Algumas mulheres – tão jovens e lindas – fazem com que eu me sinta assim…


Woody Allen e Scarlett Johansson

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10 coisas que TENHO que fazer (Simples plano de intenções para 2011 e depois)

Coisas para 2011

1. Emagrecer e voltar a acompanhar meu colesterol. Visitar o cardiologista.
2. Manter as finanças equilibradas como estiveram no segundo semestre de 2010.
3. Arrumar a blibioteca e a discoteca de casa (estantes e organização).
4. Fazer uma visita ao oftalmologista, estou meio cego de novo.
5. Ir a Portugal.

Coisas para depois

1. Morrer antes de meus filhos e amigos.
2. Ter mais tempo para mim.
3. Comprar um Karmann-Ghia.
4. Trabalhar minha vida financeira de forma a que sobre alguma coisa.
5. Trabalhar — sendo útil — até o último dia.

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O calor que atrapalha tudo

Ontem, às 19h30, corri 5 Km em 33min.

Hoje, às 9h, conrri 5 Km em 28min14.

Não sei a diferença de temperatura, mas era algo como de 33°C ontem e de 27°C hoje.

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Retrato do blogueiro quando em Parati

Quando já estava indo embora de um bar na cidade histórica, um artista de rua ofereceu-me esta caricatura. Parece que estou na privada, não?

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Hate post

– Meu computador pessoal ou, mais especificamente seu disco rígido, desistiu de viver. Há cópias de segurança, mas a última é do dia 20 de junho. Como nunca perdi meus arquivos, fazia cópias muito raramente. Um técnico está tentando salvar alguma coisa. Estou num notebook que não é meu. A coisa está toda desconfigurada e sem os programas aos quais me escravizei. Sem meus “Favoritos”, tive que ligar para o Gejfin, pois nem sabia mais como postar.

– Se alguma lista de “Melhores CDs de Rock de Todos os Tempos” não incluir Odelay, do Beck, você saberá que a lista é anacrônica. Não perca tempo com ela.

– Fantástico o último post do Tiagón (link ao lado) sobre masturbação feminina. A franqueza de alguns comentários é surpreendente. Bom isto.

– Meus três próximos posts – a sexta parte do “Monólogo Amoroso”, um diálogo em que um Oficial de Justiça vem intimar uma mulher por ter fingido seus orgasmos por 15 anos (a ação fora impetrada por seu marido) e alguma anotações sobre música – estão (estavam) no disco que foi para o espaço.

– Um arquivo com um projeto importante para meu trabalho profissional também está (estava) lá.

– Para me acalmar, vou correr uns 8 Km em vez de almoçar. Fui.

Atualização das 15h40:

– Não é o HD. Não se sabe o que é. O computador às vezes carrega o S.O.; outras vezes, não. Pode ser a fonte, talvez a memória, etc. Enquanto isto, meus arquivos permanecem seqüestrados.

– Corri 4,8 Km em 28 minutos. Aí, eram mais ou menos 12h40 e me deu uma grande fraqueza. Voltei ao escritório para tomar um banho – há chuveiro aqui – e almoçar. Aconselho todos a correr. Dizem que faz bem para a saúde e, enquanto corremos, organizamos nossa vida, agenda e preparamos posts. Ninguém nos interrompe. Depois, o cansaço é tanto que dá até para receber telefonemas da ex-mulher sem reagir nem pensar e muito menos registrar (o que é ainda melhor para a saúde).

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Será que sai o PHES de amanhã?

Já não disse que detesto Natal? Fico mei irritado nessas datas. Vamos ver até a noite se terei saco para publicar o Porque hoje é sábado.

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O Mundo Médio, O Pior dos Mundos e o Mundo Bom

Publicado em 16 de agosto de 2004

O Mundo Médio. Trabalho insano. Passei a noite de sexta para sábado no restaurante. Saio de lá às 4h da madrugada. Tudo bem. Tudo bem? Tudo bem se não tivesse que acordar às 8h30 para abrir o bar em que o restaurante se transforma no sábado pela manhã, a fim de atender os alunos da Associação Italiana onde estamos sediados. Fico absolutamente irritado quando a Claudia me acorda, mas vou, desta vez com ela junto. Saio de lá ao meio-dia, almoço e vou para

O Pior dos Mundos. Para mim, nada foi pior do que os primeiros meses de separação. Mas a gente se refaz de quase tudo e hoje vejo aquele período como um fato indissociável e causador de minha tranqüilidade atual. Aprendi muito. Como estou separado há 3 anos – parece-me muito mais! -, é surpreendente que tenha que pedir ainda hoje auxílio a uma psicóloga para que possa conversar com minha ex. A nossa é muito boa, requisitadíssima e nos atendeu às 14h30 de sábado. O motivo alegado era o acerto da agenda das crianças; o real, um acerto de contas na forma de insultos. Chego à reunião absolutamente calmo, como se estivesse ouvindo Bach em casa. Quando me separei, estava transtornado, desesperado e cometi toda espécie de erros. As decisões que tomei contra mim foram… bom, melhor deixar de lado este assunto. Agora, sabe-se lá porque, o descontrole está do outro lado. É como se tivesse ocorrido uma separação unilateral há 3 anos; naquela época fui chutado e sofri sozinho. Tudo o que ouvia era tremendo e tinha como conseqüência um desmanche interno. Hoje, depois de 37 meses e 5 dias, tenho pela frente o Milton daquela época. Tudo o que digo parece ser tremendo e as bombas que me lançam podem ser rebatidas ou caem longe. Mas não é, de forma nenhuma, agradável. Fui patético há 3 anos, dizia e fazia bobagens; hoje, observo. Ao final da reunião, fico abruptamente sozinho com a psicóloga e vou ao

Mundo Bom. Converso com ela sobre o Bernardo. Ele tem 13 anos e sinto muitas vezes que ele poderia ter companhia melhor que a minha. Expressei-me mal, vamos de novo: sinto que estou sendo chato e que não sei mais como ser interessante para ele. Sou apegadíssimo a meus filhos e esta é uma enorme angústia. Quinta-feira, dia 19, completo 47 anos; quero ser flexível, alongado, sarado, ter uma mente jovem, permanecer bom pai, mas vou-me atrapalhando. Há alguns dias, intuí que ele desejava o Canal Playboy em seu quarto. Comprei-o para ele, digitei 79 no controle remoto, ele viu, voltei ao GNT e caí fora. Acho que faz parte do meu papel fazer isto, porém sei lá se é correto… Afinal, antigamente os pais levavam o filho púbere a um prostíbulo… Sempre achei isto uma violência. Sou tranqüilizado pela psicóloga que diz que fiz bem e me enche de sugestões sábias. Resultado: mesmo após mais uma noite passada no restaurante – até às 3h -, tive um domingo de sonho com ele, Bárbara e Claudia. Fizemos um churrasco juntos, conversamos, fomos ao cinema (dormi meu sono atrasado durante o filme “Eu, Robô”) e agora é a vez deles estarem dormindo. Assim, a vida já passa a valer a pena.

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Reflexões (ou memória) pós-separação (III)

Publicado em 29 de julho de 2003

Lá por julho do ano passado, comecei a namorar a Claudia. Como dormia sempre na casa dela e minha cama só me via quando estava com as crianças, resolvi falar da novidade para elas. Preparei-me bastante, escolhi bem as palavras para que não houvesse choque nem rejeição. Reuni os dois e contei-lhes a história.

Bernardo, com 11 anos na época, foi muito racional. Disse-me:

– É claro que vou sentir muitos ciúmes, mas acho que tu é um cara legal e merece isto.

A Bárbara, com sete anos, não disse absolutamente nada. Uma semana depois, voltou subitamente ao assunto:

– Eu vou ter duas mães?
– Não, a tua mãe é a Laura. Tu vais ter mais uma amiga.

Então, ela abriu um sorriso e disse que queria conhecê-la logo, saber como ela era, etc. O Bernardo tinha pedido um tempo para se acostumar com a idéia, mas a Bárbara queria ver logo como era “a nova amiga”. Quem é pai sabe o quanto as crianças sabem ser insistentes. Numa manhã de domingo, quando estava com os dois, a Bárbara veio me acordar e, utilizando todo o seu arrasador poder de sedução junto a mim, fez-me prometer que eu a apresentaria à Claudia ainda naquela manhã. Convidamos o Bernardo, mas ele queria mais tempo.

Pois bem, levei-a até o apartamento da Claudia, onde tivemos uma das mais curiosas cenas de timidez de que vi até hoje. Minha filha, que é uma loira crespa linda, escondeu-se atrás de seus cabelos e de um livro e, através do pouco espaço útil disponível, espreitava minha namorada quando esta não a estava olhando. Não queria conversar, só olhava. Depois, pediu-me uma folha para desenhar e fez um casal cuja mulher tinha enormes mãos. Acho que ela – apesar da timidez – deu uma grande demonstração de coragem. Hoje, as duas são companheiríssimas.

Bernardo conheceu-a depois. Pediu-me que fosse numa reunião com mais gente presente. Foi atendido. Fizemos uma apresentação quase formal. Cumprimentaram-se como dois embaixadores de potências inimigas. Mas a formalidade logo foi dando lugar à naturalidade. Eles também se relacionam bem.

Fico pensando o quanto podem ser diferentes dois irmãos.

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Festa de Aniversário & As Olimpíadas

Publicado em 30 de agosto de 2004

A festa de meu aniversário deste ano foi diferente. A Claudia escureceu um pouco a sala e colocou um data-show projetando DVDs de jazz e de qualquer coisa que fosse muito boa. O Festival de Newport de 1958, um inacreditável show da Blue Note de 1986 e a segunda gravação das Variações Goldberg por Glenn Gould foram projetados por sobre as cabeças dos comensais. Não sei se o resultado foi bom para todos, mas vi muita gente de pescoço torcido ouvindo e vendo música da melhor qualidade no intervalo entre as conversas. A aparência geral de quem estava lá era de felicidade, exceção feita a meu adorável sobrinho que pedia para acendermos as luzes a pleno, porque, afinal, ele precisava ver com toda a clareza o que estava comendo e, segundo ele, já tínhamos demonstrado a todos que éramos mesmo muito sofisticados… Estou pondo este sobrinho à venda. No final da noite, ficamos eu, a Claudia, a Jussara, o Branco, a Helen, o Alejandro e o Bernardo ouvindo, comentando e conversando sobre música, sobre a fraca temporada cinematográfica e sobre qualquer coisa, enquanto Gould fazia misérias sobre Bach e um quarteto executava Borodin (Quarteto Nº 2). Filipe, não adianta, fingimos ser assim todo o tempo…

Creio que a Claudia não se incomodará se algum de meus 7 leitores quiser organizar festa análoga. É só pagar royalties. Posso fazer a intermediação…

Agora, falando sério: esta festa está se tornando uma necessidade, pois há queridos amigos que vejo exatamente uma vez por ano. E, já que a rotina e o trabalho são algozes tão eficientes na separação de amigos, precisamos agendar o contra-ataque. Fico feliz que este se realize em minha data.

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Passei esta semana mobilizado vendo as Olimpíadas. Robert Scheidt, Daiane dos Santos, o volei feminino e seus 6 match points perdidos, Torben Grael e seu companheiro de que não lembro o nome (Marcelo Ferreira?), o volei de praia com o Emanuel e o Ricardo, o volei masculino, o futebol feminino e seu pênalti não marcado e o absurdo final da Maratona com o anônimo e surpreendente Vanderlei Cordeiro de Lima sendo atrapalhado por um maluco mas levando o bronze. Tudo isto além dos outros.

O problema enfrentado por Vanderlei Cordeiro de Lima pode ser bem compreendido por mim, que há muitos anos (desde 1978) costumo correr pelas ruas e pistas da cidade. De forma amadora, já participei de corridas de rua de 10 e 20 Km e sei o quanto a concentração é fundamental para completarmos qualquer prova. O sentimento de euforia que sentimos ao terminar uma corrida é algo muito bom, porém podemos desistir do esforço pelos menores problemas. Uma pequena queda, uma dorzinha, um mal estar, o fato de que às vezes parece que todas as bundas participantes estão andando mais rápido ou simplesmente a falta de alguém para correr conosco, qualquer motivo pode fazer-nos desistir. Converso com outros e é a mesma coisa. Muitas vezes, depois de percorrermos um ou dois quilômetros, paramos e voltamos para a casa ou para tomar banho no clube. Imaginem então o que este Vanderlei deve ter sentido quando aquele idiota o segurou e o empurrou da pista para a área destinada à assistência. Compreendo perfeitamente a cara de dor e choro que ele fez quando voltou a correr. Não se enganem, sua reação para chegar ao bronze foi coisa de herói.

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Teoria Geral do Caos (Revisitada)

Post publicado em 19 de abril de 2006

Dizem os matemáticos e físicos que, se colocarmos em uma caixa de fundo plano um grupo de bolinhas em movimento chocando-se elasticamente entre si e as paredes, sem atrito contra a superfície, o resultado será o caos. Ou seja, será impossível calcular as posições futuras que as bolas tomarão. E elas nunca pararão de bater-se umas contra as outras e as paredes. Esta é uma das comprovações da Teoria do Caos. Agora vai outra.

Acordo. Penso confusamente há quanto tempo não mantenho relações sexuais e meio que me desespero. Procuro com o braço minha mulher na cama e ela não está mais lá. Levanto. Procuro-a com os olhos e vejo que ela está no computador. Diz que está ali desde às 4h15 da madrugada, que não conseguiu dormir preocupada com as coisas da construção da casa e com outras do escritório. Olho para ela e concluo que sua libido também não deve estar grande coisa e isto diminui um pouco minha culpa. Apenas nos abraçamos. Vamos tomar café e noto que o leite acabou, pois teima em negar-se a vir sozinho do supermercado até nossa geladeira. Anoto mentalmente que tenho que comprar leite, tenho que comprar leite, que as crianças irão dormir conosco à noite e que não tem leite em casa, não tem leite em casa. Reviso os e-mails e noto que meu filho escreveu um depoimento para mim no Orkut. Não gosto do Orkut e penso que ele deve ter escrito alguma ironia. Divertindo-me, tenho dificuldades em achar as porras dos depoimentos. Encontro-os e, não sem antes de dizer baixinho uns palavrões, tomo um susto: O Father me ensinou quase tudo o que sei sobre o que me interessa. Aquelas mesmas lágrimas voltam a marejar meus olhos. Mas como elas raramente saem, melhor esquecê-las. Como é que alguém pode ser amado vivendo com um tumulto desses na cabeça? Engano quase todo mundo, até meus sete leitores são iludidos, mas sei que minha mulher e irmã sabem que minha tranqüilidade é apenas uma atuação. Olho para a TV e vejo que o filme apresentado no começo de Os Sonhadores, de Bertolucci, é mesmo Paixões que Alucinam, da Samuel Fuller. Penso em como amei este filme e no fato de seu nome original ser Shock Corridor. Mais e-mails de gremistas tirando sarro da minha cara. Saímos de casa. Ligamos para a arquiteta e ficamos sabendo que a concretagem da laje será feita quarta-feira à tarde. À tarde? Mas o ideal seria fazer pela manhã! Ligamos para a empresa que trará as bombas e ficamos sabendo que a arquiteta demorou para combinar o horário e que aquele é um “encaixe”. Claudia implode. Reclama em voz muito alta no escritório ainda vazio e, com toda a educação, liga de novo para a arquiteta. Quando desliga, implode novamente, antes de ligar para a empresa, suplicando que a concretagem seja feita pela manhã. Ouço suas súplicas enquanto ouço a voz de nosso empreteiro no celular. É, seu Milton, não é o melhor horário, eu avisei, mas já que foi marcado assim… Vamos fazer assim. É a minha vez de dizer palavrões. Volto para minha sala. Escrevo um e-mail para a Leila e telefono para o Rafael a fim de me acalmar. Saio do escritório para buscar dinheiro para minha mãe. Reflito sobre a resistência física e financeira que uma pessoa velha tem que ter para suportar tantos remédios e que sempre lembro das senhas bancárias de minha mãe por um triz. Penso que tenho que ir à academia e baixar meu colesterol, mas tais pensamentos são desviados pela constatação da falta de dois e-mails em minha caixa de entrada. Alguém não mandou o texto semanal do Cidades Crônicas e um cliente não me respondeu um e-mail épico que lhe escrevi ontem. Por que as coisas não funcionam se a gente não pressiona? Funcionariam sozinhas sem a gente? Claro que não. Se a concretagem não for feita amanhã, o banco que financia a obra não terá nada para ver e não liberará a segunda parte do dinheiro. Bosta! Vejo uma mulher com um maravilhoso par de tetas pairantes atravessando a rua na minha frente e quero imediatamente transar com ela. Volto para o escritório e procuro os e-mails. Encontro um de minha mulher para a empresa de concretagem com cópia para mim. Daiane, conseguiste (pelo amor de Deus!) mudar o horário da nossa concretagem para o período da manhã? Sei que te ligaram somente na quinta à tardinha mas é muito importante! Não precisaríamos correr nenhum risco, se houvesse empenho de todos. Temos que obrigatoriamente completar uma etapa da obra por causa do financiamento que estamos recebendo e que está vinculado à finalização de cada uma das etapas. Peço-te encarecidamente que nos auxilie a resolver esta situação. Muito obrigada pela paciência e por tentar nos ajudar. Surtou de vez. Está pior do que eu. Lembro daquela psiquiatra que me disse que é importante que os casais façam planos juntos. Então este inferno deve ser o caminho correto. Entro no Internet Banking, que está lento, é claro. Pago uma conta e meu celular toca. Minha mãe diz que está sem dinheiro e que é para eu tirar dinheiro da sua conta e levar-lhe. Respondo-lhe que já fiz isso e que ela espere tranqüila, bem calminha. Mais um e-mail, este do Marcelo Backes. O cliente segue me ignorando. Penso que, quinta-feira, é a minha vez de publicar no Bombordo. Ah, merda. Nem consigo ler o blog, como vou publicar nele? Abro o site do Terra e leio que Tom Cruise irá comer a placenta de seu filho. Para dizer ou fazer isto, algo deve andar pouco nutritivo em sua carreira. Telefone. O cliente! Não, é um amigo pergunta se vou ao jogo. Digo-lhe que sim e combinamos um encontro lá. Almoço tranqüilo com as crianças. Levo a Bárbara à equitação. Pelo caminho, um ataque pelo celular. Ligam minha mulher, o empreiteiro, a arquiteta e o sócio da arquiteta, todos combinando o horário da concretagem. É quando liga também o cliente. Marcamos reunião para o dia seguinte. Para ter um momento de paz, vejo minha filha treinar. De novo o celular, desmarcam um compromisso meu que seria na tarde de amanhã, faço rapidamente sua substituição por outro. No final da aula, ela sobe o morro com o cavalo e some por meia hora. Quando volta, estou meio puto; ela diz que sobe para poder galopar sem ninguém incomodando nem ditando regras. Acho que ela é uma gracinha e que puxou ao pai. Chego em casa decidido a não pensar. Vamos todos ao jogo. Ganhamos por 4 a 0. Como a felicidade não tem graça por escrito, não descrevo nada aqui. Volto para casa, mando as crianças dormirem e me dá vontade de escrever este post.

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Teoria Geral do Caos

Post publicado em 30 de setembro de 2004

Dizem os matemáticos e físicos que, se colocarmos em uma caixa de fundo plano um grupo de bolinhas em movimento chocando-se elasticamente entre si e as paredes e sem atrito com a superfície, o resultado é o caos. Ou seja, é impossível calcular as posições futuras que as bolas tomarão. E elas nunca pararão de bater-se umas contra as outras e as paredes. Esta é uma das comprovações da Teoria do Caos. Agora vai outra.

Saio de casa pela manhã. Tenho uma agenda apertada e determinada. Enquanto dirijo para o centro, ligam para meu celular. Um corretor me diz que querem finalmente alugar minha sala e é preciso providenciar alguma documentação com urgência. Acho que dá para conseguir para hoje. Chego ao escritório e recebo um e-mail do meu sócio pedindo-me alguns folders antigos de nossa pequena empresa. Ele não quer os novos, acha os antigos servem melhor a suas intenções… Respondo-lhe que datam de 1997 e que duvido que tenhamos mais do que um exemplar no arquivo. Ouço meu celular miando, querendo me dizer que a bateria já já vai me deixar na mão. Entra um gremista na minha sala e tenho meu momento de alegria ao falar na nova derrota de seu time e nas delícias da segunda divisão. A pessoa com quem farei a primeira reunião do dia chega e me repassa algumas tarefas fáceis, mas que demandam tempo. Escrevo no Multiply para o Zadig. Tiro um xerox e vou à imobiliária. Fico sabendo que o pretendente quer que eu baixe o preço; deixo para pensar depois, mas na pindaíba em que estou já sei que aceitarei. O celular mia novamente, volto à empresa e começo a reescrever o folder no Word. Abro o blog e engulo feliz e minuciosamente todos os comentários. A primeira versão do folder que tento refazer é de matar. Entro no Internet Banking que está lento, então divirto-me com os novos posts da Mônica e do Fábio Ulanin. Pago as contas e meu celular mia. Não quero recarregá-lo porque já vou sair. Tenho que ir para o restaurante. Vou. Ligam-me no caminho: tem alguém que quer marcar uma festa lá. Ótimo, mas não consigo consultar a agenda, telefonar e dirigir ao mesmo tempo. Digo que ligo depois. Vejo uma mulher com um maravilhoso par de tetas pairantes atravessando a rua na minha frente e quero imediatamente transar com ela. O celular faz três vezes miau e morre. Chego ao restaurante e fico sabendo que estamos quase sem Cocas, pois ontem teve um inexplicável superconsumo, então peço para comprar mais, ponho o celular para carregar e lembro que tenho de ir ao correio mandar Uma Confraria de Tolos para a Rosele mas hoje não vai dar, um caminhão pára na frente e começa a tocar um jingle horroroso e laudatório ao candidato Ôôôônix Lorenzooooni pego o telefone fixo e acerto a festa para o dia 13 de outubro enquanto folheio o abandonado Paul Auster à minha frente volto ao folder e vejo que a coisa começa a tomar forma Diana escreveu to everyone no Multiply mas hoje não não não os clientes começam a chegar e todo sorridente os recebo e hoje é 29 dia do gnocchi Claudia me liga para dizer que vão cantar todas as árias de A Flauta Mágica no Teatro Renascença às 21h Ônix berra que mudar faz bem promete paz e canta coisas que estão longe de Mozart o corretor liga para dizer que a sala tem um problema no registro da água um cliente depois de comer me conta um filme em que tem uma espetacular cena de perseguição desmarcam um compromisso meu à tarde e rapidamente o substituo por outro vou ao banheiro e me dá vontade de escrever este post saio e sento no computador e escrevo enquanto almoço ligeiro tenho que revisar esta coisa à noite que termina assim mesmo sem ponto

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Apesar de terem razão, ecologistas são chatos e preguiçosos

Geralmente as sacolas plásticas têm mais conteúdo do que os ambientalistas.

Ricardo Henriques, vulgo @calhau

Não sei o motivo pelo qual tanta gente chata se interessa por ecologia. É algo complicado. Conheço uns legais, mas afirmo que são minoria. Parece que certos temas são perseguidos por chatos. É algo a ser analisado e combatido, porque o meio ambiente… Não, eu não!

Eu talvez tenha feito a minha parte ao apoiar as decisões daqueles que projetaram nossa casa de forma um pouco diferente e original. Construímos com dificuldades ainda não totalmente pagas um pequeno edifício de dois apartamentos e terraço de uso comum. No primeiro andar ficamos nós, no de cima a família do irmão de minha mulher — que não mora mais lá — , e no térreo é a garagem e os quartos dos guris (Bernardo e Bárbara). Na verdade, quem concebeu as novidades mais econômicas e corretas do ponto de vista ecológico foi o irmão da Claudia, que é engenheiro — essa raça cheia de fantasia, principalmente a que de são objetivos. A construção foi lenta, mas as características que vou tentar descrever abaixo tiveram pouca influência na demora. O que influenciou mesmo foram “os recursos” e a necessidade de obter empréstimos em meio a obra.

O que há de diferente em nossa nova casa:

1. As paredes duplas.

Objetivo: manter o conforto térmico sem gastar carradas com ar condicionado.

Construir um prédio com operários brasileiros e com especificações diferentes das habituais é uma coisa para loucos. A nossa construção possui paredes duplas de tijolos maciços. Entre elas, fica o melhor isolante térmico, o ar. Mas os pedreiros demonstraram sempre uma insopitável vontade de preencher o ar entre elas com cimento… Ai, meu Jisuis, até todas as possibilidades de acesso ao vão serem fechadas, tivemos que conviver com a ameaça de ver o conforto térmico planejado ir pelos ares ou ser tapado por cimento. Não foi uma vez que um pedreiro começou a virar baldes de cimento naquele espaço inútil…

Resultado prático: Nulo. Quando esquenta, os habitantes (inclusive eu) abrem as janelas. Quando esfria, tudo é fechado. As paredes duplas são boicotadas pelos habitantes.

2. O telhado de grama.

Objetivo: o mesmo anterior.

Muito comum na Europa e principalmente nos países nórdicos, o telhado de grama fica sobre o terraço impermeabilizado, acrescido de uma geomembrana, utilizada também em lagos artificiais. A grama, assim como nós, precisa manter sua temperatura estável. Para sobreviver, utiliza sua umidade. Claro que, se tivermos um gramado sobre a casa, quem estiver em baixo receberá o ganho secundário de não ter uma potencial estufa em seu teto. Protegido desta forma e com muita fé na ciência — ou seja, com as quatro paredes laterais e o teto livre da canícula — , o irmão da Claudia não previu a colocação de nenhum ar condicionado, não fazendo nem os buracos nas paredes para recebê-los.. Nós, mais céticos, aprovamos as idéias, mas mantivemos nossos buracos… Afinal, nossos termostatos parecem ter sido regulados na Suécia; odiamos o calor excessivo. A curiosidade é que o banco financiador, o Banrisul, por pura ignorância, não aprova projetos com telhados de grama. Apesar de toda a documentação apresentada, eles morrem de medo de infiltrações na construção que lhes servirá de garantia em caso de não pagamento. Ou seja, cidadãos comuns como nós estamos mais avançados do que o estabelecido pelos “técnicos” do banco financiador.

Resultado: Nulo, enquanto não nos livrarmos do Banrisul.

3. Reaproveitamento da água.

Objetivo: óbvio.

A maior parte da água consumida em uma casa é aquela que finaliza nossos nros. 1 e 2 diários ou, sendo mais claro, vai para as privadas. A água das privadas de nosso prédio será aquela que já foi utilizada em nossos banhos, na lavagem de nossa louça, etc. Esta é mais uma idéia do irmão da Claudia – o qual até tem nome, chama-se Natal, uma tragédia que herdou. Ele é engenheiro mecânico e trabalha no DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos) de Porto Alegre, conhece estas coisas de hidráulica. Porém, toda vez que um técnico vai em nossa casa fazer algum reparo, pergunta:

— Isto foi projetado pelo professor Pardal?

Resultado: acho que funciona.

4. Sombreamento de áreas do pátio com trepadeiras e plantas frutíferas.

Objetivo: produzir sombra no verão e deixar passar o sol no inverno.

No pátio, temos maracujás e parreira e bergamoteira e alfazemas e trepadeiras e manjericão para o pesto. Com o tempo, descobri que os corretos ecologistas são bons de promessa, não de botar água nas plantas. Sobra sempre para mim que, menos ambientalista e mais político, nego-me a ter um DOI-CODI de plantas em casa. Extingui de vez a Central de Torturas, que só se mantém no terraço, a fim de que sirva de lição para a humanidade não provocar outros holocaustos. Quando começaram as mortes, fui obrigado a assumir toda a plantação — menos a do terraço. Os ecologistas me veem da janela e, por vezes, abanam ou puxam conversa. Só.

Resultado: há alguma felicidade entre as plantas, mas não é devida a quem planejou a coisa.

5. Composteiras e outras bichices.

Os ecologistas cansaram, outros ficaram com medo de ratos e outros animais ferozes. Nunca saíram dos planos.

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Um resgate para o qual talvez não tenha tempo, nem saco

Não se trata de um passado tão remoto assim, são coisas que escrevi entre 2003 e 2007, mas sei que vou perder meus textos antigos da Verbeat. Meu ultracharmoso ex-condomínio vai acabar no final do ano e, apesar de meu ex-blog não estar mais no ar, há ainda mais de 280 posts lá. Tem muita porcaria, muita coisa que só teria valor naquele contexto, mas eu deveria dar uma revisada antes do tsunami.

Mas, sabe, que preguiça!

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Minhas Falsas Primaveras

Publicado em 23 de setembro de 2005

Há aqueles que, quando ouvem alguém contar algum problema pessoal, respondem com outro seu, normalmente muito mais grave. É um egoísmo que torna a conversa um campeonato de lamentações. E este gênero de pessoas não admite perder. Não sou assim, raramente reclamo. Mas aviso que, atualmente, é mau negócio querer competir comigo. Tenho um leque muito variado para apresentar.

Muitos e solucionáveis problemas — com maior ou menor sofrimento, com maior ou menor investimento de angústia — estão se desdobrando e, durante este período, tenho esquecido aniversários, não tenho respondido muitos e-mails e os compromissos não fundamentais são deixados a uma duvidosa auto-resolução.

Àqueles que sabem das preocupações que tenho com minha mãe, aviso que ela está melhor e que fizemos algumas reformas em sua casa, além de alterarmos sua medicação junto com minha irmã — que é médica — e os médicos da Dra. Maria Luiza. Mas nada foi fácil e ela resistiu o que pôde à retirada da banheira. Fim.

Mas há a parte boa, quase primaveril. A casa-edifício que estamos construindo parece subir a cada dia, a garagem está lá no térreo, nosso futuro apartamento está acima dela, já possuindo chão e algumas paredes. É preciso imaginação para visualizar o apartamento da família do irmão da Claudia mais acima, mas logo ele será concreto. E, como nosso apartamento será de tamanho razoável — enorme, se considerarmos as construções de preço médio atuais –, brevemente a Claudia poderá voltar a promover suas festas. Ah, e haverá uma edícula para recebermos amigos e blogueiros de passagem por Porto Alegre, além dos maridos eventualmente chutados. Aguardem!

No final de novembro, a Claudia tem que ir à Itália por motivo de trabalho. Eu vou acompanhá-la. Será ótimo, apesar da temporada curta de 10 dias, mas não é ainda a primavera, pois, no hemisfério norte, será o final do outono . Muitos de vocês deverão morder-se ódio, pois vou conhecer pessoalmente a Nora Borges e o Flavio Prada. Eu e o Flavio participaremos do III Grande Encontro de Blogueiros na Itália, com certamente com o dobro de participantes do primeiro. A reportagem sobre o I Encontro pode ser lida (e vista) clicando-se aqui. Infelizmente, o outro representante de blogueiro brasileiro na Itália, o Allan ficou meio fora de mão em nosso breve percurso. Mas, com o trabalho que a Claudia faz, o que não vai faltar são oportunidades.

Antes, no dia 12 de novembro, às 15h30, no Memorial do RS, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, estarei autografando o livro do Blog de Papel. Trata-se de uma obra coletiva onde haverá contos e crônicas de Alê Félix, Alexandre Inagaki, Ane Aguirre, Arquimimo Moraes, Edson Marques, Fabio Danesi Rossi, Fal Vitiello de Azevedo, Maira Parula, Marco Aurélio Brasil, Marco Aurélio dos Santos, deste que vos escreve, mais Nelson Moraes, Nelson Natalino e Ticcia Antoniete. Às 16h30 do mesmo dia, na sala “O Retrato”, do Centro Cultural Erico Veríssimo, haverá uma mesa sobre Literatura e Internet com a participação de André Dahmer e dos autores gaúchos do Blog de Papel – eu, a Ane e a Ticcia – com mediação do escritor Armindo Trevisan.

E no dia 19, às 18h, haverá o lançamento em São Paulo, na Oca (Parque do Ibirapuera), com a presença de toda a galera.

A renda obtida com nosso livro não irá garantir a independência financeira dos autores, mas será destinada à APAE de Lagoa Vermelha (RS), que tem um blog desde junho de 2004.

Tá bom, vá lá, estas últimas notícias são, para nós, uma primavera inteira.

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Milton Ribeiro faz aniversário e é entrevistado

(Escrito há dois anos. Discretamente atualizado.)

A entrevistadora, que presumo recém chegada à menopausa, entra em minha casa a fim de me entrevistar para o Programa Hoje é Meu Dia. O programa apresenta aniversariantes e hoje é o caso. Eu tinha preenchido uma ficha candidatando-me ao programa. Improvisa-se um palquinho em minha casa. Ficamos sentados em frente a meus livros. Desculpo-me pela bagunça, mas o câmera diz para deixar assim, pois o cenário tem personalidade. Sentamos lado a lado, eu e a apresentadora.

P (à guisa de introdução) – Nosso entrevistado de hoje, Milton Ribeiro, está completando 53 anos. É um dia feliz! Ele está muito bem para sua idade. Se excetuarmos o Viagra ou o Cialis, meus caros espectadores, Milton não usa medicamentos  de uso contínuo, o que demonstra que ele é mais um prodígio de boa saúde física encontrado por nosso prestigiado programa. Saúde física e mental, conforme vocês poderão comprovar pelo bom humor de nosso entrevistado.

P – Como você mantém esta atitude positiva perante a vida?

R – Bem, como a vida não tem mesmo sentido, logo percebi que poderia optar por várias posturas, todas equivalentes. Poderia me desesperar a cada vicissitude, ou rir delas; escolhi rir. Poderia roubar e matar, mas como prefiro ser bem aceito, escolhi ser bom. Acho que poderia ser bem mais imbecil, porém gosto de cultura e de me informar e aí está um sério problema. É difícil ser pra cima e informado ao mesmo tempo, mas tenho tentado.

P – Entendo. Mas o Sr. deve tentar mais. Confiamos no Sr.!!! Ho, ho, ho!

R – Estou na luta.

P – O Sr. nunca ficou deprimido, certo?

R – Olha, houve episódios em que quis me matar, principalmente durante minha separação, mas digamos que o grande bobo que há em mim emergiu novamente após uns meses e voltei a ficar assim.

P – Nada grave, portanto.

R – Sem dúvida, nada grave. Foram apenas seis meses em que me deprimi. Minha atitude positiva perante a vida fez com que eu me livrasse de todo o insuportável estresse dando de presente todo o pouco que construíra e hoje estou aqui, em perfeita forma.

P – Você então possui uma disposição natural para a felicidade?

R – Sem dúvida. Eu nasci daltônico, estrábico, tenho pés chatos, minha voz é horrível, sou meio cambota, estou engordando e perdendo cabelo, mas só pensei nisso agora. Prova de que sou feliz e mais: de que a felicidade é proteger-se de si mesmo. É o que faço. Sempre.

P – E então? O Sr. é a prova de que as pessoas não devem desistir de seus sonhos?

R – Hum… Sem dúvida.

P – E quais são seus sonhos hoje?

R – Comprar um Karmann-Ghia, ler livros que não me encham o saco, fugir de ver TV, esquecer os jornais da grande imprensa e a música ambiente, reentrar em forma, ouvir música…

P – Vejam, meus amigos, são coisas simples! A felicidade ESTÁ nas coisas simples.

R – Sim, parecem simples, mas tem muito mais…

P – Desculpe interromper. Acho que nossos telespectadores querem saber como você chegou aos 53 anos sem tomar medicação alguma.

R – Eu ia vivendo numa boa até que fui ao cardiologista. Fui porque quis, imotivadamente. Nunca tive nada. Mas descobri que meu colesterol estava batendo nos 300.

P – Ho, ho, ho. Que coisa!

R – Pois é. Aí comecei a tomar um Lípitor antes de dormir e a coisa caiu para 100.

P – Sensacional!

R – Sim, eu sempre obedeci os médicos direitinho.

P – E então, tudo resolvido!

R – Claro, como eu sou alguém naturalmente feliz, ignorava que podia ser perigoso transformar o próprio sangue em água.

P – E então?

R – Hoje tomo meio comprimido e a coisa vai bem.

P – Viram? Tudo se resolve com bom senso, ho, ho, ho. E o peso?

R – Eu adquiri 10 quilos nos últimos trinta anos.

P – Só?

R – Sim, se seguir assim, viverei o suficiente para experimentar a obesidade mórbida.

P – Ho, ho, ho. Não é maravilhoso? E você não acha que poderia manter o peso atual?

R – Não.

P – Mas por quê?

R – Olha, eu tomei Sibutramina de 15 mg por dia e tinha a mesma fome incontrolável. Desisti. Quando chega ao final da tarde, penso tanto em chocolate que até esqueço de desejar a morte súbita de algumas pessoas.

P – Nada de maus sentimentos, nada de maus sentimentos! Diria até que sua chocolatria, ho, ho, ho, é muito boa para afastar maus sentimentos.

R – Sim. A chocolatria me salva deles e passo a sonhar apenas com Alpinos e que tais.

P – Ho, ho, ho. Você tem muitos amigos?

R – Sim, esta é uma parte boa da minha vida.

P – Maravilha, uma vida social intensa. E a vida sexual?

R – Olha, quando a coisa começou a falhar fui a um médico que garantiu que meu único problema era mental.

P – Um problema mental! Que bom que não era grave!

R – Ele me disse que se eu me preocupasse muito com os problemas, geraria um aumento de adrenalina no sangue e que esta adrenalina faria com que uma válvula não funcionasse bem.

P – Apenas um problema hidráulico!

R – Sim, claro. Se não vedar bem, o sangue sai. É como uma Hydra estragada.

P – Hidra, como assim?

R – Hydra, uma válvula que se usa em privadas.

P – Ho, ho, ho. Perfeito.

R – Aí, ele me perguntou se minha vida era exageradamente problemática, pois o estresse causa a produção em excesso de adrenalina.

R – E você?

P – Eu respondi que na época estava com um advogado, buscando a obter a guarda de minha filha.

P – Ho, ho, ho. E então?

R – Ele se apavorou. Pois do jeito que minha situação se encontrava, teria dificuldades de fazer uma boa vedação. O sangue iria embora e o pau…

P – Ho, ho, ho. Estamos entrevistando Milton Ribeiro e são 19h43 minutos em Porto Alegre.

R – …

P – E… Bem, isso significa que se você não tiver grandes preocupações, a válvula funciona e sua vida sexual também?

R – Sem dúvida! Pois não tenho problemas físicos, só os mentais causados pela adrenalina.

P – Então pode ser solucionado!

R – Claro. Foi por isso que fiz o seguinte raciocínio: como não sou rico e, portanto, meus problemas não são de fácil solução, deveria considerar seriamente a necessidade de tornar-me uma besta quadrada, um bobo alegre.

P – E conseguiu?

R – Venho tentando.

P – E será que é mesmo necessário tornar-se um bobo alegre…? Ho, ho, ho.

R – Não, mas é uma questão de prevenção. E, dentro de minha estratégia, tenho que seguir esta trilha, entende? Sou obrigado.

P – Maravilhoso!

R – Mas há desvios que atrapalham.

P – Quais?

R – Eu ligo a TV de manhã e sinto aquela adrenalina voltando. Ou dão péssimas notícias ou é vulgar pra caralho.

P – Pra car… ho, ho, ho! A TV pode ser boa, Sr. Milton, pode ser sim!

R – Sim, porém há sempre mais. Por exemplo, vou ler um bom livro, mas este me dá SEMPRE uma visão por demais realista, ouço uma bela música mas ela é SEMPRE meio trágica.

P – Ora, o mundo não é bom para os intelectuais. Por isso, os cientistas inventaram o Viagra. Só para vocês, conforme o Sr. demonstra.

R – Você está ficando irritada e isto não é bom… Lembre-se que não devo me estressar. É mesmo um remédio para intelectuais?

P – Deve ser!

R – É que desconheço pessoas felizes. Não apenas intelectuais. Todos são infelizes, mesmo que racionalizem. Todos morrerão.

P – Vocês são muito desagradáveis.

R – Como?

P – Desagradáveis. Os intelectuais gostam de ficar tristes e de dizer! Fazem dramas.

R – E você é feliz?

P – O entrevistado é você. Não interessa o que eu penso. Nem se penso.

R – Você pensa. Só que mal. Pensa que as pessoas possam ser felizes e satisfeitas quando ninguém é assim. A gente é bom ou ruim, interessante ou desinteressante, branco ou preto, engraçado ou sisudo, sociável ou não, mas é sempre insatisfeito.

P – Você não serve para nosso programa.

Fala para o câmera:

P – Ele não irá ao ar no “Hoje é meu Dia”. Procuraremos outra pessoa. Ou um ator contratado, talvez.

R – OK, não posso me estressar.

P – Passe bem. Vocês não têm nada a acrescentar!

R – Vocês?

P – Vocês, os metidos, os idiotas. Imagina falar mal da TV! Na TV! Passe bem!

Ela levanta e faz um sinal ao câmera. Ele faz tsc, tsc, tsc, e diz escolhem cada abobado, acho que não leram a ficha… A entrevistadora manda o câmera apressar-se.

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Após um dia efetivamente maluco…

… cheguei em casa ontem muito cansado, jantei, respondi e-mails, tomei banho e fui dormir. Acordei no meio da madrugada pensando no dia anterior e nas coisas que tenho que fazer hoje. Porém, as 6h45, saí da cama para acordar minha filha que devia ir para o colégio. Quando criança e adolescente, quase sempre era despertado sob ordens: “Levanta! Vai tomar café! Tá na hora”, mas sempre fiz diferente com meus filhos.

Bem, sempre acordei-os coçando-lhes levemente as costas com as unhas ou dando-lhes beijos. O Bernardo, que já tem 19 anos, mora com sua mãe e, pô, é um adulto, me pediu num fim-de-semana desses, “Coça”.  Hoje pela manhã, foi um alívio acordar a Bárbara. Eu estava precisando muito mais do que ela.

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Uma Virose e Duas Miniaturas

Meu início de semana foi muito ruim. Quando decidia fazer alguma coisa vinha a febre; então, tomava o antitérmico e deitava-me para sentir naúseas ou ser atacado pela diarréia. (Este negócio de ir ligeirinho para o banheiro como uma gueixa em fuga é das coisas mais humilhantes, não?) Aí sentava na cama para melhorar da náusea e acabava me interessando por alguma coisa e começava a me mexer. Animava-se mais e saía da cama para voltar a sofrer os tremores da febre. Um saco!

Um dia alguém me pediu para escrever histórias em 300 toques, título incluso. Não lembro bem quem foi que pediu e muito menos se foram publicadas. Sei que encontrei duas em meu micro ontem.

Além de ser um desafio para um cara que gosta de discorrer calmamente sobre os assuntos, foi muito divertido escrevê-las, Primeiro, fiz uma grade de 20 linhas, com 15 caracteres em cada uma. Depois, fiquei mais esperto e usei o BrOffice para contar os toques (opção Arquivos, depois Propriedades e Estatísticas).

O resultado está a seguir. A primeira historieta é original, a segunda é um ultrarresumo de outra pequena história já publicada.

1. Casou-se com o Corretor

Acorda e decide matar-se. O celular toca : “Filha, me deu outra crise, venha”. Vai à sacada e olha e rua, mas não quer pular de pijama. Veste-se e pensa na mãe: merda, só atrapalha. O celular de novo. A morte. Desce e dirige de olhos fechados. A despesa não supera a franquia.

2. A Erudição Rejeitada.

— Se desejas me conhecer — disse o conhecido intelectual — , ouve isto. É a 7ª de Beethoven.
Queria mostrar-se sublime.
Separaram-se na frente do prédio. Ao entrar, ela indaga ao porteiro:
— Que música te descreve?
— Ora, Gostoso Demais, da Bethânia.
Ela riu. Acabaram subindo juntos.

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A Autocensura

Post publicado em 24 de maio de 2007 e republicado agora com adaptações e cortes. É que ontem soube de mais um processo de separação que utiliza como provas o conteúdo de um blog. Desta vez de uma mulher. Quando publiquei este post, recebi dois comentários que achei notáveis e os publico ao final do post.

A moda está pegando. Como todos os posts confessionais dizem a verdade (?); então qualquer advogado lê um texto que escrevemos e o utiliza num processo familiar. Mas não é bem assim. Acreditar em nós é perigoso por várias razões.

A primeira razão é a mais humana: num texto confessional e mesmo naqueles de aparência visceral, o blogueiro ou escritor está publicando o que decidiu publicar. Os posts são seletivos como nossa memória, que arquiva os acontecimentos com alterações que podem deixá-los no formato de livros com belas capas para serem colocados na estante — podendo descer dela a qualquer momento — , ou ficam impressos com sangue, lágrimas ou lama para reaparecerem quando do Grande Ressentimento ou da Grande Irritação. Há infinitas formas de arquivamento, tudo depende do caso contado e da personalidade e honestidade de quem conta. E vêm misturados com sentimentos. Não são como os antigos diários, são diários ou textos ou ficções ou resenhas ou crônicas para serem expostas e, portanto, recebem tintas de exagero, contenção, poesia, educação, correção, escatologia, putaria, etc. Respondam: são prova de alguma coisa? Não há outro modo de se produzir provas?

Uma vez, estava no telefone conversando com o Carpinejar e lamentei sinceramente alguns graves problemas que o poeta tinha relatado em seu blog. Ele me respondeu:

— Problemas? Que problemas?
— Pô, cara. Aqueles lá com a tua mulher.

Ele ficou hesitante e, inesperadamente, estourou numa gargalhada. Depois, respondeu:

— Então, tu acreditaste naquilo? — disse ainda rindo.
— Mas…
— Milton, é tudo mentira. Teve gente que me ligou, ligaram até para a minha mãe perguntando. É normal, já aconteceu muitas vezes. Eu uso pessoas da vida real, só que as histórias são inventadas.

Se houver difamação é outro problema — e isso o Fabrício não fez. Estamos aqui discutindo a veracidade de textos que estão entrando em processos judiciais. Por quê?

Anteontem, uma amiga que descreve seus casos amorosos num blog foi acusada de puta e vagabunda num processo. O pai de seu filho quer a guarda da criança. As provas? Ora, os poemas e textos publicados em seu blog, que narram “experiências diárias”. Piada, né? Suas experiências diárias ocorrem na frente do computador, sozinha, insone, enquanto o filho dorme. Senão não passaria tantas horas no twitter…

De minha parte, já falei o que considerava as maiores verdades, procurando ser frio, claro e racional, mas também já casei com Juliette Binoche (nosso caso era puro sexo e durou anos, nunca tivemos problemas, apesar de eu não falar francês), já mantive diálogos com outros Miltons que eram eu mesmo, só que uns anos antes ou depois e ,ah, no meu aniversário do ano passado estava namorando Sophie Marceau, lembram? (Sempre o problema do francês, merde!) É claro que estou utilizando exemplos extremos nos quais só um idiota acreditaria, porém como ficam os casos intermediários, aqueles em que as confissões são romanceadas com jeito e cheiro de verdade, mas que talvez sejam apenas desejadas?

Minha ex fez isso num processo. Lá, havia trechos escolhidos deste blog. Em um deles, o mais importante, meu filho protege sua mãe de mim. Estou a sós com ele. Duas frases são trocadas num post sobre rock. Eu começo a falar mal de Pâmela (ou Suélen, não lembro) e ele interrompe dizendo que aqueles são problemas nossos. Só. Era uma forma de mostrar que o Bernardo sabia das coisas. Ele sabe mesmo e minha intenção apareceu nos comentários dos leitores: disseram que ele tinha mais bom senso do que eu. Porém, no processo, foi uma atitude de mau pai… Claro, tive de responder com o blog inteiro, com todos os posts. Na metade do ano passado eram mais de mil páginas. Muita gente sabe de minhas opiniões sobre Suélen (ou seria Pâmela?), mas não sou louco de preencher a vida de meus filhos com reclamações contra sua mãe. Eles me detestariam. (A propósito, as mulheres do “Porque Hoje é Sábado” foram para o juiz? O doutor achou essa aqui gostosinha?)

Bem, mas há mais: o fato de manter um blog “bem montado” – expressão de sua advogada – seria prova de que passo muito tempo trabalhando nele e, se acrescentarmos a isto algumas viagens que faço, pronto!, chegamos à conclusão de que tenho largo tempo livre e um estilo de vida, digamos, confortável. Lendo aquilo, senti-me como um malandro da velha guarda carioca.

Cervantes reclamava que não lhe davam muito dinheiro, mas admite que, se lhe dessem, iria se divertir mais e escrever menos. Queixava-se que seus mecenas sabiam disso e o mantinham à mingua. Interessante. (Oh, sei. Comparar Milton Ribeiro e Miguel de Cervantes é caso de internação.)

Neste ínterim, tenho exercitado a autocensura. O blog piorou, também sei. Entre alterar meu texto em função de um advogado e não publicá-lo, tenho escolhido a segunda opção. Então substituo o post previsto por algo sobre futebol ou tiro sarro da Igreja Católica. Afinal, o Papa não pára de dizer besteiras nem o Inter de fazê-las. Permanecerão no micro até não sei quando. Ou será que tudo isto é mentira e não tenho textos por publicar nem ex-esPosa? (Pronunciem esPosa com pê cuspido, por favor.)

E agora, publico este ou não? Assim mesmo, cheio de parênteses?

Comentário do Dr. Claudio Costa:

Já aprendi – com Lacan, veja só! – que o significado do que se diz é dado por quem escuta e não por quem fala. Freud, muito antes, já descobrira que a chave da interpretação está com o analisando, não com o analista. Este, quando não atrapalha, oferece a escuta e… aí o analisando diz e exclama: -“Eu sabia!”. Assim vivemos: num mundo imaginário onde até mesmo a imagem de si mesmo é constructo imaginário, putz! Por isso acredito piamente em TUDO que você escreve – o que é a mesma coisa que dizer: “não acredito em NADA” disso.

Comentário de Maria Elisa Guimarães, a Meg:

MILTON, Olha, não entendo de muita coisa, mas algumas, as de que vou falar aqui, pelo menos, ENTENDO e não é POUCO, entendo muitíssimo. 1- Muito embora, hoje em dia, um email seja aceito com prova num processo e qualquer bom advogado já saiba disso – felizmente, ainda não mudou absolutamente NADA, a respeito da questão da VEROSSIMILHANÇA, conceito este que não significa e à vezes é muito diferente da VERDADE ou pelo menos da *relação* desta com a realidade.. 2- Textos literários ou poéticos trabalham com o simulacro, (e muita gente desconhece o real sentido dessa palavra) e não com fatos. O *simulacro* , grosseiramente simplificando, é a MÍMESE, uma espécie de representação livre do que se viu ou se vê na realidade. Nesse caso, seria muito bom que todo mundo lesse as tragédias gregas. Há muito o que aprender lá. Por outro lado, uma crônica, um conto, um romance, ou um texto que se pretenda literário, tanto que se publica, não é notícia , é literatura!! Boa ou má, mas sempre literatura e não jornalismo investigativo. Nem depoimento. 3- E mais uma coisa, e disso entendo mais ainda: o “mundo não é dos inocentes”, e definitivamente, “justiça é balela, é conto de fadas”. Parece, só parece, pelo que tenho visto, na História antiga ou recente, que sai-se melhor SEMPRE quem está ou ao lado dos poderosos ou ao lado de quem lhe oferece mai$$$. Ou dos que parecem poder oferecer. Espero que te saias muito bem nesse caso que já se arrasta (e estou falando na condição de leitora e portanto quem lê teu blog sabe algo sobre esse caso, pelo menos o que permitiste que soubéssemos). Um dia as chateações todas acabam! Um dia tudo acaba. E de preferência, antes que nos tornemos ressentidos ou amargos. Solidarizo-me contigo: eu sei o que é a injustiça: dá vontade de morrer. Um beijo M.

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Para quem escrevemos

Acho que alguns de nós, de uma forma indireta, escrevemos posts direcionando-os a determinadas pessoas que, provavelmente, o lerão. O besteirol é para ser lido por meu filho e por aqueles leitores que eu sei que os apreciam, o post de ficção vai para principalmente aquele determinado blogueiro que o lerá com extrema atenção e que comentará elogiando ou enviará um e-mail criticando (Ramiro, normalmente elogiando, ainda bem), o post sobre música vai para o pessoal do PQP Bach mais a Caminhante e a Anna, o post sobre o meu umbigo é para os amigos lerem e comentarem comigo, as resenhas vão para o Charlles, o Marcos Nunes e a Caminhante, os sobre futebol são para o Dario e o Fernando, etc. A verdade é que não apenas esqueço de muitos em minha listinha, mas que todos acabam indo para todos. É claro que o leitor-objetivo está presente em todas as áreas. Saul Bellow dizia escrever para suas mulheres, Thomas Bernhard escrevia para que seu país lesse e o odiasse mais, Clint Eastwood confessou ter feito filmes por vingança de uma só pessoa (e acabou sendo premiadíssimo), Paulo José Miranda escreveu um livro contra uma ex-mulher (e ainda solicitou que ela o revisasse…), Franz Liszt e o último Beethoven diziam escrever para o futuro. Já Fernando Monteiro diz que grande parte dos escritores atuais escrevem seus livros para um passado que, infelizmente, não pode lê-los nem comprá-los…

Já eu, aqui do meu cantinho, estava começando uma crítica simples e curta sobre um ótimo livro de Simenon e sei que a leitora-objetivo deste tipo de post era uma amiga que faleceu há dois meses. Então, ontem, eu começava, recomeçava e não encontrava o tom. Nunca tive bloqueios; sento e escrevo, analogamente ao que faço na privada e com resultados semelhantes. Eu escrevia, tentava ser inteligente, informado, sensível e bom observador porque ela era assim, porque, se eu fosse diferente, ela não daria importância. Aí, depois de algum tempo olhando para a tela, descobri: é muito mais fácil escrever dirigirindo-se a alguém. Só que este alguém me falta. “Saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. Pois nem isso consigo, não consigo ainda encarar a saudade. Por enquanto, o quarto ficará fechado, de pernas para o ar, até eu arranjar coragem.

Cena de The Pillow Book (O Livro de Cabeceira), de Peter Greenaway

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O Detestável Grande Irmão do Orkut

Não acompanho muito a vida das redes sociais, porém, em minha opinião, o decadente Orkut servia para que estabelecêssemos contatos com amigos e para que lembrássemos de seus aniversários. São funções nobres, porém pobres. Tais funções foram consideravelmente ampliadas quando conheci as Comunidades de Música Erudita, como Comunidade Música Clássica On Line. Éramos 600 pessoas moderadas pelo rigoroso – ai, que medo! – Siegfried, que não nos deixava sair da linha. Entre muitos assuntos, travamos belos diálogos sobre música moderna com o irônico Nitram (Martin ao contrário, não?), sobre Bach, Mahler, Wagner e também sobre a triste deleção do canal Film & Arts no Brasil, vítimado pelas limitações dos programadores. O terrível Siegfried nos fazia abrir os tópicos sobre compositores no seguinte formato (vejamos o exemplo de Bach): [BACH, Johann Sebastian (1685-1750)]. E ai de quem errasse um colchete ou não escrevesse o sobrenome em maiúsculas! Estou caricaturizando nosso Siegfried, mas o espírito era este mesmo e ainda tremo ao ler seu nome…

Na comunidade, obviamente, as pessoas faziam intensas trocas de gravações em mp3 e começamos a crescer até chegarmos a 4.400 membros, quando fomos sumariamente deletados pelo Grande Irmão do Orkut. Ora, não creio que o motivo possa ser somente as trocas de mp3. Há sites e mesmo comunidades no Orkut muito mais piratas do que nós. Ademais, a impopular “música erudita” — este termo também foi tema de grave discussão na comunidade — não deve provocar grandes quebras nos lucros das gravadoras. E, como se não bastasse nossa natureza quase secreta, ouvimos normalmente obras de direitos autorais vinculados a defuntos frios ou, ao menos, severamente descarnados, pois, peculiarmente, amamos imperecíveis museus sonoros.

Eu baixei e deixei muita coisa na Comunidade. Não sei sobre a postura de todos, mas quando ouvia algo de lá que me agradava muito, comprava o CD de áudio. Não, não faço questão de capas nem de cedetecas coloridas. É que, audível e comprovadamente, o mp3 — em qualquer densidade normalmente disponível nos softwares — é inferior ao convencional formato áudio digital. Tenho baixa tolerância a ouvir as freqüências extremas serem repetidamente podadas. (Sim, é perfeitamente audível e não me venham encher o saco com isto. Se você contraiu a grave epidemia de surdez que assola a humanidade e acha que o mp3 é a perfeição, paciência).

Mas se a música erudita era pouco para gerar uma reação do Orkut, havia a discussão sobre a DirecTV… Acho que foi isto que nos matou. Alguns membros da comunidade começaram a publicar toda a correspondência que trocavam com a DirecTV brasileira e americana e aí sim, vimos o grande capital sofrer críticas. Lamentável. Com o perdão da palavra — lembrem sempre que este é um blog-família –, o que ficou claro é que estas redes cagam para os assinantes. Cagam. Aquilo foi uma amarga lição os jovens idealistas preocupados com a cultura dos membros ainda mais jovens da comunidade. Eu, que nunca tive o Film & Arts, estava indignado com a mostra real e crua do pensamento daqueles caras. A necessidade de padronização e a isonomia numérica imbecil destes empresários retiraram do ar o único canal culturalmente distinto da TV a cabo brasileira. Repito, acho que a discussão a respeito deste tema foi o que nos matou e lamento não tê-la gravada em meu computador.

Dizem que a Embratel (?) e a TVA disponibiliza o Film & Arts. Será verdade?

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