Júlia (ou Senhorita Júlia), de Christiane Jatahy

Senhorita Júlia é um texto clássico de August Strindberg de 1888. Em Júlia, a diretora carioca Christiane Jatahy realiza uma brilhante adaptação do texto para o Brasil dos dias de hoje. Quem quiser manter contato facilmente com o texto original, pode ver o bom filme de Alf Sjöberg, de 1951. O texto não perdeu nada de sua atualidade, fato que facilita e aumenta a responsabilidade da adaptação. Trata-se da história do envolvimento de uma jovem (muito jovem, tanto que algumas traduções chamam o texto de Menina Júlia) de familia aristocrática com um ambicioso serviçal. No original, é uma noite de festa de São João, na adaptação é apenas uma festa. Júlia provoca e provoca sexualmente um dos criados, noivo da cozinheira da casa. Este, à princípio, tem medo, depois aceita e passa a sonhar e fazer planos com o novo amor. Levados pelo desejo e pelo vinho, eles relembram vivências inteiramente diversas e falam do abismo social que os separa. Brigam. O que seria somente “sexo casual” para ela e “caso” para ele, transforma-se em uma tensa disputa de classes e de interesses.

Infelizmente, este post chega tarde, pois a peça ficou em cartaz em Porto Alegre de 6 a 8 de setembro. Destaque para a brilhante atuação da Júlia que faz o papel da Senhorita Júlia, a atriz Julia Bernat. Infelizmente, a peça ganhou parte de sua fama pela nudez — nada gratuita — da atriz. A montagem avança fundo num experimentalismo de bons resultados. Projetadas em duas telas que podem juntar-se e alternar-se, há cenas pré-filmadas e cenas filmadas ao vivo que se integram. Olha, pena que saiu de cartaz…

Cena de Júlia, de Christiane Jatahy. A cena ao vivo está na tela da esquerda, a pré-filmada na da direita. O câmara fica no palco e interage com os atores. Tudo se integra à perfeição.