Bamboletras recomenda um verdadeiro suco de Brasil

Bamboletras recomenda um verdadeiro suco de Brasil

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Três excelentes livros!

O primeiro da lista fala sobre a pandemia e o que virá e é o livro que mais vendemos atualmente na Bamboletras. Sim, Abrão Slavutzky e Edson Souza são best-sellers!

O segundo vem de Ruy Castro falando novamente sobre o Rio antigo, tema sobre o qual Ruy é irresistível.

E o terceiro é a deliciosa biografia de nada menos do que João Gilberto escrita pelo especialista Zuza Homem de Mello.

É mole?

Boa semana com boas leituras!

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Imaginar o Amanhã, de Abrão Slavutzky e Edson Luiz André de Souza (Diadorim, 216 páginas, R$ 55,00)

Ainda falta muito? Todos nós já fizemos essa pergunta. Na infância, obrigados a suportar provações de toda espécie e, ao longo da vida, quando percorremos longos caminhos e estradas desconhecidas, e o cansaço e a impaciência nos abatem. Nos quase dois anos da pandemia do coronavírus, essa pergunta, ou pelo menos o sentimento de angústia que ela contém, se fez presente em cada um de nós. Para grande parte dos brasileiros, a passagem dilacerante do tempo teve como agravante o estarrecimento diante da indiferença do presidente do país à tragédia vivida pela população, cuja expressão mais dolorida são os quase 600 mil mortos pela Covid 19 contabilizados até agora. Drama ao qual se somaram o desemprego, a crise econômica e a carestia generalizada dos bens de primeira necessidade. Privadas da rotina e relacionamentos cotidianos, as pessoas tiveram nas redes sociais sua principal companhia no mundo pandêmico, marcado pelo isolamento, pelo medo, pelo luto e… pela esperança. Sim, a esperança foi imprescindível para nos mantermos lúcidos ou pelo menos humanos nestes tempos. Que nada mais é do que uma parte do eterno labirinto que enreda nossa existência. Neste livro, os autores se propuseram a imaginar o amanhã que será de todos nós.

As Vozes da Metrópole, de Ruy Castro (Cia. das Letras, 464 páginas, R$ 79,90)

As vozes da metrópole joga luz sobre a produção literária, poética e jornalística dos escritores que foram protagonistas e testemunhas dos anos loucos cariocas. Cenário de Metrópole à beira-mar, o Rio dos anos 20 estava em ebulição e já era moderno na arquitetura, na música, nas artes plásticas, no pensamento, nos costumes – e, é claro, na literatura. Dividido em frases, crônicas, reportagens, trechos de romances, poemas e provocações, o livro reúne cerca de quarenta autores, desde os mais conhecidos, como Murilo Mendes, Lima Barreto e João do Rio, até nomes que tiveram edições restritas ou que estão fora de circulação há décadas, a exemplo de Adelino Magalhães, Mercedes Dantas e Romeu de Avellar. Eis aqui uma amostra irresistível do que foi feito num Rio que mudou a história – organizada por quem conhece a cidade como ninguém.

Amoroso — Uma biografia de João Gilberto, de Zuza Homem de Mello (Cia. das Letras, 344 páginas, 89,90)

Já não restam superlativos para caracterizar a música de João Gilberto. Com sua voz e seu violão inigualáveis, o criador da bossa nova foi reverenciado no mundo inteiro – até nos deixar, aos 88 anos, em julho de 2019. Escrito pelo produtor e pesquisador musical Zuza Homem de Mello, Amoroso é a primeira biografia dedicada ao baiano de Juazeiro. Personagem tão apaixonante quanto idiossincrático, João Gilberto é aqui retratado pelo prisma de sua arte. De Salvador a Tóquio, passando por Nova York, Rio de Janeiro e Cidade do México, somos levados aos estúdios, teatros, bares, clubes e festivais por onde João circulou, e conhecemos os compositores, arranjadores, instrumentistas, produtores, jornalistas, técnicos de som e empresários que cruzaram seu caminho. Melômano de conhecimento enciclopédico, o autor reconstrói a trajetória musical de seu amigo e ídolo em prosa leve e alegre, elegante e precisa – como ensinou João.

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Os mais vendidos de novembro na Bamboletras

Os mais vendidos de novembro na Bamboletras

1. Imaginar o Amanhã, de Abrão Slavutzky e Edson Luiz André de Souza (Diadorim)
2. Lula: Biografia – Volume 1, de Fernando Morais (Companhia das Letras)
3. Aquarela Brasileira (Volume 1), de Juarez Fonseca (Diadorim)
4. Mas em que mundo tu vive?, de José Falero (Todavia)
5. Anos de Chumbo e outros contos, de Chico Buarque (Companhia das Letras)
6. Santa Sede: Outros Presentes (Volume 12), de Rubem Penz, Org. (Santa Sede Editorial)
7. Os Supridores, de José Falero (Todavia)
8. Drogas para Adultos, de Carl Hart (Zahar)
9. Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum (Companhia das Letras)
10. Um Preço Muito Alto, de Carl Hart (Zahar)

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Bamboletras recomenda Gerbase e os últimos Eliane Brum e Coetzee

Bamboletras recomenda Gerbase e os últimos Eliane Brum e Coetzee

A newsletter desta quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Nossas sugestões sempre trazem bons livros, mas raramente foram tão variadas. Um romance gaúcho que tende ao fantástico, um documento incontornável sobre a devastação amazônica e mais contos de Coetzee. Pô, tudo heterogêneo, tendo por ligação a alta qualidade!

Boa semana com boas leituras!

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Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum (Cia. das Letras, 448 páginas, R$ 69,90)

Eliane Brum mescla relato pessoal e investigação jornalística para escrever um livro de denúncia e em defesa da Amazônia, lugar que adotou como casa e de cuja luta pela sobrevivência participa ativamente. Escritora, jornalista e documentarista, Eliane Brum faz um mergulho profundo nas múltiplas realidades da maior floresta tropical do planeta. Com quase 35 anos de experiência como repórter, há mais de vinte ela percorre diferentes Amazônias. Em 2017, adotou a floresta como casa ao se mudar de São Paulo para Altamira, epicentro de destruição e uma das mais violentas cidades do Brasil desde que a hidrelétrica de Belo Monte foi implantada. A partir de rigorosa pesquisa, Brum denuncia a escalada de devastação que leva a floresta aceleradamente a um ponto de não retorno. E vai mais além ao refletir sobre o impacto das ações da minoria dominante que levaram o mundo ao colapso climático e à sexta extinção em massa de espécies. Neste percurso às vezes fascinante, às vezes aterrador, a autora cruza com vários seres da floresta e mostra como raça, classe e gênero estão implicados no destino da Amazônia e do planeta.

Contos Morais, de J. M. Coetzee (Cia. das Letras, 152 páginas, R$ 54,90)

Sete contos sobre o desejo. Ou sobre como lidamos com o desejo dentro dos limites da nossa cultura. Nesta surpreendente incursão pela forma breve, o prêmio Nobel J. M. Coetzee nos apresenta um conjunto de narrativas de brilho perturbador. Num dos textos, uma mulher se sente diariamente ameaçada por um cão. Em outro, uma escritora só encontra conforto ao cuidar de gatos abandonados. O título Contos morais poderia remeter a um diálogo com uma convenção da fábula clássica: o uso de bichos em histórias que enfatizam aspectos virtuosos da conduta humana. Como se trata de J. M. Coetzee, no entanto, nada é previsível. Para quem conhece a obra deste autor, a um só tempo fácil e difícil, moderna e pós-moderna, não é surpresa que a ideia de moralidade seja subvertida por uma ironia constante, feita de contradições presentes inclusive no estilo da escrita. Assim, se a linguagem é transparente e direta, a complexidade das ideias que expressa gera um curto-circuito nas certezas de quem lê. Os contos aqui não oferecem nenhuma lição. Das contradições entre natureza e cultura, Coetzee faz uma obra sobre todos nós.

O Caderno dos Sonhos de Hugo Drummond, de Carlos Gerbase (Diadorim, 136 páginas, R$ 49,00)

Neste romance de Gerbase, Hugo, um jovem cineasta do interior do Rio Grande do Sul, há pouco premiado em importante festival na França, vem a Porto Alegre para apresentar o projeto de seu novo longa-metragem num encontro internacional de produtores. O evento acontece num prédio que, cem anos atrás, foi o hotel mais luxuoso da cidade. Desde sua chegada, Hugo é envolvido por uma atmosfera surreal e conhece personagens tão solícitos quanto estranhos: uma recepcionista que parece ter saído de um filme de espionagem dos anos 1960, um produtor cinematográfico, que muda de aparência de acordo com o restaurante que frequenta, e sua bela e misteriosa secretária. Por três dias, Hugo tenta seguir a programação do encontro, mas uma série de eventos bizarros, acompanhados de sonhos perturbadores, levam-no a questionar o que pretende filmar no futuro e que destino dar à própria vida.

Eliane Brum entrevistando na Amazônia

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Os livros mais vendidos em junho na Bamboletras

Os livros mais vendidos em junho na Bamboletras

E vamos aos mais vendidos de junho! Itamar Vieira Júnior, que já ocupava o topo de nossa lista há um bom tempo, agora ocupa a primeira e a segunda colocações. E, como de costume, só temos ótimos livros em nossa lista! Os leitores da Bambô só levam coisa boa. Apareça, aqui há qualidade e curadoria!

1. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Todavia)
2. Doramar ou a Odisseia: Histórias, de Itamar Vieira Júnior (Todavia)
3. Os Supridores, de José Falero (Todavia)
4. Notas sobre o Luto, de Chimamanda Ngozi Adichie (Companhia das Letras)
5. Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei (Companhia das Letras)
6. E se as cidades fossem pensadas por mulheres, de Laura Sito e Mariana Félix (Zouk)
7. João aos pedaços, de Flávio Ilha (Diadorim)
8. Porto Alegre, Cidade Baixa: Um bairro que contém seu passado, de Renato Menegotto (Marcavisual)
9. O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório (Companhia das Letras)
10. Diários: 1909-1923, de Franz Kafka (Todavia)

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O fazer literário de dois gênios e um romance gaúcho para aquecer o clima

O fazer literário de dois gênios e um romance gaúcho para aquecer o clima

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá.

Esta é uma semana de grandes lançamentos: a biografia de João Gilberto Noll escrita por Flavio Ilha, os extraordinários Diários de Franz Kafka e um originalíssimo romance que se passa aqui ao lado da Cidade Baixa, no Menino Deus, são três excelentes dicas da Bamboletras para esta semana fria e de algum temor sobre uma terceira onda que esperamos que não ocorra.

Poderíamos mostrar outros ótimos livros, mas mantenhamos nosso número tradicional de três, que está nos três poderes (Judiciário, Executivo e Legislativo), nos Três Mosqueteiros, nos Três Porquinhos, nos três sobrinhos do Pato Donald (Huguinho, Zézinho e Luizinho), na Santíssima Trindade, etc.

Boa semana com boas leituras!

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João aos Pedaços, de Flávio Ilha (Diadorim, 248 páginas, R$ 60,00)

Biografia do escritor João Gilberto Noll, resultado de quatro anos de pesquisa do jornalista e escritor Flávio Ilha. A obra traz também quatro contos inéditos e dezenas de fotos de Noll, além de cartas e trechos do romance inacabado que o escritor deixou. Ilha teve acesso a cartas e documentos pessoais de Noll cedidos pela família e amigos. O jornalista e escritor é leitor de Noll desde seu primeiro livro, ‘O cego e a dançarina’, de 1980. Em menor ou maior intensidade, acompanhou de perto seu trabalho, mas só foi conhecê-lo pessoalmente em 2016, ao cursar uma de suas oficinas literárias. Nesta ocasião os dois iniciaram um processo juntos: Flavio propôs a produção de um documentário sobre sua história literária, que seria feito a partir das tradicionais caminhadas do escritor no centro da cidade de Porto Alegre, e também de leituras de trechos de seus livros por pessoas convidadas. “Noll inclusive já havia selecionado alguns trechos para ler, estava empolgado, mas morreu antes de conseguirmos dar início ao projeto. Como não seria possível fazer o trabalho sem ele, decidi transformar em uma biografia. Comecei aos poucos, tateando, procurando pessoas. Só engrenou mesmo em 2019” afirma Flávio Ilha.

Diários, de Franz Kafka (Todavia, 572 páginas, R$ 99,90)

“Tudo que não é literatura me entedia”, anota Franz Kafka em certo dia de 1913. A essa altura, Kafka, um advogado judeu de Praga, era funcionário de um instituto de seguros trabalhistas e começava a receber uma modesta atenção como o autor da novela ‘O veredicto’. Sua glória seria póstuma e por obra do amigo Max Brod, que não destruiu sua obra como lhe fora pedido e fez o contrário, divulgou-a. Uma prova disso são estes ‘Diários’, verdadeiro monumento literário do século XX traduzido integralmente pela primeira vez no Brasil por Sergio Tellaroli. São páginas assombrosas. Constituem aquilo que o escritor argentino Ricardo Piglia qualificou como o “laboratório do escritor”: o espaço em que o autor de ‘A metamorfose’ experimentava e afiava a sua escrita em meio a comentários sobre sua época, suas leituras, suas decepções amorosas, rascunhos de cartas, relatos de sonhos, começos de obras literárias jamais concluídas, bem como diversas de histórias acabadas.

Olivetti Lettera 32, de Carolina Panta (Zouk, 178 páginas, R$ 46,90)

Olivetti Lettera 32 é um romance de 37032 palavras. Um narrador incomum. Três personagens expostas a páginas escritas. Uma máquina de escrever. O romance estrutura-se a partir de um livro recebido. Cada uma das mulheres residentes no prédio do bairro Menino Deus acaba por, em algum momento de um mesmo dia, receber um tomo. Os volumes estampam seus nomes nas capas. O que se cria, a partir da chegada dos exemplares, é um resgate de suas vidas. Um narrador misterioso, aparentemente onisciente, busca métodos de escrita e recursos linguísticos para contar essas mulheres. Descobre-se, assim, durante a leitura das narrativas, um sentimento de culpa transversal ao feminino das personagens. Muito disso é apresentado pelo narrador a partir de bilhetes anexados às obras. Ele conversa, expõe-se também às personagens trazendo os dramas das mulheres aos olhos da leitura, assim como os seus próprios. Diva, Eleonora, Maria Luíza. Três personagens de tempos diferentes, vivenciando a dor e o prazer de se constituir como mulher.

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Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Atrás do balcão da Bamboletras (XVIII)

Eu estava vindo para a Livraria num Uber. Eu e o motorista, um negro, vínhamos falando mal do Inter e ofendendo severamente nossa diretoria. Eles merecem. Bah, merecem muito, mas isso não interessa.

No meio do papo, eu, por algum motivo, falei no livro “Liga da Canela Preta”, de José Antônio dos Santos para a Editora Diadorim. E contei um pouco da história da liga dos negros, enquanto o sujeito arregalava os olhos.

— MAS EU NÃO CONHECIA ISSO!!! Ah, não. Eu preciso ler este livro HOJE.
— Olha, tem na minha livraria e nós estamos indo pra lá.
— Então vou estacionar e comprar o livro. Depois volto pro trabalho.

Quando saímos do carro ele disse:

— Tu sabe que o negro não conhece a própria história, né?

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Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): XVIII – Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

Faz muito tempo que li Grande Sertão: Veredas. Foi uma leitura adolescente e nunca mais revisitei o livro. O fato não impede que eu tenha a melhor das lembranças. Dele e de Sagarana. Mas jamais poderia escrever algo honesto se às vezes confundo trechos  do romance e da coleção de contos. Então, convidei Fernanda Melo (2 links) — grande admiradora da obra-prima de Guimarães Rosa — para escrever o 18º post desta série.

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Grande Sertão: Veredas entra com mérito e facilmente em qualquer lista de livros preferidos de quem o tenha lido. Mas ele é um daqueles livros que exige do seu leitor. Não é um livro para ler pressionado por prazos, para fazer prova de vestibular ou com o objetivo de aprender sobre o interior do Brasil. É preciso tempo para se adaptar à linguagem, para que ela, ao invés de truncada, se torne musical. A narrativa de Riobaldo, feita na primeira pessoa, avança, recua e muitas vezes confunde, tal como seria recordar uma vida. A viagem pelo Sertão é longa e cheia de pequenos causos. Se for para ler com pressa, querendo chegar logo ao fim, vai parecer uma eternidade. O outro caminho é curtir cada pedaço, se interessar pelas expressões (quase todas as frases de Guimarães Rosa citadas por aí são retiradas deste livro), embarcar nas reminiscências, compartilhar a visão de mundo de Riobaldo, apaixonar-se por Diadorim…

Eu gostaria muito de ter lido Grande Sertão: Veredas sem saber que foi representado por Bruna Lombardi numa minissérie da Globo (os mais velhos poderão apelar para uma referência ainda mais antiga, do filme de 1965, com a atriz Sonia Clara). Apesar das andanças, das superstições, da linguagem do sertão, das disputas de terra e do amadurecimento de Riobaldo, é Diadorim que o leitor busca em cada uma de suas páginas. Os seus olhos verdes, o seu comportamento reservado, as mãos delicadas, sua maneira firme e determinada, o perfume do seu corpo, as palavras soltas… tudo em Diadorim confunde e deixa Riobaldo em suspenso. Diadorim e a saga no sertão se confundem. Acredito que antes o amor de Riobaldo e Diadorim também confundiam também o leitor. Riobaldo não se permite dar vazão ao que sente por Diadorim, outro homem, algo ainda hoje – apesar de tantas lutas e progressos com relação à aceitação da homossexualidade – perfeitamente compreensível. Quem lia aquilo sem saber previamente da história de Diadorim, não conseguiria deixar de perguntar: Riobaldo é gay? O que teria acontecido se ele tivesse tentado? Ou será que no fundo ele sabia que Diadorim era uma mulher? A explicação mais bonita que vi da história de Diadorim e Riobaldo foi de uma entrevista de um ator italiano, desses de novela da Globo, que disse que Grande Sertão lhe ensinou que amor não tem sexo, que amor é algo que existe entre essências. Talvez conhecer o livro antecipadamente tenha nos retirado o privilégio de chegar a uma conclusão semelhante.

Falando em paixão, em amor, não dá para deixar de citar a evidente torcida de Guimarães Rosa, demonstrada nesse e em outros livros, pelo sertão. Falando de modo bem amargo, o sertanejo seria quase um bom selvagem. A linguagem deliciosa e musical do livro, ao invés de eternizar a fala do jagunço, criaria outra, realmente musical e deliciosa, só que fora da realidade. Metidos em guerras confusas, dormindo sob o céu estrelado e sem saber do que será o amanhã, os personagens de Guimarães têm sempre uma grandeza, uma proximidade com o eterno. O homem a cavalo, a filha do moço da venda, o matador de aluguel, nunca podem ser reduzidos apenas ao que fazem. Mesmo quando fala da morte, da necessidade e da ignorância, o leitor sempre têm a impressão de que eles, interioranos, vivem de uma maneira mais autêntica do que nós, leitores citadinos.

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