Mendelssohn — A Sinfonia Nº 5, "A Reforma"

Mendelssohn — A Sinfonia Nº 5, "A Reforma"
Mendelssohn
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Se há uma obra que me emocione ao ponto de eu ficar me controlando é esta “A Reforma” de Felix Mendelssohn-Bartholdy. Isso por várias razões: a primeira é sem dúvida a forma como o compositor faz a releitura do Bach sacro. A obra é um elo entre o barroco perdido e o classicismo, tendo sido composta para comemorar os 300 anos da Reforma Religiosa, em 1830. É a sinfonia mais austera de Mendelssohn, que tratou de olhar para o passado da música alemã e nele viu a imensa e protetora sombra de Bach. Não apenas o movimento final é baseado no hino luterano Ein’ feste Burg ist unser Gott — também utilizado por Bach na célebre Cantata BWV 80 e aqui anunciado por uma flauta — , como o primeiro movimento leva o chamado “Amém de Dresden”, depois utilizado por Wagner no Parsifal. “A Reforma” foi publicada em 1868, depois da morte do autor, e sua estreia foi somente em 15 de novembro de 1832. A intenção de estreá-la em 1830, nas comemorações do tricentenário da Confissão de Augsburgo (1530), fracassou por motivos políticos. Ficou uma belíssima sinfonia, séria e cheia de elementos retirados da liturgia protestante. Curiosamente, Mendelssohn dizia-se insatisfeito com a obra, mas ainda bem que não sofria da Síndrome de Bruckner, deixando-a chegar até nós sem revisões. Nos movimentos rápidos, há claros ecos de beethovenianos. Compreensível. Afinal, o mestre tinha falecido 3 anos antes.

É incrível a sensação que tenho no final do primeiro minuto do terceiro vídeo. Parece que vai surgir um coral de Bach. Confiram.

Mesmo para um incondicional ateu como eu, a música, além de bela, tem tamanho referencial histórico que é irresistível ouvi-la e reouvi-la como se estivessem me ditando uma História de Música com a mais alta temperatura emocional. O grande Ton Koopman, experiente regente de Cantatas de Bach e da música barroca, está inteiramente à vontade. E muito feliz.

Bom concerto!

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Como ganhar o dia sem fazer nada

Recebi este e-mail hoje:

Oi, Milton,

Não, não é a Páscoa. É que ontem, aqui em Lisboa, fui assistir ao Tom Koopman com sua orquestra e coral, tocando e cantando a Paixão Segundo São João de Bach. Foi uma maravilha, e lembrei-me muito de ti, muito mesmo, e lamentei que não pudesses assistir isso. O Koopman é uma simpatia, rege energicamente, com mãos e boca, e praticamente canta junto. 1h50 em pé, feroz e motivador, regendo e tocando cravo. A orquestra toda é uma maravilha, também. Enfim. Consigo apreciar essas coisas graças a ti.

Abraço.
H.

Eu não sou tão burro e sei que há imenso exagero no textinho, mas isso não me impede de sair para almoçar nas nuvens.

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Mistureca dominical: Schubert, Brendel, Vivaldi, Bartoli, Bach, Koopman

Hoje, só gente legal e simpática.

Primeiro, o Impromptu Nº 3 de Schubert, uma das peças mais famosas do homem para qual a vida valia a pena por causa do vinho, das mulheres e da música, nesta ordem. Alfred Brendel, imenso e querido pianista recém aposentado, é o intérprete.

Ou clique aqui.

Aqui, Cecilia Bartoli, que, segundo ela, já nasceu cacarejando, dá um show junto com Il Giardino Armonico de Giovanni Antonini na ária Anch’il mar par che sommerga da ópera Bazajet (1735), de Antonio Vivaldi.

Ou clique aqui.

Como eu disse, hoje é o dia de gente simpática, daquele tipo que dá entrevistas fantásticas para nossa diversão. E eu não poderia deixar de fechar o post senão com o esquisitão e brilhante Ton Koopman, de quem ouvi anteontem a melhor gravação da Sinfonia “A Reforma” de Mendelssohn que se possa imaginar — gravação pirata, roubada de um concerto dado no auditório da Rádio Estatal da Finlândia (Helsinque) e capturada pela Grande Rede. A música é célebre Ária na Corda Sol, segundo movimento da Suíte Nº 3 de J. S. Bach.

Ou clique aqui.

E um bom domingo a todos!

P.S. — Quando Alfred Brendel encerrou sua carreira, eu não publiquei nenhuma notinha aqui no blog. Lamentável. Então, como um pedido de desculpas que ele nunca verá nem entenderia, publico duas de fotos que gosto muito. A primeira, com sua gata, Minnie.

Só Brendel me faria publicar uma foto de gato neste blog cachorreiro e hostil a tais bichanos. E a próxima foto é emocionante. É o pianista no túmulo de Schubert, ou seja, o compositor e seu maior intérprete.

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Do Caderno de Anna Magdalena Bach: Bist du bei mir

Paira alguma dúvida sobre quem seria o autor desta ária. O famoso Caderno de Anna Magdalena Bach são dois, um de 1722 e outro de 1725. Os dois são presentes que Bach, seus filhos e alunos deram à segunda esposa de Johann Sebastian. Ela era uma cantora e musicista bastante talentosa e a intenção era a de que ela o utilizasse em casa, para divertir a si e à família. Em ambos, cada um deles escreveu alguma música simples, delicada e curta. Apesar da vontade que todos têm de dar sua autoria ao marido, parece que a apaixonada e severamente definitiva Bist du bei mir, do Caderno de 1725, é obra de um jovem aluno de Bach, um certo Gottfried Heinrich Stölzel. A interpretação é de Klaus Mertens, barítono, e Ton Koopman, órgão.

Ou aqui.

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