Mulheres submersas (Imitação da Água)

Foto de Toni Frissell, em Weeki Wachee Spring, Florida, 1947
Foto de Erick e Ian Regnard

Trecho de Imitação da Água, de João Cabral de Melo Neto (tudo porque estou mexendo na biblioteca e abrindo muitos livros para dar uma olhadinha):

De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda adeitada,
na praia, te parecias

Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.

Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.

(…)

Aos 94 anos, morre Wilhelm Brasse, o fotógrafo de Auschwitz

Brasse era fotógrafo antes da guerra. Por este motivo, foi convocado à tarefa de tirar e revelar fotos dos judeus de Auschwitz. Elas serviam para documentação e controle dos nazistas. O resultado pessoal é que, após a guerra, Brasse teve de largar a profissão. Passou os últimos 67 anos de sua vida sem tocar numa máquina fotográfica. Estava traumatizado.

Quando recomecei a tirar fotos depois da guerra, vi os mortos. Eu estava tirando uma fotografia de uma menina, um retrato comum, mas por trás dela imaginava fantasmas de mortos. Eu vi todos aqueles grandes olhos, aterrorizados, olhando para mim. Eu simplesmente não podia ir em frente.

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China, maio de 1949

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Acho sempre muito curioso quando as pessoas dizem que os antigos regimes comunistas matavam muito. Ah, matavam mesmo, não sou louco de negar. Eram tão democráticos e modernos quanto os regimes que vinham substituir, apesar de terem outra feição econômica. Acima, um militante comunista é executado por um policial nas ruas de Xangai, sob o olhar de soldados do Kuomintang (“Partido Nacionalista Chinês”). Dias depois, vocês sabem, as tropas de Mao controlariam a cidade e começariam outras mortes. Outra mania da época era a de retocar fotos, salientando contornos; às vezes retirando pessoas que caíam em desgraça.

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O Brasil dos anos 30, um país tão gentil

Não pretendo discutir a justiça da morte de Lampião e seu grupo, mas dar uma olhada na forma com que as autoridades policiais agiam nos anos 30. Faroeste total. Os adversários políticos de Getúlio Vargas o pressionavam por permitir a existência de Lampião. Então, Getúlio fez uma pressãozinha sobre o interventor de Alagoas, Osman Loureiro. Este prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro. Antes, o governo baiano já tinha tentado ajudar o ditador gaúcho, apesar da polícia saber que o grupo encontrava-se entre Alagoas e Sergipe.

Porém, na verdade, Lampião e a maior parte de seus comandados encontravam-se acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo. As forças de Alagoas — sim, dentro de Sergipe — agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. Ele chegaram às 5h30 da manhã de 28 de julho de 1938. Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita. Foram decapitados e depois houve uma verdadeira caçada ao “patrimônio” dos cangaceiros. Joias, dinheiro, perfumes e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.

As cabeças dos 11 cangaceiros do grupo de Lampião estiveram embelezando as escadarias da Prefeitura de Piranhas (Clique para ampliar)

A exposição acima ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, onde os políticos puderam tirar proveito dela. Acima, Lampião, Maria Bonita, Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.