Todos os fogos o fogo, de Julio Cortázar

Querida filha.

Quando li a relação de livros que vocês leem no primeiro ano do ensino médio me surpreendi com a qualidade da lista: O Continente, Édipo Rei, Lisístrata, Hamlet, A Morte de Ivan Ilitch, Um Jogador, A Metamorfose, O Estrangeiro, Levantem bem alto a cumeeira, carpinteiros, enfim, um show de bola que me deixa até satisfeito de pagar a fortuna que pagamos todos os meses. Menos mal. Mas, o que me assustou mesmo foi a presença de Todos os Fogos o Fogo. Entendi melhor quando soube que era um dos livros para leitura em aula. O outro é o maravilhoso Nove Histórias.

É que… sabe? É um livro que requer vivência para ser entendido. Não é difícil, mas quem de vocês descobriria, por exemplo, que o narrador asmático de Reunião é Ernesto Che Guevara? Sim, aquele homem bonito cujo pôster está no quarto do teu irmão.

Todos os fogos o fogo não parece um livro de contos destes que o escritor junta e o editor publica, parece mais uma antologia de contos perfeitos. Vale a pena ler, viu?

O livro abre com o esplêndido A autoestrada do sul. Trata-se da narrativa sobre um engarrafamento numa rodovia que vai dar em Paris. Sim, é semelhante ao retornos da praia que NÃO costumamos fazer por sermos mais sensatos que a maioria. Sim, todos os carros parados. Mas tu sabes, Bárbara, que os gregos inventaram uma coisa genial chamada “hipérbole” que é a intensificação de um fato até o inconcebível. É um tipo de superexagero até que o fato torne-se uma caricatura e passe a significar outra coisa. Bom, Bárbara, os caras passam um ano inteiro engarrafados na estrada. Paradinhos. É genial. Criam outras relações, outro comércio, outra vida, outras disputas, outras lutas, outra forma de sobrevivência. Quando os carros andam, a gente chega a ficar um pouco triste. É genial, já disse. É uma idéia simples que o autor leva ao paroxismo.

Bárbara, o japa Inagaki mata a pau em sua análise de A autoestrada do sul. Clica aqui. E em linguagem clara e lúcida.

Depois vem A saúde dos doentes. É outra farsa. Uma família quer evitar transmitir más notícias a uma mãe enferma que parece estar com vontade de sobreviver a todos. Não é nada grandioso, mas é muito interessante.

Reunião comemora os primeiros dias da guerrilha cubana. É arrepiante, só que é preciso ter algum conhecimento da história de Cuba e de Che para descobrir a que se refere. Sabes que eu tenho a mania de escrever nos livros. Antes de Reunião escrevi: Bárbara, provavelmente o conto a seguir seja incompreensível para ti. Peça para que eu te conte sobre a Revolução Cubana, seus tiros, serras e charutos. Ah, o narrador — médico e asmático — é Che Guevara. Recomendo também o filme “Diários de Motocicleta” e talvez o “Che” com o Benício del Toro que logo vai passar nos cinemas.

A homenagem que Cortázar faz à Cuba revolucionária, neste livro de 1966, é belíssima.

Em Senhorita Cora a coisa complica. É uma história delicada e sensível sobre um jovem doente, sua mãe e uma enfermeira um pouco mais madura e muito atraente. Cortázar trabalha com vários personagens narradores, às vezes dentro de um mesmo parágrafo. É necessária toda a atenção. Quando a gente pensa que um está contando, é outro. Nunca esqueça que o cara gosta de jogos e está se divertindo ao não dar caminhos óbvios para a compreensão de quem é quem. Mas, com algum esforço, entende-se tudo e, puxa, como vale a pena!

A ilha ao meio-dia começa a flertar com os contos finais do livro ao contar a história de uma obsessão meio boba que acaba em drama. É o primeiro conto onde a paixão tomará conta do personagem.

Instruções a John Howell. Mais um jogo, este bem misterioso e que ocorre durante uma peça de teatro. Uma tentativa de deixar Howell mais ou menos como a tua avó…, ou seja, Howell deverá demonstrar características de duas ou mais personalidades, cada uma com sua maneira de ver as coisas e interagir com as pessoas. Sim, complicado.

Façamos um negrito em Todos os fogos o fogo, pois trata-se de outra obra-prima. A expressão significaria algo como “todas as paixões acabam em destruição e morte”. Duas histórias de final trágico são contadas paralelamente. A princípio tudo é meio louco e uma não tem relação com a outra – até porque a primeira se passa no Império Romano e outra na Paris do século XX – mas as paixões descritas tem o mesmo final. O efeito causado pelo conto é inesquecível. Tu vais gostar desse, tenho certeza.

O outro céu é, em minha opinião, o melhor conto do livro. O personagem principal tem uma vida entediante, mas dissocia-se a cada momento em outro, que vive em misteriosas galerias entre prostitutas – é apaixonado por uma delas –, cafetões, assassinos e revoluções. A forma como Cortázar muda de um mundo para outro é sempre de arrebatador virtuosismo. (Pobre Irma que nunca saberá dos céus de gesso sob os quais vive Josiane…). Todas as experiências com duas vozes realizadas durante o livro tem neste conto melhores resultados ainda.

Bom, evitei contar DEMAIS as histórias para não estragar o livro, que é MUITO BOM. Agora, vai ler, vai!

Beijo do pai.

46 comments / Add your comment below

  1. …agora lembrei da minha 8ª série. era escola publica. e dona Isa, nossa professora de portugues e literatura, indicava boas leituras. ela leu em voz alta o conto ‘todos os fogos o fogo’ na sala de aula. eu tinha 14 anos, virei fã do cortazar ali. me deu coragem pra ir até a coleção abril que minha mae tinha, e mergulhei em “Os Prêmios”. bendita dona Isa. ela fez a gente ler depois Lygia Fagundes Telles, o magnifico ‘venha ver o por do sol”…
    http://www.scribd.com/doc/6791767/Lygia-Fagundes-Telles-Venha-Ver-o-Por-Do-Sol
    e

  2. Este deve ser um dos livros mais geniais da história! Mas que coisa, eu não terminei o último conto, “O outro céu”, pois acabei esquecendo de trazer o livro… e você diz que este é o melhor conto do livro. Vou ter que baixar o ebook e ler agora mesmo!

  3. Milton, fico impressionado com sua atividade física e intelectual. Dar aulas, além das comunitárias, que li ontem, e não comentei porque os comentaristas entraram fundo, e nessas profundidades eu não sei nadar!
    Com o tempo que dispõe para leituras, e para as resenhas do que le. Tempo para a música, sobre a qual escreve com muito e profundo conhecimento. Tempo para blogar, conversar, e beber com os amigos! Tempo em família, e aos sábados nos brindar com mulheres, cinema, e comentários inteligentes! Como arruma tempo para tudo isso? Epa, hoje é sábado!…

    1. Não sei responder, Eduardo e Arbo.

      Adquiri de meu pai este defeito de me interessar por tudo. Há problemas, eu acabo não me fixando muito em nada. Vejo o mesmo no meu filho.

      Mas escrevo rapidamente. Na verdade, escrevo enquanto dirijo ou caminho ou corro. Aí eu sento e faço. É como na privada. E o resultado é semelhante!

      1. milton, sobrou-me um tempo antes do almoço, passei num sebo na rua da ladeira, (estou numa busca recorrente atrás de uns livros do camus, agora),adquiri o do cortázar, em bom estado. a ler.

  4. Deve ser ficção, né? Ou senão, como disse o cara aí de cima, que catzo de escola é essa? Tiraria só o livro do Sallinger (que conheço como Pra cima com a viga, moçada! -ser velho é um troço engraçado…), e colocaria os contos do Machado de Assis. Do Cortázar guardo sempre dois contos: um, muito curto, é do sociólogo no bar (em sua fúria classificativa, não se diverte como os outros, enquanto lhes paga as contas…) e da casa tomada, que prossegui com a retomada da casa, um projeto de curtametragem que um amigo meu, pretenso cineasta, nunca levou adiante.

    Aproveito para falar mais sobre o quão eficiente pode ser o Judiciário com a aplicação de penas alternativas, que o levaram, por exemplo, às aulas de matemática. As pessoas tem a idéia errada de que o arcabouço legal é centrado na coerção e intimidação, quando sua principal função é pedagógica, porém pervertida pela emergência da distinção dos papéis sociais expressos em distintos graus de propriedade, estendendo o “espaço do direito” de cada um em ficções de poder, tão mais perigosas quando mais operam no nível da realidade. Essas penas alternativas ajudam a reinserir o sujeito no meio social e a compreender a natureza de seus jogos, produzindo não a aversão, mas a participação responsável, por mais ciente, nas relações que redundam nos valores que são por elas criados, e tão melhores são quanto melhor estabelecidos, não no regime da propriedade privada, mas na execução eficiente, por cada um, das tarefas sociais, a fim de conclusão na figura de um meio social e produtivo mais solidário, sem vaidades inúteis e egoísmos destrutivos. Tô ficando romântico pra caralho!

    1. Estás um pouco romântico, mas perto do que é. Eu tinha pavor da pena. Fiquei com vontade de morrer quando soube que perdera a causa porque não quis incomodar amigos, forjando testemunhas.

      Meu advogado tinha me avisado: “Não sejas puro, Milton.” Eu fui.

      O colegio é o Leonardo da Vinci, é muito bom. Há aulas também de Filosofia e Latim. É um colégio muito bom. Acho que os pais que dão alguma importância à cultura e a outras coisas fora de moda, matriculam os filhos lá.

      Os contos de Machado estão no segundo ano. Um monte deles!

        1. Sei que você, conforme relato, foi “injustiçado”, mas todo mundo que perde uma causa assim se julga e eu, apesar de acreditar em ti, sou obrigado a manter distância, uma vez que não tenho ao autos à mão, etc.

          Um colégio que tem no currículo do colegial Latim e Filosofia me obriga a acreditar 0,1% a mais na humanidade. E com ano Darwin, então, nem se fala. Mas não é público, é? Por que, no Rio, colégios bons assim custam uma fortuna, são para a pretensa elite, e isso só piora as coisas. Pensando bem, é melhor tirar o 0,1% de confiança!

        2. Não, o colégio é bem público.

          Sim, claro que quem perde é “injustiçado”… Mas meu adv sugeriu que eu ia perder por desejar tudo certinho e deixou-me livre para fazer o que quisesse. Então, um acidente ocorrido numa rua deserta às 6 da manhã, estando eu parado e mesmo com o cara que me bateu tendo 50 pontos… Acabou sendo culpa minha, pois não apresentei nenhuma testemunha e ele apresentou um leque…

          E o perito disse que não podia precisar o que tinha acontecido… Valeram as testemunhas. Coisas da vida.

  5. Deu saudades da minha primeira leitura de Cortázar — Las Armas Secretas —, sem influência de escola ou parentes. Ao mesmo tempo, olhando para lá, vejo como foi ruim estar tão só, sem qualquer guia, e ainda por cima verde de experiências. Sorte da Bárbara.

    1. Pois é. Eu acho admirável que estas leituras sejam feitas em aula. Meu filho Bernardo, de 18 anos, esteve no Leonardo da Vinci e diz que as aulas em que leram Cortázar estão entre as melhores que assistiu até hoje.

  6. lembro tb na oitava série (antiga) de ler um conto/poema dele, “Casa Tomada”. Nunca mais consegui achá-lo. Não o conto, mas aquele conto/poema, que era apresentado como uma planta da casa vazia que ia ‘sendo tomada’ pelo texto no decorrer deste. Era sensacional como continua o conto original até hoje, mas nunca mais o encontrei nem na neti.
    abç

  7. É aí que entra uma grande questão, Milton. A lista é ótima, os títulos são representativos e é sempre bom saber que Salinger ainda mexe com a garotada. Mas é preciso cautela. Não quero ser desmancha-prazeres nem advogar para o Capeta, mas, antes de uma lista dessas vir à tona é fundamental que o professor esteja preparadíssimo para fazer as intervenções necessárias, para conduzir a leitura, para permitir que opiniões de pessoas ainda despreparadas, como a meninada de 16 anos, sejam levadas adiante, mesmo que nem sentido elas façam. Caso contrário, quem perde é o texto. A boa literatura – e vc sabe bem disso – requer bons leitores. Se o professor não for um leitor afiado, daqueles que fazem as conexões necessárias e que, acima de tudo, estimule os alunos a vencer as dificuldades que um texto como o de Cortázar, por exemplo, apresenta, é possível que o ótimo tiro saia pela culatra e fira os próprios alunos-leitores.

    Dia desses li – e cheguei até a postar sobre o assunto – que crianças francesas lerão “conto de Escola”, de Machado de Assis, numa versão que tentou manter a idéia original. Fiquei imaginando como explicar a crianças de sete, oito anos, que o persongem central é praticamente seduzido pela corrupção e que o desfecho do texto apresenta possibilidades variadas. Se o professor não conseguir demosntrar isso – seja porque as crianças não estão aptas a perceber, seja porque ele não quis -, o texto saiu perdendo. Por que apresentar Machado a leitores despreparados?

    Sei que minha posição em relação ao assunto pode gerar polêmica. Apresentei-a em seminários, discutimos o assunto e poucos concordam comigo. Mas acho que é um risco muito grande explicar “O Dia
    Ideal para os Peixes-Banana” sem levar em conta que o personagem-narrador Seymour Glass encontra-se consigo mesmo, quando criança e, desesperado, mata-se.

    Espero realmente que os professores estejam preparados. Já peno um bocado para mostrar a pré-vestibulandos as ligações entre o Iago shakespeariano e Bentinho, em D. Casmurro. Claro que pode ser incompetência minha.
    Abraço.

    1. metendo o pitaco: concordo 100% com os argumentos do Grijó. Só consegui ler/decifrar o “Casa Tomada’ e todas suas metalinguagem e referências na oitava série com a ajuda de um gde professor de português. abç

    2. Grijó, eu concordo contigo e posso te garantir a qualidade dos professores da escola. Meu filho mais velho (18 anos) passou pelo mesmo e guarda o mais completo entusiasmo pelas obras da lista e por Machado.

      Eu gostaria é de saber os argumentos contrários, pois tudo o que tu escreveste me parece de lógica cartesiana, ou melhor, me parece a posição que teria qualquer leitor experiente e inteligente.

      Só leitores à altura do livro lido pode compreendê-lo. “O Homem sem Qualidades”, por exemplo, me superou e não posso estimular ninguém a lê-lo. A não ser que minta…

      Abraço e obrigado pelo belo e fundamental comentário.

  8. milton, é um prazer acessar seu blog, pelos temas sempre interessantes, seja toque retal (de matar de rir!), ou pela raiva salutar por sua admiração por Bolaño_ por mim não compartilhada na mesma medida. Esse espaço diminui um pouco minha indisposição quanto a blogs, que pretendem (pretendem) ser a pedra tumular do texto impresso. Alguns dias atrás vi seu lamento pela falta de grandes nomes na literatura brasileira, e pensei:”olha quem fala: um redator de um diário virtual. Desconhece ser parte do mal contra o qual se ressente!” E agora vejo esse belo texto sobre Cortázar, que na verdade você não o escreveu para sua filha; em seu tom carinhoso, paternalista, em cujo fundo se percebe uma antecipação da nostalgia da perda (a perda para a maturidade e o afastamento), você se dirige ao próprio Cortázar. qualquer leitor de Cortázar na juventude deve ter tido esta certeza, pois em suas palavras há uma perceptivo eco da música, introspecção e amor cortazariano. há o reflexo da procura pela Maga, no grande romance da amarelinha; há a fidelidade até a morte, na epígrafe do conto sobre C. Parker que é tão tocante quanto os solos do retratado; há aquele conhecimento sobre a covardia, que nos afasta de uma possível felicidade diante o conveniente e o desconhecido, no conto mais arrebatador de Cortázar que é Fim de Jogo. Dizem que Cortázar foi apenas um escritor para jovens, e eu concordo, conhecendo o elogio involuntário desta afirmativa: em quanta boa companhia Cortázar não está? Hemingway, Twain, Kipling, Dickens…

    1. Charlles é um prazer receber um comentário melhor que o post. Sério. Fiquei comovido com o que disseste e com tua interpretação a meu respeito. Acho que acertaste em cheio.

  9. O colégio é o Leonardo da Vinci?

    Então menos mal; e, sendo assim, espero (sem muita esperança) que o Farroupilha esteja dando, no primeiro ano, Beowulf no original e exigindo traduções da Summa de São Tomás; pois só assim eu poderia manter meu olhar snob quando passo por pessoas que tenham estudado em QUALQUER OUTRO COLÉGIO. (Bobagem, não tenho olhar nenhum.)

    Já sabia — e me satisfazia com o fato de — que eles ensinavam Latim por lá; mas eles não deveriam tão-só ler o Nine Stories em aula, deveriam, para completar o serviço, mostrar que Nine Stories é um livro de contos PERFEITO.

    É bem provável que a filha seja melhor que o pai.

    1. E será, Falstaff.

      Eu também não consigo pensar em algo melhor do que o livro de contos de Salinger.

      Como disse ao Grijó, lembro do entusiasmo de meu filho por Cortázar e sei que ele ama o Apanhador, mas não lembro de referências suas ao Nove Histórias.

      Abraço.

  10. Bah, eu não sei… Li Casa tomada aos 16, achei de uma deprê sem precedentes. Só consegui retomar Cortázar aos 22, e desde então é meu escritor preferido. Não vivo sem reler Cortázar. Mas eu simplesmente teria uma síncope, um piripaque, um faniquito se meu querido Júlio fosse indicado para minha filha ler tão cedo! Pelo menos que fosse Cronópios e famas!!! Que nada, não ficaria tranquila com nada!!! Fico pensando em quantos autores a escola queimou pra mim. Acho até mais do que o Grijó. Acho que leitura não tem que ser dirigida. Se precisa de direção tão próxima, é porque não é o momento. Em suma, acho a escola um saco. O bom é o que se descobre fora dela. Mas posso estar errada. Sei lá.

    1. Leila, quem me convenceu que ler era uma coisa absolutamente transcendente foi uma professora. Depois, os livros são escolhidos por nós, mas como é bom alguém nos mostrar todo um leque de possibilidades. A dona Sara, lá em 1973, entre meus 15 e 16, me deixou alucinado por literatura.

      Não nego que há péssimos professores, mas encontrar um bom muda toda a nossa noção da disciplina. Eu acho.

      Beijo.

  11. Já li com meus alunos do Ensino Médio o conto “Casa Tomada”. Foi um momento mágico, pois eles conseguiram interpretar de várias formas o texto, mergulharam fundo para conhecer este iceberg (eu uso a metáfora do iceberg do Hemingway para lembrá-los que nunca devemos ler superficialmente um texto literário), o que deixaria feliz São Cortázar, que deseja leitores ativos e não passivos (para não usar as outras expressões que ele utilizac que podem ferir os ouvidos das feministas).
    O problema é a rigidez do “cumprir o conteúdo” nas nossas escolas, no caso, uma estadual. Passo por incompetente quando algum aluno troca de turma e o outro professor reclama que ele não viu ainda certos conteúdos e não pode fazer nenhuma prova com ele. Vai piorar a situação com as mudanças que o atual desgoverno está implementando para avaliar o professor.

    1. Ah, Cassionei, tocaste em tantos assuntos.

      1. Se possível, apresse o conteúdo para abrir espaços para esses momentos mágicos, pois eles ficarão para sempre na memória dos alunos literariamente mais sensíveis.

      2. A metáfora o iceberg (Hemingway + Cassionei) será roubada por mim, a princípio com o devido crédito… Depois, creio que será definitivamente minha… :¬)))

      3. Sobre a educação em nosso estado: pensei que o ano letivo nem iniciaria, meu amigo. A questão das avaliações é de tal modo absurda que — olha, até entendi como funciona quando me contaram, mas não consigo repeti-la, de tão ilógica. Essa Secretária da Educação Mariza Abreu não pasta apenas por não ter sido nomeada para a Agricultura.

      4. “Passo por incompetente”: não dá para alterar para “lento” ou “moroso”?

      Grande abraço.

  12. 1. Costumo dizer para eles: se eu conseguir despertar em um aluno, entre as centenas entulhadas nas salas de aula, o prazer pela literatura até o final de ano, me sinto satisfeito (infelizmente é assim).
    2. Eu às vezes esqueço de dizer a eles que é do Hemingway. Aliás, não foi contigo que aconteceu o caso aquele com o falecido Fausto Wolff?
    3. Nibguém mais vai fazer greve. Quanto às avalições, a secretária disse na ZH que o aluno tem que se acostumar com o mundo competitivo!
    4. Para alguns colegas esses vocábulos são sinônimos.
    Abraço.

    1. 1. Despertas mais de um. Tenho absoluta certeza. Em alguns, a coisa acontecerá anos depois, quando se apaixonarão por outro livro. Aí eles vão pensar: por que não dei importância ao que dizia aquele maluco do Cassionei?

      2. É normal. Torna-se nossa expressão. /// Não, foi com o Marconi.

      3. Por causa do ponto? /// Mundo competitivo? Me pareceu mais um mundo de delações e nem sempre honestas.

      4. Que triste.

      Abraço.

  13. Todo início do ano, alguns alunos, que não têm mais aula comigo, me atacam pedindo pra voltar. “A gente era feliz e não sabia, professor!” Só que isso é visto pelos nossos colegas como defeito…

    Sobre ser maluco, uma aluna nova me falou há pouco pelo MSN que me acharam meio louco por causa das declamações de poesia, mas que ela adorou!

    1. A necessidade que algumas pessoas têm de que sejamos medíocres é massacrante e TEM DE SER IGNORADA.

      E, cá entre nós, a gramática, a marcenaria da língua é um tédio.

      Já leste pros alunos aquele Gigolô das Palavras. Teus colegas te pegariam na saída!

  14. Neste ano, tenho que trabalhar com a 8° série. Só de olhar para o conteúdo programático, repleto de questões gramaticais, quase sem tempo para se trabalhar com textos, penso na perda de tempo que é aprender estes conceitos para depois esquecê-los, como aconteceu comigo. Mas… uuuuuuu
    b
    b
    b
    b
    b
    UUUUUUUUUUUUUU

  15. Milton,

    Caro, que banquete. O texto, os comentários, tudo. Ok, você lê isto de um sujeito que tem um blog chamado Todos os Fogos o Fogo e uma foto do Cortázar na geladeira – com seus livros nas estantes, por supuesto. Muito bom, contagiante o entusiasmo pela literatura. E que admiração pelo colégio dos seus filhos!

    Abraços

    1. Maurício, sou um grande admirador de teu blog e sei de teu entusiasmo pela literatura. Pô, Cortázar na geladeira eu não tenho… Só Dostô e Bergman…

  16. Caro Milton, apesar de eu ter cursado o ensino médio em um colégio que foi importantíssimo para a minha formação (o Bandeirantes), uma queixa minha foi o fato de as leituras obrigatórias terem sido, em 90%, de autores brasileiros e portugueses. Não que a literatura em português careça de qualidade, obviamente; Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Vergílio Ferreira, Graciliano Ramos e Fernando Pessoa são escritores que deveriam ser ministrados em qualquer colégio do mundo. Mas senti falta de uma maior diversidade, de tomar conhecimento, do alto de meus 15 anos, de escritores que falassem de suas aldeias-mundo relatando culturas dos quatro cantos do mundo. Foi uma carência que tive de suprir de maneira a princípio autodidata, e depois ao cursar Letras na USP, lendo Cortázar, Baudelaire e Garcia Lorca com o auxílio precioso de mestres como Davi Arrigucci Jr. e Alfredo Bosi.

    Em tempo: obrigado pela citação de minha humilde (porém limpinha) análise, Mr. Ribeiro. Aquelabraço carinhoso e respeitosamente fungante em sua nuca colorada!

    1. Ina, minha história é a mesma tua. Só autores brasileiros.

      Nada contra, mas a vida lá fora é mais diversa, não?

      Vamos babar na nuca do Bugre…

  17. Caro Milton,

    Tive a grata surpresa de encontrar seu blog e de ler a carta com os comentários sobre Todos os fogos o fogo.
    Fiquei fascinada com a maneira “simples” como você explica, de maneira exata (sem exagerar, para não revelar detalhes importantes), os contos magníficos de Cortázar.
    Como sou professora de Literatura, comungo com você a ideia sobre quanto uma escola pode contribuir para o conhecimento de leitura de seus alunos.
    Espero que não seja ilícito, mas vou recomendar a leitura de seu texto para meus alunos de Letras, para que eles sintam profundamente a responsabilidade também do professor como formador de leitores proficientes.
    Respeitosamente,

    Elita

  18. Tive o prazer de descobrir sozinho alguns autores como Machado de Assis, Clarice Lispector e Poe no 3 ano do ensino Médio e até hpje me culpo por não ter descoberto esses autores maravilhosos anos mais cedo pois teria lido já bastante coisa do Cortazar e teria um sorriso sempre guardado na bolsa da saudade.
    Quando penso em todo dinheiro que gastei com videogames quase tenho um treco…
    Hoje tenho vinte anos, o ensino medio acabou há três e vivo a procura de novos escritores e de dicas de leitura, resolvi comprar todos os fogos o fogo depois de ler seu blog, dele já havia lido os premios, octaedro, historias de cronopios e famas e o jogo da amarelinha.
    Estou no quinto periodo de filosofia na Universidade Federal do Amazonas e tenho uma raiva imensa da biblioteca de lá pois quando passei no vestibular e fui todo feliz esperando encontrar mais alguma coisa deslumbrante de Gabriel Garcia Marquez( na época estava lendo cem anos de solidão) eu dou com uma sala média com pálidas 30 estantes que devem guardar livros de dezessete departamentos…
    Antes a biblioteca era maior, depois os alunos foram roubando e os dirigentes desviando o dinheiro para compra de livros. Como ninguem faz muita coisa para melhorar a situação…
    Antes de entrar na universidade- que ridículo chamar aquilo de universidade- eu queria terminar de ler os contos do machado e tinha visto numa revista quais eram, mas, de sete bibliotecas publicas, só três tinham livros do Machado, e claro, não as obras completas. Numa biblioteca, de fachada bonita, climatizada com ar central e cadeiras e mesas ricamente estofadas, de “literatura brasileira” só havia almanaques e enciclopedias ultrapassadas…
    Mas continuo na UFAM para futuramente tentar um mestrado em algum lugar e devido a alguns bons professores.
    Manaus faz surgir o preconceito em alguns desinformados de uma cidade cheia de indios, digo isso de alguns jovens que conheci de outros estados, mas o descaso com a cultura é gritante, recentemente acompanhei minha ex- namorada numa reunião de trabalho, na secretaria de cultura, mais especificamente o projeto jovem cidadao, que visa levar aos alunos de ensino fundamental aulas extra curriculares de teatro, danca, musica e artes plasticas. Pois bem, ao final da reuniao de professores como qualquer outra discutindo as dificuldades de levar cultura aos jovens e coisa que tal, os diretores da secretaria de cultura passaram um video de auto ajuda a todos…
    Esse foi Só o primeiro dia, em outras reunioes que fui por suja curiosidade vi sessoes de tres horas de auto ajuda, leitura de Paulo Coelho e os professores elogiando o trabalho de um anormal professor de Artes Plasticas- digo o nome Nathanael, que fez um belissimo trabalho colocando as maos cheias de tinta de criancas num painel de tres metros e… isso era arte moderna… Todos babando o ovo daquele “grande” professor…
    Meu pai é professor de geografia e a cada tres meses me dá a módica quantia de cem reais para comprar livros, no natal ganhei meus livros do Fausto Wolff, Olympia, o campo de batalha sou eu e a mao esquerda. Ganhei por pena dele anteontem crime e castigo na traducao direta do russo pois nao sabia que de tao pessima nos nao tinhamos lido crime e castigo( o fiz ler a edicao da martin claret).
    Fiquei muito feliz de ter achado este blog e assim que acabar de ler este texto vou continuar minha leitura dos contod de cortazar em espanhol, nao tenho grana para comprar seus livros entao baixei todos os ebokks que pude…
    Da vontade de reler tudo de bom que ja li e ler muito mais quando qcho um oasis de pessoas falando disso que e tao bom: a literatura.
    Outro motivo especial que me fez escrever esse texto foi de que um tio pretende me arranjar uma vaga de professor numa escola, mas nao vou aceitar, minhas descobertas literarias sao mais que recentes e nao me vejo com conhecimentos suficiente para dar aulas de filosofia ou literatura, se desse seria uma tristeza grande saber que aqueles alunos nos quais consegui despertar o gosto pelos diversificados sabores de livros tem mais tempo pra ler do que eu- estou de ferias ehhhhhhh, tenho autobiografia de bukowski, os demonios do Dosto, ebooks e a vida como ela ‘e do Nelson, dois livros do rudyard kipling, ebooks do cortazar, cinco livros do balzac, ebook do Bolano, dom quixote numa boa traducao, homero numa boa traducao, dois otimos ebooks de a metsmorfose e o castelo na traducao de modesto carone, esses na fila e ainda quero por alguns livros do cortazar que pretendo comprar com a venda dos meus cds de rock, apenas vinte e tres e mais quatro livros estupidos e um dvd do led zepellin que, destes, vou pegar o dinheiro amanha e espero que de mais de cem reais para comprar os livros do cortazar.
    Vejo que esse foi um post ate emocional, na medida em que um vomito consegue ser… e desejo fechar agradecendo a otima leitura que acabei de ter.

  19. Vocês estão sabendo!!Acho muito legal divulgar esse vento!!!Acho interessante leitores e escritores saberem muito sobre esse mestre.
    Mostra analisa obras de Julio Cortázar que viraram filmes

    A Caixa Cultural apresenta a mostra em DVD “Encontro de Cronópios”, sobre o escritor Julio Cortázar e a adaptação de suas obras para as telonas. Nela, o leitor, o cinéfilo e o curioso terão a chance de conhecer, discutir e viajar na obra de Cortázar, sob a ótica de quem transportou sua literatura para o cinema.

    Diariamente, diretores de cinema como Roberto Gervitz e Guilherme de Almeida Prado e escritores como Eric Nepomuceno, David Arrigucci Junior e Roberta Gianninni, além do crítico de cinema José Carlos Avellar, vão bater um papo cabeça – com a participação do público – em torno da obra de Julio Cortázar, focada nos filmes que fazem parte da mostra. A leitura de contos dramatizados, que completa o ato, será feita pelos atores Thelmo Fernandes, Júlio Adrião e Gregório Duvivier.

    A Mostra “Encontro de Cronópios” é uma realização do Coletivo João do Rio, com patrocínio da Caixa Cultural e ocorre entre os dias 5 e 10 de abril, no Cinema 2 da Caixa Cultural (Avenida Almirante Barroso, 25, Centro). A entrada esta custando R$ 2,00 meia e R$ 4,00 inteira vale a pena.

    Dúvidas ou sugestões não deixem de visitar o site http://WWW.encontrodecronopios.com.br

  20. Milton, não o conheço, mas quero lhe perguntar apenas o seguinte: por que a postagem anterior, de Bruno Dallavia, é de 26 de março passado e a que a antecede, de André, é de 18 de janeiro de 2010? Por que esse enorme intervalo? Por que, a partir da sua maravilhosa iniciativa, você não desenvolve um site, em vez de ficar apenas no blog, muito aquém, como já vi, da competência com que trataria o assunto expandido? Parabéns pelo trabalho.

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