Relato de uma Viagem à Itália (V)

Já tínhamos combinado com o Flavio Prada que passaríamos dois dias em sua casa, em Riva del Garda. A combinação foi estranha para mim, pois o Flavio desejara que nós aprovássemos com dois meses de antecedência o cardápio que nos serviria… Confesso que cheguei a pensar que fosse uma brincadeira dele e respondi que qualquer coisa nos satisfaria, que não éramos muito chatos, etc. Mas logo vi que ele queria mesmo que opinássemos. A Claudia observou:

— Milton, teu amigo já é 100% italiano. Este tipo de coisa é bem deles. Querem tudo combinadinho e nada pode dar errado. Não sei como ele ainda não especificou nossa agenda.

Então tá. Trocamos vários e-mails em que os pratos iam sendo um a um escolhidos. A Claudia ousou sugerir uma simplificação do cardápio, mas a modéstia de minha cara-metade foi escorraçada por nossos futuros anfitriões. Logo depois, o esperado: Flavio queria acertar uma agenda, aonde iríamos, etc. Disse que dois dias era muito pouco, que éramos uns trouxas, aquelas coisas do Flavio; mas depois de algumas explicações e piadas, a agenda saiu. Então tá.

Porém me adianto, devo retornar a dois dias antes de partirmos de Porto Alegre, quando a Claudia me chamou no computador.

— Milton, este aqui é o Flavio Prada?

Olhei melhor a foto.

— Sim, não tinha visto isso.

— E esta aqui, tu tinhas visto?

— Também não.

— Bom, espero que ele seja divertido – completou ela.

— Eu também! — suspirei.

Voltamos à Itália. Pegamos o trem para Rovereto em Verona. É uma longa subida em que a neve e as montanhas vão surgindo até cercarem-nos totalmente. A viagem é linda, mas as fotos ficaram horríveis. Tentei de todas as formas mostrar que havia montanhas dos dois lados, atrás e na frente. Talvez outro tivesse conseguido, eu não. E muitas fotos mostraram meu lamentável reflexo no vidro. Deu tudo errado. Gostei da mais despretensiosa:

Quando chegamos na estação de Rovereto, devíamos finalmente encontrar o Flavio. Olhei para os lados e não vi ninguém. Fiz uma piada para a Claudia, dizendo que estava me sentindo como Tolstói na estação de trens perto de Iasnaia Poliana. (Não entendeu? Vá ler qualquer notinha biográfica do cara!) Era neve e mais neve e ninguém nos esperava. Até que surgiu um sujeito em tudo semelhante ao Flavio Prada das fotos. Caminhava rápido, sem olhar para os lados e estava passando reto. Chamei-o:

— Flavio?

Ele descreveu uma curva em torno de nós e disse:

— Eu não sou Flavio Prada! E não gosto de ser confundido com blogueiros!

Comecei a rir, nos abraçamos e… coisa esquisita. Ele me deu dois beijinhos à russa. Ignorava que os italianos também eram dados àquele gênero de expansões e fiquei na minha, pensando que tínhamos saído muito rapidamente de Iasnaia Poliana para o Kremlin. Afinal, o Flavio ostentava um chapéu que poderia ter sido em outra encarnação uma chapka soviética.

Saímos de carro. Fomos ao Mart, o Museu de Arte Moderna de Rovereto e viajamos até Riva del Garda. Na estrada, paisagens assim. Vejam como o Flavio sofre.

Interrupção Brusca: Antes de eu terminar o post, entrou no ar o filme da Verbeat — dirigido por Flavio Prada — sobre minha visita à Itália e sua assinatura de contrato em nossa prestigiosa empresa. Vejam o filme, comprem o livro e curtam as sensacionais blogueiras dançantes presentes na película!

Bom filme!