Eu não sou médico

Eu não sou médico

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Globo x Bolsonaro e Frota

Sei muito bem que, nas redações, os jornalistas recebem muitas denúncias, boa parte delas furadas, apenas nascidas da vontade de se vingar de alguém, etc.

Mesmo assim, as denúncias que valeria a pena investigar sempre superam o número de jornalistas disponíveis, pois, é claro, ir atrás de uma denúncia requer tempo para checagem, para estabelecer contatos, enfim, é caro manter uma equipe como a do filme Spotlight para correr atrás de denúncias que às vezes não darão notícias, mas que sempre darão muito trabalho. Ainda mais que, por outro lado, há a necessidade de alimentar o sempre pantagruélico jornal com novidades diárias.

Porém, tudo isso se altera quando um beócio como Alexandre Frota — sim, aquele que fala pelo “Jair” — avisa que vai destruir a Globo e se aproximar dos pastores da Universal. Resultado: a emissora vai atrás de cada denúncia que recebe sobre a famiglia Bolsonaro e descobre horrores. Aposto que a Globo até segura o que já sabe para dar um escândalo a cada 2 ou 3 dias, como um conta-gotas. E também aposto que há um crescente time de denunciantes ligando para a Redação.

Quem planta inimizades não pode ter telhado de vidro.

(E Moro permanece silencioso como um capanga)

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Filmes de 1 a 10

Filmes de 1 a 10

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Bom dia, Odair (São Luiz 0 x 1 Inter)

Bom dia, Odair (São Luiz 0 x 1 Inter)

Aquilo não era um time, apenas um ajuntamento de última hora, Odair. Então, é impossível falar em organização. Sim, na coletiva tu falaste em organização. Elogiaste a partida e a sincronia de movimentos dos reservas. Balela, achei (achamos) cômico. Aqui neste espaço podemos ser mais razoáveis e falar somente em individualidades. Aquilo não foi um time, foi um horror. Então, falemos dos jogadores individualmente.

Emerson Santos fez o gol e torceu o pé durante a comemoração… | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

Emerson Santos e Roberto foram surpreendentemente bem. Emerson jogou até de lateral, e muito bem. Roberto fez uma bela estreia.

Neílton repetiu seus bons jogos no Vitória. Foi para cima dos adversários e sempre obteve vantagem. Na minha opinião, acabará titular.

Pedro Lucas e Rithiely fecham o grupo dos que jogaram bem.

Daniel, Klaus, Iago, Bruno José foram aceitáveis.

Sarrafiore iniciou bem e foi afundando. É um caso para ser observado, porque parece que “pode ser bom”.

Lindoso, Parede e Juan Alano foram medonhos, mas o pior mesmo foi Uendel, uma piada. Não parecia estar muito interessado em jogar futebol. Curiosamente, recém teve seu contrato expandido.

O jogo? O jogo foi chatíssimo. Uma várzea completa. Uma perda de tempo assistir. Valeu pelos 3 pontos em um campeonato que não interessa muito.

A próxima partida do Inter será na quinta (24), às 21h15, contra o Pelotas. O time que entrará em campo será o titular e, desta vez, esperamos um futebol melhor.

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O Outro Lado, de Aldyr Garcia Schlee

O Outro Lado, de Aldyr Garcia Schlee

Dias antes do falecimento de Aldyr Garcia Schlee (1934-2018), em novembro do ano passado, recebemos na Bamboletras seu último livro, O Outro Lado – Noveleta Pueblera (Ardotempo, 152 páginas). A leitura do livro, realmente muito bom, só pode nos deixar ainda mais tristes pela perda. A primeira coisa que chama a atenção é a linguagem fronteiriça, algo que talvez só se mantenha naquela região. Costumava ouvir muitas daquelas palavras e expressões da boca de meus pais, parentes e amigos. E isso só até os anos 60 ou 70, porque depois parece que fomos invadidos por um dicionário urbano, feio e descolorido. A linguagem utilizada por Schlee é linda, muito influenciada por uruguaios e argentinos.

Schlee foi escritor, jornalista, tradutor, desenhista e professor universitário. Fundou a Faculdade de Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas / UCPel e de lá foi expulso durante o golpe civil militar de 1964. Sua cidade, Jaguarão, é ligada ao Uruguai pela bonita ponte que está na capa de O Outro Lado.

O Outro Lado conta a história de Martita e José Jacinto, personagens humildes em uma paisagem deserta. José Jacinto é um andariego sem paradeiro que gosta mais de pueblos do que de cidades e que vive circulando entre as coxilhas. Martita é a mulher que o espera. É daqueles livros em que delicadas nesgas poéticas giram em torno de um fato muito forte que… não contarei. É um livro é comovente sem ser piegas — ou uma história nada simples de gente humilde. É diferente daqueles livros amalucados de Schlee – também ótimos — sobre Gardel, Jaguarão e Melo, como, por exemplo, O Dia em que o Papa foi a Melo, livro de contos que deu origem ao filme O Banheiro do Papa.

Schlee tem extremo senso de estilo e bom gosto literário. Ele amava o Brasil de Pelotas e o Inter de Porto Alegre. Nossa, foi uma pessoa perfeita, daquelas que estavam lá no topo da evolução.

Recomendo muito.

Aldyr Garcia Schlee | Foto: Gilberto Perin

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Pavimentando a estrada: o Concerto para Piano Nº 25, K, 503, de Mozart

Pavimentando a estrada: o Concerto para Piano Nº 25, K, 503, de Mozart

Por Georg Predota, na Interlude
Tradução livre do blogueiro

Uma pegadinha: sabe que importante composição de Wolfgang Amadeus Mozart teve que esperar 147 anos depois de sua morte antes de ser executada novamente? A resposta é verdadeiramente surpreendente, pois envolve um trabalho de um gênero muito popular: é um dos últimos de seus concertos para piano. E, se você disse que foi o Concerto para Piano Nº 25, K. 503, você teria acertado. E por que nenhum pianista ou maestro tocou este concerto por quase um século e meio?

Sabemos que Mozart estreou o trabalho em 5 de dezembro de 1786 em Viena, um dia depois de ter completado a composição. No dia seguinte, Mozart estreou uma nova Sinfonia para Praga — a de Nº 38, K. 504, apropriadamente apelidada de “Praga” — e conduziu uma performance de Figaro. Não há registro de Mozart tocando seu novo concerto para piano em Praga, mas o fez novamente em 7 de abril de 1787 em Viena e em 12 de maio de 1787 em Leipzig. E a próxima apresentação deste trabalho aconteceu somente em 1934!!! Nesta ocasião, o grande Artur Schnabel foi o pianista sob a regência de George Szell com a Filarmônica de Viena. Ainda demorou mais uma década até que o trabalho finalmente assumisse seu lugar de direito no repertório. Então, o que deu errado?

Quando ouvimos o Nº 25, K. 503, fica claro que Mozart estava trabalhando em algo novo e único. Por um lado, oferece uma incomparável grandeza e um senso de integridade estrutural que — particularmente durante o tempo de Mozart — não era comumente associado ao gênero do concerto. E o que devemos dizer da exibição extravagante de contrapontos que permeia os movimentos externos? Além disso, o concerto é grandiosamente marcado, incluindo trompetes e percussão, mas surpreendentemente omitindo os clarinetes, um dos instrumentos favoritos de Mozart. Mais: não temos certeza se Mozart planejou uma cadência no primeiro movimento — é uma dos seus composições mais difíceis de executar. Essas observações iniciais tornam muito óbvio que essa composição simplesmente não atendia às expectativas do público de Mozart. Certamente, eles gostavam de melodias mais charmosas, de uma interação mais lúdica entre orquestra e solista, de frases engraçadas, modulações incomuns e surpreendentes e, acima de tudo, lirismo operístico. Para ser justo, o Finale contém uma adaptação de um tema tirado de Idomeneo, mas é claro que trata-se de território de “ópera seria”. No evento de Schnabel e Szell, os críticos de música, em pleno 1934, ainda chamavam esse concerto de “frío e sem originalidade”.

Bem… Não é pouco original, mas decididamente sinfônico o movimento de abertura — é do mundo sonoro da Júpiter — e claramente operístico no movimento do meio e no Finale. Deste modo, ele ultrapassava as fronteiras entre gêneros distintos. De acordo com o H.C. Robbins Landon, o K. 503 é “o trabalho onde Mozart resolveu de forma mais brilhante e perfeita os problemas estruturais, dramáticos e musicais que ocuparam tanto de seus melhores esforços operísticos”, é o concerto que “continha a essência da abordagem de Mozart para a forma sonata: a unidade dentro da diversidade”. Visto dentro deste contexto, não é de surpreender que audiências e artistas não pudessem entender este trabalho altamente sofisticado e sutil. Afinal, hoje sabemos que ele apontava para o futuro. Infelizmente, foi deixado para Ludwig van Beethoven a chance de realizar este futuro, especificamente em termos de grandeza de escala, espaço formal e caráter épico em seus concertos para piano. É claro que Mozart poderia ter expectativas inteiramente diferentes do gênero concerto, já que seus dois últimos esforços aderem a outro caráter. Seja como for, o Nº 25, K. 503 corajosamente rompe as barreiras da forma de concerto altamente estilizada que Mozart herdou e abre o caminho para a incrível variedade, diversidade e originalidade do gênero no século XIX.

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Ageism: as empresas e o preconceito etário

Ageism: as empresas e o preconceito etário

O paradoxo de querer que as pessoas trabalhem até os 65  anos quando elas já são descartadas pelo mercado aos 30.

Introdução descartável do blogueiro:

Eu já sofri preconceito por ser velho. Tenho 61 anos e, quando estava lá pelos cinquenta e pouquinhos, frequentei um ambiente de trabalho onde era um véio bastante produtivo (deixemos a grafia desrespeitando a nova ortografia, já que falamos de velharias), mas sempre alvo de desconfiança. O que sistematicamente me salvava era ter lido demais e ter muita informação armazenada na cabeça, o que me fazia alvo de consultas. E também de críticas, é claro. Afinal, era o Culto.

O artigo do meu amigo Fernando Guimarães fala mais da obtenção do emprego, já minha experiência fala mais sobre “as ideias de um véio que insiste em dar palpites”… Pois é, o problema é que muitas vezes eu acertava, dando soluções e antecipando crises e problemas. Os chefes gostavam de mim, já os colegas nem tanto. Credo, quantas piadas e brincadeiras sobre velhos tarados ouvi! Enchi o saco. Parecia que eu era o Tio da Sukita. Mas aguentei sempre sem reclamar.  

Sou um falador altamente sociável, algo como um bobo alegre. Porém, quando me deparei com o preconceito, tive que mudar minhas características e atuar. Tratei de me adaptar usando meus dotes inexistentes de ator. Senti que tinha que ser simpático e jovial e que devia falar o menos possível sobre trabalho, ficar de fora das brincadeiras que se relacionassem com festas, cerveja e assemelhados — não que bebesse ou saísse menos do que eles –, e deixar todo o trabalho profissional bem documentado e claro. Tudo porque sabia para onde os dedos seriam apontados no caso de problemas. Sim, não era um ambiente dos mais avançados, apesar de ser um local que dizia respeitar a diversidade. Ou seja, lá tinha vários exemplos de tolerância, mas não para com pessoas de mais de 50 anos. Foi complicado, mas hoje estou num lugar autenticamente avançado e tolerante.

O texto a seguir fala de ageism, palavra que deriva de age, idade. Os exemplos são todos da área da informática, mas não creio que as outras áreas difiram muito do que é contado. Vale a leitura.

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Por Fernando Guimarães (*)

O Brasil vive hoje um paradoxo. Há um sensível aumento da camada da população com idade superior a 45 anos, que deverá representar cerca de 56% da futura população em idade ativa até 2040, segundo dados de estudos do IPEA. Por outro lado, a reforma previdenciária exigirá que homens trabalhem até os 65 e mulheres até os 60 anos. E como conciliar este cenário em um país onde cultura do mercado de trabalho desvaloriza quem já passou dos trinta anos?

Ageism é a palavra em inglês que descreve o preconceito em relação à idade de uma pessoa. Não existe uma tradução literal para o português, que poderia ser algo como “preconceito etário”, mas ela está muito presente dentro das organizações nos EUA e, certamente, no Brasil. Em muitos países, estes profissionais mais experientes, são tidos em alta consideração como uma fonte de sabedoria. Não parece ser o caso por aqui.

Curiosamente, nenhuma empresa estimula este preconceito, pelo contrário: em seus valores sempre estão descritos o respeito à diversidadeNosso paradigma atual mais forte direcionará a palavra diversidade à diversidade sexual. Diversidade, de fato, é a qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado; variedade. E a idade de uma pessoa faz parte deste contexto.

Enquanto algumas áreas profissionais valorizam mais a experiência de trabalho, como a Engenharia, Medicina ou Direito – onde inclusive um número menor do registro na OAB já identificaria um advogado mais experiente e em tese já “intimidaria” o advogado da parte adversária – em outras áreas, onde a tecnologia está mais presente, os profissionais sofrem mais com o preconceito de idade, principalmente por eles sofrerem mais pressão para uma constante atualização técnica e uma cobrança para seu “crescimento” de carreira.

Paradoxalmente, algumas tecnologias de TI dos anos 60, onde as previsões diziam que elas já estariam mortas nos anos 80 ou 90 como o Cobol, sobreviveram – por serem muito utilizado por grandes bancos e corporações – e viram desaparecer primeiro os técnicos desta área antes que as previsões se concretizassem, o que causou a falta de pessoas para manter estes sistemas. Recentemente em um em um evento de tecnologia em Porto Alegre, a IBM expôs um Mainframe, com a finalidade de atrair jovens para sua academia, acenando como salários médios muito maiores do que os pagos para desenvolvedores Java – talvez os profissionais mais valorizados no mercado de TI – assim como para os Administradores de Banco de Dados, outra dor de cabeça para os RH´s. Ao que parece o Java permanecerá por muito tempo ainda. Resta saber se os desenvolvedores mais antigos, já entrando na casa dos 40 anos sofrerão do mesmo mal…

“Nós nem vamos chamá-lo: ele é muito capacitado para a vaga. Em seguida acha uma coisa melhor e vai embora”

Alguns paradigmas comumente presentes e discutidos (ou não!) nos processos de seleção:

  • A estabilidade não é um problema: se você está preocupado com um pedido de demissão de um funcionário mais velho nos próximos 5 a 10 anos, considere isso – a duração média para empregados com idades entre 25 e 34 anos é de 3,2 anos. É um erro considerar premissas projetadas ao contratar um candidato
  • Eles sabem o que querem: Profissionais mais jovens estão forjando sua carreira – profissionais mais antigos já têm uma. Quando você contrata um funcionário mais velho, você está contratando um funcionário que sabe como fazer o seu trabalho e quer continuar fazendo o mesmo. Só porque eles são mais velhos não significa que eles estão de olho no seu cargo ou interessados em escalar a escada corporativa. Eles entendem o que querem fazer e esse é o trabalho que desejam.
  • Idade não determina habilidades: só porque um candidato é mais velho não significa que ele não é apto para o que você precisa. Um candidato com um bom histórico de trabalho, provavelmente terá um conjunto de habilidades devido a seus anos de experiência contínua. A educação continuada é uma prática crítica para a maioria dos profissionais, independentemente da idade – portanto, não se pode presumir que um trabalhador mais velho não esteja familiarizado com as ferramentas, tecnologias e práticas mais recentes.
  • Eles têm menos obrigações: Funcionários mais velhos geralmente têm menos assuntos pessoais e familiares para atender. Filhos pequenos e empréstimos habitacionais geralmente não fazem mais parte de suas vidas, portanto estarão mais disponíveis e podem assumir hábitos de trabalho que não vivenciam desde os primeiros 20 anos.
  • Eles se inscreveram: A razão mais relevante pela qual você não deve desacreditar um candidato mais velho é simples: eles se inscreveu! Ele usou tempo para localizar a oportunidade de trabalho, atualizou seu Linkedin e decidiu enviar o CV. Se ele está confiante o suficiente para aplicar para uma vaga e possui as habilidades necessárias, não há razão para que lhe seja negada a chance de uma entrevista.

Mas se as empresas, estimulam a diversidade, por que existe o preconceito à contratação de pessoas mais velhas? Na realidade o preconceito já se faz presente, inconscientemente, quando alguém está efetuando sua contratação que é, na maioria das vezes, aquele que será seu superior imediato.

“Tenho medo do diabo não por ele ser o diabo, mas por ele ser bem mais velho do que eu”

Além da capacidade técnica e personalidade, um gestor considera no processo de seleção de seu subordinado, um outro fator pessoal uma pergunta muito importante:como este novo funcionário contribuirá para meu sucesso e no que ele pode ajudar a alavancar minha carreira.

Você, como gestor, poderia se perguntar: por que eu contrataria aquela pessoa mais velha do que eu, com mais experiência de vida do que eu, que já passou por experiências que eu ainda não passei, mas que por outro lado pode ser uma ameaça para minha carreira, que pode apontar meus erros para o meu gestor e tomar o meu lugar? Não seria menos arriscado eu optar por candidato mais jovem ou por um candidato medíocre, aquele que eu teria mais ascendência e que me consideraria um ídolo? E você, por quem você optaria?

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(*) Fernando Guimarães é graduado em Gestão de Tecnologia da Informação e pós-graduado em Gestão de Projetos. Atua na área de Tecnologia há cerca de 20 anos, sendo que nos últimos sete anos esteve envolvido com Processos e Projetos. Como gosta também de escrever, vez ou outra dá voz a seus pitacos e gera algum conteúdo.

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Fontes:
www.aarp.org/work/on-the-job/info-2014/workplace-age-discrimination-infographic.html
blog.indeed.com/2017/10/19/tech-ageism-report
www.edistaffing.com/blog/2014/10/02/age-discrimination-workplace, 
news.sap.com/2013/08/ageism-in-tech/

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O estado das coisas no Beira-Rio

O estado das coisas no Beira-Rio

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Na Crokodilo

Na Crokodilo

Que coisa linda a revista Crokodilo que chegou hoje aqui em casa. Publicação de acabamento e conteúdo de primeira linha — apesar de contar comigo –, é editada por Céllus Marcello Monteiro. Estou acompanhado por um time que me humilha, tão superiores que são. Mesmo.

Foi uma honra participar.

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A Vegetariana, de Han Kang

A Vegetariana, de Han Kang

Em 2016, A Vegetariana venceu o Man Booker International Prize, em cuja lista de finalistas estavam livros de Elena Ferrante, Orhan Pamuk e José Eduardo Agualusa.

No início, A Vegetariana parece ser um romance sobre pessoas absolutamente comuns. Kang brinca de Gógol, ao dizer que Yeonghye era alguém que não tinha nada de especial: não era alta nem baixa, tinha o cabelo nem curto nem comprido, não era atraente nem repulsiva etc. Quando a conhece, o marido pensa que não havia motivo para não casar com alguém tão modesta, silenciosa e comum. Mas um dia ela subitamente decide deixar de comer carne. O marido — também um ser mediano, nem inteligente nem burro, nem bonito nem feio –, acha um absurdo vê-la jogando fora tudo o que tinha de carne na geladeira.

O fato não parece ter grande importância a não ser para o marido, mas leva a vida do quarteto principal de personagens — a vegetariana Yeonghye, a irmã dela e seus maridos — a uma espiral de destruição.

O livro tem três capítulos bastante distintos. O primeiro é narrado pelo marido da vegetariana; o segundo, pelo marido da irmã, que tem enorme tesão por Yeonghye, e o terceiro vem da parte da irmã da vegetariana.

O livro perde muito se for lido como uma história fechada em si, basta erguer os olhos do livro para concluirmos que há muitas referências externas e atuais. Há uma pesada ironia na repetida frase da vegetariana que diz  que “teve um sonho”, frase que ressoa outras vozes ligadas aos direitos civis dos negros americanos. Daí, podemos pensar que ela tem direito a seu próprio corpo e a não aceitar que se cometam o que pensa ser violências. O texto de Kang é literalmente muito próximo da pele da personagem. Yeonghye murcha, desenha flores sobre a pele, engorda, definha, respira, tudo sob os nossos olhos.

Não é um livro pra cima, claro. É um sufoco ler um história muito bem escrita a respeito de uma pessoa que quer abandonar a vida. Só não me venham reclamar que é um livro contra os vegetarianos ou veganos. Aí, sou eu quem se mata. Afinal, temos que usar metáforas e representações de coisas que estão no mundo, correto?

Han Kang

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Dona Flor e seus Dois Maridos, a opinião da censura portuguesa

Dona Flor e seus Dois Maridos, a opinião da censura portuguesa

PIDE era a sigla para Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Entre 1945 e 1969, a instituição foi a responsável pela repressão a todas as formas de oposição ao regime político salazarista. Como o nosso DOPS, a PIDE utilizava a tortura para obter informações e volta e meia assassinava alguém, às vezes inadvertidamente, outras realizando emboscadas para matar mesmo. Ela também cuidava de quem entrava e saía de Portugal. Abaixo, uma curiosidade: o veredito sobre Dona Flor e seus Dois Maridos, de Jorge Amado, aprovado para publicação em Portugal.

Passou por ser gordinho e caro…

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Dois bons filmes: ‘Culpa’ e ‘Bohemian Rhapsody’

Apesar da extraordinária atuação de Rami Malek como Freddie Mercury, gostei ainda mais de Culpa. Mas os dois filmes são excelentes.

O notável Culpa, filme dinamarquês de Gustav Möller. É absolutamente perfeito em seu gênero, isto significa dizer que é um thriller de 86 minutos ABSOLUTAMENTE TENSOS. O policial Asger Holm está operando a mesa de emergências da polícia de Copenhagen. Ele recebe ligações e transmite as ocorrências para quem está na rua. É surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada que comunica um sequestro. TODO o filme se passa com Asger sentado em sua mesa, conversando com todos, policiais e vítimas. A princípio, fica perdido assim como nós. O espectador fica totalmente envolvido e demoramos a entender a dinâmica do crime. É difícil imaginar novidades cinematográficas sem pensar em efeitos ou histórias chocantes. Pois a novidade, como sempre, veio do talento, da inteligência e da coragem de encarar desafios. Com praticamente um único ator e muitas vozes, Culpa foi candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018.

Bohemian Rhapsody é excelente para quem gosta do Queen, como eu e a Elena. O fato de ter sido produzido por Brian May e Roger Taylor parece não afetar uma história onde nem todos se comportam à perfeição. As bandas de rock parecem adorar um empresário falcatrua. O trabalho de Rami Malek como Farrokh Bulsara (ou Freddie Mercury) é notável. Gostei muito do fato da história não desviar de certas complexidades e confusões, mas evitar a evolução da doença. No filme, a voz de Malek foi misturada com a de Marc Martel, famoso imitador de Mercury e ficou perfeita. Parece que estamos vendo o grande vocalista do Queen em ação.

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O Mito, poema de Augusto de Campos

O Mito, poema de Augusto de Campos

De “O Mito” ao zero (ou ao buraco), passando por “omito”.

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Contos para futuro nenhum (XIV)

Contos para futuro nenhum (XIV)

SÔNIA NABARRETE (São Caetano do Sul/SP)

Enquanto apoiava a tortura, esqueceu-se de que a filha não se conformava com a derrocada da democracia. Agora não tem nem ao menos um corpo para enterrar. Da moça só restou uma foto no celular. Tão bonita.

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Banksy: Mural “No Future”

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Contos para futuro nenhum (XIII)

Contos para futuro nenhum (XIII)

SILVANA MENEZES (Belo Horizonte/MG)

Pai e mãe aprovavam o novo governo. O filho agora mantinha distância da escola, das drogas, dos pervertidos, das vadias, da vida lá fora. Eles podiam ficar 24 horas colados no garoto, que mantinham asseado. A única literatura da casa era a Bíblia Sagrada. O menino não reclamava, embora achasse as historinhas de Jesus meio repetitivas. Aos domingos tocavam teclado e cantavam música gospel sertaneja. Tudo parecia bem para a família longe dos pecados, protegida por Deus e pela Taurus. Até que um dia o garoto tirou a arma do pai do armário e deu um tiro na cabeça. Ao seu lado, boiando em sangue, foi encontrado um papel escrito “eu gosto é de menino”.

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Contos para futuro nenhum (XII)

Contos para futuro nenhum (XII)

SILVANA GUIMARÃES (Belo Horizonte/MG)

Segundo turno, casa cheia, a fila enorme na seção eleitoral. Ele custou a esperar sua hora. Vestia calça cáqui e blusa amarelo-ouro, a bandeira do Brasil sobre os ombros. Quando chegou a sua vez, entrou marchando na sala. Antes de votar, bateu continência para a urna, lascou um “pela moral e bons costumes” bem alto e saiu de lá olhando por cima das pessoas. Semana passada, sua foto apareceu no jornal. Pederasta, pego em flagrante, quando obrigava o menino a lamber suas bolas, na praça, atrás da igreja. Antes de entrar na cadeia, ouviu do delegado: — Ordinário, marche!

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Contos para futuro nenhum (XI)

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SÉRGIO FANTINI (Belo Horizonte/MG)

Só quando o milésimo cidadão-de-bem arrependido foi imolado em praça pública pelo Ministério da Eugenia, as pessoas começaram a apagar as suásticas que haviam pintado em suas casas. A única que permanece é aquela riscada a canivete no corpo da garota gaúcha.

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Contos para futuro nenhum (X)

Contos para futuro nenhum (X)

RICARDO CELESTINO (São Paulo/SP)

Do Congresso, só um nome. Do Senado, uma lembrança. O STF, um contexto. Tudo está mais fácil e acessível na surfaceciberespacial de uma rede imersiva de criptografados. A vida integra bolhas meta(in)flexíveis de reação. (Trans)penetração em um trânsito intransitivo de galerias e galerias de informação. Comoção! A biopraticidade de metadados da próxima diversidade. O paraíso em foco. Comoção. Balada do louco. Comoção. Olhar rouco de um povo néscio, integrado em poços (trans)continentais. O cobertor das vaidades. A volta de todos os choques e a (sub)missão opressiva do verde-amarelo.

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Contos para futuro nenhum (IX)

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RENATA PY (São Paulo/SP)

E os sonhos? Os sonhos a gente não controla, dizia Seu Zé. Era um homem que sempre devaneou esperança. Mas hoje não, acordou borocoxô, não quis nem comer. Disse apenas não desejar viver tanto para ver tamanha maluquice nesse mundão de meu Pai. Mirou pra longe da janela, ficou um tempo avantajado sem dizer uma única palavra. Comentaram até falta de lucidez. O pobre estava desacorçoado. Acontece com a realidade, ele desenterrou memórias que não gostaria. Tinha também consciência que não viveria para ver calamidade nenhuma findar. Sobre os sonhos? Roubaram, exclamou cansado.

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Contos para futuro nenhum (VIII)

Contos para futuro nenhum (VIII)

NATHALIE LOURENÇO (São Paulo/SP)

A unha parecia maior no alicate do que quando ainda era parte do dedo. A cabeça de Chicho pensava esse tipo de coisa inútil quando a dor escoava por um momento. Era a última unha do pé e ele ainda resistia bravamente. Não tinha dito nada para o homem de capuz, que escolhia agora um novo instrumento como quem escolhe um lápis de cor.

– Quem é você?

Era um cabo com presilhas de metal denteadas, os dentinhos a lhe morder os mamilos com força. E então veio a corrente elétrica. Uma vez e outra vez, a pele sofrendo a queimadura de mil cigarros. O torturador deu mais um ou dois choques e voltou para a mesa de instrumentos.

– O que está planejando?

Era um vidrinho de ácido com conta-gotas, e a dor da primeira gota, na coxa, parecia quase suave depois de tudo, mas foi ardendo e espalhando, incontrolável. Na terceira gota a pele parecia borbulhar, dissolver. Pela primeira vez quis confessar. Confessar… o que? Se deu conta que até agora, era apenas ele, torturado, quem tinha feito perguntas. Outra gota caiu e Chicho recomeçou a gritar.

– Me diz o que você quer saber! Eu falo! Eu falo…

– Não precisa falar nada, fique tranquilo, já estamos acabando.

– Então por que? Isso tudo não é pra arrancar a verdade?

– Isso aqui? É só tradição. Eu não preciso arrancar nada de você. Não preciso que você me diga a verdade. A verdade é o que eu disser que é.

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