Era a mais bela capa para o Sul21. Na época, o lay-out de nossa página tinha uma foto grande e a capa do jornal ficara assim por alguns minutos:
Só que, justo naquele domingo, houve a tragédia na boate Kiss e tivemos que mudar tudo. Abaixo, o extraordinário artigo de Nikelen Witter sobre um dos melhores livros de todos os tempos.
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Publicado no Sul21 em 27 de janeiro de 2013
Por Nikelen Witter (*)
No final do século XVIII, uma jovem inglesa escreveu um romance. Não era algo incomum em sua época, nem era seu primeiro texto de ficção. Como era de costume, ela fez leituras para sua família que, depois de alguns debates, parece tê-lo aprovado. Sua intenção, inicialmente, era a de fazer um romance epistolar, algo muito em voga no período, mas as cartas minguaram dentro do texto, mesclando-se com a narrativa. O pai da jovem, acreditando no talento da filha mais nova, levou o manuscrito a um editor, que recusou a história. Este poderia ter sido o fim de First Impressions, título do romance recusado, mas, como qualquer escritor sabe: a primeira versão de um livro nunca é sua versão final. A jovem aspirante voltou a trabalhar seu texto, ao mesmo tempo em que escrevia outros. Em 1811, ela publicou seu primeiro romance e, aproveitando o sucesso deste, no dia 28 de janeiro de 1813, há 200 anos atrás, finalmente o texto anteriormente recusado chegou ao público. Tinha um roteiro melhor trabalhado, um texto mais perspicaz e um novo título: Pride and prejudice ou, em nosso idioma, Orgulho e preconceito. Nascia, assim, o romance mais popular de Jane Austen – uma das mais brilhantes escritoras inglesas – e, com ele, uma notoriedade que já perdura por duzentos anos.
A autora
Quem nunca leu nada de Jane Austen pode acabar tendo uma ideia errada de seus leitores-amantes, vendo-os como cegos seguidores de um certo tipo de culto, que elegeu a autora inglesa como musa e deusa. A quantidade (e o tipo) de menções na mídia à escritora, por outro lado, pode fazer com alguns venham a imaginá-la como uma espécie de Norah Efron (**) da virada do século XVIII para o XIX. De fato, já conheci leitores que interpretaram seus livros superficialmente, como quem lê um roteiro hollywoodiano, acreditando que seus romances não passam um conjunto bem amarrado dos clichês do tipo moça encontra rapaz e vice-versa. E, desde sempre, houve aqueles que a acreditaram como autora de livros tipicamente femininos, contos conservadores para “mulherzinhas” sonhadoras. Contudo, nada poderia ser mais enganoso. Primeiro, porque nenhum fã de Austen deixará de lhe fazer críticas na mesma medida em que reconhece sua genialidade. Segundo, porque se as comédias românticas beberam em Austen, fique-se certo que ela nunca bebeu delas. Por fim, dispensar um grande escritor com base num conceito duvidoso de literatura de meninos e meninas, diz mais sobre o leitor do que sobre o livro em questão, então, melhor deixar pra lá.
O fato é que Jane Austen continua, após dois séculos de existência de sua obra, um fenômeno tanto de crítica, quanto de público. O número impressionante de adaptações pelas quais seus livros são lembrados e recriados, porém, não é o suficiente para que se compreenda como inglesa de vida obscura tem conseguido manter tanta vitalidade. Arrisco a dizer que, para entender o fenômeno Jane Austen é preciso lê-la e, se me permitem, fazer isso mais de uma vez. O gênio de Austen é o de fazer muito com o mínimo. E tal talento exige um leitor capaz de divertir-se como quem observa pessoas pelos buracos das fechaduras, entendendo-as mais pelo que fazem e dizem, do que por longas apresentações retóricas sobre quem realmente são. Os livros da Jane Austen são como pinturas delicadas, dadas como um presente aos observadores atentos. Sem “efeitos bombásticos” (usando as palavras de Sir Walter Scott, seu grande admirador), Austen dominava como ninguém a arte de representar o cotidiano em suas grandezas e misérias, em sua beleza e mediocridade. O resultado é um espelho atemporal das relações humanas que ultrapassam em muito as relações amorosas entre homens e mulheres. Em Austen, o minúsculo da existência aparece como um caminho que, em qualquer época ou lugar, pode refletir o que somos e onde estamos. Sobretudo, o fato de que, na grande maioria das vezes, não conseguimos estar onde gostaríamos, apesar de nossas melhores intenções.
Austen escrevia sobre pessoas e sobre gerações. Falava dos mais velhos acomodados a suas manias, controles, posições e fracassos. E escolhia como protagonistas jovens que precisavam abrir caminho ante tudo isso. Destes jovens, ela se ocupou mais das mulheres, criaturas sem qualquer poder ou destinação que não o casamento; muitas vezes, prisioneiras da ignorância, da vida sem perspectiva ou ilusões, assombradas pela decrepitude física (decretada antes dos 30 anos) e pela ruína econômica. Jane Austen colocava o amor como uma questão importante, mas o via por meio de um caleidoscópio, pois ninguém ama ou é amado solitariamente. O difícil relacionamento amoroso com a família na fase adulta é, para a autora, um tema tão forte quanto à busca de um amor companheiro para construir um novo núcleo familiar.
Porém, ledo engano dos que, sem a terem lido, imaginam-na como uma autora sentimental. Se bem que Mark Twain, que detestava seus livros – especialmente Orgulho e Preconceito –, talvez acreditasse nisso. Já Charlotte Brönte, autora de Jane Eyre, a acusava de ser fria, de não ter fogo ou paixão e classificava seus romances como insípidos. Minha leitura de Jane Austen a percebe como uma racionalista, até mesmo um tanto radical em seus termos. Isso é claro em Razão e sensibilidade e não menos em Orgulho e Preconceito. Os muito românticos podem ficar chocados, mas Jane Austen parece defender a ideia de que o amor é, antes de tudo, uma mistura de desejo, afeto e discernimento. A receita para o desastre está na falta de qualquer um destes. Claro que não se há de ler nenhuma declaração de amor em seus livros como a que Edward Rochester faz a Jane Eyre, porém, para Austen, o amor, mais que por palavras, é demonstrado por ações que nada exigem em troca. Numa sociedade tão apegada ao jogo de favores e cortesias, nada poderia ser maior que o desinteresse na retribuição, que a paz e felicidade do outro como único reconhecimento.
Vida e morte
A biografia de Jane Austen é bem conhecida, quando não, esmiuçada para explicar a escritora e a impressionante longevidade e popularidade de sua obra. Houve críticos que, inclusive, se utilizaram de sua trajetória para opor-se a seus escritos. Ora, o que, afinal, uma solteirona provinciana poderia saber de amor, de casamentos e, especialmente, das universalidades do gênero humano?
Jane nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, um vilarejo ainda hoje de aspectos rurais, ao norte do condado de Hampshire, no sul da Inglaterra. Originária da gentry, pequena nobreza rural, ela era oriunda de uma numerosa família, sendo a sétima filha do pastor George Austen e de sua esposa Cassandra, o mesmo nome de sua única irmã e confidente. O pai era também reitor e tutor de alunos, os quais recebia e educava em sua casa.
É difícil saber se por atenção às novas exigências da época quanto ao ensino das moças – nos últimos 50 anos do século XVIII, sob influência da burguesia ascendente, se passou a valorizar a educação feminina no mercado de casamentos – ou se por convicção professoral, o fato é que os Austen preocuparam-se em fornecer às duas filhas instrução de alto nível. Cassandra e Jane moraram com uma tutora em Southampton e, mais tarde, no internato de Reading. Sabe-se, porém, que o próprio pai foi um dos grandes educadores dos próprios filhos. Ele mantinha em sua casa uma ampla biblioteca e se orgulhava da família ser ávida na leitura de romances, além de outros tipos de literatura.
É interessante notar que se as bibliotecas particulares já não eram nenhuma novidade por esta época, o estímulo à leitura, em especial de romances e pelas mulheres, estava ainda sob forte ataque. São bastante conhecidos os textos do período que criticam a chamada “fome por leitura”, a qual, no entanto, espalhava-se pelos alfabetizados num volume cada vez maior. Tais textos eram opositores à leitura feita “por qualquer um”, e acreditavam que nada poderia ser mais pernicioso para a vida de uma moça do que a leitura de romances. Os detratores do gênero acusavam-no de estar repleto de fantasias e aventuras absurdas, que só fariam adicionar à cabeça “fraca” das jovens desejos que nunca poderiam ser satisfeitos, mergulhando-as na melancolia. Pior, poderia fazê-las falhar com seus deveres de boas filhas, irmãs e esposas, tornando-as ávidas de sensações moralmente recrimináveis e passíveis de se lançarem nas mãos dos aproveitadores e inescrupulosos que rondavam as famílias. Em prol da segurança das jovens e das linhagens, devolveu-se grandemente uma literatura moralista, baseada em textos bíblicos, que tinha função de orientar as moças em direção à caridade e a conformação com a vida limitada, que todas tinham pela frente.
Alguns destes livros devem ter passado pela biblioteca do reverendo Austen e Jane os conhecia bem. Pode-se acreditar nisso porque determinadas ideias destes textos estão presentes em seus escritos. Afinal, Jane não se furtava em criticar romances com perspectivas irrealistas da vida ou das relações amorosas. Northanger Abbey, sua obra de juventude publicada postumamente, é justamente sobre as tolices das jovens que se deixam levar pelo imaginário dos romances. Por outro lado, Austen não era nenhuma entusiasta da longa e aplicada leitura dos moralistas. Em Orgulho e preconceito, este detalhe é inserido como parte da personalidade patética de pelo menos dois personagens: o infame Mr. Collins e Mary Bennet, a menos encantadora das cinco irmãs.
Das leituras à escrita, Jane revelou precocemente o talento e o desejo de compor seus próprios textos. Pequenos esquetes representados pela família na reitoria, paródias da literatura da época em que ela exercitava seu humor e capacidade crítica, presentes igualmente nas longas cartas escritas para a irmã Cassandra, nos breves períodos em que ficavam separadas. Os biógrafos apontam que entre 1795 a 1799, Austen também teria desenvolvido o cerne de alguns de seus principais romances, os quais foram, depois, longamente retrabalhados. No início dos anos 1800, fala-se da existência de alguns pequenos interesses de cunho amoroso, porém, nenhum deles seguiu adiante. (Em 2007, esses quase enlaces de Jane Austen, foram costurados num único – Thomas Lefroy – pelo roteiro do filme Becoming Jane, que se utilizou de Orgulho e Preconceito para construir um argumento romântico, numa livre interpretação da vida da escritora).
Sem se casar e com a morte do pai em 1805, Jane e Cassandra entraram no universo das tias, sendo amparadas pelos irmãos homens e ajudando na criação dos seus filhos. O drama de não poder herdar ou exercer um profissão remunerada que permitisse algum status social foi bem conhecido da escritora, e ela foi sensível a miserável condição feminina retratando-a em seus livros. Neste ponto, há, inclusive, uma certa dissonância entre seus interpretadores. Tida por alguns como uma conservadora, atualmente, muitos acreditam ver em Jane Austen uma defesa da educação feminina (suas críticas à ignorância das mulheres são pesadas) e uma possível leitura da feminista mais importante de sua época: Mary Wollstonecraft. (***)
A carreira literária começa a deslanchar quando Jane e Cassandra voltam a viver no Hampshire (depois de um período na cidade balneário de Bath), nas propriedades de seu irmão Edward. Por seu turno, Henry Austen, o irmão que vivia em Londres, assume o lugar do pai com “agente literário” de Jane e passa a negociar seus manuscritos com os editores. Inicialmente publicando por pseudônimo (by a Lady), a identidade da escritora ficará conhecida assim que suas obras começaram a fazer sucesso. Depois de Razão e sensibilidade (1811) e Orgulho e Preconceito (1813), foi publicado Mansfield Park (1814), cuja edição esgotou em seis meses. A esta altura, o próprio príncipe regente da Inglaterra era fã declarado de Jane Austen e, por meio de seu médico, chegou a solicitar-lhe um novo romance. Jane declinou numa carta que, para seus biógrafos, demonstra uma clara decisão do que ela era e pretendia com sua literatura.
Tenho absoluta noção de que um romance histórico estaria muito mais apto a atender o propósito do lucro e da popularidade do que esses retratos da vida doméstica em aldeias rurais com que eu lido, mas… não posso me sentar seriamente para escrever um romance sério sob qualquer outro motivo que não salvar minha vida, e se fosse indispensável levar isso avante e jamais relaxar rindo de mim própria ou de outras pessoas, estou certa de que deveria ser enforcada antes de concluir o primeiro capítulo. Não… devo manter meu estilo e seguir meu caminho.
Este trecho pode igualmente servir de resposta aos que acreditaram que Jane escrevia sobre a vida cotidiana por lhe faltar material ou experiência para os voos ficcionais sobre os grandes acontecimentos. Sua biógrafa, Claire Tomalin, teve o cuidado de registrar a quantidade de acontecimentos grandiosos que cercaram a vida de Jane. No espaço de sua existência, ocorreram a Revolução Francesa (o marido de sua prima e amiga Eliza foi guilhotinado), as guerras napoleônicas e a expansão do império britânico (ela tinha dois irmãos na marinha). Tomalin chega a listar, inclusive, alguns vizinhos pouco convencionais apenas para garantir o seguinte: não, não faltava material a Austen para escrever sobre grandes acontecimentos ou casos extraordinários. Foi uma escolha consciente da escritora construir sua ficção falando de gente ordinária em vidas ordinárias. E, neste minúsculo, neste pequeno, ver e retratar o humano e todo o seu universo. Os grandes acontecimentos são muito, mas muito mais efêmeros que as angústias que aparecem nos livros de Jane Austen e que falam sobre o trato com os outros e das decisões que todos precisam tomar, das transformações e amadurecimentos, dos erros e das segundas chances.
Em 1815, Jane começou a trabalhar em Persuasão e, em 1816, já se tem notícias de que sua saúde entrava em declínio. Morreu em 18 de julho de 1817, aos 41 anos. Nos anos seguintes, seu irmão Henry organizou os originais e publicou Northanger Abbey e Persuasão, seus primeiro e último romance, respectivamente.
O fascínio de Orgulho e preconceito
Falando sobre pessoas, a história de Orgulho e preconceito conta o seguinte: o Sr. e a Sra. Bennet são um casal peculiar. Ele é um cavalheiro, dono de uma pequena propriedade que lhe garante rendimentos confortáveis, sem grandes gastos ou previsão de futuro. É um apaixonado por livros, usando-os como fuga de uma vida conjugal pouco agradável. A Sra. Bennet é histriônica, chata, de comportamento vulgar e tolo. Acha-se imbuída de uma missão quase impossível e na qual foi abandonada pelo marido. Ela precisa casar suas cinco filhas ou, pelo menos, algumas delas. E carece que seja com alguém suficientemente bom, isto é, rico, para que a casada viva com conforto e ainda possa ajudar as que por ventura não viessem a ter a mesma sorte. A seu favor, apenas a juventude e beleza relativa das meninas, já que nenhuma poderia contar com um dote aceitável.
O fato é que, mesmo pertencendo à elite, não havia qualquer garantia para as mulheres, em especial se elas não possuíam irmãos homens, como era o caso das jovens Bennet. Sua propriedade iria para o parente masculino mais próximo, no livro, representado pelo infame Sr. Collins. Assim, sem poderem herdar, às que não se casavam restava viver de míseras pensões anuais, e receber o desprezo e a condescendência pública. A Sra. Bennet, digam o que disserem dela, amava suficientemente suas filhas para não lhes desejar tal destino. Sua obsessão por casamentos é interpretada por muitos como fruto de sua personalidade interesseira. No entanto, em seu mundo, era tão somente buscar o melhor destino possível, cuja alternativa era, no caso de suas filhas, a miséria. Tivesse um filho homem, este herdaria, seria responsável pelas irmãs, ajudaria a lhes dar um dote atraente e acolheria às que não se casassem. É provável que, vivendo a época em que vivia, a Sra. Bennet acreditasse que a culpa do filho homem não ter vindo era sua e nunca se pode vê-la lamentar o fato de as cinco filhas terem atingido a idade adulta (a documentação do XVIII possui alguns exemplos de mães e pais que achavam a morte uma forma aceitável de diminuição da carga representada pelos filhos). A auto impingida missão da Sra. Bennet pode ser considerada titânica num mundo onde mesmo a elite se dividia em inúmeras hierarquias, onde o individualismo avançava eliminando os compromissos morais da família extensa e reduzindo ao núcleo próximo toda a ajuda com que se poderia contar.
As cinco filhas do casal Bennet são o núcleo de toda a história. Jane, a mais velha e mais bonita, é o principal foco das esperanças da mãe que valoriza sua beleza como uma espécie de moeda para atrair homens solteiros de boa fortuna. Elizabeth, a segunda filha, é a favorita do pai e a mais parecida com ele. Os dois têm o mesmo humor sarcástico, inteligência, gosto por livros e a mesma incompatibilidade com a Sra. Bennet. A independência e firmeza de caráter de Elizabeth não contribuem para que ela tenha um melhor relacionamento com a mãe. Mary é igualmente ávida leitora, mas é desgraciosa e sem qualquer talento; toma para si uma atitude moralista, influenciada pela literatura da época. Suas tentativas de sobressair-se como concertista ao piano são constrangedoras. Kitty e Lydia, as mais jovens, estão muito próximas da mãe. Inconsequentes, tolas e namoradeiras, quase indiferenciadas, a não ser pelo fato de que Lydia é muito mais saliente e que flerta sem qualquer limite com o desastre. Numa sociedade marcada pelas rígidas regras de conduta e pelo amor às aparências, Lydia é um problema óbvio, mas que a mãe incentiva e o pai ignora, para o desespero da sensata Elizabeth.
Dito desta forma parece que não, mas Orgulho e preconceito é uma comédia. Um texto leve e fluido que conta como a vida destas moças se altera após a chegada à sua região de dois jovens e endinheirados amigos: o Sr. Bingley e o Sr. Darcy. O simpático Bingley cai logo nas graças de todos, apesar das duas irmãs e do cunhado intragáveis. O Sr. Darcy, ao contrário, é de tal forma desagradável e cheio de superioridade, que nem todo o dinheiro e boa aparência que possui o salvam de ser rechaçado como indesejável por boa parte da comunidade local.
Contudo, enquanto todos os olhos se voltam a um possível romance entre Jane e Bingley, será no embate das personalidades fortes de Elizabeth e Darcy que a história irá ganhar seus contornos. Os dois personagens estão entre os mais adorados da literatura mundial e não é sem motivo.
Amar Elizabeth Bennet é rápido e fácil. Sua visão de mundo tem daquelas delícias de quem sabe fazer de tudo é motivo de riso.
Quando Jane e Elizabeth se viram sozinhas, a primeira, que havia antes sido cautelosa em seus elogios ao Sr. Bingley expôs à irmã o quanto o admirava.
– Ele é exatamente como um rapaz deve ser – disse ela –, sensato, bem humorado, jovial. E nunca vi maneiras tão corretas! Tanta naturalidade, com uma educação tão apurada!
– E é também bonito – retrucou Elizabeth –, o que todo o rapaz também deve ser, sempre que possível. A personalidade dele é, portanto, perfeita.
Tão fácil amar Elizabeth que, quando finalmente a autora desmonta o pedestal em que a colocou, mostrando seus erros de julgamento, sua rapidez em determinar o caráter dos outros, sua credulidade e ingenuidade, sua subordinação às aparências, faz-nos cair junto. Na parte central do romance, Jane Austen nos faz vítimas deste amor desmedido pela protagonista, ao mesmo tempo em que nos informa que seus personagens não são pessoas prontas que se encontram simplesmente e passam a ter uma existência em comum. São seres em transformação, criaturas cujas vidas não se modificam apenas pelo contato, mas pela constante redefinição do caráter. No auge de seu desespero, Elizabeth diz: “Até este momento, eu não me conhecia.” Tal frase num personagem central tão autossuficiente tem uma força inaudita e, com certeza, só vem a tornar Elizabeth ainda mais interessante. Afinal, nós que a amamos tanto desde o primeiro momento, percebemos seus defeitos, sua humanidade. Elizabeth se torna real. É viva. Não se trata de uma mocinha romântica, eternamente à espera (esse papel é de sua irmã Jane). No começo do livro, além de seu humor ácido e seu imenso coração, também somos apresentados à sua rebeldia. Ela diz que não se casará se não for por amor, e não é qualquer amor, ela o qualifica: quer um amor profundo. O que nem sempre se nota é o quão revolucionário é este romance para a época e as pessoas para quem foi escrito. Ele é a reivindicação de algo que, embora existisse em tese, estava muito longe da realidade. Falo da possibilidade de escolha que nem os homens e nem as mulheres tinham, isto é, poder escolher com quem se iria viver para o resto da vida, deitando na mesma cama e criando filhos. A família e as convenções ainda ditavam, acima de qualquer desejo individual, as escolhas e o destino.
O Sr. Darcy segue o caminho oposto de Elizabeth. Ele é verdadeiramente detestável no início, mas Austen não tem pressa em exibir sua maior criação masculina. Darcy também se modifica e descobre quem realmente é, mas, antes de tudo, é o leitor quem vai descobrindo-o. Ele é igualmente jovem, mas é preciso compreender que, ao herdar a posição do pai muito cedo, Darcy também precisou ocupar-se de ser adulto, construir posições e firmezas que a sociedade da época exigia para respeitá-lo. Aparentemente convencional e de duros costumes, o protagonista, aos poucos, revela-se um rebelde (contra seu próprio discernimento, ele afirma) e passa a desejar algo que seu status e fortuna, longe de permitir, faziam obstáculo. Em outras palavras, desejar Elizabeth Bennet. Que não se caia nas manhas de se pensar em um amor proibido, nada disso. No mundo de Austen, um amor impróprio tem peso suficiente para amarrar toda a trama, sem precisar cair no já velho clichê de Romeu e Julieta.
A impropriedade do relacionamento dos dois está, porém, muito além das questões econômicas, embora elas existam e sejam de enorme importância. De fato, a questão econômica é tão visceral em Orgulho e preconceito quanto as relações amorosas. A sobrevivência (econômica e social) não aparece aí como um pano de fundo ao romance. Pelo contrário. São estas questões que fazem com que Elizabeth Bennet pareça muito pouco sensata em negar dois pedidos de casamento extremamente vantajosos para ela e para a família. Estas mesmas questões econômicas movem a Sra. Bennet e tiram seu sono ao pensar no futuro pouco promissor de suas filhas solteiras. Também são elas que, junto com a ideia de respeitabilidade, levam Charlotte Lucas a buscar o casamento com o Sr. Collins. Jane Austen não precisa enfatizar o papel humilhante destinado às solteiras de pouca fortuna e alguma educação e não chega a fazê-lo em Orgulho e preconceito (faz melhor em Emma). No entanto, é nos pensamentos e nos lábios da Srta. Lucas que a escritora expõe não somente a racionalidade inerente à busca e necessidade de um casamento, como mostra ao que Elizabeth recusa a se sujeitar se não por um “profundo amor”.
O Sr. Collins, a bem dizer, não era sensato nem agradável; sua companhia era maçante e a paixão por ela devia ser imaginária. Mas ainda assim seria seu marido. Sem esperar muito dos homens ou do matrimônio, o casamento sempre fora seu objetivo; era a única solução para moças bem educadas de pouca fortuna e, embora incerta garantia de felicidade, era o mais atraente arrimo contra a necessidade. Tal arrimo ela agora possuía. E aos 27 anos, sem jamais ter sido bonita, considerava-o uma grande sorte.
É bom lembrar que, embora o pai de Charlotte tivesse um título de Sir, ele não possuía uma propriedade rural que lhe desse bons rendimentos. Fizera carreira como advogado e no comércio, algo comum naquele período de ascensão do Império Britânico. Os serviços prestados à coroa lhe valeram um título, mas este tinha muito pouco valor se não fosse combinado a uma propriedade que garantisse renda sem trabalho, em outras palavras, a vida da nobreza realmente considerada. Austen não deixa de fazer pilhéria com Sir Willian Lucas e seus sonhos de grandeza. Afinal, o pai da melhor amiga de Elizabeth tão logo recebeu seu título, apressou-se em comprar uma casa e dar-lhe um nome (coisa própria das propriedades da nobreza): Lucas Lodge. O próprio nome faz parte do deboche, pois dava a impressão de uma ancestralidade que a família Lucas estava muito longe de possuir. O casamento de Charlotte viria a provê-los desta propriedade, a qual seria exatamente a da família Bennet, quando fosse herdada pelo Sr. Collins.
Neste ponto, pode-se contrastar as personalidades de Charlotte, Elizabeth e Jane. Esta última é uma romântica passiva. Elizabeth é racional, mas não o suficiente para submeter-se a uma situação que a desagrada. É obviamente uma moça que gosta do prazer do convívio, além de ter observado por anos o desastroso casamento dos pais. Esperar estar apaixonada é também seu antídoto contra a impossibilidade de troca com um “parceiro de vida”, nas palavras do Sr. Bennet. Austen elabora aí o que ela considera ser um elemento essencial num relacionamento: o respeito mútuo. Charlotte é prática e não errada em sua escolha.
Não sou romântica, você bem sabe, nunca fui. Só peço uma casa confortável e, considerando o caráter, a posição e as relações do Sr. Collins, estou certa de que minha chance de ser feliz com ele é tão boa quanto a da maioria das pessoas ao começar a vida matrimonial.
Por outro lado, o romance não é apenas uma aula sobre o convencionalismo inglês, mas também sobre uma revolução nos costumes, marca desta virada de século. A família nuclear começa a deixar de ser vista como uma entidade reprodutora de pessoas para abastecer linhagens, e passa a ser vista como um núcleo formativo de indivíduos e, nisso, as ideias de harmonia e amor conjugal começam a aparecer. É óbvio que se trata de uma mudança de longa duração, daí o elemento revolucionário do romance de Austen (escrito no princípio desta transformação) ao propor – para homens e mulheres – que a felicidade conjugal deveria ser fruto do companheirismo, da similaridade e do respeito.
Personagens
Para os leitores que, como eu, gostam de personagens, Orgulho e preconceito é um banquete. Aliás, de todos os servidos por Jane Austen, este é, provavelmente, o melhor. Encantadores, patéticos, desagradáveis, mesmo que algumas vezes pareçam esquemáticos, Austen os colore de forma a nos convencer que os conhecemos. Eles estão ali, são próximos, facilmente reconhecíveis. Quem já não ouviu a tagarelice superficial de Lydia em algum lugar? Tenho a impressão de que na miríade de primos próximos e distantes, quase todos nós temos um Sr. Collins. E, com certeza, alguém lendo isso vai imediatamente se lembrar de uma amiga que, como Charlotte Lucas, escolheu homem errado (ou até mais que isso) apenas para não ficar sozinha. Os personagens – que eu escolho não chamar de secundários por não exercerem este lugar na minha leitura – são tão responsáveis pela longevidade de Orgulho e Preconceito, quanto seus protagonistas.
Até mesmo os “nervos” da Sra. Bennet podem figurar nesse grupo, afinal, o Sr. Bennet trata-os como velhos amigos, de difícil convivência, mas sempre presentes. É um dado interessante, aliás, o uso que Austen faz da chamada “doenças dos nervos”. Muito em voga na primeira metade do século XVIII, ela passou a ser a acusada favorita de todos os que se sentiam incomodados por alguma situação. A onda de hipocondria – que os historiadores datam da mesma época – tem nos “nervos” uma de suas primeiras vedetes em queixas e achaques. “Os nervos” permitiam que se fugisse dos compromissos sociais impingidos e maçantes e logo se tornaram a desculpa favorita das classes abastadas. Não demorou a, junto com as dificuldade de uma conceituação clínica, deixar de ser visto como uma doença real. Por tudo isso, já em fins do século XVIII – mais que pelos avanços médicos – a “doença” converte-se no entender das pessoas mais cultas num fricote típico das mulheres, aos quais não devia se dar nem atenção, nem importância. Austen sabia muito bem disso. Que outra característica seria mais perfeita para compor literariamente a impagável Sra. Bennet?
Quando acima comentei que Jane Austen escreve sobre gerações, tinha em mente um personagem específico neste romance. Obviamente, estava pensando em Lady Catherine de Bourgh, a tia do Sr. Darcy. Austen não tem medo em construí-la como uma espécie de entulho histórico, remanescente de uma época anterior, alguém que se acredita dona de um tipo de poder e influência que já não exercia mais. Os embates entre Lady Catherine e Elizabeth são antológicos. Tanto os corteses, quanto o fantástico diálogo final entre as personagens (que não reproduzo porque seria um crime ter de cortá-lo em pedaços). Neste, a protagonista expressa sua não aceitação da hierarquia ancestral, se proclama igual em dignidade à mulher que a interpela e, principalmente, não se dobra a ordens e exigências de qualquer tipo. Se hoje este é um comportamento esperado, na virada do século XVIII para o XIX exigia um grau avançado de coragem e compreensão das transformações daquele mundo. Qualquer outra, com uma mentalidade mais tacanha que Elizabeth teria se dobrado. Mesmo a ousada Lydia certamente cairia intimidada por Lady Catherine.
Austen quer demonstrar com isso, a força de caráter de sua personagem, para ela, o ponto mais importante a ser considerado numa pessoa. Seus leitores concordarão comigo que é sobre este alicerce principal que ela constrói a dignidade de seus personagens. É por meio do caráter que ela salva o Sr. Darcy e, pelo mesmo meio, coloca abaixo Wickham (favorito de Elizabeth por algum tempo) e também a irmã solteira do Sr. Bingley. Ainda assim, discordo da ideia que pretende ver em seus personagens principais algum modelo de perfeição, mesmo quando estes findam sua trajetória. No caso das mulheres, Austen coloca qual o modelo de perfeição da época e, francamente debocha dele. A afirmação vem da Srta. Bingley e o comentário final é de Elizabeth.
– Uma mulher tem de ser profundamente conhecedora de música, canto, desenho, dança e línguas modernas para merecer tal adjetivo (prendada). E, além de tais dotes deve possuir um algo mais em suas atitudes e modo de andar, no som de sua voz, em seu vocabulário e no modo como se expressa, ou o termo seria apenas parcialmente merecido.
– Tudo isso ela deve possuir – acrescentou Darcy –, e a tudo isso ela deve ainda somar algo mais substancial, com o aperfeiçoamento do intelecto através de muita leitura.
– Já não me surpreendo que mais que o senhor conheça apenas seis mulheres prendadas. Agora me pergunto se realmente conhece alguma.
No caso dos homens, tenho ouvido seguidamente a repetição de que o Sr. Darcy é um tipo de homem perfeito. Creio que ele é sim um homem perfeito, mas apenas para Elizabeth. Austen, como romancista, cria personagens que se completam e assim reforça sua tese soba como alcançar a felicidade conjugal. Imagine que desastre seria caso ele viesse a encantar-se por alguém como Jane ou como Lydia? Mesmo com Charlotte Lucas, não consigo imaginar nenhum tipo de afeição que superasse a cortesia. Volto a defender a ideia de que, para Austen, o amor é uma mistura de sentimento e razão. Neste ponto, o que muda o Sr. Darcy não é o amor de Lizzy, mas as oposições racionais que ela fez ao seu caráter justificando sua recusa a aproximação dele. Assim, o modelo sentimental do amor transformador resiste menos aí do que a ideia de que o caráter elevado é o que provoca a admiração e não o contrário.
Muitos 200 anos de vida!
Quem observa a efervescência de adaptações das obras de Jane Austen nas ultimas décadas pode rapidamente ser seduzido pela ideia de que a autora foi, de alguma maneira, redescoberta em fins do século XX. Não é bem assim. Mesmo sem ser uma unanimidade, Jane Austen e sua obra mantiveram um respeito duradouro, mesmo que, inicialmente, estivessem restritos à sua cultura de origem. Elogiada por Sir Walter Scott, Dickens, Virginia Woolf, a literatura de Austen, já no começo do século XX, dava mostras de angariar leitores como devotos. Rudyard Kipling escreveu um conto sobre o tema – The Jainettes –, nele o autor conta sobre um grupo de soldados da primeira guerra mundial que foge ao horror das trincheiras debatendo os romances de Jane Austen. A conclusão de Humberstall, simplório personagem apresentado à Austen nas trincheiras é significativa.
[…] é uma Sociedade muito seleta, e é preciso ser Jainete do fundo do coração. Li os seis livros dela agora por prazer entre os intervalos da loja… Pode crer, Bethren, ninguém se compara a Jane quando a gente está com problemas. Deus a abençoe, seja ela quem for.
Ao longo do século XX, Austen foi ganhando o mundo. Adaptações para o teatro, depois para a TV e o cinema. Orgulho e preconceito foi levado à tela grande pela primeira vez em 1940, num roteiro que diverge bastante do livro e investe pesado na comédia e que tinha Lawrence Olivier como Sr. Darcy. O filme fez algum sucesso e o romance ganhou várias traduções fora da língua inglesa. A primeira em língua portuguesa é do mesmo ano do filme, 1940, tendo como tradutor Lúcio Costa, que a fez para ser publicada no Brasil pela Livraria José Olympio Editora. Em Portugal, a primeira tradução é de 1943.
Por volta dos 1970, começam a pulular pelo mundo as Sociedades de Jane Austen. Estados Unidos, Austrália, seguem o exemplo da Inglaterra e de outros países europeus. Atualmente, tem-se um núcleo desta inclusive no Brasil; e um grupo português publica periodicamente uma revista dedicada aos livros da escritora. Convenções, seminários, piqueniques em que os participantes vestem-se a caráter com roupas do período regencial inglês, leituras partilhadas, clubes de leitura, saraus, Jane Austen não pode, nem de longe, ser pensada como uma reinvenção a partir de adaptações para o cinema e a TV. A demanda de seus leitores sempre foi ativa no consumo de sua obra. O advento da internet ajudou a consolidar isso em grupos de debates e blogs que ultrapassaram fronteiras. Hoje é possível saber de histórias envolvendo os livros da autora mesmo com leitores não ocidentais. Turquia, Afeganistão, Índia, Japão, gire o globo, aponte e dedo e, se não cair no mar, é bem provável que você encontre alguma referência a Jane Austen por lá.
Algumas adaptações merecem destaque. A série produzida pela BBC em 1995 para Orgulho e preconceito é um marco. Produção esmerada, atores brilhantes, uma caracterização sem igual dos personagens. A Sra. Bennet de Allison Steadman é de tal forma deliciosa que sua interpretação ainda pautará as próximas adaptações do romance por décadas. Dez anos depois, em 2005, o filme de Joe Wright e estrelado por Keira Knightley e Matthew MacFadyen estourou nos cinemas mundiais e veio a contribuir para que o romance conquistasse mais leitores, especialmente, entre os mais jovens. Um ano antes, em 2004, Bollywood também havia feito sua versão: Bride and prejudice, musical ao estilo das produções indianas e que é hoje, provavelmente, o mais conhecido fora de seu país de origem. Sem falar que Aishwarya Rai é, talvez, a mais bela de todas as versões de Elizabeth Bennet.
A popularidade da autora sobreviveu inclusive à modernização de suas histórias, com resultados díspares, é claro, mas cuja contribuição para a ampliação do público de Austen é inegável. O diário de Briget Jones e Jane Austen’s Club são dois dos mais famosos exemplos. Contudo, as referências cruzadas em uma miríade de outras produções foram igualmente eficientes. Aos Jainetes de coração, como os de Kipling, tais referências são recebidas como um encontro, um aplauso, uma justiça inegável ao talento da inglesa e às suas histórias, vivas há 200 anos. E, com certeza, para além.
(*) Nikelen Witter é escritora e historiadora
(**) Cineasta norte-americana celebrizada por comédias românticas.
(***) Autora de “Vindication of the rigths for woman” (1792).
Isso é coisa para psicanálise: eu sempre que me proponho a ler Jane Austen, me vem uma preguiça e um desestimulo descomunais. Nunca a li, sei que ela é excepcional, visto ser recomendado pelo Milton (que é, sem exagero, um guru para mim em indicações de leitura, tendo sido ele que me apresentou a pelo menos dois autores da minha vida: ninguém menos que Bernhard e Bulgákov), e pela Nikelen. Mas… uma discriminação tola mas recorrente me faz achar Austen, sem nunca tê-la lido, com esses esteriótipos pejorativos mencionados no post. Mas eu conserto isso; hei de consertar. Também achava Proust um porre e depois que o li se tornou o maior romancista do mundo.
Olá Milton! Obrigada por fazer menção à Jane Austen Sociedade do Brasil!
vou escrever um post sobre seu texto e publicar lá no blog, tudo bem?
Abraço,
Adriana
Obrigado, Adriana.
Muito bom, Nikelen. Não sabia que o Mark Twain implicava com ela. Tenho um palpite pro grilo do Twain: ela escrevia com mais leveza e graça que ele, sem precisar se esforçar pra isso.
Concordo, Ernani. Mas, admitamos que raros escritores conseguem utilizar com tanta felicidade desse deboche compassivo que é a marca da autora. Contudo, se eu fosse comparar os dois, acho que Jane era um tanto mais habilidosa num outro detalhe: ela justificava menos seus personagens. Eu gosto muitíssimo disso nela. Sempre há o que se reler e vasculhar.
Sim, sim. Infelizmente a tendência dos autores é pesar a mão e a tendência dos leitores é confundirem isso com profundidade, ou seriedade.
Outra mulher suave e mortal é a Anne Tyler.
Bom, também gosto do Twain, mas, cá pra nós, ele só tem um grande livro, o Huckleberry Finn.
E você está certa de novo: não faz muito sentido ficar comparando escritores.
Novamente, concordo contigo e acho que preciso ler Anne Tyler, que ainda não veio parar nas minhas mãos.
Posso sugerir? Turista acidental, Lições de vida, A passagem de Morgan e Quase um santo. Lições de vida tem uma edição assustadoramente feia, mas encare, que o romance é demais. É gozado, mas parece que em todo RS só a Jane Tutikian e eu lemos a Tyler.
Eu li Tyler!
Anotados, Ernani. Obrigada.
Ao amor da Nikelen
à escritura de Austen…
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SUBLIME DO SER
by Ramiro Conceição
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Nascer, madurar e morrer
eis o sublime do ser:
cada qual com a sua altura
digna da sua envergadura.
Não são assim os montes
e também os horizontes?