Hoje, depois de levar a Elena na Ospa, passei quase todo o dia na Livraria Bamboletras. Dei umas saídas curtas. Fui pagar uma conta na lotérica, fui ao Banrisul, fui resolver um problema na Jacinto Gomes. Ah, e almocei fora, sozinho.
Quando a Elena voltou e conversamos, ela perguntou o que era aquele rabo preto na minha bunda. Não entendi nada. Pus a mão atrás e puxei uma meia social preta que estava presa no cinto. Apenas uma meia do par.
Sim, pela manhã, tinha pegado a calça de cima da cadeira de balanço. Debaixo da calça estava um par de meias.
Conclusão: dei várias voltas pela Cidade Baixa e na Livraria com um rabo preto. Depois a gente fica famoso e pensa que o motivo são nossos livros, textos e bom atendimento. Pfff, o véio do rabo preto.
Coisas da infância, coisas de quem estudou no Julinho…
Hino da Independência
Japonês tem 4 filhos
Todos eles bem gentis
O primeiro é carpinteiro
O segundo é vagabundo
(…)
Ou
Japonês tem 5 filhos
Todos eles com um defeito
O primeiro é maconheiro
O segundo é vagabundo
O terceiro é punheteiro
O quarto morreu no parto
E o quinto nasceu sem pinto
Ou
Japonês tem 4 fi-i-lhos
todos 4 a-leijados.
Um é mudo
o outro é surdo
os outros do-ois
são barrigudos.
Um é mudo,
o outro é surdo,
um é mudo,
o outro é surdo,
os outros dois são barrigudos.
Caninos Brancos é um dos romances americanos mais famosos do século 19 e uma das melhores histórias já escritas. Mas lá há muito mais acontecendo do que uma simples história sobre um cão abrindo caminho no mundo. Pegue uma cópia de Caninos Brancos e vá para a parte onde nosso herói encontra pessoas brancas pela primeira vez, depois de viver com uma tribo de nativos americanos. “Em comparação com os índios que ele conheceu”, diz o livro, “eles eram para ele outra raça de deuses superiores.” O romance então continua dizendo que o mestre nativo americano de Caninos Brancos “era um deus-criança entre aqueles de pele branca”. Sim, parece que Caninos Brancos (White Fang) é um lobinho muito racista … Provavelmente porque London também era.
Se você acha que as coisas de “deuses superiores” são ruins, então dê uma olhada no ensaio de London chamado “O Sal da Terra” (The Salt of the Earth), que argumentava que os brancos são “uma raça de maestria e conquistas”. London também escreveu que o genocídio era apenas uma parte da seleção natural, algo que é perfeitamente aceitável quando “raças inferiores” encontram os anglo-saxões. London escreveu um conto chamado “The Unparalleled Invasion”. A história começa com os chineses dominando o mundo. E como a história termina? Com os EUA e a Europa atacando a China com armas biológicas, eliminando todos os chineses e reivindicando o país para os brancos em todos os lugares. OK.
Provavelmente não será uma surpresa que Roald Dahl — autor de James e o Pêssego Gigante, Matilda, O BGA e A Fantástica Fábrica de Chocolate — foi um pouco um monstro na vida real, não muito diferente dos personagens macabros que povoam suas histórias. Dahl era uma pessoa horrível que tornava a vida de todos que trabalhavam em sua editora, Alfred A. Knopf. De acordo com um relato , sempre que Dahl ia ao escritório, “as secretárias eram tratadas como criadas” e “chiliques de raiva absoluta ocorriam tanto pessoalmente quanto por cartas”. Quando a empresa finalmente disse a Dahl para se controlar ou sair, todos no escritório subiram em suas mesas e aplaudiram.
A primeira esposa de Dahl apelidou-o de “Roald, o Podre” (Roald, the Rotten). Além de ser geralmente mal-humorado, ele era racista e antissemita. Nas versões originais da Fábrica de Chocolate , os Oompa Loompas não eram anões laranja de aparência estranha, eles eram pigmeus negros. (Para seu crédito, devemos dizer que Charlie Bucket era originalmente negro, até que um editor fez Dahl mudar de ideia). Conforme apontado pela BBC, na primeira versão de James e o Pêssego Gigante, o personagem do Gafanhoto dizia, “Prefiro ser frito vivo e comido por um mexicano.” Mas o pior de tudo é que Dahl deixou registrado em 1983, dizendo: “Há um traço no caráter judaico que provoca animosidade … Até mesmo um fedorento como Hitler não o perseguia sem motivo.” Isso mesmo. Definitivamente esta não é uma história que você quer contar para seus filhos.
O Senhor das Moscas é um dos melhores e mais assustadores livros já escritos. A trama gira em torno de um grupo de meninos que acaba em uma ilha deserta, dividem-se em facções assassinas e voltam à selvageria da Idade da Pedra. É um dos romances essenciais quando se trata de explorar o lado negro do homem … algo que o autor William Golding conhecia muito bem. Em 2009, foi revelado que ele havia registrado um incidente profundamente perturbador em seus diários privados. De acordo com o próprio Golding, quando ele era um estudante universitário de 18 anos, ele tentou estuprar uma garota de 15 anos chamada Dora.
O ataque aconteceu alguns anos depois que os dois se conheceram, quando Golding voltava do primeiro ano em Oxford. Golding justificou seu desejo dizendo que, aos 14 anos, Dora “já era sexy como um macaco”. E aos 15, enquanto caminhavam à noite na rua, ele decidiu que a jovem adolescente definitivamente desejava um avanço agressivo. Mas acabou que ela não estava interessada em fazer sexo — e lutou bravamente contra Golding. Como disse Golding, ele “tentou estuprá-la desajeitadamente”, e os dois lutaram como inimigos“.
Por fim, Dora livrou-se de Golding, que foi forçado a recuar, enquanto repetia: “Não vou machucar você”. OK, então ela saiu correndo, deixando-o.
Norman Mailer se destacou em ficção (Os Nus e os Mortos) e não-ficção (A Luta e A Canção do Carrasco), mas… Apesar de todo o seu talento com uma máquina de escrever, Mailer era uma pessoa… Se você precisar de provas, pergunte a sua filha Elizabeth, que disse ao The New York Times que sua mãe, a artista Adele Mailer, se referiu a ele após sua morte como “um monstro”. Por que ela diria algo tão terrível sobre o pai de seus filhos? Talvez porque Mailer quase a esfaqueou até a morte.
Acontece que Mailer era supersensível quando se tratava de escrever, e quando Adele afirmou que ele não era um escritor tão bom quanto Dostoievski, ele agarrou um canivete e partiu para o ataque, apunhalando-a no estômago e nas costas. A ferida foi tão profunda que ele perfurou seu saco pericárdico.
Mas este não foi o único crime envolvendo o autor. Em 1981, Mailer ajudou um assassino condenado chamado Jack Henry Abbott a sair da prisão. Mailer ficou incrivelmente impressionado com as habilidades de escrita de Abbott, mas não parecia se importar por que Abbott estivesse atrás das grades. Infelizmente, apenas algumas semanas depois de obter sua liberdade, Abbott assassinou um garçom durante uma discussão mesquinha. Obviamente, Mailer não foi diretamente responsável pela morte, mas quando ele defendeu a libertação de Abbott, ele não estava pensando sobre os danos que poderia desencadear. E quem iria desafiar Mailer e dizer a ele que isso era uma má ideia? Ninguém. Porque se você estivesse do lado ruim dele, ele poderia te atacar com um canivete.
Se você leu Oliver Twist ou David Copperfield, tem certeza de Charles Dickens foi um cara incrível em todos os aspectos. Ler seus livros é, certamente, uma das alegrias da vida. E mais, por 12 anos , ele dirigiu um lar para prostitutas na esperança de um novo começo. Seus romances também ajudaram a por em discussão a vida das crianças que trabalhavam em fábricas. Mas, embora Dickens tivesse uma queda por crianças órfãs, não estava tão preocupado com seus próprios filhos. Na verdade, seu filho mais velho disse uma vez que os meninos e meninas do livro de Dickens “às vezes eram muito mais reais para ele do que nós”. Porém, sendo um mau pai, parece que era pior ainda como marido.
Dickens teve dez filhos com sua esposa, Catherine, mas cansou dela. A vida de uma mulher vitoriana não era fácil, e depois de ter tantos filhos e de tanto trabalho, Catherine engordara muito e então Dickens, aos 45 anos, começou um caso com uma atriz de 18 anos chamada Ellen Ternan. Dickens tinha uma filha da mesma idade de sua nova amante e mantinha Ternan escondida em várias casas onde a visitava secretamente. É provável que tivessem um filho.
Para piorar, Dickens logo decidiu que não queria mais ficar com sua esposa, mas em vez de apenas se divorciar, lançou uma grande campanha de difamação, atacando-a injustamente na imprensa. Ele publicou uma carta em um jornal criticando suas habilidades maternas, dizendo que ela não amava seus filhos e que eles não a amavam, o que era completamente falso. Pior ainda, Dickens conseguiu a custódia total dos filhos (era o habitual a época vitoriana) e se recusava a deixá-los ver a mãe regularmente. É meio chocante saber que o mesmo cara que escreveu A Christmas Carol podia, o que prova que só porque você escreve livros do bem não significa que você seja um santo.
OK, músicos são artistas que precisam do poder. O poder detêm teatros e orquestras, mas digamos que alguns se apaixonam e fazem demais.
Foi o caso de Villa-Lobos. Ele se colocou a serviço do governo Getúlio Vargas, aquela coisinha fascista entre os anos de 1930 e 45, foi seu parceiro mais precisamente durante o Estado Novo, entre 37 e 45. Durante este período, o artista usou o seu talento para construir um programa de educação musical ligado aos interesses do regime. Mas a relação não era daquelas do tipo cerveja Caracu (tu entra com a cara e eu com o cu), era uma relação em que ambos ganhavam. Afinal, Villa-Lobos também tirou proveito da ligação para divulgar a sua música e deixar seu nome como o de maior compositor nacional.
Em 1934, Gustavo Capanema assumiu o Ministério da Saúde Educação e Cultura. Homem afeito às artes e à cultura, Capanema convidou artistas e intelectuais para compor seu ministério. Villa estava no grupo. Então, o canto orfeônico foi tornado obrigatório nas escolas. Tudo ajudava. Villa era um nacionalista e Vargas também. Em defesa de Villa, pode-se dizer que a vinculação da ideologia nacionalista do governo não se restringia ao âmbito artístico e musical. Toda política educacional do governo Vargas voltava-se para o aspecto nacionalizante da educação, valorizando a brasilidade e procurando afirmar a identidade nacional. Contra Villa, há apenas a ditadura de Vargas, o que não é pouca coisa.
O Canto Orfeônico tornou-se o modelo nacional de educação musical e, por meio de seu repertório cívico, sacralizou um conceito de brasilidade proposto pela reforma de ensino do governo Getúlio Vargas. A Superintendência Educacional e Artística (SEMA) oportunizou a implantação desse projeto de educação musical, baseado na prática de canto orfeônico, que associava música, disciplina e civismo.
Um exemplo da exaltação a Getúlio e seu governo está na peça “O Canto do Pajé”. A canção foi executada algumas vezes por coros orfeônicos comandados pelo próprio Villa para homenagear o presidente, enquanto este se dirigia ao palanque para proferir discursos em datas nacionais.
Papa Hemingway escreveu grandes romances como Adeus às armas, Por quem os sinos dobram e O velho e o mar. Ele até ganhou um prêmio Nobel. Mas quando ele não estava produzindo clássicos, você podia encontrá-lo ficando bêbado e entrando em aventuras malucas. Ele patrulhou a costa cubana em seu barco de pesca, à caça de submarinos nazistas, sobreviveu a dois acidentes de avião, dirigiu uma ambulância durante a Primeira Guerra Mundial e trabalhou como jornalista durante a Guerra Civil Espanhola.
No entanto, as coisas tomaram um rumo mais sombrio quando Hemingway entrou para a KGB, a notória agência de espionagem soviética. Parte polícia secreta, parte organização de inteligência, a KGB fez seu nome encarcerando oponentes políticos e assassinando inimigos do estado. Quando se trata de caçar seres humanos, a KGB está ao lado da Stasi e da Gestapo. De acordo com livros como Spies: The Rise and Fall of the KGB in America and Writer, Sailor, Soldier, Spy, Hemingway realmente espionou para os soviéticos. Ele recebeu o codinome “Argo” e teve encontros com outros agentes da KGB em Londres e em Havana. Mas, apesar de sua atitude voluntária, Hemingway foi um péssimo espião. De acordo com os arquivos oficiais da KGB, Argo nunca entregou nenhuma informação e os russos logo desistiram dele.
Quando se tratava de escrever, J. D. Salinger era esplêndido. O solitário autor foi o homem por trás de O apanhador no campo de centeio, um dos romances mais amados e debatidos do século XX. Mas, embora o trabalho de Salinger tenha atraído legiões de fãs, muitos não ignoram suas estranhas histórias com meninas. Sim, ele tinha extremo interesse por mulheres bonitas recém-saídas da puberdade e costumava atrair essas jovens para relacionamentos românticos escrevendo cartas para elas. Sendo mais claro, seu jogo de sedução era feito somente de palavras e ideias, não com sexo. Mas, para a jovem que lia tais palavras não podia haver fascínio mais poderoso.
Quando tinha 53 anos, ele viu Joyce Maynard no New York Times e logo a atraiu para um relacionamento. Mais tarde, ela escreveria sobre suas interações com o escritor, descrevendo-o como apenas mais um pequeno abusador. Quando a dispensou, ela tinha 19 anos. Ele botou duas notas de 50 dólares no bolso dela e a mandou embora…
Ele também “cortejou” Jean Miller quando ela tinha apenas 14 anos. Quando se conheceram, Salinger tinha 30. Mantiveram um contato muito estreito entre 1949 e 1954. Eles mantiveram um relacionamento eventual até a garota fazer 20 anos, e então finalmente decidiram transar, mas Salinger largou-a logo depois.
O fato é que, quando se tratava de mulheres da sua idade, mesmo lindas, Salinger era muito menos sedutor. Vamos colocá-lo em que categoria? De borderline pedófilo?
Ela foi um dos principais membros da “Geração Perdida”. Ela foi a principal influência de alguns dos artistas mais influentes do século XX. Se, como no filme Meia-noite em Paris, você pudesse viajar no tempo e visitar seu salão parisiense, você poderia encontrar lá Ernest Hemingway, Pablo Picasso e F. Scott Fitzgerald. Além de promover uma das comunidades mais criativas da história da humanidade, Stein escreveu A Autobiografia de Alice B. Toklas , um livro sobre sua companheira de vida, o que a torna muito simpática. Stein era uma mulher incrivelmente poderosa, mas embora fizesse parte da elite literária, tinha uma estranha queda por fascistas.
Gertrude Stein disse uma vez que Adolf Hitler deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz e fez até uma saudação nazista do lado de fora do bunker do Führer. Certo, há uma pequena chance ironia, mas seu apoio a Philippe Pétain é um pouco mais difícil de explicar. Se esse nome não soa muito íntimo a você, Pétain foi o chefe de estado francês durante a Segunda Guerra Mundial, o chefe do governo de Vichy. E embora a França de Vichy fosse supostamente neutra, era na verdade um governo fantoche do Terceiro Reich, permitindo que os nazistas governassem a maior parte do país e aplicando suas leis antissemitas.
Portanto, é um pouco estranho que Stein fosse tão pró-Pétain , especialmente porque ela era judia. Mas ela apoiava o armistício do homem com Hitler e o amava tanto que escreveu propagandas que apoiavam reinado. Stein chegou a traduzir seus discursos para o inglês, esperando que alguém os publicasse nos Estados Unidos. Claro, o resto da França não se sentia da mesma maneira e, após a guerra, Pétain foi jogado na cadeia.
E quando seu escritor favorito é um ser humano horrível? Um racista? Um canalha? Um cara que tentou matar alguém? Alguns dos melhores romances e contos foram escritos por homens e mulheres de Lados B muito obscuros. No papel, são mestres em seu ofício. Na vida real, eles traíram colegas, agrediram membros da família e deixaram amigos tremendo de medo.
I. George Orwell vendeu muitos escritores
Politicamente falando, George Orwell era um socialista que odiava abertamente odiava a União Soviética. O cara desprezava o totalitarismo do país e, como prova, deixou-nos Fazenda dos Animais e 1984, com claras alusões ao modus operandi da ex-URSS.. Mas embora Orwell odiasse ditadores e burocracias autoritárias, isso não o impediu de vender alguns de seus colegas escritores e artistas a uma poderosa agência governamental.
Na década de 1940, Orwell fez alguns trabalhos para o Foreign Office do Reino Unido, especificamente para um grupo denominado Information Research Department (IRD). Em verdadeiro estilo orwelliano, aquele nome aparentemente inócuo pertencia a um departamento especializado em produzir propaganda. O trabalho do IRD era difamar os soviéticos, e Orwell ajudou-os a não contratar pessoas com simpatias daquele lado de lá. Visando alguns nomes de destaque, Orwell elaborou uma lista de escritores e pessoas influentes que acreditava estarem do lado vermelho da força. Ele entregou sua lista negra ao IRD.
(Fui aluno do Colégio Estadual Júlio de Castilhos e na minha época não somente o aluno delatado era eventualmente punido. Em caso de punição, o delator recebia a mesma pena para aprender a não ser como Orwell).
Bem, foi algo muito sujo, especialmente para um homem que criou o Big Brother. Para piorar, parece que muitos autores e atores acabaram na lista de Orwell porque eram negros, judeus ou gays. Embora não tivesse o impacto de um Joseph McCarthy, Orwell provou ser um hipócrita que poderia fazer um excelente trabalho trabalhando para a Thought Police.
Lembro da vez em que um escritor puxou um Pai Nosso no StudioClio. A minha cara e a do Francisco Marshall — estávamos assistindo juntos à palestra — deve ter sido de tanto pasmo e indignação que o cara passou a mijar os ateus enquanto falava de Grande Sertão. Nada a ver… O cara ficou descontrolado. Falava de Diadorim e mudava de assunto pra religião. Olhava pra nós e a gente nem bola. Eu estou em estado de choque até hoje. Não consigo parar de rir sempre que lembro do episódio.