A Pequena Missa Solene numa bela noite na Santa Teresinha

A Pequena Missa Solene numa bela noite na Santa Teresinha

No calor de ontem em Porto Alegre, decidimos enfrentar a Igreja Santa Teresinha. O concerto estava marcado para às 20h30, mas o alta temperatura do dia permanecia nos prédios e em nossos corpos. Tudo ficou justificado logo no começo do concerto, durante os primeiros e perfeitos acordes de Rossini. O programa continha apenas uma obra, a Pequena Missa Solene de Rossini (1792-1868). Há anos adoro esta obra. Escrita para um agrupamento inacreditavelmente pequeno de coro, solistas, piano e harmônio, a Missa parece destinada ao riso. Mas isto só até a música começar. A abertura, utilizada com notável sensibilidade por Pedro Almodóvar em seu filme A Má Educação (cena das crianças fazendo ginástica na escola, lembram?), é linda e tem a propriedade de instalar-se em nossa cabeça de uma forma difícil de controlar… É um dos pecados da velhice de Rossini. Explico.

Rossini começou a escrever música muito jovem. Era prolífico e compunha, em média, duas óperas por ano. Escreveu 40 delas entre 1810 e 1829. Então, aos 37 anos — enfadado do frequente contato com cantores temperamentais e diretores de teatro ainda piores –, parou de trabalhar seriamente com música, tornando-a um divertimento pessoal. Riquíssimo e célebre, dedicou-se ao lazer e a um irônico e gentil convívio com todos, itens nos quais era mestre. Costumava promover grandes festas em sua casa. Ali, bebia-se champanhe, vinho, comia-se esplendidamente e ouvia-se música. Às vezes, Rossini apresentava ao piano peças de certo compositor anônimo. O compositor ressurgiu surpreendentemente aos setenta e poucos anos publicando duas extraordinárias peças sacras — o Stabat Mater e a Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) –, além de peças para piano. Tais obras foram agrupadas sob o título genérico de Péchés de vieillesse. O pecado apresentado ontem foi escrito em 1863 especialmente para a consagração da capela privada da condessa Louise Pillet-Will.

O time todo esteve impecável sob a regência de João Paulo Sefrin. Os solistas foram Rosemari Oliveira (soprano), Angela Diel (mezzo-soprano), Maicon Cassânego (tenor) e Daniel Germano (baixo), com Cristina Caparelli (piano) e Alexandre Frietzen (harmônio). O coral era o Madrigal Presto.  Ou seja, dificilmente daria errado.

Olha, foi muito bonito, muito prazeroso, raramente sinto tal prazer estético. Os bancos duros da igreja, o calor, o som dos ventiladores, nada atrapalhou. Vou bastante a concertos e creio ter sido este um dos dois melhores deste segundo semestre em Porto Alegre.

O grupo da Pequena Missa Solene
O grupo da Pequena Missa Solene

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Porque hoje é sábado, Kristin Scott Thomas

Porque hoje é sábado, Kristin Scott Thomas

Kristin Scott Thomas dá a impressão de ter nascido para fazer filmes de época.

Seu rosto parece ter algo das heroínas dos romances vitorianos.

Porém, Kristin não é uma inglesa típica. Em primeiro lugar, pela beleza.

E em segundo lugar, por ter escolhido desde jovem a França para viver.

Hoje, a bela Kristin de nome tão inglês é uma cidadã francesa. Mas mudemos de tema.

Há pessoas, principalmente mulheres, que afirmam que o nariz é o que dá personalidade a um rosto.

Para elas, há que ter nariz. Não tão proeminente quanto o meu, mas que não seja insignificante.

Seria a mesma lógica que rege as mulheres em outras necessidades.

Não precisa ser imenso, mas é bom que seja satisfatório. Diminuto, nem pensar.

A narigudinha Kristin nasceu em 1960, vive em Paris, e foi casada 20 anos …

… com o maridão ginecologista com quem teve três filhos.

Em Paris, é amiga pessoal de Charlotte Rampling, Jane Birkin e Juliette Binoche, …

… o que é no mínimo interessante.

Fez filmes bastante bons: conhecia-a em Quatro casamentos e um funeral (1994), …

… fez considerável sombra à Juliette Binoche em O Paciente Inglês (1996), …

… foi Annie, a mãe da menina de treze anos Scarlett Johansson em O Encantador de Cavalos (1998), …

… e esteve maravilhosa em Gosford Park (2001), de Robert Altman.

Bem, esteve maravilhosa em todos, mas em Gosford sua pequena atuação é mais do que luminosa.

Agora, a foto acima… Juliette e Kristin… Não tenho palavras. Vou ali pegar um solzinho e já volto.

Ah, a propósito de narizes:

O Nariz Perante aos Poetas – Bernardo Guimarães (Rio de Janeiro, 1858)

Cantem outros os olhos, os cabelos
E mil cousas gentis
Das belas suas: eu de minha amada
Cantar quero o nariz

Não sei que fado mísero e mesquinho
É este do nariz
Que poeta nenhum em prosa ou verso
Cantá-lo jamais quis.

Os dentes são pérolas,
Os lábios rubis,
As tranças lustrosas
São laços sutis
Que prendem, que enleiam
Amante feliz;
É colo de garça
A nívea cerviz;
Porém ninguém diz
O que é o nariz

Beija-se os cabelos,
E os olhos belos,
E a boca mimosa,
E a face de rosa
De fresco matiz;
E nem um só beijo
Fica de sobejo
Pro pobre nariz;
Ai! pobre nariz,
És bem infeliz!

(trecho)

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Porque hoje é sábado, Doutzen Kroes

Porque hoje é sábado, Doutzen Kroes

De um modo geral, não sou grande apreciador das loiras de olhos azuis, mas há exceções.

Conheço Ricardo Branco há 39 anos. É um grande amigo. Mesmo.

E é um sujeito viajado, cosmopolita, é um dos poucos caras no Brasil que sabe pronunciar …

… Béla Bartók, aliás, Bartók Béla. É um cara razoável, tranquilo, culto, inteligente, que apenas tem problemas na área futebolística.

Só que ele me garantiu que, na Holanda, podemos encontrar uma Doutzen Kroes em cada esquina.

Ora, Ricardo, tome tento! Eu duvido que isto seja beeeemmm verdade. Talvez seja algo similar: …

… duas pernas longas, cabelos igualmente loiros, mas assim? Em todas as esquinas? Todas, todas?

Todas de lindos rostos, e com este corpo? Com essa aerodinâmica e pneumática? Sem passar uma quadra em branco?

Se fosse assim, diariamente teríamos aviões fretados de machos em riste dirigindo-se aos Países Baixos.

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Anotações sobre Beethoven (Final)

Anotações sobre Beethoven (Final)

BeethovenOs anos finais de Beethoven foram dedicados quase exclusivamente à composição de Quartetos de Cordas. Foi nesse meio que ele produziu algumas de suas mais profundas e visionárias obras: os Op. 127, 130, 131, 132, 135 e a Grande Fuga, Op.133, todos encomendados pelo príncipe Galitzin, que pagou 50 ducados por cada um. Pagou mesmo? Beethoven recebeu o pagamento pelo primeiro quarteto. Embora o príncipe russo jamais tivesse negado sua dívida, os quartetos restantes só foram pagos aos herdeiros de Beethoven em 1852, 25 anos após a morte do compositor.

Leia mais:
Anotações sobre Beethoven (Parte I)
Anotações sobre Beethoven (Parte II)
Anotações sobre Beethoven (Parte III)
Anotações sobre Beethoven (Parte IV)

Na opinião de Beethoven, o quarteto — que fora inventado por Haydn — era a manifestação mais alta da arte musical. E o compositor utilizou-o como veículo de expressão de todo um projeto de renovação de sua música. As seis últimas obras para quartetos de cordas são o cume da transformação de Beethoven como criador.

Sua obra sinfônica é bem mais acessível ao público, mais do que a pianística e muito mais do que os quartetos. Pode-se dizer que os quartetos de Beethoven da primeira e segunda fase fossem sinfonias reduzidas para poucos instrumentos, mas, ouvindo os da última fase, a ideia de orquestração não passa pela nossa cabeça. Aqui, ele se desliga estilisticamente da sinfonia, dando lugar a um intimismo raramente alcançado e apenas possível camaristicamente.

O Quarteto Op. 132 é absolutamente íntimo, como pode ser demonstrado pela partitura. Beethoven passara um inverno sem complicações, mas a primavera trouxera moléstias pulmonares — cuspia sangue –, digestivas e intestinais que o debilitaram muito, ao ponto de deixá-lo por vários dias de cama. Durante este episódio, Beethoven trabalhava no Op. 132 e sua situação foi revelada musicalmente. Na partitura, há anotações como “ação de graças de um convalescente”, “sentindo novas forças” e “Tu me devolveste a vontade de viver”. Trata-se de um caso único na história da música, penso, pois nunca vi um compositor expor problemas tão terrenos em sua música. Quando se fala na dor que uma música representa, em geral nos referimos a dores da alma, dificilmente a sofrimentos corporais.

https://youtu.be/LdMQas2tP9o

Dores e recuperação: de 21`30 até 24`30
E finaliza com uma valsa fantástica, de pura alegria: 39`01

Leia mais:
Anotações sobre Beethoven (Parte I)
Anotações sobre Beethoven (Parte II)
Anotações sobre Beethoven (Parte III)
Anotações sobre Beethoven (Parte IV)

Essa é a natureza do conflito captado pelo Op. 132, uma tentativa de transformar as dores físicas em sons.

O Op. 130 foi o último a ser escrito e também tem história curiosa. Como ele encerrava a encomenda feita pelo príncipe Galitzin, Beethoven finalizou-o com uma Grande Fuga. Depois, ele aceitou a sugestão de seu editor de separar a Grande Fuga do Quarteto Op. 130. Os motivos teriam sido comerciais, lucrariam mais dividindo o quarteto em dois.

Um adjetivo acaba associado à Große Fuge Op. 133 (1826): “assustadora”. Uma fuga já é uma forma musical que exige grande conhecimento técnico de composição. Então imagine quando ela é escrita de maneira inesperadamente violenta e dissonante como nessa fuga – provavelmente a obra mais moderna de Beethoven. Depois junte o hermetismo desta uma forma complexa a temas dissonantes e ao ímpeto de Beethoven. Sua estrutura geral parece condensar, além da forma de uma fuga a quatro vozes, a estrutura de uma sinfonia em quatro movimentos – pois há quatro episódios: os internos lembram um andamento lento e um scherzo, os externos são introdução e finale.

Abaixo, gostaria que o leitor separasse o começo da Grande Fuga, quando, após a introdução, vem o susto da exposição, com notas caindo pra todos os lados, os instrumentos entrando um por um onde parece não haver espaço para mais nada e um tema totalmente anguloso e dissonante.

https://youtu.be/XEZXjW_s0Qs

0`45 em diante (por uns 3 minutos)

Então, a última fase de Beethoven foi finalizada por um gênero de música que nunca fora ouvida antes. A partir dele, a música nunca mais foi a mesma. As composições desta fase foram criadas sem a preocupação em respeitar as regras que, até então, eram seguidas.

O último movimento do Quarteto Op. 135 demonstra claramente que ele estava quebrando regras. O nome que o movimento recebe mais parece uma brincadeira: “A difícil decisão: Deve ser assim? Deve ser assim!”.

Considerado um poeta-músico, ele foi o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão. Se foi condicionado por algo, foi pelo equilíbrio, pelo amor à natureza e pelos grandes ideais humanitários. Inaugurou a tradição do compositor livre, que escreve música para si, nem sempre vinculada a um mecenas. Hoje em dia, muitos críticos o consideram como o maior compositor do século XIX, a quem se deve a inauguração do período Romântico, enquanto que outros o distinguem como um dos poucos homens que merecem a adjetivação de “gênio”.

E agora digam que ele não escrevia para o futuro.

Beethoven morreu em 1827 de motivos ainda controversos. Uns falam em cirrose, porém, modernamente, análises de seus cabelos têm levado a conclusões de que Beethoven foi acidentalmente levado à morte por envenenamento devido a doses excessivas de chumbo, a base dos tratamentos administrados por seu médico.

Fontes:
— História da Música Ocidental, de Jean e Brigitte Massin.
— O blog Euterpe, texto de Leonardo T. Oliveira
Beethoven e o Sentido da Transformação, de José Viegas Muniz Neto
Beethoven, de Barry Cooper
— Biografia de Beethoven

file de namorado a milton ribeiro

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11 de dezembro

11 de dezembro

O 11 de dezembro de 1993 é para eu lamentar. Era um sábado. O sábado em que meu pai morreu inesperadamente. No dia anterior, eu tinha me encontrado casualmente com ele num supermercado e tínhamos conversado animadamente sobre a música de Schubert. Jamais imaginaria que aquela fosse nossa despedida. Na manhã seguinte, minha mãe telefonou e encontrei-o deitado no chão do banheiro, cercado por ela, minha irmã e equipe médica.

A saudade é imensa e isso não é somente uma frase chavão. Comecei a senti-la quando vi que seu corpo estava frio e que todas as memórias que ele guardava de mim tinham se dissipado naquele ataque cardíaco. Eu tinha 36 anos e senti uma solidão de um gênero desconhecido, sem saída. É claro que esta sensação quase não existe 22 anos depois. Mas ela fica me ameaçando a cada 11 de dezembro.

A única foto que tenho dele aqui no trabalho é esta aí, com o neto Bernardo. Infelizmente, ele não conheceu a Bárbara.

Meu filho Bernardo, eu e meu pai em 1993.
Meu filho Bernardo, eu e meu pai em 1993.

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Anotações sobre Beethoven (Parte IV)

Anotações sobre Beethoven (Parte IV)

beethoven

As sonatas seguintes, Op. 109, 110 e 111, eram inacreditáveis e incompreensíveis para a época em que foram compostas. Porém, ouvindo-as hoje, são apenas belíssimas, assim como as Variações sobre um tema de Diabelli, onde uma valsa muito simples é desenvolvida e transformada até atingir alturas prodigiosas. A Sonata Op. 111 gerou um dos mais belos momentos da literatura de todos os tempos: a aula do Prof. Kretzschmar em Doutor Fausto, de Thomas Mann. E, até a morte de Beethoven, haveria mais, haveria as obras para as quais os melômanos reviram os olhos incansavelmente ao falarem delas — os últimos quartetos. Em meio à doenças e reclamações contra Rossini e à italianização do mundo, tais obras vieram uma a uma à tona e serviram de como pedra fundamental para boa parte da música do futuro. Quando soube que tinham sido pessimamente acolhidos, repetiu, mais uma vez com razão: “Não é para vós, mas para as gerações futuras”.

Leia mais:
Anotações sobre Beethoven (Parte I)
Anotações sobre Beethoven (Parte II)
Anotações sobre Beethoven (Parte III)

Pois o futuro lhe abriria as portas como fez para poucos. No início do século XX, Romain Rolland acreditava ser o último beethoveniano. Não poderia estar mais errado. Bartók, Xenakis, Varèse, Shostakovich e Schnittke foram decisivamente influenciados. Além disso, tornou-se o mais popular dos compositores eruditos, o elo perfeito para aqueles que raramente ouvem a música erudita adentrarem num novo mundo. Ludwig van tinha a admiração, por exemplo, de Alex DeLarge, personagem de A Laranja Mecânica; é utilizado por alunos de piano nas facilidades do primeiro movimento da Sonata ao Luar; também tem a admiração das pessoas que invadem praças para ouvir o final da Nona Sinfonia. E conta com o assombro dos entendidos.

Como dissemos, no famoso capítulo VIII do Doutor Fausto, de Thomas Mann, o imaginário professor Kretzschmar dá uma aula sobre o tema “Porque Beethoven não escreveu o terceiro movimento da Sonata Op. 111”. A ideia da aula descrita por Mann nasceu quando um descuidado pianista contemporâneo de Beethoven perguntou sobre o motivo da inexistência do terceiro movimento. A resposta do compositor foi típica: “Não tive tempo de escrever um!”. Mann explorou habilmente a história e só quem leu seu Fausto sabe da profunda impressão que a aula de Kretzschmar causou a Adrian Leverkühn, o personagem principal do livro fáustico.

Pois o incrível — Mann aparentemente não sabia disso — é que os musicólogos descobriram que havia um terceiro movimento para esta sonata. Beethoven parece ter desistido dele. Em alguns manuscritos originais, há anotações: segundo movimento – Arietta; terceiro movimento – Presto. O Kretzschmar de Mann diz que a Arietta (o segundo movimento) seria um adeus. Trata-se de um tema com variações que dá ao ouvinte uma sensação muito íntima. Nas três primeiras variações, o tema – que segundo Kretzschmar seria um dim-da-da que poderia ser balbuciado por uma criança — vai sendo cada vez mais movimentado: as notas vão se multiplicando (é muito curioso observar na partitura os compassos se dividindo cada vez em mais notas), e o ritmo começa a ser quebrado e animado até culminar na famosa terceira variação, muito comparada a um boogie-woogie, 100 anos antes disso existir.

https://youtu.be/UjMDVkNb7gg

No vídeo acima, o dim-da-da — ou a Arietta — começa aos 8`30, o boogie-woogie vem após os 13`20. Ouçam até os 16`20.

Claro que a invenção dessa despedida foi uma das muitas liberdades poéticas tomadas pelo entusiasmado professor de Mann. Está bem, foi a última sonata para piano de Beethoven, porém após o Op. 111 ainda vieram outras obras importantes para piano, como as Variações Diabelli (Op.120) e as Bagatelas (Op. 126), além de todos os últimos quartetos, mais a Op. 123), etc. Ou seja, quando Beethoven escreveu o Op. 111, ele era um compositor em plena atividade e com vários projetos diferentes a desenvolver.

De 1816 até 1827, ano da sua morte, ainda conseguiu compor cerca de 44 obras musicais. Ao morrer, a 26 de Março de 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia, assim como projetava escrever um Réquiem. Ao contrário de Mozart, que foi enterrado anonimamente em uma vala comum, 20.000 cidadãos vienenses — Viena tinha 300.000 habitantes — foram ao funeral de Beethoven, em 29 de março de 1827. Franz Schubert, que morreu no ano seguinte e foi enterrado ao lado de Beethoven, foi um dos portadores da tocha.

O interesse pela obra da primeira e segunda fase de Beethoven mudou Viena. O historiador Paul Johnson diz que “Existia uma nova fé e Beethoven era o seu profeta. Não foi por acidente que, aproximadamente na mesma época, as novas casas de espetáculo recebiam fachadas parecidas com as dos templos, exaltando o status moral e cultural da sinfonia e da música de câmara.”

Em 1824, surge Sinfonia nº 9, Op.125, para muitos a sua obra-prima. Pela primeira vez na história da música é inserida a voz humana num movimento de uma sinfonia. Os solistas e o coral exaltam de forma dionisíaca a fraternidade universal, começando pela aliança entre duas artes irmãs: a poesia e a música. O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, “Ode à Alegria”, feita pelo próprio Ludwig van Beethoven. Em 1824, surge a Sinfonia nº 9 em Ré Menor. E, bem todos conhecem esta grande música que precede os quartetos finais.

(continua)

https://youtu.be/gspExUy4u7A

https://youtu.be/tuYtRA-TXas

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Ateus islandeses viram fiéis do zoísmo para driblar imposto

Ateus islandeses viram fiéis do zoísmo para driblar imposto

Do Diário de Notícias, de Portugal

O zoísmo é a religião que mais cresce no país e o número de crentes já supera o de muçulmanos

islandia

Mais de 3100 islandeses, quase 1% da população da ilha, registaram-se nas últimas semanas como seguidores dos antigos deuses e deusas da Suméria, como forma de protesto. Na realidade, os islandeses estão a converter-se ao zoísmo, uma religião em que até o porta-voz se afirma agnóstico e que promete devolver os impostos religiosos que os cidadãos são obrigados a pagar.

O fenómeno acontece porque na Islândia a população é obrigada a registar a sua religião e parte dos impostos é encaminhada para as respetivas igrejas. Mas os ateus e pessoas sem religião têm de pagar na mesma. “Não há outra opção”, declarou Sveinn Thorhallsson, porta-voz da religião. “Quem não está afiliado ou pertence a religiões não registadas paga impostos mais altos”.

Na Islândia cerca de 75% das pessoas estão registadas na Igreja Evangélica Luterana, mas há mais de 40 outras religiões que se qualificam para as “taxas paroquiais”, segundo o jornal The Guardian. A contribuição de cada cidadão para as instituições religiosas, segundo o orçamento do próximo ano, ronda os 75 euros.

O zoísmo foi aceite como religião no país em 2013 e baseia-se na adoração dos 13 principais deuses e deusas da antiga Suméria, uma civilização que se localizava no atual Iraque e Koweit, pelo menos 3500 anos antes de Cristo. O número de seguidores já supera o de muçulmanos.

No site da religião caracteriza-se o zoísmo como “uma plataforma para os membros porem em prática a antiga religião da Suméria”, mas também como uma organização que defende totalmente a liberdade religiosa e a liberdade de não ter religião. “O objetivo principal da organização é que o governo revogue qualquer lei que garanta mais privilégios, financeiros ou outros, a organizações religiosas do que a outro tipo de organizações”.

Os zoístas pedem ainda que o registo da religião de cada cidadão seja abolido. Quando estas condições forem aceites o zoísmo deixará de existir, garante o texto. Numa sociedade moderna “o estado não deveria registar as crenças das pessoas”, disse Thorhallsson ao The Guardian.

Há, no entanto, oposição. Stefán Bogi Sveinsson, membro do Partido Progressista, defende que o zoísmo não é uma religião. “Ninguém se registou na organização para praticar o zoísmo “, explica. “As razões para se registarem são apenas duas: para poupar dinheiro ou protestar contra a legislação sobre organizações religiosas”.Além disso, o fisco islandês disse um jornal que se a religião reembolsar os crentes terá depois de pagar impostos sobre essa transação.

O porta-voz zoísta, que se declara agnóstico, garante que, apesar de tudo, há de facto algum interesse pela antiga civilização Suméria. “Organizámos uma cerimónia com leituras de poesia suméria. Agora estamos a planear outra.”

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Anotações sobre Beethoven (Parte III)

Anotações sobre Beethoven (Parte III)

Enquanto isso, a vida amorosa de Beethoven ia de mal a pior. Dono de uma personalidade apaixonada, sofria decepções em série. Um dos mais famosos casos foi o com Bettina Brentano, que fez uma extensa descrição do mestre em suas cartas. Resumidamente, descreveu-o como “pequeno, moreno, marcado pela varicela, o que se chama de feio”. Porém, “com uma fronte nobremente modelada, parecendo ter trinta anos” – tinha quarenta – “vestindo andrajos com ar magnífico e imponente”. Sim, nos filmes ele é um pouco melhor.

“O incidente de Teplitz” em pintura de Carl Rohling
“O incidente de Teplitz” em pintura de Carl Rohling

Bettina apresentou-o a Goethe. Não deu muito certo. Em julho de 1812, Beethoven recebeu o convite para encontrar-se com o maior escritor de língua alemã em Teplitz. Há algum tempo os dois se estudavam à distância: Goethe tinha grande admiração pela 5ª Sinfonia de Beethoven, “simplesmente espantosa e grandiosa” e Beethoven era interessado em literatura em geral e no mestre em especial. Em 1811, por exemplo, Beethoven tinha mandado para Goethe um exemplar da música que fizera para Egmont. Era esperado um encontro dos Titãs.

Leia mais:
Anotações sobre Beethoven (Parte I)
Anotações sobre Beethoven (Parte II)

A amizade nascente acabou rápido. O caso é conhecido como “O incidente de Teplitz” e ocorreu na época da composição da 7ª Sinfonia.

https://youtu.be/n4gzX1_OavA

Os dois caminhavam de braço quando viram o Imperador do recém-fundado Império Austríaco, os duques e toda a corte caminhando na direção oposta. Segundo Bettina, Beethoven disse a Goethe para continuar caminhando, pois os aristocratas deveriam abrir caminho para eles. Goethe, discordou silenciosamente, deu um passo para o lado e tirou o chapéu para cumprimentar a família real, enquanto Beethoven passou decididamente no meio da corte, sem tirar o chapéu. Quando Goethe alcançou Beethoven, este lhe disse: “Eu esperei por você porque o respeito e respeito seu trabalho, mas você demonstrou um apreço exagerado por estas pessoas”.

Em carta para a sua esposa, o escritor disse sobre Ludwig: “Seu talento me surpreendeu; no entanto, ele, infelizmente, tem uma personalidade absolutamente incontrolável. Ele não está equivocado ao pensar no mundo como um local detestável, mas nada faz para torná-lo mais agradável para si e para os outros”. Beethoven escreveu para seu editor que “Goethe se encanta mais com a atmosfera da corte do que em ser um grande poeta”. Os dois nunca mais se encontraram. Anos depois, Beethoven mandou uma carta para Goethe. Não houve resposta.

Nesta época iniciava a segunda fase da produção de Beethoven. Ela já era reconhecido como o maior compositor de sua época. Então começou a fazer algumas bobagens. Entre 1813 e 17, Beethoven passou por uma crise. A progressiva surdez — ele começara a se comunicar com as pessoas por gestos ou por escrito — a perda das esperanças matrimoniais e os problemas na tentativa de ganhar a custódia do sobrinho, fizeram com que ele tivesse uma crise criativa, que fez que ele não conseguisse compor obras nesse período. Provavelmente tenha entrado em depressão. Compôs a pior das músicas em A Vitória de Wellington. “É uma estupidez”, disse, mas o público saudou o triunfalismo da obra. Era o músico nacional e tudo o que fizesse era adorado. A vaidade jogou-o em outras empreitadas mal sucedidas. Eram cantatas como Cristo no Monte das Oliveiras e a desconhecida Missa em Dó Maior e ciclos de canções que eram mais músicas de circunstância que alcançavam o aplauso, mas que não permaneceram.

A sorte foi ele ter conhecido a Condessa Maria Erdödy, que preferia música de verdade. Foi esta grande amiga quem conseguiu retirá-lo da letargia e ele recomeçou, em 1818, a compor lentamente o que seria, na minha opinião, suas maiores obras. À Condessa foram dedicadas as duas esplêndidas Sonatas para Violoncelo e Piano Op. 102. A postura dos amigos era de romantismo total: “Nós, seres limitados de espírito ilimitado, nascemos para o sofrimento e para a alegria. Sendo que os mais destacados, como você, apropriam-se da alegria através do sofrimento”, escreveu a Condessa em carta dirigida à Beethoven. Enquanto isso, um fato paralelo preocupava demais o compositor: a conquista de Viena por parte de Rossini. Desta época de recuperação, é também o maravilhoso Trio Arquiduque.

Como dissemos, a partir de 1818, Ludwig, aparentemente recuperado, passou a compor mais lentamente, mas com um vigor renovado. Neste ano, começou a criar não suas obras mais populares – apesar da época conter a ultra e justamente popular Sinfonia Nº 9 – , mas aquelas que, de tão perfeitas, serviram de base e influência para um alto número de compositores que vieram depois. A irrepetível sequência de músicas perfeitas e revolucionárias começou com a Sonata para Piano, Op. 106, Hammerklavier. Teve que prestar explicações a seus contemporâneos, que não a entenderam, o que gerou mais um rosário de deliciosas respostas mal humoradas. “Não pensei no pianista quando a escrevi”. “Não gostam agora? Gostarão mais tarde. Escrevo para o futuro”.

(continua)

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Michel Temer é poeta publicado, sabiam? E dos bem ruins

Michel Temer é poeta publicado, sabiam? E dos bem ruins

Como escreveu o Carlos André Moreira, deixaram ele sem fazer nada e deu nisso. Os grifos são meus. Segundo Temer, estes poemas são coisas que fazia quando deixava a arena árida da política. Aqui, a chamada do lançamento na Folha; abaixo, exemplos da poesia do vice.

Exposição
Escrever é expor-se.
Ou incapacidade.
E sua intimidade.
Nas linhas e entrelinhas.
Não teria sido mais útil silenciar?
Deixar que saibam-te pelo que parece que és?
Que desejo é este que te leva a desnudar-te
A desmascarar-te?
Que compulsão é esta?
O que buscas?
Será a incapacidade de fazer coisas úteis?
Mais objetivas?
É por isso que procuras o subjetivo?
Para quem a tua mensagem?
Para ti?
Para outrem?
Não sei.
Mais uma que faço sem saber por quê.

(sim, mais uma)

Saber
Eu não sabia
Eu Juro que não sabia!

(sabia sim)

Passou
Quando parei
Para pensar
Todos os pensamentos
Já haviam acontecido

(?)

Assintonia
Falta-me tristeza.
Instrumento mobilizador
Dos meus escritos.
Não há tragédia
À vista.
Nem lembranças
De tragédias passadas.
Nem dores no presente.
Lamentavelmente
Tudo anda bem.
Por isso
Andam mal
Os meus escritos.

(muito mal)

Embarque
Embarquei na tua nau
Sem rumo. Eu e tu.
Tu, porque não sabias
Para onde querias ir.
Eu, porque já tomei muitos rumos
Sem chegar a lugar nenhum.

(agora quer chegar, né?)

Não teria sido mais útil silenciar? (...) Será a incapacidade de fazer coisas úteis? / Mais objetivas?
Não teria sido mais útil silenciar? (…) Será a incapacidade de fazer coisas úteis? / Mais objetivas?

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Anotações sobre Beethoven (Parte II)

Anotações sobre Beethoven (Parte II)
Beethoven em 1810
Beethoven em 1810

Ludwig van Beethoven (16 de dezembro de 1770 – 26 de março de 1827) foi um compositor cuja existência mostrou ser tão adequada a romances e filmes que as lendas em torno de sua figura foram se criando de forma indiscriminada, às vezes paradoxal. Sua surdez, por exemplo, contribuiu muito para popularizá-lo e para que fosse lamentado. Victor Hugo dizia que sua música era a de “Um deus cego que criava o Sol”, mas quem o conhecesse talvez reduzisse o tom de piedade.

Leia mais:
Anotações sobre Beethoven (Parte I)

Beethoven era uma pessoa absolutamente segura de seu talento – não mentiríamos se o chamássemos de arrogante – e tinha certeza da imortalidade de sua obra. Ele tinha a perfeita noção de que estava criando um conjunto espetacular de obras musicais. A surdez representava uma tragédia muito mais do ponto de vista social, das relações amorosas e das de amizade, além prejudicar de forma fatal sua carreira de grande pianista, mas nunca foi encarada por ele como um obstáculo no plano da criação.

O problema começou a manifestar-se aos 26 anos de idade e aos 46 o compositor estava praticamente surdo. Ao final da primeira apresentação pública da 9ª Sinfonia, Beethoven permaneceu absorto na leitura da partitura e não percebeu que estava sendo ovacionado até que um amigo, tocando em seu braço, voltou a sua atenção para o que acontecia na sala, onde a platéia o aplaudia em pé. Ou seja, aos 54 anos, época da composição da Nona, ele era totalmente surdo.

Com isso, não estou dizendo que ele não tenha sofrido muito com o progressivo ensurdecimento. Sofreu a ponto de ter pensado em suicidar-se. Era 1802, Beethoven tinha 31 anos – idade com que Schubert morreu – e pensava em matar-se. Ao que se sabe, nunca fez uma tentativa, mas, se a fizesse e fosse bem-sucedido, talvez ainda assim estivéssemos falando dele.

Beethoven não era fácil. Em seus anos de aluno, ele utilizava harmonias que eram consideradas inadmissíveis. Quando lhe diziam que eram estranhas, perguntava de volta: “Quem as proibiu?”. Em 1792, quando Haydn visitou Bonn, foi apresentado a ele. Aos 21 anos, Beethoven mostrou-lhe algumas de suas obras e Haydn, impressionado, propôs que se mudasse para Viena a fim de que pudesse ser seu aluno. No mesmo ano, Beethoven instalou-se em Viena, mas recebia aulas de forma irregular, pois Haydn estava no auge de sua carreira e tinha de sair frequentemente da cidade.

Beethoven estava descontente devido a pouca dedicação de Haydn para com ele. Sabe-se que Haydn ensinou-lhe muito, apesar de considerá-lo um chato. Chamava Beethoven de Sua Majestade. Assim, em 1794, Beethoven aproveitou-se de uma viagem de Haydn a Londres e procurou um novo mestre: Georg Albrechtsberger. A relação entre ele e o novo professor também não foi muito tranquila. Tanto que Albrechtsberger, depois que foi dispensado, acabou proferindo uma daquelas frases que fazem a alegria dos biógrafos. Ele disse: “Não percam tempo com ele. Ele nada aprendeu e nada fará de bom”. Assim é que se faz para entrar na história pela porta dos fundos…

Hoje, quase 250 anos depois, não temos a intenção de contar os casos em que fica comprovado que Beethoven era um brigão — procuremos ver sua postura por um lado mais indulgente: era sujeito orgulhoso, consciente do próprio valor e, no caso do pobre Albrechtsberger, claramente superior.

Há um fato muito curioso na formação de Beethoven. Desde cedo ele teve uma noção muito curiosa sobre aquilo que lhe faltava: faltava-lhe conhecer literatura. E ele, com entusiasmo, atirou-se à leitura de Homero, Shakespeare, Goethe e Schiller. Pensava que só assim – e tendo bons professores de composição – poderia ser o que tinha planejado para si: tornar-se o Tondichter da Alemanha, o poeta dos sons.

Mais poesia do que isso?

As obras escritas antes de seus 30 anos obedeciam e traíam seus mestres. Apesar de respeitar as estruturas aprendidas, ele já anunciava os procedimentos expressivos que utilizaria nas fases seguintes — temas curtos e afirmativos, súbitos silêncios, uso simultâneo de graves e agudos do teclado, a primazia do ritmo. O seu “classicismo vienense” era, na verdade, um classicismo muito pessoal.

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O uso dos silêncios

Os temas curtos sob os gestos incríveis do maestro Masato Usuki

Sua vida artística pode ser dividida em três fases — o que é tradicionalmente aceito. A primeira começa com a mudança para Viena, em 1792. Nove anos depois, em 1801, Beethoven afirmou não estar satisfeito com o que compusera até então, decidindo tomar um “novo caminho”. Tudo parecia levá-lo ao épico e, dois anos depois, em 1803, surge um grande fruto desse “novo caminho”: a Sinfonia Nº 3, Eroica. Ela abre um verdadeiro ciclo épico. A Sinfonia era para ser dedicada a Napoleão Bonaparte, pois Beethoven admirava os ideais da Revolução Francesa e Napoleão. Porém, quando Napoleão autoproclamou-se Imperador da França em maio de 1804, Beethoven retirou a dedicatória de forma pessoal, mas violenta… Foi à mesa onde estava a sinfonia já pronta, pegou a primeira página e riscou o nome de Napoleão tão violentamente que ficou um buraco no papel. Ele apagara a napoleônica referência com uma faca… E que música havia ali!

https://youtu.be/by2TA_yDlJg

O ciclo épico iniciado pela Eroica seguiu com obras verdadeiramente espantosas e originais, que cantavam a força da humanidade, a paixão pela liberdade e a vitória do espírito humano.

Vieram a Sinfonia Nº 5, a Nº 6, Pastoral, as sonatas Waldstein e Appassionata, o Concerto para Piano Nº 5, chamado Imperador, a Fantasia para piano, orquestra e coro. Eram músicas altamente belicosas, intensas, triunfantes e românticas. Importante explicar o título Imperador do Concerto Nº 5 para piano e orquestra. O compositor jamais quis este apelido para o Concerto. Quem deu este nome foi o editor responsável pela publicação da partitura na Inglaterra. Este acreditou ser aquele um Concerto tão grandioso como nenhum outro e o chamou de “Emperor”. O próprio Beethoven não gostou do apelido, mas isso de nada adiantou.

Na época da morte de Haydn, em 1809, ainda na primeira fase beethoveniana, foram anos de grande fertilidade criativa e, junto com as obras citadas, obras-primas brotavam de sua pena como beterrabas. Vieram também o Concerto para Piano nº 4, Op. 58 — recentemente interpretado por André Carrara com a Ospa; os Três Quartetos de Cordas, intitulados Razumovsky, em 1806; e o Concerto para Violino, Op. 61.

(continua)

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Bom dia, presidente Piffero (com os gols e melhores lances de Inter 2 x 0 Cruzeiro)

Bom dia, presidente Piffero (com os gols e melhores lances de Inter 2 x 0 Cruzeiro)
Ernando: ao lado de Dourado, Vitinho e Valdívia, o melhor de 2015 | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional
Ernando: ao lado de Dourado, Vitinho e Valdívia, o melhor de 2015 | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

Claro que eu queria ver meu time na Libertadores 2016. Só que ele nunca fez por merecer. Nem neste segundo turno. Argel nunca conseguiu fazer o time jogar bem, mas o que nos matou de morte morrida foi o rodízio do Aguirre. Aquele primeiro turno de jogos dados de presente para os adversários foi um desperdício irrecuperável. E temos pendente a questão do doping, que deve rolar nos próximos dias. O peso de 2015 ainda será sentido.

Que péssimo ano, hein, Piffero?

Tu, Piffero, garantiste que Argel fica em 2015. É um erro. Penso que a crise financeira deve estar braba mesmo. Argel é um motivador, não um organizador. Seu time é lamentável do ponto de vista técnico e os artifícios motivacionais de Argel são utilizados inclusive em suas entrevistas — sempre fracas e sem conteúdo. Devemos empilhar vitórias no Picanhão 2016 e fazer um Brasileiro médio, com Argel sendo demitido no meio do ano. Que venha 2017!

Para 2016, Lisandro, Juan, Dida, Léo, Wellington Martins e Moledo não devem permanecer no clube. São seis caras a menos na Folha de Pagamento, Piffero. Não dá para trazer ninguém REALMENTE BOM para o lugar deles? Tu dizes que os investimentos serão modestos, mas temos um dos maiores corpos de sócios do Brasil. Tem algo de muito errado aí. Quem tem que ficar é Vitinho. Não é um grande jogador, só que tem uma característica que o torna precioso: chuta espetacularmente bem. Faz gols a dar com pau.

.oOo.

Com a honrosa exceção do Corinthians, o nível técnico do Campeonato Brasileiro foi o mais baixo que vi até hoje. Achei tudo muito justo.

O campeão foi o melhor, o Atlético-MG fica a léguas de qualidade do Timão, mas foi o segundo melhor.

O Grêmio teve um resultado melhor do que o time que tem, graças ao Roger do primeiro turno.

Inter, São Paulo, Sport, Cruzeiro, etc. são times bem deficientes e poderiam ter disputado a vaga na moedinha, tanto faz.

Santos e Palmeiras decidiram que chegariam à Libertadores pela Copa do Brasil, mas só tinha uma vaga e o time mais experiente a levou.

Os rebaixados estão entre os de sempre: não se sabe como o Joinville subiu, Avaí está sempre no grupo de risco e o Vasco tem Eurico Miranda. A única surpresa foi o Goiás, que veio com um time indigno de sua história.

https://youtu.be/vhqsEgatPOE

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Hostilizada pelo governo, Svetlana Aleksievich voou para Estocolmo para receber o Nobel de Literatura

Hostilizada pelo governo, Svetlana Aleksievich voou para Estocolmo para receber o Nobel de Literatura

Do site m.nn.by
Tradução livre de Milton Ribeiro com a ajuda de Elena Romanov

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No dia 10 de dezembro, Svetlana Aleksievich irá receber o Prêmio Nobel das mãos do rei da Suécia. Neste sábado (5), no Aeroporto Nacional de Minsk, a escritora bielorrussa recebeu jornalistas, parentes e amigos. Questionada sobre como se preparara para a viagem, Svetlana disse que começou a se arrumar às 2 da madrugada. Disse que atrasou-se muito escrevendo o texto de suas duas palestras — uma como ganhadora do Prêmio Nobel, outra sobre seus livros. Na última, ela falará também sobre a Bielorrússia de hoje e sua situação pessoal no país.

Ao lado da filha, da neta e de amigos, Aleksievich disse que sua vida enlouqueceu após a premiação. Ela comentou a informação de que a TV bielorrussa não irá transmitir a cerimônia de premiação. “Seria estranho se fosse” — disse Aleksievich. “Tal decisão apenas referenda a baixa qualidade humana de nosso presidente”.

“Não creio que estejam me ignorando por nossas diferenças políticas. O mais provável é ciúme. Ele é único. Mas onde estão hoje Stalin e Brezhnev, que eram ainda maiores?” — disse a escritora.

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Ela disse que o governo ficou mais agressivo em relação a ela após o anúncio do prêmio, mas ela nota também que agora há um grande interesse por suas obras, boa parte dele disseminado pela internet. “Meus leitores estão fazendo a mais esplêndida das divulgações. Agradeço-lhes diariamente”.

“Sou uma pessoa controversa em meu país, apesar de ter colocado a Bielorrússia no mapa. Imaginem que até recebi passagens na classe executiva nesta viagem para Estocolmo!” — disse Aleksievich rindo muito.

Em Estocolmo, ela será recebida pelo ex-embaixador da Suécia na Bielorrússia, Stefan Eriksson. A viagem, a cerimônia de gala e os banquetes serão acompanhados por 14 amigos pessoais da escritora, todos convidados por ela.

O prêmio tem o valor de 8 milhões de coroas suecas, ou cerca de 970 mil dólares.

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Porque hoje é sábado, David Hamilton ou a pedofilia nada disfarçada dos anos 70 e 80

Porque hoje é sábado, David Hamilton ou a pedofilia nada disfarçada dos anos 70 e 80

Um artista sai da moda e a gente simplesmente o esquece.

Ainda mais eu, um ser nada dotado para as artes plásticas, um daltônico.

Porém, acordei num dia desta semana, lembrei e concluí: a arte do fotógrafo David Hamilton é pura pedofilia!

Explico: acho que todos os que adolesceram de forma um pouco mais metida, durante os anos 70…

… e a primeira metade dos 80, tiveram contato e/ou admiração pelas fotos granuladas do inglês

… que só utilizava modelos menores de idade, ninfetas, às vezes pré-púberes.

Confesso ter ficado muito chocado, pois o que 30 anos atrás era mais ou menos belo …

… agora era simplesmente exploração infantil.

É por essas e outras que costumo ironizar aqueles que têm uma visão apocalíptica do mundo.

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Porque hoje é sábado, Isabelle Adjani

Porque hoje é sábado, Isabelle Adjani

Quem lembra de Isabelle Adjani?

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Isabelle Yasmine Adjani (Paris, 27 de junho de 1955) anda tão esquecida, …

… que às vezes penso que a Adèle H., de Truffaut, foi obra de minha imaginação.

Filha de pai argelino e mãe alemã, ela estourou mundialmente em 1975 …

… no papel da filha perturbadinha do escritor Victor Hugo (A História de Adèle H.).

Eu tinha 18 anos e ela era tão bela que doía em mim.

Passei a ver todos os seus filmes e, no começo, era bem feliz.

Logo após, ela fez o maravilhoso O Inquilino (1976), de Polanski.

Depois vieram Quarteto (prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes de 1981) e …

Possessão (1981), pelo qual recebeu o César ao demonstrar que podia …

… ficar por horas jogando a cabeça para todos os lados sem tontear.

Houve ainda Antonieta (1982) e o cult Subway (1985).

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Depois disso, Adjani resolveu fazer filmes “imortais” e se deu mal. Previsível.

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Um local de Porto Alegre: a Ladeira Livros de Mauro Messina

Um local de Porto Alegre: a Ladeira Livros de Mauro Messina
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Quem mora em Porto Alegre e ama os livros, provavelmente conhece Mauro Messina. Sócio do sebo Ladeira Livros (Rua Gen. Câmara — mais conhecida como Rua da Ladeira –, nº 385, no chamado Centro Histórico), Mauro fez dois cursos na Ufrgs e outro na Fapa, indo quase até o final de cada um deles. Porém, para extrema decepção de sua mãe, não se formou nem em Ciências Sociais, nem em Geografia e muito menos em Administração de Empresas, apesar de ter mais ou menos se sustentado nos corredores da Universidade Federal e da Fapa. Em compensação, conhece livros – objeto e conteúdo – como poucos, dando palpites certeiros sobre aquilo que os clientes devem (ou não) ler, além de irritar todos os colorados que vão à livraria com um gremismo daqueles bem barulhentos e nojentos – opinião deste que vos escreve.

Para quem olha da rua, a Ladeira Livros parece pequena. A sala da frente não é grande, mas há 40 mil livros lá para trás. Enquanto a chuva batia forte na General Câmara, fazendo os clientes entrarem fechando rapidamente seus guarda-chuvas, Mauro falou ao Sul21 como sempre faz — sorrindo muito e interrompendo seus discursos com risadas altissonantes.

Foto retirada do perfil do Facebook de Mauro Messina

A história da livraria começa lá nos anos 80. Mauro fazia bicos com Adeli Sell numa banquinha que ficava embaixo do viaduto da Borges, um sebo. O espaço era mínimo para os dois militantes da tendência petista ‘O trabalho’. Lá, o estudante secundarista Mauro vendia broches e adesivos do PT. Então, começou a botar uns livrinhos ao lado. Em 1988, conheceu Fernando Schüller, coordenador de literatura na Prefeitura. E começou a vender livros nos sábados pela manhã, durante os Encontros de Sábado na secretaria municipal de cultura. Quando entrou na Universidade, mudou para a Convergência Socialista. Cursava administração na Fapa. Em 1991, foi trabalhar como funcionário do livreiro e escritor Arnaldo Campos, o lendário dono da Porto do Livro, no Campus Centro da Ufrgs.

No mesmo ano, passou no vestibular da Ufrgs para Ciências Sociais. Ficou dois anos com Arnaldo, apesar de que o dono da livraria estava sem dinheiro e com problemas para pagar a pensão da ex-esposa. Era a época pré-plano real, a inflação corroía tudo e a ex-mulher do livreiro frequentemente ligava pedindo o pagamento da pensão. Arnaldo se deprimia e dizia dez vezes por dia para Mauro: ‘’Desiste do ramo. Eu sei que tu gosta, mas não faz como eu, faz algum concurso, pega uma estabilidade.’’ E Mauro respondia que não tinha como. Aí passava um tempo, o livreiro atrasava novamente a pensão e a mulher voltava a ligar. Ficavam meia hora no telefone. Aí ele se estressava e chamava o funcionário para o Bar do Antônio. ‘’Larga, Mauro! E não casa. Mas, se tu for burro e casar, não te separa”’. Contudo, quando Mauro inaugurou a Ladeira Livros em 2006, Arnaldo visitou o ex-pupilo. Estava todo feliz.

Mas não nos adiantemos. Em 1993, Mauro ficou desempregado. Sabia que algumas livrarias tinham armários de livros nos corredores da Ufrgs e ele pensou que poderia fazer o mesmo. Convidou um amigo e começaram a vender livros nos corredores do Campus do Centro. O nome da livraria era Sagarana. Ele já tinha contato com algumas editoras e alugou uma sala na Dr. Flores para o estoque. Também vendia livros na Fapa, dentro do mesmo esquema. Os livros eram novos, recebidos em consignação. O corredor ficava cheio de gente nos intervalos. Ali, Mauro discutia política, futebol e vendia seus livros.

Trabalhava também no curso Unificado. Amigo do professor Sergius Gonzaga, chegava ao cursinho na hora do intervalo. Sergius colaborava, avisando-lhe do livro que recomendaria em sala de aula. Na saída… Mesmo assim, o maior ponto de venda era dentro da Ufrgs. Um dia, tentaram acabar com a banca de livros de Mauro. Era ilegal. Um abaixo-assinado dos alunos garantiu a continuidade. Mas depois não houve jeito e ele teve que sair.

“Eu saí lá em 2001 e não sabia o que fazer, simplesmente não esperava que acontecesse. Aí eu fui ali no Flores, que vendia discos na Borges, embaixo do viaduto. Cheguei nele e disse que tinha uns livros pra vender no espaço dele. Trouxe meu armário. Ele vendia discos e eu livros. Naquela época eu estava negociando um espaço no Campus do Vale lá na Ufrgs. Fui para lá, mas nos dois lugares vendia pouco. Foi um período bem complicado”.

A Ladeira Livros começou em 2006. “Os proprietários da Nova Roma estavam fechando a livraria na Gen. Câmara (a popularmente chamada Rua da Ladeira) e me disseram que se eu quisesse poderia trabalhar lá. Levei meu pequeno acervo de 600 livros e me mudei. Peguei livros novos em consignação e comprava bibliotecas de forma parcelada, etc. Fui levando a vida”.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

A Estante Virtual já existia há um ano e Mauro quis aderir, só que não tinha computador. Fazia o cadastro de seus livros numa lan house. Lá, também descobria o que fora vendido. E concluiu que não poderia ficar fora das redes, apesar de achar um saco cadastrar tudo. “Estava complicado pagar o aluguel do novo espaço. Então, três estudantes amigos meus deram a ideia de dividir o aluguel e transformar parte do local em cafeteria. Mas tinha um problema, eles não tinham experiência nisso e, na verdade, detestavam café. Achavam também chato servir os clientes. “Então tive uns golpes de sorte comprando boas bibliotecas, comecei a crescer e tive que mudar de número aqui na rua. Eram muitos livros”.

Como se compra livros? “Tu tens que conversar com a pessoa pra saber o que o livro significa pra ela. Se eu pagar uma miséria, eles não voltam mais, vendem para outro. Afinal, quem se interessa por literatura conhece a Estante Virtual, onde todos ficam sabendo o valor de cada obra. Então, se a pessoa tem apego aos livros e eu quero comprá-los, vou ter que pagar. Existe toda uma negociação para a compra, mesmo quando cara vem aqui vender uns poucos. Tenho que olhar livro a livro para ter uma boa base de quanto vale. Não adianta olhar de longe. Nem todas as bibliotecas são como a do Tatata Pimentel, que acabei comprando. O bom é que o amor pelo livros facilita o papo”.

Mauro tem mil histórias acerca da compra de livros e bibliotecas. Há o pessoal que vem até a Ladeira para vender poucos exemplares, tem os caras que enganam os familiares e vendem a biblioteca de um morto recente pedindo um “por fora”. Ele também conta histórias de uma Kombi que quebrava sempre que vinha com milhares de livros, mas a preferida parece ser esta: “Uma vez, fui ver uma coleção de livros e quando cheguei, a dona tinha uma capelinha, cheia de velas. Era religiosa, uma carola de qualquer coisa e eu sou materialista diálético (risadas). Na saída, após fecharmos negócio, ela fixou os olhos em mim e disse misteriosamente que meus pais precisavam vender alguma coisa, mas que tinha uma pedra no meio do caminho. E me aconselhou: ‘Diz pra tua mãe pegar uma pedra e atirar ela longe’. Ela também me disse que eu era uma pessoa muito boa. E completou me avisando que estaria desencarnando dali a uns dias. Gelei, né? Então liguei pra minha mãe. Ela disse que sim, queria vender um sitiozinho no interior. E mandei ela atirar longe a porra da pedra. Ela não queria, mas eu insisti. Ela acabou atirando a tal da pedra e logo depois vendeu o sítio. Eu voltei à casa da mulher para agradecer e não encontrei mais nada. Talvez ela tivesse desencarnado”.

Hoje, Mauro cadastra todos os livros na Estante Virtual. Mas ainda vende mais na livraria. Quem o conhece sabe que ele adora uma conversa, recebendo bem até os que se não gostam de ver a figura de Lênin ao lado do caixa. “São 60% das vendas aqui na livraria, na base da conversa, e 40% na internet. O Correio gosta de sumir com os livros, é um problema, mas a Estante garante uma estabilidade, é venda certa”.

A Ladeira Livros também usa o Facebook. Mauro conta: “Eu escolho um livro para anunciar no Facebook. Às vezes pego um muito bom, outras vezes pego um da hora ou outro totalmente aleatório. Boto lá a capa e o valor. E escrevo ‘Na prateleira’. Quem pedir primeiro para reservar, leva. A regra é clara. No dia que os Estados Unidos legalizaram o casamento gay, eu anunciei o livro sobre a torcida organizada do Grêmio Coligay… Coloco uns dez livros por dia, nem todos saem, depende muito do que eu posto e do momento. Para mim, o Facebook é diversão. Também conto histórias lá. Com ele, conheci muita gente que nunca entrou na livraria e que compra ou só conversa. O preço? Eu dou o preço que mais ou menos é cobrado na Estante Virtual. Tu podes terminar a entrevista dizendo que eu sou apenas mais um leitor que lê menos do que gostaria. Sou um leitor mediano. Não sou formado em nenhum curso, apesar de ter feito ciências sociais e geografia. Ando lendo mais romances atualmente, principalmente os policiais. A livraria abre às 9h, mas eu trabalho das 10h30 as 19h. Tenho dois filhos, a Márcia e 40 mil livros cadastrados, além de seis mil que ainda tenho que botar no sistema. É isso.”

(*) Com Pedro Nunes

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Este edifício, na poluída China, parece um sonho …

Este edifício, na poluída China, parece um sonho …

… ao menos para mim.

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Duas análises sobre o novo processo de impeachment: os votos necessários e como chegamos a este ponto

Duas análises sobre o novo processo de impeachment: os votos necessários e como chegamos a este ponto

Minha opinião? Uma presidente eleita democraticamente e que não tem contra si qualquer crime de responsabilidade não pode sofrer impeachment. Mas o que interessa são duas análises abaixo, publicadas sem título no perfil de seus autores:

Por Luís Eduardo Gomes, jornalista do Sul21

Cunhas ou não Cunha, o que importa agora é que são necessários 342 votos para que o impeachment de Dilma tenha andamento na Câmara, uma vez que a regra exige que dois terços do total de 513 cadeiras.

A pergunta que fica é: há tudo isso de votos para derrubar a Dilma? A princípio não, longe disso. Dilma tem, bem ou mal, aprovado projetos a seu favor (aprovou um hoje). Mas, como essa Câmara é uma sacola de gatos, nunca se sabe. Vamos aos números:

Atualmente, essa é a composição da Câmara:

Bloco PP, PTB, PSC, PHS – 84
Bloco PR, PSD, PROS – 75
Bloco PMDB, PEN – 68
PT – 60
PSDB – 53
PSB – 33
Bloco PRB, PTN, PMN, PTC, PTdoB – 27
DEM – 21
PMB – 20
PDT – 18
SD – 15
PCdoB – 12
PPS – 10
PV – 5
PSOL – 5
REDE – 5
S.PART. – 2

Pegando os partidos de oposição aberta e que já defenderam o impeachment, acho que teríamos 53 do PSDB, 21 do DEM, 15 do Solidariedade do Paulinho da Força, 10 do PPS. Totalizando 98, muito longe dos 342 necessários.

Do outro lado, que certamente votariam contra o impeachment, há o os 60 deputados do PT, obviamente, os 12 do PCdoB, os 5 do PSOL (mesmo sendo oposição duvido que votaria a favor) e imagino que os 5 da Rede, visto que o Molon, líder do partido, é recém saído do PT. Totalizando 82. Faltariam 90.

Agora que vem a parte interessante. Esses votos que eu digo certos, somam só 180. Só que, das outras 333, temos muito mais partidos que são da base e que precisariam romper com o governo. A popular trairagem.

Desses, 68 são do bloco PMDB, PEN, que teoricamente poderia virar de lado se sentisse o poder tão perto.

Agora, será que o bloco PR, PSD, PROS, com 75 deputados, e o bloco PP, PTB, PSC, PHS, com 84, mudariam de lado assim tão fácil. Acho muito improvável. Aí no meio tem partidos sólidos da base. Mas, nunca se sabe.

Prosseguindo. Tem dois partidos, um independente, PDT, com 18 deputados, e outro da oposição, PSB, com 33, que muito me surpreenderiam se votassem a favor do impeachment. Acho que estariam rasgando um pouco da trajetória deles e para entregar o poder para o PMDB e para direita – que certamente iria se abraçar num governo Temer -, o que eu não vejo como nenhuma vantagem para partidos que supostamente são de centro-esquerda.

Tem ainda uns partidos aleatórios, como esse bloco PRB, PTN, PMN, PTC, PTdoB, que eu desconheço como votam, e o novato PMB (o partido da mulher que só tem homens), que tem uma carinha de quem vota com os tucanos…

Dado esse quadro, seria precisa uma senhora traição da base e uma posição favorável praticamente inteira de partidos que pouco ou nada teriam a ganhar com o impeachment para que se chegasse aos 342 votos. Isso é, difícil.

Passada essa etapa, seria necessário mais dois terços do voto do Senado, em que, teoricamente, a base da Dilma é mais estável e menos volátil do que na Câmara. Aqui, seriam necessários 54 votos.

Vamos lá: PSDB (11), DEM (4), PPS (1) somam só 17 votos.

PT (13), PCdoB (1), REDE (1, duvido que o Randolfe Rodrigues vote pelo impeachment), somam 15.

A essa altura, se já passou na Câmara, imagino que os 19 senadores do PMDB já tenham se bandeado. Embora aqui, existam senadores como Roberto Requião que não devem votar a favor. Como votaria Marta Suplicy?

De novo, PDT e PSB me soam como incónitas e somam 6 e 7 senadores, respectivamente. Como vota Romário? Cristovam Buarque? Lasier Martins? Acho muito improvável 13 votos aqui. Talvez liberem as bancadas, mas votar ambas totalmente contra é difícil.

Restam os partidos da base e outros bancadas pequenas. O problema, para quem quer o impeachment, é que a Dilma só precisaria de mais 12, isso considerando que PMDB, PSB e PDT votaram inteiros contra a Dilma, o que é difícil. E, de novo, a maioria desses seriam de partidos da base. PP (6), PR (4), PTB (3), PSD (4), PROS (1), PRB (1), PSC (1) somam outros 20.

Considerando isso tudo e só analisando a questão do ponto de vista matemático, é muito, muito improvável que o impeachment passe pela Câmara e menos ainda pelo Senado.

P.S: Que sacola de gatos confusa que elegemos, hein…

Cunha, nem rezando
Cunha, nem rezando

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Por Idelber Avelar, professor de literatura latino-americana e ensaísta

Levaram o cinismo da Realpolitik até limites nunca antes imaginados. Abriram mão de todos os princípios. Aliaram-se aos piores bandidos da República. Cultivaram uma militância entorpecida, lobotomizada, especializada em negar hoje o que dizia ontem e em tentar justificar o injustificável. Humilharam repetidamente a sua base social, obrigando-a a sustentar um governo que trata a pão-de-ló os inimigos dessa base e a chicote os seus próprios membros. Foram perdendo os aliados genuínos, um por um, até ficar só com os chantagistas. Criaram um exército de capangas e ex-jornalistas em atividade para distorcer fatos e difamar opositores. Ajoelharam-se ante um pilantra de quinta categoria, cujo único projeto na vida era ser mais um bandido do PMDB carioca. Até o soar do gongo, imploraram por um acordo. Ofereceram tudo e conseguiram o pior dos mundos possíveis: nem fizeram política direito e nem se pautaram pela ética.

O resultado está aí: um criminoso comum, de quem já se sabe que roubou milhões do erário público, abre um processo de impeachment contra uma Presidente incompetente, mas que foi legitimamente eleita e de quem se sabe que nunca roubou um alfinete.

Parabéns a todos os que cultivam esse cinismo sem princípios. Agora, que lidem com o monstro.

Dilma, só rezando
Dilma, só rezando

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Anotações sobre Beethoven (Parte I)

Anotações sobre Beethoven (Parte I)
Beethoven aos 13 anos
Beethoven aos 13 anos

Alguns compositores parecem ter nascido prontos, outros não. No primeiro grupo, por exemplo, estão Bach e Brahms, quem sabe Haydn. O primeiro parece ter nascido com voz própria e definitiva e as diferenças entre suas obras mais parecem resultantes de suas funções nos diversos empregos que ocupou do que de uma evolução de estilo ou expressão própria. Na época de Bach não havia a noção da construção de uma obra pessoal para a posteridade. Brahms já tinha esta noção, mas ele se inclui facilmente no grupo dos “nascidos prontos”. Ouvindo-se os primeiros opus de Brahms, o grande compositor já é reconhecido facilmente. Haydn é um caso semelhante. É complicado reconhecer obras suas como “da juventude” ou “da maturidade”. Porém, suas últimas sinfonias já são um pouco diferentes. Elas foram compostas em Londres para ganhar dinheiro vivo e a sombra do contrato que pairava sobre sua cabeça acrescentou aquela possibilidade de fracasso que tanto lhe faltara antes, quando era apenas um brilhante e feliz empregado da rica família Esterhazy. E as londrinas são suas melhores sinfonias.

Ter nascido e morrido com a mesma cara — ou, melhor dizendo, com o mesmo estilo –não é um mérito nem demérito. Muitos dos grandes compositores evoluíram profunda e espetacularmente. Mozart e Beethoven, por exemplo, foram criadores que alteraram muito sua linguagem durante seus períodos criativos. Mozart viveu muito pouco, talvez por isso não tenha alterado tanto sua linguagem. Beethoven alterou tanto que acabou por ser a principal marca da transição da música do período clássico para o romantismo. Isto deu-se certamente por uma necessidade interna, mas fatores externos também os influenciaram.

Por alguma razão, o gráfico abaixo ignora Bach, mas no restante ele nos serve.

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Haydn, Mozart e Beethoven são considerados os maiores compositores do período clássico. Haydn viveu 77 anos, Mozart, 35, Beethoven, 57.

Não gosto muito de classificações por escolas, mas, grosso modo, pode-se dizer que o barroco começa em 1600 (data da invenção da ópera) e acaba em 1750, quando Bach morre. O período clássico vai daí até aproximadamente 1810 (quando inicia o segundo período da obra beethoveniana). Já o Romântico inicia no segundo período de Beethoven e vai até 1900, trocado pelo século XX.

Considerando-se tais datas, Mozart, até por ter vivido tão pouco, viveu no período clássico e produziu realmente música clássica. O igualmente clássico Haydn, com seus 77 anos, nasceu lá no período do barroco tardio e invadiu o período romântico, sem dobrar-se a ele.

Enquanto isso, Beethoven, que nasceu depois dos dois, começa criando obras muito semelhantes às de Mozart, mas evolui de tal modo que funda o romantismo musical com a composição de sua Sinfonia Nº 3, Eroica. Talvez Mozart o tivesse acompanhado nesta aventura de transformação, mas sua morte interrompeu a jornada.


Parece Mozart, não?

Beethoven foi fundamental para a fixação da transição do clássico para o romântico. Notem que tal transição não se deveu a uma arbitrariedade histórica como a virada de um século nem à morte de um compositor, mas a uma alteração de estilo, ao desenvolvimento da linguagem de um compositor: Beethoven. Claro que a posição cronológica favoreceu-o sobremaneira, mas o compositor contribuía. Ele era um campo fertilíssimo e não falo exatamente de uma plantação de beterrabas.

Ludwig van Beethoven nasceu há 245 anos, em 16 de dezembro de 1770, na cidade de Bonn, atual Alemanha. Seu sobrenome, porém, era de origem holandesa. Consta que é derivado da aldeia de Bettenhoven (que quer dizer horta de beterrabas), no interior da Holanda. Apesar do sobrenome holandês, o avô paterno de Beethoven era originário de Antuérpia, na atual Bélgica. O avô emigrou para Bonn, cidade onde exerceu a função de diretor de música da corte de Colônia. Seus pais tiveram sete filhos, dos quais apenas três chegaram à vida adulta.

(continua com os professores e primeiras obras de Beethoven)

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Por que o cinema não é ensinado nas escolas?

Por que o cinema não é ensinado nas escolas?

É fato conhecido de que a educação no Brasil não funciona. Sei por experiência própria. Fiz trabalhos comunitários dando aulas de matemática na periferia de Porto Alegre e, mais do que a maioria, posso falar sobre como muitos meninos vão para o Ensino Médio sem saber como fazer uma regra de três. Alguns até entendem o conceito, mas ignoram a operação de divisão… Sei também como é complicado manter esses garotos atentos. Eles não têm a menor vivência do que é concentrar-se sobre um tema ou ouvir longamente alguém falar. O assunto deste texto pode parecer uma filigrana, uma ingenuidade, algo como um telhado de 16 m² colocado sobre o crime ambiental de Mariana e seus imensos arredores, mas talvez tenha alguma lógica.

Cena de Numa Escola de Havana
Cena de Numa Escola de Havana

Não tenho nada contra a literatura e outras artes — sou mais apaixonado pela literatura e pela música do que pelo cinema! –, mas creio que o cinema tem a peculiar característica de poder mostrar a nossa e outras realidades de forma desconstruída e facilmente analisável. Tudo isso em duas horas e de forma coletiva, concomitante. Ou seja, imaginem uma sala de aula onde fosse apresentado, por exemplo, o notável filme cubano Numa Escola de Havana (foto acima). É bem diferente de todos lerem um livro, cada um em sua circunstância. Há que considerar também que muitos alunos vêm de famílias disfuncionais, são muito pobres e simplesmente não conseguem isolamento para ler. Além do mais, uns leem pela metade, outros leram faz tempo e talvez lembrem mal do livro, etc. O cinema não. Ele pode ser apresentado in loco e a discussão a respeito dele pode ocorrer logo após sua apresentação, com todos os detalhes presentes na memória.

O cinema não é apenas diversão, é multidisciplinar e, digamos, multiuso. Não encontro argumentos para não colocar o cinema como uma das ciências humanas nas escolas. Seria uma matéria que apoiaria outras, tais como história, literatura e filosofia. O cinema tem a característica de nos mostrar diferentes culturas e formas de pensar, de abalar valores e conceitos. Suas histórias de duas horas desnudam fatos e seus modus operandi, dando novos olhares a fatos conhecidos, estimulando a discussão.

Claro que os filmes teriam que ser clássicos de qualidade indiscutível. As famílias já viram o filme do Oscar do ano passado e as porcarias e filmes médios deveriam ficar de fora. Porém, produções de mais de 20 anos e que permanecem poderiam dar apoio a aulas de história, geopolítica, ética e conhecimentos gerais.

Isto não significa que cinema seja uma arte maior do que as outras. Mas creio que ele seja mais educacional que as outras, talvez por poder ser coletivo. Hhá peculiaridades no cinema — sua instantaneidade, sua facilidade e concomitância de apreensão — que o tornam muito adequado para a criação de espírito crítico nos jovens. Como se não bastasse, o cinema, com seus personagens, torna possível um pensamento afetivo, aquele mais próximo da ética, além de possibilitar o contato com novas estéticas.

Quando eu escrevo ensinar cinema, não quero formar diretores  ou roteiristas de filmes, mas dar uma boa visão da história da jovem arte cinematográfica. Há maravilhosos e exemplares filmes que exploram fatos históricos assim como posturas e resultados de políticas. É claro que os filmes a serem discutidos não seriam os de 007 ou American Pie, e sim as obras mais relevantes sobre os temas escolhidos.

Sou uma pessoa muito preocupada com a baixa qualidade de nossa educação. Vejo nossas crianças deprimidas ou desinteressadas nas salas de aula. Causa ou consequência, nossos professores são péssimos. Aloizio Mercadante, ministro da Educação, tem toda a razão ao dizer que “Se o Brasil formasse médicos como forma seus professores, muita gente morreria”. Sou um filho da educação pública — nunca paguei para estudar, deste o maternal até o ensino superior — e sei que lá se formam garotos para conviver com o fracasso escolar diante daqueles egressos dos colégios particulares (que são um pouco menos péssimos que os públicos). Então, diante da incompetência, da falta de informação e da óbvia infelicidade, acho que devemos mostrar outras realidades, vidas e aspirações para que nossos filhos possam ter adolescências mais suportáveis e críticas.

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Violinista barroca desiste de dar prazer a si mesma com o uso de vibrador

Violinista barroca desiste de dar prazer a si mesma com o uso de vibrador

Da Submedia.
Tradução livre do dono do blog

Annika Müller, violinista barroco | Foto: Denys Kornylov
Annika Müller, violinista barroca | Foto: Denys Kornylov

Annika Müller, uma violinista especialista em repertório barroco em instrumentos originais de época, anunciou a repórteres nesta segunda-feira (29) que começou a dar prazer a si mesma sem o uso de vibrador.

A violinista alemã revelou, em entrevista coletiva, que se decidiu no ano passado não apenas a dedicar-se exclusivamente às interpretações barrocas com instrumentos originais, mas também a abandonar o prazer de tocar-se com um vibrador, passando a fazer tudo por si mesma.

“Se eu vou dar descanso a meu queixo, deixando de lado os vibratos, também vou dar uma folga definitiva a meu vibrador”, radicalizou Müller. A violinista barroca disse este foi o modo que encontrou para resolver uma contradição que sentira crescendo dentro dela.

“Músicos dos séculos XVII e XVIII não tinham a eletrônica para auxiliar no ato de prazer”, sentenciou. “Se tais dispositivos tivessem existido, pensem no efeito que isso teria sobre sua música e desempenho?”

Müller negou ter experimentado uma diminuição em seus prazeres desde que descartou seu Hitachi Cordless Magic Wand ™.

Hitachi Cordless Magic Wand

“Dar prazer a mim mesma sem o vibrador tem sido um desafio, mas é muito mais fácil do que lidar com o primeiro arco com cordas de tripa”, disse ela.

Ironicamente, os abandonados vibratos da técnica moderna de violino, têm vindo a calhar para Müller durante a sua transição para o prazer manual.

“Em vez de aplicar o vibrato moderno para o meu instrumento, tenho usado entre as minhas pernas”, disse Müller, pressionando seu dedo indicador esquerdo na palma da mão direita e balançando-o suavemente para demonstrar o procedimento. “Se eu fechar meus olhos e imaginar que eu sou Anne-Sophie Mutter tocando o Concerto de Brahms, posso atingir o clímax quase instantaneamente.”

Para Müller, a mudança é parte de uma missão mais ampla para transformar todas as facetas da sua vida diária de acordo com costumes europeus do século XVII. Além de desistir da eletrônica, ela planeja vestir-se exclusivamente em saias e corpetes, e restringir sua dieta para misturas de vegetais orgânicos, raízes, batatas e chucrute.

O processo também envolve Müller subordinar-se aos homens, como era a norma para as mulheres na Europa durante o período barroco. “Pode soar humilhante, mas vou ter que me acostumar a me sentir como um acessório”, disse ela. “Quanto mais eu deixar que os homens me tratem como um objeto, o mais autenticamente vou tocar violino.”

Quando perguntada sobre sua vida romântica, Müller disse que ela ainda está aguardando pretendentes. “Se eu puder encontrar um homem cuja libido seja a metade da de Johann Sebastian Bach, eu estarei satisfeita “, disse ela .

Se Müller adotar práticas de higiene barroca, no entanto, ela poderá permanecer solteira por algum tempo. “É um longo caminho este de viver uma vida historicamente original”, disse Müller. “Por enquanto, estou focada em tocar o melhor possível meu instrumento de forma a emocionar meu público e a mim”.

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