Ser pedestre em Porto Alegre

Ser pedestre em Porto Alegre

Tudo pelo carro nesta Porto Alegre de merda.

Tente atravessar a João Pessoa na altura da República. As sinaleiras para pedestre não são sincronizadas e há quatro pistas. Duas para carros e duas para ônibus. É complicado de atravessar e até de entender. Tem gente que vai e volta correndo… Um perigo.

Ah, é exceção? Então tente atravessar a Borges na altura do Centro Administrativo, no pé da elevada. São 3 pistas que se leva 5 minutos para atravessar. É claro que todo mundo faz a travessia correndo, quando dá uma folga.

E experimente caminhar pela perimetral vindo da ex-Medicina em direção à Procergs pelo lado direito da rua. Há a pista dos carros, que é laaaaarga, e a calçada, que é dividida entre uma pista para ciclovia e outra caminhantes formando uma trança sem fim. Parece feita para que os ciclistas nos atropelem.

Mas o carro… Ah, este tem metros e metros. São outras 4 lindas pistas.

Tudo pelo carro.

E há locais onde a gente atravessa é dá de cara com uma grade…

Foto: Youtube

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Comentário de Eduardo Canto:

Difícil ser pedestre, difícil ser ciclista. Ainda na gestão do Fortunati, foram criadas calçadovias, como a da Restinga, que simplesmente transformou calçadas em ciclovias. Tiraram o pedestre pra botar o ciclista. E com isso se fomenta a guerra entre pedestre e ciclista, pois ai de quem mexer com os carros. O mesmo ocorre em frente ao Barra Shopping. Um pouquinho depois do Centro de Treinamento do Grêmio, termina a calçada e fica só ciclovia. Sobre as sinaleiras, eu já filmei mais de 8 minutos de espera da sinaleira para pedestres e ciclistas no cruzamento da Beira-Rio com Ipiranga, ali ao lado do Dilúvio e do Guaíba. Ou seja, são sistemas feitos para serem burlados. Quer mais? Ciclocoisa da Ipiranga: tem alguns semáforos com 3 tempos para conversão de carros da Ipiranga para pontes que levam ao norte. O ciclista chega, aperta o botão e tem que esperar o novo ciclo para que tenha 10 ou 12 segundos para atravessar. Se chegar e apertar o botão mesmo antes da hora em que o semáforo abriria para ele, ele tem que esperar o novo ciclo. Quando vendi o carro e comecei a pedalar, eu ficava de trouxa no sinal esperando, até me dar conta de que este SISTEMA PENALIZA QUEM NÃO USA CARRO. E agora, eu atravesso quando dá. Mas pior mesmo do que esse descaso dos gestores público-privados (prefeitos a serviço das empresas financiadoras de campanha) é o comportamento de boa parte dos motoristas: odeiam o ciclista, como se ele fosse apenas um pé de chinelo que não tem carro porque é pobre (e aí se fosse?!) e não conseguem enxergar a quantidade de gente que já não entope as ruas com carros para andar de bike. E mais ainda, a quantidade de gente que só não faz o mesmo porque tem medo de ser atropelada. Estamos muito atrasados. Assim como fomos o último país a abolir, pelo menos oficialmente, a escravidão, seremos o último a abandonar o conceito de que ter carro é imprescindível para a felicidade. E, claro, seremos os últimos a termos consciência de classe, que é a raiz de todos esses problemas. Logo nós, um dos países mais lindos desse planeta…

Ah, sim, e quem tem carro e berra é ouvido: a gritaria sobre a ameaça de não parcelamento do IPVA foi ouvida no dia seguinte e o Leitinho, o governador das empresas, já abriu as pernocas.