, como é um atleta ambicioso, sempre obcecado com a vitória, com quebrar recordes e marcas pessoais.

Com certeza, não é nada fácil. Como nunca foi para nós! Este será o maior desafio da gloriosa história de 114 anos do Imortal. Mas eu repito: não temos nada a perder. Se a realidade é dura, que nos alimentemos de sonhos e de loucura. É assim que vivemos desde sempre, foi graças a esse delírio apaixonado pelas três cores que chegamos tão longe. E a inspiração, Renato, pode ser numa tarde em Tóquio da qual tu lembras muito bem,

Como tu sabes, Renato, eu sou gremista desde a tenra infância. Desde que me conheço por gente, já ouvia dizer: “o Grêmio é Campeão do Mundo”. A vitória sobre o Hamburgo ocorrera em 11 de dezembro de 1983, quase quatro anos antes de eu nascer, é verdade. Devido aos canais de televisão a cabo, lembro quando vi pela primeira vez um compacto com imagens raras do jogo. Depois veio a era da internet, de modo que a tecnologia me permite rever a partida completa do meu celular agora, se eu quiser.

Graças a isso, acho que já assisti ao jogo inteiro do Mundial de 83 umas seis ou sete vezes. E sabe o que é sentimento de torcedor gremista mesmo, Renato? É que eu sei desde desde sempre qual o placar final daquela partida… Mas toda vez que o Magath levanta a bola na área, e o Jakobs a escora para o Schröder empatar, aos 40 do segundo tempo, eu fico nervoso. E sempre que tu fazes aquele golaço na prorrogação, deixando o mesmo Jakobs na saudade e batendo no contrapé do Stein, uma lágrima escorre.

Esse sentimento é o que define o Grêmio: ele é intenso, vibrante, eterna e constantemente apaixonante. Ele é Imortal!

Vai lá, Homem-Gol! Digo e repito: nada temos a perder contra o Real Madrid! Quando os fatos são improváveis, lembremos que nós somos feitos de batalhas heroicas e feitos inacreditáveis! Se a vida é dura, sonhar não custa nada!

Que venha o Bi-Mundial!

Saudações Tricolores!

E segue o baile…

https://youtu.be/LOqNN_YXitM

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