OSPA em noite medonha, mas só lá fora

O clima medonho de ontem — chuvoso e frio — liquidou com a possibilidade de a Reitoria da UFRGS receber um bom público para o concerto de ontem à noite. Uma pena, pois estava excelente.

O programa iniciava com O Moldávia, do checo Smetana, trecho mais conhecido do poema sinfônico Minha Pátria (Má Vlast). Depois, nós sofremos duras consequências de duas obras bem chatas, a Dança do Comediantes da ópera A noiva vendida, também de Smetana, e das 4 Danças eslavas, de Dvorák, até chegarmos à esplêndida Sinfonia Nº 2 de Brahms.

Ao contrário do tempo que fazia lá fora, a segunda de Brahms é tranquila e mesmo seu Adágio não é nada triste, mais parecendo uma Sinfonia Pastoral. Brahms, que sempre sofreu comparações absurdas com Beethoven — na verdade são tão parecidos quando Scarlett Johansson e Monica Bellucci, duas perfeições inteiramente distintas — , teve sua segunda sinfonia posta em comparação à sexta de Ludwig van, a Pastoral, por seus contemporâneos. Mas isso são considerações históricas e absurdas. O que nos interessa é que a interpretação da OSPA sob a regência de Cláudio Cruz esteve com sobras à altura da composição.

Antes da estreia, Brahms brincava com seus amigos dizendo-lhes que nunca tinha composto algo tão triste e ameaçava: “É tão triste que acho que não vou conseguir ouvir até ao fim”. Na verdade, toda a sinfonia está repleta de felicidade brahmsiana, que é algo contido, sereno e, tá bom, pastoral.

Grande noite. Perdeu quem ficou com medo da chuva.

Johannes Brahms

14 comments / Add your comment below

    1. Pois é.

      Agora me deixaste em situação difícil, pois jamais aceitarei uma comparação entre Brahms e Johansson.

      Brahms é Ingrid Bergman!!!

  1. A)
    “Brahms, que sempre sofreu comparações absurdas com Beethoven…”
    Pois é. Os fatos de:
    1) suas obras serem estruturalmente parecidas com as do Ludwig (isto é, a prevalência da forma sobre o conteúdo típica do Classicismo); e
    2) mais importante, seu nome também começar com “B”,
    levaram a isso.

    Creio que, mais absurdo do que comparar a 2 e a 6, é comparar a 1 com a 9. Chamar a 1ª de Brahms de “10ª de Beethoven” é bisonho. Tudo porque, no movimento final, um dos temas lembra um tema de um dos movimentos da 9ª. Dã.

    Mas ainda mais absurdo é chamar a Sinfonia em Fá de “a Eroica de Brahms”. CREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEDO. Só porque ambas têm o número 3 e suas tonalidades são Maiores? Dããã.

    B)
    Brahms também reclamou do sucesso que a 2ª fez. Ele disse algo como: “É claro que os vienensas adoraram. 3 dos movimentos são em tempo de valsa. Como os vienensas não vão gostar?”

  2. O que ouviste é o que costuma acontecer quando músicos escolhem seus maestros. A parte chata do programa tende a encolher na medida em que, com o aperfeiçoamento do modelo, se amplie o “conselho curador” também sobre o repertório – geralmente sugerido por maestros e na maioria das vezes acatado pelos ainda poucos com acesso a cada sugestão de repertório respaldadas exclusivamente na autoridade do proponente.

    Obrigado pelo alerta. Como passei parte da noite medonha no trânsito da zona norte, precisarei me contentar com a transmissão da TVE com o distinto audio da Fundação Marcelo Sfoggia.

    1. Augusto,
      também assisti e gostaria de repetir um comentário meu da semana passada.
      Sempre observei que a OSPA não se arriscava, não queria dar um salto, mesmo que, por vezes, errasse.
      Na semana passada assisti ao programa de músicos brasileiros e um uruguaio (ao qual tocaste em um deles). Gostei do fato de terem buscado este repertório mais moderno, menos conhecido (eu não tinha ouvido falar de nenhum e, embora não seja um conhecedor, sou acima da média), menos palatável até. Particularmente gostei das músicas e da execução, mas isto até não foi o mais importante.
      Ontem a mesma coisa. Quantos já ouviram falar de Smetana? Ou mesmo Dvorak? Concordo que houve musicas chatas, mas o público teve o direito de ouvi-las e considera-las assim ou não. Bom, e terminar com Brahms sempre é uma garantia.
      Parabéns

  3. Eu acho que sou o único que não vê felicidade nos dois primeiros movimentos da Sinfonia nº2 de Brahms. Nos dois últimos até pode ser, mas nos outros, por trás da aparente tranquilidade, há uma profunda melancolia e um clima trágico, apaziguado é verdade, mas ainda trágico, principalmente no segundo movimento. O final desse movimento é desesperador. Não há nada de pastoral ali. Claro, depois, no final da sinfonia, a felicidade explode com força avassaladora.

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