Christ lag in Todesbanden, BWV 4, de J. S. Bach

Ingmar Bergman escreve em A Lanterna Mágica:

Johann Sebastian havia feito uma longa viagem de trabalho e ficara dois meses fora. Ao retornar, soube que sua mulher Maria Barbara e dois de seus filhos haviam falecido. Dias depois, profundamente triste, Bach limitou-se a escrever no alto de uma partitura a frase: “Deus meu, faz com que eu não perca a alegria que há em mim”.

Eu também tenho vivido toda a minha vida com isto a que Bach chama “a sua alegria”. Ela tem-me ajudado em muitas crises e depressões, tem-me sido tão fiel quanto meu coração. Às vezes é até excessiva, difícil de dominar, mas nunca se mostrou inimiga ou destrutiva. Bach chamou de alegria ao seu estado de alma, uma alegria-dádiva de Deus. Deus meu, faz com que eu não perca a alegria que há em mim, repito no meu íntimo.

Porque está complicado de não me sentir in Todesbanden. Então às vezes eu, o limitadíssimo e ateu — tal como Bergman — Milton Ribeiro, repito esta frase. Ela me emociona, me acalma e me faz pensar que minha alegria ainda está comigo, tem de estar. É um grito infantil que reconheço facilmente, mas que não tenho ouvido.

Liliya Gaysina (soprano), Yulia Mikkonen (alto), Andrey Krasavin (tenor), Anton Tutnov (bass)
Vlad Pesin, Marina Katarzhnova – violinos; Lev Serov, Rust Posumsky – violas, Alexander Gulin (cello), Anastasia Braudo (orgão)
Concerto realizado em 12 de agosto de 2011 na Igreja Anglicana de Moscou