O Mundo Perfeito

Citação sem nenhuma relação com fatos que tenham ocorrido recentemente e apenas retirada de A Origem das Espécies, blog do escritor português Francisco José Viegas.

Eu bem os compreendo. O mundo seria perfeito, mas não é. Não vai ser. Pensamos que basta dar o exemplo, ler, ouvir música, oferecer livros, sermos honestos – e generosos, educados, prestáveis, interessados, tolerantes. Com isso o mundo seria melhor. Mas não basta, infelizmente não basta. Com isso, os adolescentes das escolas seriam pessoas melhores, não usariam aquela gramática de grunhos, não faltariam às aulas, não desdenhariam dos professores que se esforçam e lhes ensinam a diferença entre o culto e o inculto, o cru e o cozido, o bem e o mal, o frio e o quente. Mesmo dos outros, que não acreditam que existe um bem e um mal. O mundo seria perfeito. As famílias seriam honradas, pacíficas, passeariam ao domingo, fariam piqueniques, todos ajudariam a arrumar a cozinha e dormiriam a horas. Os nossos filhos leriam Dickens e Eça – ou, na pior das hipóteses, arrumariam os livros nas estantes. Eu bem os entendo – mas não basta. É necessário ser cruel, é preciso usar a autoridade quando não se quer, é indispensável dizer não quando até poderíamos dizer sim, pensar no que significa, de facto, a palavra exigência. A vida não é fácil. Não nos basta sermos o que somos; é sempre necessário sermos perversos e sentirmos culpa.

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  1. O mundo seria perfeito (mas não é) simplesmente se as pessoas compreendessem que habitam em um mundo caótico e em transformação contínua, e que perfeição é um conceito que se perfaz somente no universo científico, não nos relacionamentos humanos, que não são criaturas de laboratório. A imperfeição seria aceita com sua variáveis infinitas e ninguém sonharia mais com um mundo perfeitamente impossível, mas viveríamos em um mundo cuja perfeição seria assimilar o máximo possível de imperfeições para nos inserir nas correntes das contínuas transformações distorcendo-as ao modo próprio de cada um.

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