Com 500 euros e um megafone, ex-militante do PT disputa prefeitura em paraíso italiano

Com 500 euros e um megafone, ex-militante do PT disputa prefeitura em paraíso italiano
Uma pequena amostra de Riva del Garda | Foto: it.wikipedia.org
Uma pequena amostra de Riva del Garda | Foto: it.wikipedia.org (clique para ampliar)

Publicado no Sul21 em 14 de março de 2015

(Como acabou? Ele foi eleito para um cargo correspondente ao de vereador em sua belíssima cidade).

Flavio Prada é um arquiteto brasileiro de origem italiana que concorrerá, em maio, à prefeitura da paradisíaca Riva del Garda, na Itália, pelo Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo. Para quem acompanhou o crescimento dos blogs no final da primeira década do século XXI, Prada é o célebre criador do blog Lixo Tipo Especial, hoje desativado. Em seu blog, Prada liberava seu espírito crítico na forma de devastadoras enxurradas de zombaria e sarcasmo sobre as políticas brasileira, italiana e europeia.

Com o blog fechado há mais de cinco anos, Prada pouco a pouco desapareceu da cena brasileira, porém, na Itália, seguiu trabalhando profissionalmente com arquitetura, amadoristicamente em seu grupo de rock, e com política, onde não ocupou nenhum cargo eletivo. Até agora.

Entrevistamos Flavio a fim de compreender sua trajetória desde os tempos da fundação do PT, ainda no Brasil, passando pelos blog e chegando a atual candidatura. No Lixo, nosso entrevistado costumava fazer Entrevistas Transoceânicas com seus leitores brasileiros. Vingamo-nos.

flavio-prada

Sul21: Tu és reconhecido um italiano ou como um brasileiro na Itália?

Prada: Alguns pensam que eu sou de Gênova, porque meu sotaque é meio parecido com o genovês. Sabe como é, às vezes você solta um sotaque mais forte, principalmente quando muito cansado. Mas alguns nem percebem que sou estrangeiro. No filme que fiz para a campanha, explico a trajetória familiar da Itália para Limeira (SP) e meu retorno, por assim dizer,  para a Itália, em 2001. Meu italiano é bom, então não tem muito problema. Mas o povo daqui é muito bairrista, então é melhor deixar tudo explicadinho.

Sul21: O que tu fizeste, do ponto de vista político, no Brasil?

Prada: Certa vez, em 1980, eu participei de uma festa na casa do (ex-senador Eduardo) Suplicy. Era um dos primeiros encontros que se fazia com a intenção de, talvez, criar um partido chamado PT. Depois, eu sempre militei pelo PT. Militei muito em Limeira, menos em São Paulo, mais em Florianópolis, até que vim para a Itália, em 2001.

Além da militância, Flavio tem um grupo de pop-rock com a família
Além da militância, Flavio tem um grupo de pop-rock com a família

Sul21: Tu começaste imediatamente a militância aí no norte da Itália?

Prada: Nos primeiros anos estava tentando me situar tanto profissional quanto politicamente. Há muita diferença, principalmente na legislação. É óbvio que eu mantinha grande afinidade com os partidos de esquerda. O problema que ocorreu aqui e que está começando a acontecer no Brasil, é que, com a chegada ao poder, os partidos vão se descaracterizando, toda a ideologia vai perdendo o sentido. É por isso que estou mais critico em relação ao PT, inclusive. Hoje, o partido está aliado com o (Fernando) Collor, (José) Sarney, (Paulo) Maluf. São coisas que, se eu dissesse há 20 anos atrás numa reunião nossa, alguém me declararia como louco ou piadista de mau gosto. Mas hoje é uma realidade. A esquerda, nos 15 anos que estou aqui, sofreu o mesmo fenômeno.

Sul21: O PT da Itália é o PD?

Prada: Aqui nós temos o Partido Democrático de centro-esquerda e os partidos mais radicais, mais tradicionais, comunistas. Há três partidos que são comunistas, além dos verdes. Este último grupo tem menos de 1% de eleitores, estão desaparecendo. Realmente,  o PD (Partido Democrático) é o mais próximo do PT brasileiro. Mas estão fazendo um governo com o (ex-primeiro-ministro Silvio) Berlusconi, o que é uma coisa inimaginável, um absurdo. Em nome da governabilidade, em nome de você administrar o teu condomínio, você chama o estuprador para cuidar dos filhos. É o que está acontecendo. Essa transformação da esquerda, com fenômenos de corrupção estourando em todos os níveis, começaram a aparecer no momento em que esses partidos, que eram de luta, chegam ao poder. O problema é o poder.

Comício de Beppe Grillo
Comício de Beppe Grillo

Sul21: Tu te filiaste a algum partido além do Movimento?

Prada: Eu primeiro me inscrevi num partido de centro-esquerda, mais de centro que de esquerda, chamado Italia dei Valori. O “valor” do nome não é o econômico, é o valor ético, a moralidade. Surgiu outro parecido, só que claramente de direita, com aquela legalidade nacionalista. Então, quando eu estava no Italia dei Valore, assisti ao crescimento do Movimento 5 Estrelas, que nasceu dentro de um blog. Eu e muita gente acompanhávamos o blog do Beppe Grillo e o movimento. O que aconteceu com o IDV? Ora, o partido, que detinha 7% de preferência, hoje está com 0,5%. Morreu. Por que morreu? Porque a gente vinha pregando a moralidade e em um certo momento se descobriu que a cúpula do partido pegava milhões de euros para comprar apartamentos, aumentando seus patrimônios pessoais. Ou seja, o próprio partido que a gente acreditava como uma reserva ética, roubava a dar com pau. Então, foi mais do que natural que praticamente todo o pessoal do IDV fosse para o Movimento 5 Estrelas.

Beppe Grillo, um humanista cômico
Beppe Grillo, um humanista cômico

Sul21: A imagem que se tem do 5 Estrelas no Brasil é a de um bando de loucos chefiados por um humorista.

Prada: É exatamente isso. É que numa sociedade doente como a nossa, a gente tem orgulho de ser louco. O Beppe Grillo é um humanista cômico. Faz mais de 30 anos que atua. Começou na televisão. Depois, no teatro, fazia sempre um humor meio desesperado. Ele faz sátira política no estilo de Voltaire. Às vezes é muito simples. Ele apenas lê as noticias e faz o pessoal rir porque deixa às claras a demência que a gente está vivendo. Aqui e no Brasil também. Ele fazia isso na TV até o momento em que começou a criticar o Partido Socialista, que estava no poder em 1992. Houve também uma piada sobre chineses… Mandaram ele embora. A partir daí, ele foi para o teatro. Ele encheu qualquer ginásio de esportes nesses últimos 20 anos. O tema de Beppe Grillo é a loucura que estamos fazendo com o ambiente, com as energias renováveis, e a corrupção geral.

Sul21: Mas como ele fazia tanto sucesso falando desses assuntos?

Cartaz do V-Day
Cartaz do V-Day

Prada: Ele falava isso de maneira teatral. O personagem dele é aquele cara que está desesperado com a situação. Ele fala muito seriamente enquanto você morre de rir, porque é a realidade. Ele te joga a realidade na cara. Quando surgiram os blogs — ele abriu o dele em 2005 –, os temas eram esses aí: o ambiente, o que nós estamos fazendo com a política, os políticos e a atuação política. Em 2007, ele fez uma provocação que relancei no meu blog, lembra? Foi o VaffanculoDay ou V-Day (literalmente, Dia de mandar tomar no cu). Ele não imaginou que permaneceria no centro das atenções só com o espaço do blog, mas permaneceu. Cada post dele recebia mil comentários e 300 mil views. Então ele falou: “Nós já somos tantos que poderíamos nos reunir numa praça para uma manifestação. Afinal, nós somos os idiotas que trabalham, que pagam impostos, contas. Estamos isolados, quietos, sem voz, sem representatividade”. Aí ele criou o VaffanculoDay. Mas a mídia tradicional não deu notícia do fato. Aí, no ano seguinte, ele fez mais outro, com 100 mil pessoas na praça. Quando a mídia começou a boicotar, ridicularizando a iniciativa, deu para perceber quem estava no caminho certo.

Sul21: A situação da mídia italiana é análoga à brasileira, não?

Prada: É muito parecida. Na mídia italiana, existe um único jornal que é independente e autônomo, o Il Fatto Quotidiano. O resto vive de subvenção do governo. A imprensa ajoelha-se aos pés do poder. Como eu dizia, não houve nenhum tipo de notícia decente sobre o VaffanculoDay. Então o Beppe fez uma coisa. Ele se inscreveu no PD para ser o primeiro-ministro… Estavam acontecendo as primárias do Partido Democrático para a escolha exatamente do candidato a premier. Isso foi em 2009, 2010. E o barraram. Não houve nenhuma alegação, só disseram que não podia. Um representante do PD foi para a televisão e soltou a frase histórica “Se o Beppe Grillo quer entrar na política, ele que faça um partido dele e vamos ver quantos votos ele vai ter”. Aí ele falou: “É. Boa ideia”.

Sul21: (risadas)

Beppe Grillo
Beppe Grillo no Trento

Prada: Ele fundou uma semana depois o Movimento 5 Estrelas, que tem cinco pontos fundamentais: ambiente (não ao nuclear, sim às energias alternativas), água (propriedade pública), desenvolvimento, conectividade e transportes. São cinco pontos que depois se desdobram. E se criou um programa, o “não-estatuto”. Beppe Grillo foi o aglutinador de um movimento que nasceu na rede. A mídia tradicional, que trabalha sempre com estereótipos, diz que o Beppe Grillo controla tudo, mas ele não controla absolutamente nada. O processo interno é absolutamente democrático, não existe nenhuma interferência, nenhuma determinação para os programas que criamos. Dentro da linha do movimento, a gente faz o que quer.

Sul21: E o desemprenho eleitoral?

Prada: Pois é. E o 5 Estrelas foi para as eleições. Primeiro, fez alguns vereadores. Agora, em 2013, fizemos 160 parlamentares. São 140 deputados e 20 senadores, mas alguns pularam fora porque uma das regras é cortar a metade do salário. Um parlamentar italiano ganha por volta de 100 mil euros anuais, o que, comparando com outros países da Europa, é demais. Nós pegamos esses 100 mil euros e colocamos a metade em um fundo. Com esse fundo, estamos abrindo um programa de microcrédito para pequenas e médias empresas que estão em dificuldades. Tem lá uns 20 milhões de euros só com a renúncia de salário. Isso é grana que pode fazer alguma diferença, além de ser uma questão filosófica.

Sul21: E onde é que o 5 estrelas se colocou no governo atual?

Prada: Fora. O que aconteceu foi que a Itália está debaixo de um regime europeu comandado pela Alemanha e os bancos. A grande dificuldade de países como Grécia, Itália, Portugal, Espanha é que são países que tem uma outra cultura, a do “dar aqui para receber ali”. Todos têm um grande nível de corrupção, só que o que está acontecendo é que o remédio está matando o paciente. Com a política que a Europa está impondo a esses países, a corrupção aumentou. A classe política sabe que a festa está acabando, então, para se proteger do futuro, deita e rola. A corrupção explodiu de tal forma que não há mais vergonha de se associar ao Berlusconi. Está tudo aberto, tudo descarado, pois é nesse contexto que os presidentes tem poderes para se garantirem.

Riva del Garda | Foto: Milton Ribeiro
Riva del Garda | Foto: Milton Ribeiro

Sul21: E como será a eleição para a prefeitura de Riva del Garda? Tens chance?

Prada: Nenhuma. (risos)

Sul21: Então de que valeu esta entrevista?

Prada: Não sei. Problema teu. (risos) Bem, falando sério: não tenho nenhuma chance. Minha campanha teve um investimento de 500 euros. Quando nos reunimos para escolher o candidato, foi aquele silêncio. Então, escolheram o mais louco, o mais improvável. Mas é uma candidatura válida porque este paraíso que é Riva, principalmente na região da beira do Lago de Garda, está sendo absurdamente loteado. Comprei um megafone e ando pela cidade, dando meu recado.

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Recebendo o Dr. Cláudio Costa

Publicado em 10 de outubro de 2007

Tenho uma história muito feliz de encontros com blogueiros. Boa convivência, gentileza, piadas, amizades. Conheci muitos, dentre quais posso citar de memória Mônica, Tiago, Gejfin, Afonso, Biajoni, Olivia, Sandra Pontes, Marcão, Laura RJ, Mauro Castro, Stella, Rafael Reinehr, Sílvia Chueire, Donizetti, Inagaki, Nelson Moraes, Cynthia Feitosa, Gabriela Franco, Ticcia, Ane Aguirre, Fábio Danesi, Viva, Francisco Viegas, Nora Borges, Flavio Prada, Allan Robert, Fabrício Carpinejar, Nelson Natalino, Alê Felix, Adalberto Queiróz, Helenir Queiróz, Vanessa Lampert, Claudia Letti, Marcos Caiado, Fal, Manoel Carlos, Adelaide Amorim, Doce Maior, Thomaz Magalhães… e certamente muitos outros que esqueci e que ficarão irritados comigo.

Por falar em comportamentos limítrofes, minha mulher fica maluca quando vai receber alguém em casa. Casa? A casa se transforma. Não se sabe de onde nem como surgem toalhas novas, tudo vai para o seu lugar (ou para lugar um inédito, no caso daquelas coisas que nunca encontraram um paradeiro para chamar de seu), os sabonetes deixam de ser arredondados para adquirir sequinhos formatos de paralelepípedos, há fartura de papéis higiênicos nos banheiros — ninguém precisará gritar desesperadamente por ajuda — , fica tudo florido, as roupas DELA somem magicamente de seus habituais lugares para finalmente conhecerem o armário e eu tenho, além de organizar tudo o que é meu, que caminhar mui cuidadosamente pelo apartamento, lentamente, revisando se meus sapatos não trouxeram muito pó da rua e observando bem a nova disposição das coisas para não derrubar nada.

Como já me acostumei, não me incomodou muito a necessidade de levar o armário de CDs de um canto a outro da sala. Seu peso é mais ou menos o de um automóvel americano dos anos 60, porém, como preciso mesmo emagrecer, nem me preocupei com a ausência das rodas nem com o fato de ter alçado a cama de casal do meu filho para o quarto de cima. (Aqui há um interessante detalhe. Quando comprei a cama para o Bernardo, disse-lhe que havia três modelos na loja: No Sex, Stop Fucking e Penis Paralisator. Por profilaxia paterna, escolhi o Penis Paralisator; afinal, ele tem 16 anos, namora uma menina da mesma idade e eu não desvio um centímetro daquilo que está prescrito no Manual do Perfeito Católico: a Castidade é a Pérola das Virtudes.) Bom, então o fato é que nossos convidados, o Professor Doutor Psiquiatra e o escambal Claudio Costa e sua esposa, repousarão sobre o Penis Paralisator. Será um período imaculado na vida de nosso querido doutor. A imobilidade, dizem, além de tornar as pessoas mais espirituais, garante algumas reputações. A dele certamente não será diminuída pela falta dessas efêmeras dilatações. Ou… sei lá.

Algo que é normal lá em casa e que continuará acontecendo durante a estadia do mineiro casal é a comilança perpétua. E olha, é impossível resistir, a gente engorda pacas. Sou cobaia e beneficiário das artes de Claudia Antonini. Devido a ela, expando-me como o universo. Talvez os filhos do Claudio — eliminemos logo o “doutor” de alguém tão amável e sem frescuras –, não o reconheçam na volta, tal o incremento que sua barriga e outras partes expandíveis do corpo humano poderá receber. Mas deixo de lado qualquer possibilidade de incremento sobre o membro discutido no parágrafo anterior. Não há chances. E ele, coitado, fala sobre uma nova lua de mel em Porto Alegre…

Infelizmente, ficarão apenas de hoje até sábado. Quatro quilos? Não sei, se a Ana Letícia pedir muito, a gente pode piorar a comida… Filhos são assim: aposto que ela ficará satisfeita com o Penis Paralisator — pai, vai devagar, na tua idade… — e quererá seus papais comendo de forma equilibrada. Mas nós, que gostamos deles por serem divertidos e legais — não que ela não os ame pelo mesmo motivo — , pretendemos submergi-los em vinhos, massas, carnes e que tais. A vida é assim meio tola mesmo, né, Ana?

Há uns três meses, encontramos o Claudio aqui em Porto Alegre e posso garantir que contraí por ele uma paixão avassaladora — ainda que platônica, bem entendido. Conversamos como velhos amigos, dissemos coisa séria e muita bobagem e, quando soubemos do Congresso de Psiquiatria que ocorreria em outubro, o convite para que ficasse em nossa casa saiu-nos fácil. Ainda bem que ele aceitou nos incomodar. Era, exata e minuciosamente, o que desejávamos.

Comentários do blog anterior:

Ramiro Conceição: Dois comentários: 1) Milton, gostei muito da cinética, da fluidez do texto. 2) Agora sobre esse tal utensílio, denominado de “Pênis Paralizator”, Doutor Cláudio, cuidado!; pois o senhor e a sua senhora talvez estejam adentrado na trama mágica da teia do terrível Periquito da Genitália Grande, sob um surto da “Síndrome de Milton”. Explicando melhor. Como sabemos, quando casais se visitam, sempre, em alguma ocasião, as mulheres ficam com as mulheres e os homens com os homens. Aí, Doutor Cláudio, mora o perigo! O terrível Periquito, em milhares de subterfúgios colorados, tentará atraí-lo para o utensílio da devassidão. Mas, caro Doutor, já será tarde. O senhor ainda tentará o derradeiro argumento: Pera aí: isso não é o “Pênis Paralizator”? Mas aquela voz sedenta e cavernosa, babando de prazer dirá: “Não, querido Cláudio, aqui é o lugar do “Pênis pra Alisador”. Querido Doutor, aí — nem Freud explica!

Meg: Milton será que me colocaste no Index Prohibitorum? Nenhum comentário meu entra. Tamos maus;-) Beijos ao Cladio que deve dizer “Paralisator? antes ele do que o meu” hohoho Estou fazendo graça porque sei que não vai entrar o bendito do comentário Putz! Feliz dia das Crinaças. A começar por ti. M

M: Milton dá um beijo ou manda dar;-) um beijão especial no Claudio e na família dele. E diz que espero ele em Belém do Pará. Ele , como bom psi lacaniano, deve conhecer o inconsciente do Oiapoque ao Chuí, no caso o Oiapoque fica em Belém, mas só neste caso, especialmente para ele. beijos para ti, para a Claudia, tua mulher de verdade;-) e todas as crianças da casa Meg

Viva: Milton, tua crônica está deliciosa, como devem ser os pratos da Cláudia e a prosa do Cláudio. PS: se no domingo você amanhecer com um olho roxo, não vou estranhar. Essa função “casa organizada para as visitas” todo mundo faz. Só que não se conta!!!

Nina – Fenômenos: uhauhauahauhauh passei mal com a cama “penis paralizator”. aqui em casa nao e diferente. qdo tem visita e uma loucura. minha mae só falta nos pedir pra nao respirar. sem falar nos objetos novos que aparecem: talheres do faqueiro que herdou de nao sei quem, copos que eu nunca vi na vida, toalha de mesa bordada a mao (made in ceara). parece que estou em outro lugar!!! sem falar nas comidas. tenho um primo que se diverte qdo a familia inteira esta reunida. ele tira fotos da galera comendo. e so isso que se faz na familia buscape…comer!!! 150 mastigacoes por minuto!! impressionante!!! beijos

Gugala: Pelo jeito vais conseguir que o Dr. participe, solteiro, dos próximos Congressos . ahaha abraços

Cláudio Costa: Olhacá, vamos precisar de algumas laudas para falar de nossa alegria e emoção ao sermos recebidos com tanta fidalguia! Por ora, caríssimos Milton, Cláudia, Bê e Babi, deixamos aqui nosso agradecimento. Depois conto os “podres”, hehehe

Lord Broken Pottery: Milton, Boa companhia e comida farta. “Fartou” alguma coisa? Grande abraço

Flavio Prada: A raridade do encontro somada à raridade dos personagens, faz de tudo isso um momento precioso. Gente da melhor qualidade, e digo isso sem um minimo de confete, é sentido. Beijos a todos.

Ana Letícia: uahahahahaha Amei isso de “penis paralizator”!!! Tadinhos dos pombinhos enamorados, tentando comemorar longe dos “filhotinhos” os vinte e alguns anos de casamento… Crentes que teriam uma lua de mel digna dos “velhos” tempos… hehehe Milton, será que a Cláudia não é parente da minha mãe? Conversem aí e depois me contem, pois aqui em casa quando tem visita é a mesmíssima coisa! 😉 Beijos, obrigada por recebê-los, e adorei o post!

Eduardo: Milton, desejo que tudo corra à contento. Comam bem! Abraços!

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Relato de uma Viagem à Itália (VII)

No outro dia, fomos à cidade de Trento. Definitivamente inseridos em postais de natal, como nesta foto tirada de dentro do carro, na estrada entre Riva Del Garda e Trento,

Flavio levava nosso grupo – eu, Claudia, Julio e Marcelo – por uma estrada sinuosa e absolutamente inesquecível, quase sobrenatural sob a neve. Lembro de lagos com castelos em ilhas, lembro de vinhedos sem fim, de pontes, de subidas e descidas belíssimas e de curvas, curvas, curvas. Riva é uma pequena cidade e sei que o Flavio, que é arquiteto, realiza seus projetos nas redondezas, tendo que viajar diariamente. Pergunto se ele não enche o saco de tantas viagens e curvas e ele me dá a resposta óbvia que, penso, também daria em seu lugar: “Gosto de viajar pela região”. Não me incomodaria de ser seu motorista. Livramo-nos do carro e fomos caminhar pela cidade, tomando parte na interminável guerra de neve protagonizada pelo Marcelo e pelo Julio. A sensação de frio, apesar do zero grau, não era algo que nos fizesse sofrer muito.

Os filhos do Flavio caíam e molhavam-se na neve a todo o momento, mas, apesar de nossas advertências, não estavam nem aí e não sentiam nenhum desconforto com a meleca do chão da cidade. Fomos a um parque – cujo nome deve, tem que ser Dante Alighieri – e conversamos à beira de um lago perfeitamente congelado, enquanto o Flavio, apesar do sábado, atendia telefonemas que pareciam ser de clientes.

Fomos tirar fotos frente a uma estátua bastante diferente de Dante Alighieri, mais um monumento fascista dos muitos que há na Itália. Desta vez, o mau gosto ultrapassa todo o palatável e o Duce nos faz ver uma versão de Dante fazendo uma saudação fascista em direção ao resto da Europa. Eu e Flavio, tomados de compreensível entusiasmo histórico-ideológico, não resistimos àquela demonstração insofismável e inventiva da direita e imitamos o cara, fazendo uma pose de faria morrer de inveja certos blogs por aí.

Foi surpreendente quando o tal “cliente”, que telefonava a cada dez minutos desejando saber onde o Flavio se encontrava, chegou. Fomos a um bar esperá-lo. O Flavio direcionou-o e não aguardamos muito tempo. Chegou dizendo que vinha entregar uma encomenda ao grande Milton Ribeiro… Ele era, apenas e simplesmente, o Allan, do Carta da Itália, um verdadeiro e completo cronista, dono de uma das prosas mais finas da blogosfera e que mora em Piacenza. Ele chegou com um pequeno e valioso presente, um CD de Pino Daniele que provocou imediato entusiasmo na Claudia e incompreensão em mim. Até hoje este CD é polêmico aqui em casa. Eu e a Claudia gostamos muito e o ouvimos com freqüência. O Bernardo e a Bárbara o detestam; o Dado costuma a cantar Arriverá L´Aurora, num tom agudíssimo quando quer me irritar. Enfim, coisas do esporte bretão. O fato é que o Allan viera especialmente de Piacenza e eu fiquei felicíssimo com aquilo. Notem, na foto abaixo, além do Allan, a cara diabólica do Marcelo e o CD do Pino em primeiríssimo plano.

Fomos comer numa pizzeria e seguimos caminhando pela cidade, realizando gravações para a obra cinematográfica Milton Ribeiro na Itália, que está orgulhosamente instalada neste micro e agora no YouTube. No intervalo das complexas gravações, mais fotos.

De Trento fomos fazer uma visita à Vinícola e “Distilleria” Francesco Poli, em Santa Massenza di Vezzano. Degustamos vinhos e grappas absolatemente maravilhosas. Posso dizer que bebi um pouco além da conta, mas como não dirigir mesmo, tudo certo. Além de mim, as crianças demonstraram claramente que seu prazo de validade estava vencido. Compramos vinhos e lamentamos que nossas malas estivessem tão cheias. De outro modo, traríamos a produção da vinícola para Porto Alegre. Voltamos a Riva para realizarmos as tomadas finais do hoje clássico Milton Ribeiro na Itália, com a participação do inglês Allan Robert no papel de testemunha da assinatura do Kontracto de Flavio Prada com a Verbeat. Após firmarmos o compromisso, Flavio Prada e eu fomos tirar uma última foto. Ainda no papel do Almodóvar de Riva, ele ordenou que fizéssemos caras de idiotas. Vejam no resultado como ele é melhor ator.

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Relato de uma Viagem à Itália (VI)

Alguns de meus sete leitores talvez nem lembrem mais que abandonei o relato de minha viagem à Itália. Parei no capítulo V e o retomo agora de forma a apagar minha desídia. Na última parte publicada, eu e Flavio Prada estávamos aos beijos na estação de trem de Rovereto. Sim, ele me deu dois beijinhos à russa. Ignorava que os italianos também eram dados a este gênero de expansões e fiquei na minha, apenas virando levemente o rosto, por medida de precaução. Talvez ele estivesse me tomando por outro, talvez nem fosse o Flavio, sei lá. Afinal, nunca se sabe, só o conhecia dos blogs.

Quando combinamos a visita de dois dias a ele em Riva del Garda — …

…cidade paradisíaca numa bela região montanhosa como mostra a foto acima –, trocamos alguns e-mails em que Flavio mostrava-se preocupado com o roteiro de viagens pelas redondezas de Riva e com o cardápio que nos seria servido. Ele queria saber do que gostávamos, o que queríamos ver, etc. Não respondi, disse-lhe apenas que não fizesse nada diferente do normal e que, como não conhecíamos aquela região, ficaríamos nas mãos dele. Imaginem se eu faria exigências a um anfitrião que desconhecia pessoalmente e que gentilmente nos receberia junto a sua família de esposa e três filhos? Nunca! Mas Flavio voltou à carga e fez-me entender que tudo tinha que ser pensado com grande antecedência. Consultei a Claudia e ela me disse que os italianos eram assim mesmo. Gostavam de tudo acertadinho. Pedi-lhe uma sugestão de cardápio e ele nos respondeu com algo consistentemente majestoso. Também descreveu-nos os vinhos… Salivando, concordamos com tudo. E ele nos fez uma proposta de roteiro muito mais interessante do que as que pesquisáramos. Tudo certo.

Depois de três minutos de Flavio Prada, já tinha reconhecido o blogueiro que faz humor de quase todos os modos, mas principalmente explorando as contradições entre forma e conteúdo. É alguém em quem a piada brota de um rosto sério, que apenas ri – e muito – quando percebe o entendimento do interlocutor. De novo a forma e o conteúdo em oposição. Vi ainda que ele tinha em comum com a Claudia a característica de não explicitar seu afeto por palavras, mas através de atos. Novamente, o conteúdo vem sem forma, inesperadamente. Estou acostumado a isto e concluí que seria muito bem tratado. Fui.

Estava um frio de rachar. Depois de uma rápida visita ao MART (Museo d`arte moderna e contemporanea di Trento e Rovereto), fomos deixar nossas malas no apartamento da família, em Riva. Lá, conhecemos a Marly, mulher do Flavio, com a qual tinha tido uma curiosa conversa telefônica no dia anterior: ela falava em italiano e eu respondia em português, sem que nenhum dos dois notasse nada de estranho. Ficamos sabendo que nossa chegada lamentavelmente desalojara dois dos filhos deles, que iriam para o quarto da irmã. Lá, tivemos nosso primeiro e qualitativamente nada modesto almoço.

Para quem não sabe, o Flavio, além de arquiteto e escritor, é pintor, músico e cineasta amador. Quando seus filhos Beatriz, Julio e Marcelo chegaram, tivemos a exibição de alguns incríveis curtas nos quais seus filhos são explorados como atores. Há uma cena de perseguição que até agora não sei como foi filmada e a cara de delinqüente de seu filho Marcelo é absolutamente engraçada. Também tivemos alguns solos do guitarrista e tecladista (roqueiro) Flavio. Depois de comermos feito uns animais, a cena era a da foto abaixo. Acredito que as pessoas ficam burras depois de comer demais. É a burrice pós-prandial. Olhem a foto e tentem analisar o que se pode esperar de gente assim. Bem, eu fui lavar a louça, pois considero esta tarefa não seja muito exigente mentalmente.

Acho que saímos só ao entardecer. Visitamos o local do I Congresso Intergáctico de Blogueiros de Riva del Garda que, desta vez, apresentou um acrécimo de 100% de comparecimento em relação ao primeiro evento. Gostaríamos que ficasse registrada a profunda animação dos congressistas, assim como a neve sobre a mesa dos debates.

Voltamos para o apartamento onde comemos novamente (e eu voltei a lavar a louça ). Depois disto, contradizendo a burrice pós-prandial, eu e o Flavio ficamos conversando como velhos amigos até mais ou menos às 4 da madrugada. Foi uma conversa séria, em grande parte sobre política. Durante o papo, tive a idéia de montar o Bombordo para ver se tornava mais produtivo um certo grupinho de discussões que fica desfiando teses e mais teses para o Yahoo ler.

Lamentei estar cansado e ter pedido a ele para me retirar e ir dormir. Quando entrei no quarto, a Claudia já dormia há mais ou menos dois anos. Deitei cuidadosamente na cama para não acordá-la – ela sofre de insônia, eu não – e, quando coloquei minha cabeça no travesseiro, certo de um sono reparador, ouço uma gargalhada, digamos, imoderada, vinda das minhas costas. Não, prezado leitor, não fui enrabado, acontecera que minha cabeça pressionara um saco de risadas que fora colocado ali pelo diabólico Julio, de nove anos, o segundo filho do Flavio. Procurei debaixo do travesseiro, nada. Abri a fronha, nada. A Claudia começou a reclamar e disse que eu estava acordando a casa inteira. Mandei calmamente ela calar a boca. O guri tinha posto fronha dentro de fronha para dificultar meu acesso à merda gargalhante. Acabei por acertar um soco no meu travesseiro e as risadas pararam. Então, cuidadosamente, pus meu travesseiro no chão para que a coisa não disparasse mais, enquanto a Claudia tinha um ataque de riso a meu lado. Eu, o usurpador do quarto, fiquei paradinho o resto da noite, temendo novas armadilhas.

Muito cuidado ao visitar Flavio Prada, portanto.

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Relato de uma Viagem à Itália (V)

Já tínhamos combinado com o Flavio Prada que passaríamos dois dias em sua casa, em Riva del Garda. A combinação foi estranha para mim, pois o Flavio desejara que nós aprovássemos com dois meses de antecedência o cardápio que nos serviria… Confesso que cheguei a pensar que fosse uma brincadeira dele e respondi que qualquer coisa nos satisfaria, que não éramos muito chatos, etc. Mas logo vi que ele queria mesmo que opinássemos. A Claudia observou:

— Milton, teu amigo já é 100% italiano. Este tipo de coisa é bem deles. Querem tudo combinadinho e nada pode dar errado. Não sei como ele ainda não especificou nossa agenda.

Então tá. Trocamos vários e-mails em que os pratos iam sendo um a um escolhidos. A Claudia ousou sugerir uma simplificação do cardápio, mas a modéstia de minha cara-metade foi escorraçada por nossos futuros anfitriões. Logo depois, o esperado: Flavio queria acertar uma agenda, aonde iríamos, etc. Disse que dois dias era muito pouco, que éramos uns trouxas, aquelas coisas do Flavio; mas depois de algumas explicações e piadas, a agenda saiu. Então tá.

Porém me adianto, devo retornar a dois dias antes de partirmos de Porto Alegre, quando a Claudia me chamou no computador.

— Milton, este aqui é o Flavio Prada?

Olhei melhor a foto.

— Sim, não tinha visto isso.

— E esta aqui, tu tinhas visto?

— Também não.

— Bom, espero que ele seja divertido – completou ela.

— Eu também! — suspirei.

Voltamos à Itália. Pegamos o trem para Rovereto em Verona. É uma longa subida em que a neve e as montanhas vão surgindo até cercarem-nos totalmente. A viagem é linda, mas as fotos ficaram horríveis. Tentei de todas as formas mostrar que havia montanhas dos dois lados, atrás e na frente. Talvez outro tivesse conseguido, eu não. E muitas fotos mostraram meu lamentável reflexo no vidro. Deu tudo errado. Gostei da mais despretensiosa:

Quando chegamos na estação de Rovereto, devíamos finalmente encontrar o Flavio. Olhei para os lados e não vi ninguém. Fiz uma piada para a Claudia, dizendo que estava me sentindo como Tolstói na estação de trens perto de Iasnaia Poliana. (Não entendeu? Vá ler qualquer notinha biográfica do cara!) Era neve e mais neve e ninguém nos esperava. Até que surgiu um sujeito em tudo semelhante ao Flavio Prada das fotos. Caminhava rápido, sem olhar para os lados e estava passando reto. Chamei-o:

— Flavio?

Ele descreveu uma curva em torno de nós e disse:

— Eu não sou Flavio Prada! E não gosto de ser confundido com blogueiros!

Comecei a rir, nos abraçamos e… coisa esquisita. Ele me deu dois beijinhos à russa. Ignorava que os italianos também eram dados àquele gênero de expansões e fiquei na minha, pensando que tínhamos saído muito rapidamente de Iasnaia Poliana para o Kremlin. Afinal, o Flavio ostentava um chapéu que poderia ter sido em outra encarnação uma chapka soviética.

Saímos de carro. Fomos ao Mart, o Museu de Arte Moderna de Rovereto e viajamos até Riva del Garda. Na estrada, paisagens assim. Vejam como o Flavio sofre.

Interrupção Brusca: Antes de eu terminar o post, entrou no ar o filme da Verbeat — dirigido por Flavio Prada — sobre minha visita à Itália e sua assinatura de contrato em nossa prestigiosa empresa. Vejam o filme, comprem o livro e curtam as sensacionais blogueiras dançantes presentes na película!

Bom filme!

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Relato de uma Viagem à Itália (IV)

Como quase todos que a visitam, chegamos a Veneza de trem. Tudo normal na estação de trens. Comemos alguma coisa, ligamos para o Flavio Prada, compramos a passagem de volta para Verona. Tudo normal.

Saindo da estação de trens para a rua tem-se uma visão extraordinária. É um choque mesmo. (Quando voltei a Porto Alegre, meu amigo Fabrício Pessoa logo perguntou: e a sensação que dá na gente ao sair da estação de trens?) Pois é. Há a calçada por onde caminhamos, uma calçada normal, há edifícios normais do outro lado da rua, só que no meio há água salgada e barcos. E há os gritos dos vendedores querendo que se entre neste ou naquele barco. Mas é difícil de decidir qualquer coisa, pois a visão é absolutamente extraordinária para o visitante de primeira viagem. Parece uma montagem de cinema muito perturbadora, pois estamos dentro do filme em situação tri-dimensional. Pegamos o traghetto para a Piazza da Catedral de San Marco e – isto não é pose – lembrei do filme Morte em Veneza. Veio-me logo à lembrança o nome do personagem principal, Gustav Von Aschenbach, escritor no livro de Thomas Mann, compositor no filme de Luchino Visconti. Minha trilha sonora era o Adagietto de 5ª Sinfonia de Mahler, também utilizada no filme e misturada com o barulho do motor do traghetto que nos levava. Antes que alguém pergunte, já vou respondendo que não!, não procurei adolescentes bonitinhos pela cidade…

Descemos em San Marco e começamos mais uma daquelas caminhadas de dia inteiro pela cidade. Um dia lindo, por sinal, em que fomos procurar pelo teatro La Fenice, pelo bairro judeu e pelas coisas turísticas, mas – maus turistas que somos – passamos a caminhar desprogramadamente por ruas cada vez mais estreitas, admirando as pequenas pontes para pedestres os pequenos canais navegados com suas gôndolas e, quando deu fome, procuramos por um restaurante onde houvesse bastante gente conversando no balcão – “bastante gente” significaria “bom restaurante” e “conversando no balcão” significaria “gente de Veneza, nativos”. Encontramos um numa viela. Uma senhora ria e gritava na porta alguma piada em dialeto veneziano para a garçonete, que lhe respondia sorridente. Não havia balcão, mas era o suficiente. Entramos, tinha poucos pratos a escolher, todos com aquele aspecto de assombrar qualquer fome, por maior de fosse. Comida maravilhosa, complementada por um musse de café inesquecível e sempre interrompida por algum morador que entrava saudando o dono do estabelecimento aos gritos, sendo contra-saudado da mesma maneira. Estava tão bom que começamos a conversar e a beber, esquecidos da cidade lá fora para ser vista.

Encontramos La Fenice e tudo o que planejáramos, fizemos declarações de amor à Veneza e compramos CDs dentro de uma exposição dedicada a Vivaldi e seu Tempo. Bem, os CDs comprados não foram de Vivaldi, foram de Piazzolla, alguém muito amado pelos italianos.

Fotos:

A caminho da Piazza de San Marco. Paisagem belíssima construída pelo homem acompanhada de vento e de um frio de 3 graus. Foto tirada de luvas, com receio de que a máquina fosse parar dentro d´água.

Vamos entrando na cidade e as ruas ficam mais estreitas. Há trânsito, berros e buzinas. Parece incrível que numa cidade tão lúdica haja pessoas apressadas e estressadas, indo trabalhar de barco.

Chamem os inquisidores novamente! Levem o blogueiro! A Catedral de São Marcos é mais impressionante do que a de São Pedro no Vaticano. É escura por dentro, cheia de mosaicos formados por pedrinhas infinitesimais. Um arraso.

Sobre uma ponte para pedestres, absolutamente perdidos, procurando pelo Teatro La Fenice.

Encontramos o Teatro La Fenice após ter passado duas vezes por trás dele, lendo as placas de Ingresso Personale di Servizio, Entrata e Uscita dei Musicisti, etc. Visto de fora, o teatro não chega a impressionar. O La Fenice foi destruído por um incêndio em 1996, sendo reaberto em 2002 para concertos e em 2003 para óperas. Dois eletricistas foram acusados de provocar o incêndio e hoje estão na prisão. Durante o período de reconstrução, as óperas eram levadas sob uma lona de circo, em uma piazza próxima. A faixa que vocês lêem significa: Do fogo se ressurge, da ignorância não e é endereçado a Berlusconi, que quer reduzir drasticamente as verbas para a cultura. Será que Berlusconi ressurgiria do fogo? Poderíamos tentar. Falando de coisas mais agradáveis: quem é o diretor deste teatro? É o maestro brasileiro Isaac Karabtchevsky. Sim, aquele mesmo que só programa merdas para a OSPA, aqui rege Mahler.

Espalhadas pela cidade, há estes rostos em pedaços. São restos de uma Bienal.

Ah, se as fotos tivessem som! Ao entardecer, ao lado de outra daquelas esculturas e vestido a rigor, um alaudista enfrenta com competência a Fuga da Suíte BWV 997, de J.S. Bach.

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